sexta-feira, 27 de novembro de 2009

MISS IMPERFEITA (revisto)

Eu não sirvo de exemplo para nada, mas, se você quer saber se isso é possível, me ofereço como piloto de testes. Sou a Miss Imperfeita, muito prazer. A imperfeita que faz tudo o que precisa fazer como boa profissional, amiga, filha e mulher que também sou: trabalho quase todos os dias; ganho minha grana de diferentes formas; vou ao supermercado, cinema, dentista, locadora; recebo telefonemas; bebo vinho com amigos; procuro minhas amigas, namoro, viajo; pago minhas contas; respondo a toneladas de e-mails; participo de mil redes sociais; faço revisões médicas; mamografia; vou ao posto de gasolina; lavo o carro; caminho meia hora diariamente; e, às vezes ainda faço as unhas! Entre uma coisa e outra, leio livros, crio projeto, dou aulas, escrevo e publico. Portanto, sou ocupada, mas não uma workholic.

Por mais disciplinada e responsável que eu seja, aprendi duas coisinhas que operam milagres. Primeiro: a dizer NÃO. Segundo: a não sentir um pingo de culpa por dizer NÃO. Culpa por nada, aliás. Existe a Coca Zero, o Fome Zero, o Recruta Zero. Inclua na sua lista a Culpa Zero. Quando nasci, nenhum profeta adentrou a sala da maternidade e me apontou o dedo dizendo que a partir daquele momento seria modelo para os outros. Meu pai e minha mãe, acreditem, não tiveram essa expectativa: tudo o que desejaram é que eu não chorasse muito durante as madrugadas e mamasse direitinho.

Não sou Nossa Senhora. Sou, humildemente, uma mulher. E, se não aprender a delegar, a priorizar e a se divertir, bye-bye vida interessante. Porque vida interessante não é ter a agenda lotada, não é ser sempre politicamente correta, não é topar qualquer projeto por dinheiro, não é atender a todos e criar para si a falsa impressão de ser indispensável. Vida interessante é ter tempo. Tempo para fazer nada. Tempo para fazer tudo. Tempo para dançar sozinha na sala. Tempo para bisbilhotar uma loja de discos. Tempo para sumir dois dias com seu amor. Três dias. Cinco dias! Tempo para uma massagem. Tempo para ver a novela. Tempo para receber aquela sua amiga que é consultora de produtos de beleza. Tempo para fazer um trabalho voluntário. Tempo para procurar um abajur novo para seu quarto. Tempo para conhecer outras pessoas. Voltar a estudar. Para engravidar. Tempo para escrever um livro que você nem sabe se um dia será editado. Tempo, principalmente, para descobrir que você pode ser perfeitamente organizada e profissional sem deixar de existir.

Porque nossa existência não é contabilizada por um relógio de ponto ou pela quantidade de memorandos virtuais que atolam nossa caixa postal. Existir, a que será que se destina? Destina-se a ter o tempo a favor, e não contra. A mulher moderna anda muito antiga. Acredita que, se não for super, se não for mega, se não for uma executiva ISO 9000, não será bem avaliada. Está tentando provar não-sei-o-quê para não-sei-quem. Precisa respeitar o mosaico de si mesma, privilegiar cada pedacinho de si. Se o trabalho é um pedação de sua vida, ótimo! Nada é mais elegante, charmoso e inteligente do que ser independente. Mulher que se sustenta fica muito mais sexy e muito mais livre para ir e vir. Desde que lembre de separar alguns bons momentos da semana para usufruir essa independência, senão é escravidão, a mesma que nos mantinha trancafiadas em casa, espiando a vida pela janela. Desacelerar tem um custo. Talvez seja preciso esquecer a bolsa Prada, o hotel decorado pelo Philippe Starck e o batom da M.A.C. Mas, se precisar vender a alma ao diabo para ter tudo isso, francamente, precisarei rever seus valores. E descobrir que uma bolsa de palha, uma pousadinha rústica à beira-mar e o rosto lavado (ok, esqueça o rosto lavado) podem ser prazeres cinco estrelas e nos dar uma nova perspectiva sobre o que é, afinal, uma vida interessante'.

(Adaptado do texto de Martha Medeiros – Miss Imperfeita)

Profa Ms Claudia Nunes (26/11/09)

ARMÁRIO DELA


Fim do ano, de novo, as limpezas. Desde o fim de setembro, ela vinha notando que todo dia tinha muito lixo para jogar fora. Todo dia saquinhos com restos dos seus momentos eram rasgados, amarrotados, embolados sem timidez. Abrir as gavetas era um inferno! A sensação de cansaço aumentava porque sempre encontrava algo para jogar fora, algo inutilizado pela passagem do tempo. Estranho é que coisas tão importantes um dia e guardadas com tanto carinho, agora não tinham contexto ou eram uma vaga lembrança. Notificações e propagandas bancárias, pequenos objetos sujos, brinquedinhos bobos, lembrancinhas de festas, revistas, papéis de bala, canetas, roupas largas ou apertadas demais, sapatos sem atualidade, tudo, sob o olhar do tempo presente, perdeu a aura, a essência, a emoção. Calmamente, ela tira tudo do armário e enxerga o ‘sem fundo’. Não tem a barata de Clarice, mas tem fundo. Anos arrumando e entulhando coisas em cada espacinho deste móvel sem perceber seus próprios limites. Havia um fundo ao alcance da mão e com uma comunidade diversificada de insetos. No armário, indícios de que ali havia muita vida. Com uma vassoura e muito medo, ataca o fundo do armário, de cima a baixo. A vassoura atinge todos os cantos. Outro ano de quinquilharias se aproxima e ela precisa das liberdades. ‘Por que junto tanta quinquilharia?’ – ela pensa. ‘Por que amo tão incondicionalmente?’ – ela se toca. ‘Por que é difícil perdoar?’ – ela sente. ‘Por que ignoro amigos que apresentaram defeitos?’ – ela chora. Paft! Puft! Risk! A vassoura não pára, mas agora sem direção. De repente, ela atinge a porta do quarto. ‘Deus, cadê o armário?’ – ela grita. Cansada, ela chora com tanta dor. Senta na cama e respira. ‘Não quero mais nada disso!’ – ela pensa. Ainda ofegante separa as roupas: ‘essa não quero... essa eu quero’ – ela escolhe. Nem tudo é necessário, mas também nem tudo deve ser jogado fora tão displicentemente. O tempo passa e ela não quer olhar o armário, de novo. Vazio demais, sem cor, sem movimento, sem amor. Mas as lembranças e as emoções devem sempre ter um lugar. Não precisa ser arrumado, mas um lugar que a defenda, que a conforte, que a console, que a ame como sempre desejou. Então a palavra de ordem é ‘arrumação’. É preciso enfrentar o armário escuro e limpo. Foi uma vontade. Ela se desnudou tão fortemente que, agora ela quer outra pessoa: ela de novo. O buraco negro arrepia e a mente lateja de perguntas: por que tantos senões? por que tantas amarguras? por que as pequenas mentiras, segredos e silêncios imprudentes? por que aquele não ou aquele sim, quando na verdade nem um nem outro eram verdade? por que comprar/aceitar coisas/ações inadequadas? por que discutir, brigar e fugir quando o que se quer é decidir? No armário, diante dela, estas e outras perguntas penduradas nos cabides como orgulhos e mantidos como troféus. Para que? Recordar? Reconhecer? Confirmar? ‘Oh besteira’ – ela se zanga. Inferno astral do fim do ano. De novo, ela respira fundo, se levanta, não quer mais estes cabides. Não quer mais pendurar ‘o de sempre’. Quer uma alma diferente, iluminada, atraente e que possa cometer outros erros. Ela fecha os olhos, arrepia os pêlos e cria a ventania das boas idéias. Com a vassoura dos objetivos recém-criados varre os entulhos de si. É duro. É doloroso. Trinca os dentes. Ninguém pode ajudá-la. Sua respiração areja os cantos. É um animal em busca de sobrevivência. Não pode ficar nada mal-resolvido, manipulável ou reprimido. Ao toque dos pensamentos, a forte ventania tem poucos obstáculos. Batem á porta. ‘Por que demora tanto?’ – eles afirmam. A porta do armário bate com força. Ela se assusta, pega as roupas da cama e, rapidamente, enche o armário aleatoriamente. Ofegante, pensa: ‘será que consegui?’, ‘será que os grilhões se desmancharam?’, ‘será que as ilusões ficaram para trás?’, ‘será que deixarei de sofrer?’ Vapt! Vupt! Roupas no cabide, sapatos no fundo, meias nas gavetas, perfumes nas prateleiras. Vapt! Vupt! Desordenada, desgovernada, ela se monta, outra vez, para o próximo ano...

Profa. Ms. Claudia Nunes (27/11/09)

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Dia Nacional da Ead (27/11)



ATENÇÃO! IMPORTANTE!

Dia 27 de novembro é o Dia Nacional da EaD, e o IAVM vai marcar presença nesta data tão especial. Venha conversar conosco sobre Educação a distância em um evento de troca de experiências sobre tutoria, docência online e os desafios e conquistas do IAVM em seus quase 10 anos de prática nesta modalidade de ensino.


Painel: Educação a Distância: desfazendo mitos e tecendo novas realidades
- Ações do IAVM na modalidade a distância: uma visão geral
- A experiência da tutoria: graduação e pós-graduação
- Docência online na graduação a distância em Pedagogia

Dia 27 de novembro de 2009 - sexta feira - às 15h Rua do Carmo, 6º andar Sala 08 Centro RJ.

Evento com certificado de participação.
Entrada franca.

Dúvidas, envie email para distancia@vezdomestre.edu.br

Aguardamos vocês.
Instituto A Vez do Mestre

sábado, 21 de novembro de 2009

FAXINE-SE

Fim do ano. A aura do tempo começa a mudar de cor. De um vermelho intenso ao branco iluminado, os pensamentos estão abertos às promessas, às escolhas, às imaginações. Em casa, o olhar assume uma tarefa: faxina. No corpo, coração e mente querem mais espaço para viver novas (a)ritmias. Se é difícil se transformar, que tal mudar os objetos de lugar? No armário dos cômodos da casa e nas gavetas do cérebro, tudo o que estiver socado deve sair, se abrir, ganhar outros usos ou mesmo chegar ao lixo, sem titubeações. Roupas, sentimentos, livros, idéias, papéis, certezas têm sua hora de renovação. É uma luta. Desapegar é uma dor. Assusta pensar em mexer nas coisas. De cada porta aberta surgem memórias de outros tempos. Problemas, profissões, ações, a rotina da vida está guardada como lembrança querida, mas no fundo, quanta inutilidade, quanto peso! Faxina necessária! Faxina intranqüila! Faxina cautelosa! Depois do olho, a mão invade a escuridão e começar a tirar as coisas do lugar. Tanto a alma quanto armários e gavetas vão se esvaziando. Nada passa sem o crivo do olhar, da lembrança e do olfato. É..., o olfato é um bom vetor das outras vidas. Em cada respiração, em cada suspiro, as energias alcançam espaços importantes. Faxine os livros que não leu. Faxine os bibelôs que os amigos desaparecidos ofertaram. Faxine a falta de piedade. Faxine as impaciências. Faxine o mau humor. Faxine as músicas insensatas. Faxine os atrapalhamentos e desarmonias que colocaram diferentes amigos num horizonte sem fim. As atitudes devem dar plasticidades às promessas, ao fluxo dos novos encontros, ao peso de outras posturas. Se o amor não deu certo, se o trabalho está estagnado, se emagrecer é difícil, se uma amizade resiste a um retorno, se não se consegue compreensões, se não se deseja ir ao cinema, esquece! O corpo não é um baú de ossos antigos. Faxine-se! Com dois braços, alcance múltiplos espaços e traga as novidades, sejam quais forem. Em um ano, se vc não se tocou ou foi tocado, faxine-se! Ñão há culpa, não assuma depressões, doe-se! As paredes devem ser vistas. Os neurônios devem realizar novas sinapses. As mãos devem tocar outras pessoas. As prateleiras devem ter lugar para outros objetos. Casa e corpo não são museus com links paralisados pelos tempos. Em um ano, a vida acumulada já apresenta data de validade? aquela dor precisa de outro remédio? as faces precisam de outros cosméticos? o corpo precisa de outro perfume? as revistas têm textos desatualizados? aqueles jornais não servem mais? Faxine-se! Lustre-se! Gotas de cânfora diluída em álcool, energize-se! Não leu, não amou, não foi amado, perdeu oportunidade, fez silêncio? Esquece! Gotas de amoníaco na água, devaste os (pré)conceitos! Para cada esvaziamento, outros aromas, sorrisos, opções, desejos. É esse toque especial que diminui a tensão de tantos sacos de lixo cheios no chão. Não duvide da própria capacidade. Não desista por antecedência. Não canse. Dos absurdos, insólitos e desconhecidos também se tem a possibilidade de recomeçar. Faxina é a chance de ir além de um esboço de si mesmo. Faxina é a oportunidade de revisitar-se. Faxina é a retomada do que é simples, prazeroso e agradável em todo lugar. Já tentou um novo cabelo? Uma nova amizade? Um novo caminho? Um novo sentimento? Uma nova aproximação? Outro silêncio? Outro abraço? Outra verdade? Experimente e reinvente-se. No fim do ano, pense grande, pense melhor, pense na luta, pense nas pessoas, pense no futuro e reinstale no cotidiano o frescor da alegria, da paixão, da liberdade. No fim de tudo, de cima para baixo, a leveza vai lhe encarar e perguntar: vamos nos emocionar de novo?

Profa. Ms. Claudia Nunes

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

TABACARIA


Não sou nada.
Nunca serei nada.
Não posso querer ser nada.
À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo.

Janelas do meu quarto,
Do meu quarto de um dos milhões do mundo que ninguém sabe quem é
(E se soubessem quem é, o que saberiam?),
Dais para o mistério de uma rua cruzada constantemente por gente,
Para uma rua inacessível a todos os pensamentos,
Real, impossivelmente real, certa, desconhecidamente certa,
Com o mistério das coisas por baixo das pedras e dos seres,
Com a morte a por umidade nas paredes e cabelos brancos nos homens,
Com o Destino a conduzir a carroça de tudo pela estrada de nada.

Estou hoje vencido, como se soubesse a verdade.
Estou hoje lúcido, como se estivesse para morrer,
E não tivesse mais irmandade com as coisas
Senão uma despedida, tornando-se esta casa e este lado da rua
A fileira de carruagens de um comboio, e uma partida apitada
De dentro da minha cabeça,
E uma sacudidela dos meus nervos e um ranger de ossos na ida.

Estou hoje perplexo, como quem pensou e achou e esqueceu.
Estou hoje dividido entre a lealdade que devo
À Tabacaria do outro lado da rua, como coisa real por fora,
E à sensação de que tudo é sonho, como coisa real por dentro.

Falhei em tudo.
Como não fiz propósito nenhum, talvez tudo fosse nada.
A aprendizagem que me deram,
Desci dela pela janela das traseiras da casa.
Fui até ao campo com grandes propósitos.
Mas lá encontrei só ervas e árvores,
E quando havia gente era igual à outra.
Saio da janela, sento-me numa cadeira. Em que hei de pensar?

Que sei eu do que serei, eu que não sei o que sou?
Ser o que penso? Mas penso tanta coisa!
E há tantos que pensam ser a mesma coisa que não pode haver tantos!
Gênio? Neste momento
Cem mil cérebros se concebem em sonho gênios como eu,
E a história não marcará, quem sabe?, nem um,
Nem haverá senão estrume de tantas conquistas futuras.
Não, não creio em mim.
Em todos os manicômios há doidos malucos com tantas certezas!
Eu, que não tenho nenhuma certeza, sou mais certo ou menos certo?
Não, nem em mim...
Em quantas mansardas e não-mansardas do mundo
Não estão nesta hora gênios-para-si-mesmos sonhando?
Quantas aspirações altas e nobres e lúcidas -
Sim, verdadeiramente altas e nobres e lúcidas -,
E quem sabe se realizáveis,
Nunca verão a luz do sol real nem acharão ouvidos de gente?
O mundo é para quem nasce para o conquistar
E não para quem sonha que pode conquistá-lo, ainda que tenha razão.
Tenho sonhado mais que o que Napoleão fez.
Tenho apertado ao peito hipotético mais humanidades do que Cristo,
Tenho feito filosofias em segredo que nenhum Kant escreveu.
Mas sou, e talvez serei sempre, o da mansarda,
Ainda que não more nela;
Serei sempre o que não nasceu para isso;
Serei sempre só o que tinha qualidades;
Serei sempre o que esperou que lhe abrissem a porta ao pé de uma parede sem porta,
E cantou a cantiga do Infinito numa capoeira,
E ouviu a voz de Deus num poço tapado.
Crer em mim? Não, nem em nada.
Derrame-me a Natureza sobre a cabeça ardente
O seu sol, a sua chava, o vento que me acha o cabelo,
E o resto que venha se vier, ou tiver que vir, ou não venha.
Escravos cardíacos das estrelas,
Conquistamos todo o mundo antes de nos levantar da cama;
Mas acordamos e ele é opaco,
Levantamo-nos e ele é alheio,
Saímos de casa e ele é a terra inteira,
Mais o sistema solar e a Via Láctea e o Indefinido.

(Come chocolates, pequena;
Come chocolates!
Olha que não há mais metafísica no mundo senão chocolates.
Olha que as religiões todas não ensinam mais que a confeitaria.
Come, pequena suja, come!
Pudesse eu comer chocolates com a mesma verdade com que comes!
Mas eu penso e, ao tirar o papel de prata, que é de folha de estanho,
Deito tudo para o chão, como tenho deitado a vida.)

Mas ao menos fica da amargura do que nunca serei
A caligrafia rápida destes versos,
Pórtico partido para o Impossível.
Mas ao menos consagro a mim mesmo um desprezo sem lágrimas,
Nobre ao menos no gesto largo com que atiro
A roupa suja que sou, em rol, pra o decurso das coisas,
E fico em casa sem camisa.

(Tu que consolas, que não existes e por isso consolas,
Ou deusa grega, concebida como estátua que fosse viva,
Ou patrícia romana, impossivelmente nobre e nefasta,
Ou princesa de trovadores, gentilíssima e colorida,
Ou marquesa do século dezoito, decotada e longínqua,
Ou cocote célebre do tempo dos nossos pais,
Ou não sei quê moderno - não concebo bem o quê -
Tudo isso, seja o que for, que sejas, se pode inspirar que inspire!
Meu coração é um balde despejado.
Como os que invocam espíritos invocam espíritos invoco
A mim mesmo e não encontro nada.
Chego à janela e vejo a rua com uma nitidez absoluta.
Vejo as lojas, vejo os passeios, vejo os carros que passam,
Vejo os entes vivos vestidos que se cruzam,
Vejo os cães que também existem,
E tudo isto me pesa como uma condenação ao degredo,
E tudo isto é estrangeiro, como tudo.)

Vivi, estudei, amei e até cri,
E hoje não há mendigo que eu não inveje só por não ser eu.
Olho a cada um os andrajos e as chagas e a mentira,
E penso: talvez nunca vivesses nem estudasses nem amasses nem cresses
(Porque é possível fazer a realidade de tudo isso sem fazer nada disso);
Talvez tenhas existido apenas, como um lagarto a quem cortam o rabo
E que é rabo para aquém do lagarto remexidamente

Fiz de mim o que não soube
E o que podia fazer de mim não o fiz.
O dominó que vesti era errado.
Conheceram-me logo por quem não era e não desmenti, e perdi-me.
Quando quis tirar a máscara,
Estava pegada à cara.
Quando a tirei e me vi ao espelho,
Já tinha envelhecido.
Estava bêbado, já não sabia vestir o dominó que não tinha tirado.
Deitei fora a máscara e dormi no vestiário
Como um cão tolerado pela gerência
Por ser inofensivo
E vou escrever esta história para provar que sou sublime.

Essência musical dos meus versos inúteis,
Quem me dera encontrar-me como coisa que eu fizesse,
E não ficasse sempre defronte da Tabacaria de defronte,
Calcando aos pés a consciência de estar existindo,
Como um tapete em que um bêbado tropeça
Ou um capacho que os ciganos roubaram e não valia nada.

Mas o Dono da Tabacaria chegou à porta e ficou à porta.
Olho-o com o deconforto da cabeça mal voltada
E com o desconforto da alma mal-entendendo.
Ele morrerá e eu morrerei.
Ele deixará a tabuleta, eu deixarei os versos.
A certa altura morrerá a tabuleta também, os versos também.
Depois de certa altura morrerá a rua onde esteve a tabuleta,
E a língua em que foram escritos os versos.
Morrerá depois o planeta girante em que tudo isto se deu.
Em outros satélites de outros sistemas qualquer coisa como gente
Continuará fazendo coisas como versos e vivendo por baixo de coisas como tabuletas,

Sempre uma coisa defronte da outra,
Sempre uma coisa tão inútil como a outra,
Sempre o impossível tão estúpido como o real,
Sempre o mistério do fundo tão certo como o sono de mistério da superfície,
Sempre isto ou sempre outra coisa ou nem uma coisa nem outra.

Mas um homem entrou na Tabacaria (para comprar tabaco?)
E a realidade plausível cai de repente em cima de mim.
Semiergo-me enérgico, convencido, humano,
E vou tencionar escrever estes versos em que digo o contrário.

Acendo um cigarro ao pensar em escrevê-los
E saboreio no cigarro a libertação de todos os pensamentos.
Sigo o fumo como uma rota própria,
E gozo, num momento sensitivo e competente,
A libertação de todas as especulações
E a consciência de que a metafísica é uma consequência de estar mal disposto.
Depois deito-me para trás na cadeira
E continuo fumando.
Enquanto o Destino mo conceder, continuarei fumando.

(Se eu casasse com a filha da minha lavadeira
Talvez fosse feliz.)
Visto isto, levanto-me da cadeira. Vou à janela.
O homem saiu da Tabacaria (metendo troco na algibeira das calças?).
Ah, conheço-o; é o Esteves sem metafísica.
(O Dono da Tabacaria chegou à porta.)
Como por um instinto divino o Esteves voltou-se e viu-me.
Acenou-me adeus, gritei-lhe Adeus ó Esteves!, e o universo
Reconstruiu-se-me sem ideal nem esperança, e o Dono da Tabacaria sorriu.

FERNANDO PESSOA
Álvaro de Campos, 15-1-1928

Pedra na cabeça

Na ponte o sol se levanta. O barulho aumenta entre as casas. panelas, crianças, carros, tudo atesta a hora do trabalho. Estou na janela com insônica e dor de cabeça. Não me angustio mais. Estou redescobrindo a paisagem do meu quarto a cada noite perdida. E é uma paisagem sempre diferente. Ouço no andar de baixo as conversas. Banho, marmita, sapatos. Os barulhos não são mais identificáveis. O calor esquenta e incomoda. Olho a rua e dela brotam as primeiras pessoas. Caminham tal e qual zumbis. Não sabem quem são. Não acordaram para o mundo. Por repetição e esforço, caminham. Cada passo, uma ilusão, uma decisão, uma chateação, uma lembrança. Não há o que fazer só pensar. Agora o dia está preenchido. Tão preenchido que pára a madrugada. No barulho, o silêncio dos sentidos. Não há mais para onde olhar, tudo se mexe e agora atenção só com uma escolha de foco. O ponto de ônibus: os sonhos, as necessidades. Todos desconhecidos que se olham desconfiados numa cidade violenta. Poucos lugares. Acômodo de bundas, de mentes, das coisas e... voltar a dormir. Só que agora para sempre: uma pedra atinge a cabeça...

Profa. Ms Claudia Nunes

Comunhão no domingo


Domingo com outra família. Alias não acredito na familia singular, acredito nas famílias plurais. Se fala tanto em rede social no virtual e temos, ao alcance da mão, uma rede de muitos agregados que respeitosamente (às vezes) convivem: nossas famílias. É domingo e eu estou com outras famílias. Calor. Sol. Suor. Mil assuntos pulam de mesa em mesa ajudando o tempo e o vento a passar. Há tensões, mas todos guardados antes da boca. Desgostos, decepções e chateações, quem não as têm em família? Mas num churrasco de comemoração num domingo, só a memória sabe disso ou só o olhar lembra. Domingo assim descarta-se idiossincrasias. As máscaras estão mais forte, quase blindadas, porque a asa de galinha está maravilhosamente temperada. Do convite ao gosto da linguiça, o jeito são jogos delicados verbais e nao verbais. É a comunhão do filho, do neto, do sorinho, do amigo. É a comunhão da carne com corpos ávidos de fome de quase tudo. É a comunhão de pessoas aproveitando mais uma oportunidade não se sabe para quê. O vento sopra por todos os lados e refresca os corações: muitos sorrisos focados. Domigo em família não há transgressões, apenas alusões ou, ao menos, sensações. Neste momento, os olhos não devem ser os melhores pareceiros da boca. Os olhos percorrem os pensamentos, brilham e... só. Os corpos mudam de lugar numa dança de atenções e atitude. O estômago aceita os vários convites dos sentidos, menos o sem sal. Mas os olhos estão solteiros. Churrasco. Temperos. Histórias. Disso se constroi a comunhão de todos no meio do vento e com molho à campanha. Um instante eternizado. O máximo!

Profa. Ms Claudia Nunes

terça-feira, 17 de novembro de 2009

Distração de ensino


Vida de professor. Ano inteiro envolto em conteúdos, burocracia e atividades. Ano inteiro seduzindo os alunos a ganharam um tonus desafiador na realidade. Mas estamos no fim do ano. Perto do fim do anos somos profissionais ao pedaços. Sabemos de nossas cotínuas responsabilidades, mas quando se chega em outubro, o máximo que escutamos é o 'jingle bell' das festas de natal ao longe. Segunda cheguei à escola e não sabia o que fazer. Ttudo fôra cumprido de forma adequada e meus alunos estavam praticamente sem nada por fazer. Impossível o cumprimento de todo o planejamento, mas meus alunos sabiam escrever. A tonica do início do Romantismo é outra série. No segundo semestre vários desvios: gruipes, feriados, recessos, pontos facultativos. Planos e planejamentos mexidos e remexidos. Mesmo sem bússola, nao chegamos a ficar à deriva. Estou parada na porta do carro, alunos por toda parte. e eu pensando nos inícios. Aprender e ensinar também têm um lado B. Meus alunos merecem o mantra eterno da literatura: introdução, desenvolvimento e conclusão. Se é assim na vida, tem que se assim em educação. Fecho a porta do carro e começo a caminhar. Mente em revolução: o que vou fazer? Em torno de mim grande responsabilidade: Professora! Professora! O clamor do chamamento exige 'pé no chão', uma 'máscara do saber' e afeto controlado. Tantos dependentes, tantas expectativas, tantas possibilidades. Sou possuída por um energia intensa, meu cérebro se oxigena e gritam três atividades. Vamos lá! Vamos ás aulas! Boa noite queridos, tudo bem?

Profa. Ms Claudia Nunes

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

MUDAR em busca da felicidade é amar a vida e a si próprio

"Mês passado participei de um evento sobre o Dia da Mulher.
Era um bate-papo com uma platéia composta de umas 250 mulheres de todas as raças, credos e idades.
E por falar em idade, lá pelas tantas, fui questionada sobre a minha e, como não me envergonho dela, respondi.
Foi um momento inesquecível...
A platéia inteira fez um 'oooohh' de descrédito.
Aí fiquei pensando: 'pô, estou neste auditório há quase uma hora exibindo minha inteligência, e a única coisa que provocou uma reação calorosa da mulherada foi o fato de eu não aparentar a idade que tenho? Onde é que nós estamos?'
Onde não sei, mas estamos correndo atrás de algo caquético chamado 'juventude eterna'. Estão todos em busca da reversão do tempo.
Acho ótimo, porque decrepitude também não é meu sonho de consumo, mas cirurgias estéticas não dão conta desse assunto sozinhas.
Há um outro truque que faz com que continuemos a ser chamadas de senhoritas mesmo em idade avançada.
A fonte da juventude chama-se "mudança".
De fato, quem é escravo da repetição está condenado a virar cadáver antes da hora.
A única maneira de ser idoso sem envelhecer é não se opor a novos comportamentos, é ter disposição para guinadas.
Eu pretendo morrer jovem aos 120 anos.
Mudança, o que vem a ser tal coisa?
Minha mãe recentemente mudou do apartamento enorme em que morou a vida toda para um bem menorzinho.
Teve que vender e doar mais da metade dos móveis e tranqueiras, que havia guardado e, mesmo tendo feito isso com certa dor, ao conquistar uma vida mais compacta e simplificada, rejuvenesceu.
Uma amiga casada há 38 anos cansou das galinhagens do marido e o mandou passear, sem temer ficar sozinha aos 65 anos.
Rejuvenesceu.
Uma outra cansou da pauleira urbana e trocou um baita emprego por um não tão bom, só que em Florianópolis, onde ela vai à praia sempre que tem sol.
Rejuvenesceu.
Toda mudança cobra um alto preço emocional.
Antes de se tomar uma decisão difícil, e durante a tomada, chora-se muito, os questionamentos são inúmeros, a vida se desestabiliza.
Mas então chega o depois, a coisa feita, e aí a recompensa fica escancarada na face.
Mudanças fazem milagres por nossos olhos, e é no olhar que se percebe a tal juventude eterna.
Um olhar opaco pode ser puxado e repuxado por um cirurgião a ponto de as rugas sumirem, só que continuará opaco porque não existe plástica que resgate seu brilho.
Quem dá brilho ao olhar é a vida que a gente optou por levar.
Olhe-se no espelho..."

Lya Luft

quinta-feira, 12 de novembro de 2009

APAGÃO: primatas tecnológicos

O apagao passou. Como um cometa deixou um rastro confuso de disse-me-disse no país. Forças da natureza? Força de um hacker? Incompetencia de alguem? Ninguem jamais saberá ao certo. O que fica é a certeza de que a perfeição é impossível. Mas por outro lado, fiquei observando minha janela. Muitas velas sendo acesas. Muitas pessoas na janela olhando a escuridão sem entender. São fantasmas aguardando uma luz no fim do túnel ou da rua. O tempo passa. Muitos barulhos estranho na noite. Nada é conhecido. Parece que há outra realidade sobreposta. E todos na janela pensam. Do lado de cá, estou olhando pessoas, silhuetas de prédios, claridades no infinito e...barulho... um barulho estranho... Aguço meus ouvidos e escuta palavras. É um RÁDIO DE PILHA! Que medo! É primitivo demais! Volto para o meu quarto, procura meu laptop, ligo e acesso informações. Sem luz, mas nao sem informação! Meus ouvidos latejam... Foi em Itaipu? foi em linha de transmissao? Nao sei... Pessoas do pais inteiro sem lugar, sem espaço, no escuro. O tempo se esvai... Celular toca, amiga presa no elevador... Outra amiga na portaria de casa a 10 andares de sua sala de estar... São Paulo, Rio, Minas, Vitoria, Espírito Santo apagados... Nao gosto de vela. O vento muda as imagens da vela. Volto para a janela. Nada de informação. Todas as baterias se foram. Em duas horas, sou primitiva novamente. Nada além do calor, da vela e do barulho ao longe. Desisto. O barulho me chama. Minha mae dorme placidamente junto com seu suor. De novo, desisto. Procuro pilhas nas gavetas. Ligo o radio. Conforto. Na janela, uma babel nas ondas do rádio. No ouvido, as noticias sobre a escuridao do pais vão se desdobrando... Estou num canto do quarto, perto da janela. Os olhos estão se acostumando. Meu corpo está menos tenso. O que será de Caxias e Nova Iguaçu? Da janela, musica, informação e noticias. Da janela, como na geral do maracanã, estamos em rede radiofusora sem o sentido do olhar, primatas tecnológicos.

Profa. Ms. Claudia Nunes

Outro quarto bimestre escolar

O fim do ano está proximo. Em muitas escolas, o clima é de fechamento de conteúdo e das atividades. Está aberta a temporada de avaliações (aprovações e reprovações). Está aberta a temporada de revisões e/ou acertos finais. Aumenta muito o diálogo entre professores e alunos visando a aprovação deste último. Em tempos outros, por algum motivo inexplicável para mim, o número de alunos, em sala de aula e na escola, aumentava muito. Eu observava sempre que, no 4 bimestre, muitos alunos ausentes ou os chamados 'turistas' passavam a frequentar a sala de aula com grande assiduidade. E, no grupo de professores, meu estranhamento tinha sempre a mesma resposta: 'agora é que eles percebem que o ano acabou e que, talvez, fiquem reprovados'. Reprovar é uma palavra e ação reprovável, e sempre pronunciada com constrangimento, mas é uma verdade. Acontece. As potencialidades e as capacidades são extremamente diferentes em cada um aluno, logo professores lidam com tempos de aprendizagem diferentes, e ai 'reprovar' acontecerá sim. É pérfido? É sórdido? Infelizmente é sim: se dentro de um ano o aluno nao alcançar determinado conjunto de notas (normalmente 20), ele se reprova sim.

Ainda assim, por mais que haja diferentes esforços dos professores e da equipe pedagógica, aliada a um grande conjunto de recursos pedagógicos, o aluno parece se colocar em isenção/ à parte desta possibilidade o ano todo. Dificuldades além da conta. Muita displicência/indiferença e forte desatenção. O que é impressionante (e, do lado do professor, decepcionante). Sendo assim, o 4 bimestre surgia como um bimestre das propostas de 'jeitinhos', dos pedidos de trabalhos de pesquisa em casa, dos choros incontidos, das mil e uma histórias, e das mortes em familias (de preferencia, pai, mae e irmãos). A idéia do aluno era recuperar o tempo perdido (ausente) atrvés da comoção e doação de pontos extras. É triste, mas era um hábito.

Mas hoje percebe-se algo diferente. Em tempos de acendência tecnológica, algo está muito diferente. De dois anos para cá observo outras atitudes dos alunos: eles nao voltam nem mesmo para o 4 bimestre e, em muitos casos, na volta das férias de julho, boa parte dos alunos assíduos desaparecem. Há uma desertificação da sala de aula. Uma turma que inicia o ano com 40 ou 50 alunos tem a grande possibilidade de acabar o ano com 15 ou 20 anos alunos frequentes. Não há uma ausência duvidosa e que tenha a probabilidade de reversão, há uma ausência definitiva. Os alunos não voltam. As salas se esvaziam e o 4 bimestre se arrasta de forma 'pesada' demais.

O que está acontecendo?

Lentamente o governo do estado do Rio de Janeiro vem realizando e criando programas de fomento da qualidade de ensino relacionado, principalmente com a informatização das escola, dos professores (entrega de laptops), criação de sites de acesso às questões da educação para alunos e professores (Conexão Professor / Conexão Aluno) etc. Tudo isto refletido na idéia de que o aluno deve ser alcançado cognitiva e socialmente em diferentes situações, com diferentes recursos, alcançando diferentes saberes.

Então, o que está faltando?

Não se pode julgar que os professores não sejam criativos, mas, neste fim de ano, observa-se em ambos os atores educacionais (professor e aluno) FALTA DE MOTIVAÇÃO. Por razões completamente diferentes, professores e alunos comungam num mesmo ambiente social, mas estão cada vez mais 'duros' com relação à escola, ao ensino, à aprendizagem e à relação com o conhecimento.

Segundo o site http://www.brasilescola.com/, MOTIVAÇÃOé uma força interior que se modifica a cada momento durante toda a vida, onde direciona e intensifica os objetivos de um indivíduo. Portanto é algo que existe em potencia em todos e que, além de se realizar por movimento próprio do individuo, também se realiza quando este mesmo indivíduo é 'tocado' por outras pessoas em seus interesses e necessidades. Segundo Abraham Maslow é possível organizar estas necessidades e/ou intereses da seguinte forma:
- auto-realização
- auto-estima
- sociais
- segurança
- fisiológica

Logico que não se deve generalizar nada, mas quem nao está DESMOTIVADO, no processo de interação e convivência, vai ficando. Mas quais são os itens que levam à FALTA DE MOTIVAÇÃO de ambos os atores educacionais? Se o sintoma está em relevância, quais são as causas? Autores comentam e escrevem sobre suas consequencias, como desatenção, indisciplina, indiferença, intransigência, dificuldade de ensino e de aprendizagem. Mas quais seriam as causas?

No caso dos professores, para além da realização do processo de ensino, existem outras preocupações como: desvalorização pessoal; perda do poder aquisitivo; excessiva valoração da arte e da cultura; necessidade de muitos deslocamentos; pouco tempo de ajustamento ás novidades da informática na escola; etc. Já, no caso dos alunos, há influência da comunidade onde vive; necessidade de absorção profissional rápida; má alimentação; regras demais; falta de contextualização do ensino etc. Para ambos, razões suficientes para desqualificar a importancia da escola/educação e ir em busca de outros horizontes que atenda com mais rapidez seus anseios, interesses e desejos.

Então o que se há de fazer?

Aproveitar as férias e pensar em revitalizações, tanto dos estudos e das formas de ensinar; quanto do movimento da sala de aula no proximo ano.

Profa Ms. Claudia Nunes

LER e ESCREVER: outros sentidos ou sentidos dos outros?

Atualmente a leitura e a escrita estão sendo apregoadas ao 04 ventos da educação. Em relevo, a análise de que, no processo escolar, os alunos apresentam dificuldades de interpretação porque fazem apenas um leitura muito objetiva do texto. Os alunos lêem, mas nao se interpenetram por entre as palavras que compõem o texto. será que há um desinteresse pela palavra escrita? Não foi o que se viu, por exemplo, na Bienal do Livro do Rio de Janeiro. Diante do poder da imagem, a literatura entrou em transmutação para se adaptar ao mundo contemporâneo. Junto ao processo de escrita e de leitura, outras mídias. É uma simbiose de instrumentos que possam lidar com os interesses dos alunos e favorecer a prática de ensino dos professores. O livro transforma-se num grande 'polvo marinho' pelas infovias da Internet, pelas imagens do cinema ou pelas ondas do rádio. E aí está renovada sua sedução e, principalmente a manutenção de sua existência entre nós. A escrita e a leitura, pelas diferenças de acesso aos conteúdos, atualizam-se como necessidades prementes em uma sociedade. O problema, então, é como deslocar o olhar do aluno para uma 'viagem literária' sem grandes podas ou restrições. Hoje, então, desenvolve-se a escrita colaborativa cujo mote principal é a comunhão de idéias (re)organizando a arquitetura do texto de maneira que o leitor possa entender os sentidos e interagir com as ações. Com a Web 2.0, conceitos como cooperação e colaboração são utilizados para amealharmais participantes para os projetos de oficinas de leitura e de escrita em diversos espaços educacionais. A leitura e a escrita desafiam os sujeitos a estar no mundo com mais integração. E os professores devem incentivar, através de dinãmicas desafiantes, seus alunos a interpretar outros sentidos ou os sentidos dos outros.

Profa. Ms Claudia Nunes

quarta-feira, 4 de novembro de 2009

Diga-me com quem andas que eu te direi quem és


A imagem de um homem em cima de uma jangada jogando sua rede ao mar está em minha mente nestes últimos dias. Se de um lado tem-se um homem em atividade livre, forte e séria. Uma atividade de sobrevivência e de autonomia em busca da oportunidade e da sorte. De outro, tem-se a construção de objetivos de vida. Ou seja, cada sujeito passa a vida lançando redes de contato em diferentes momentos e arrasta para si aquilo que merece. Nessa hora vale o esforço, o interesse, as relações, o conhecimento. Cada peixinho, cada conquista presa na rede causa prazer e alívio, mas também provoca novos investimentos / perspectivas. Ser humano é ser das eternas querências. Hoje há uma nova rede. Ao invés de observar, medir e lançar um objeto em cima de um ambiente apinhado de peixes / objetivos; os sujeitos são seduzidos ao lançamento do próprio corpo e mente para dentro do ciberespaço: são rede e pescado ao mesmo tempo. Ao tempo de conhecimento e aprofundamento de todos os tipos de relações soma-se o tempo do arrasto-click: no virtual, encontro um amigo, arrasto e click; encontro uma empresa, arrasto e click; encontro uma emoção, arrasto e click. De alguma forma todos se mantêm juntos e/ou dentro. Mas, cada vez menos construídas em ambiente ‘presencial, as redes sociais são entendidas como janelas de oportunidades profissionais. Os sujeitos se lançam em sites de relacionamento com outras expectativas/ intenções. Mais do que redes sociais, são redes de contatos e extensão das reputações profissionais. Existem vários links específicos para futuras contratações ou exposição de currículos, ou seja há redes sociais criadas especialmente para conectar profissionais com interesses comuns, além de informar o surgimento de vagas de trabalho. Aproveita-se o ‘boom’ da Internet, cria-se nova forma de processo seletivo e reorganiza-se uma boa parte do mercado de trabalho. Será que parte de nossa competência passa pela construção de nosso perfil na internet? Já há diversos cursos sobre ‘redes sociais e seleção por competência’, o que demonstra a realidade dos novos tempos e quão atentos devemos estar quando construímos o design de nossos perfis em ambiente virtual. Todos devem ter atenção a isso. Não é besteira! No Orkut, no Facebook ou no Twitter (para mencionar os mais populares), há sim um ‘grande irmão’ de Orwell. Um ‘grande irmão’ que também procura profissionais especialistas ou generalistas, e que vem determinando mudanças de comportamento dos/nos interagentes em suas redes sociais. Se por um lado não há mais como se isentar da participação nestas redes, de outro lado, precisa-se entender que, em nenhum deles, há a inocência da simples diversão. Educação, ética, escrúpulo e bom comportamento se mantêm como exigência nestes espaços, além de informação sobre vagas e processos seletivos. A efervescência do primeiro momento de aproximação dos sujeitos de um destes sites desvanece quando o retorno entra na rotina dos dias. As escolhas das comunidades representam mais nossos gostos, pensamentos e sentimentos, do que efetivamente encarado como espaço de participação (ativa) e intimidade (encontro com novas pessoas). Então surge a idéia: acessar sites que possam oportunizar mudança de status, mais informação sobre novos pontos de trabalho, ou de aprofundamento teórico. Hoje estou assanhada com o twitter. É um espaço grátis onde é preciso ser conciso. A informação deve ter, no máximo, 140 caracteres. É fácil, é complexo; é simples, é estranho. Na mesma praia, com alcance ilimitado, ‘seguimos’ muitas instituições e pessoas, e recebemos micro-informações, tanto completamente inúteis como estados de espírito ou eventos do dia, quanto densas de sentido e importantes elementos para compartilhamento e colaboração profissional. Sou muito desconfiada dessa profusão de redes sociais aparecendo na Internet. Mas o twitter tendo sido diferente. Para mim foi um ‘achado’. Amigos, gostos, papos, fotos, eu compartilho no Orkut. No twitter, tenho meu local de trabalho. Não é um lugar para papos descontraídos. É lugar de vantagens: de tirar vantagem da informação do outro; além de compartilhar e de colaborar. Mas para isso, é preciso ser coerente nas escolhas de quem se segue. Escolho bem quem sigo porque tenho interesses: vagas para professores, seminários, congressos e textos de aprofundamento. Estou aprendendo e tentando ‘pescar’ uma mudança de vida ou mais grana. Joguei a rede a muitos anos e conquistei o último dos desejos semana passada: mestrado. Agora me preparo para jogar novamente minha rede. Muitos movimentos à volta. Muitos animais com boquinhas abertas me distraindo, me encantando. O canto da sereia está por toda parte. Mas a tentação deve ser refreada. Sem mentiras ou exageros vou aceitando o dia-a-dia, reorganizando papeis e sentimentos, acessando novos rumos, limpando gavetas e recantos e (re)semeando a superfície perto de mim. Conserto e lavo minha rede com calma e sem pressa. E no twitter recheio a mente com possíveis escolhas para um dia seguinte de novas e outras trilhas, conquistas, esforços e... pesca.
Pro(a) Ms. Claudia Nunes

segunda-feira, 2 de novembro de 2009

ACADEMIA

Academia de ginástica, de leitura, de imortais, não! Academia científica! E eu passei por ela enfrentando pedras e armadilhas. Passei por ela crescendo, não há como negar, mas com grandes estranhamentos. Os fantasmas não foram dissipados, os preconceitos ‘pedagojosos’ perpetuaram, juntando-se a outros criando uma grande platéia de incógnitas que, entre si, apostava numa ação natural: a desistência. Quem dá mais? Quem dá mais? A roleta girava e as apostas eram cada vez mais frenéticas. Um elemento ‘alimentava’ seus frutos: o tempo. Numa cegueira turbilhonante das indecisões, surpresas, perdas e desencantos, o tempo sorria com dentes trágicos e me escapava. Vozes exigiam atitudes, interferências, ‘pé na porta’ e ‘múltiplas voadoras’, mas, ainda que sem entender os porquês, uma das minhas pernas estava travada pela ética, pela ação ética. Não se consegue nada sem ética, elegância e silêncio nevralgicamente utilizados. Eu passei pela academia, em discussão, em críticas, em análise, nunca por aceitação ou dentro da voracidade do senso comum. Era inútil medir forças ou mergulhar no descontrole porque, para isso, também foi preciso ciência, metodologia, grupo de discussão e vários seminários. Ainda assim faltou mediação: entre o tempo e a ética, não tive o refresco da orientação. É complexo tudo isso porque a conquista só é um véu nas indignações, perplexidades e injustiças que transpassaram esse tempo. A conquista neutraliza. O alívio da conquista neutraliza. Mas antes de qualquer coisa eu penso: ‘o vento que venta lá, venta cá também’, então, e mais uma vez o jogo egóico acadêmico se atém por interesse próprio então jogo no amanhã a reflexão, afinal a marca da instituição está feita e o corpo jamais esquecerá a terra dos Bruzundangas de Lima Barreto, já que o que vale é a marca da diversidade: eu passei pela academia... Parabéns para mim!

Prof(a) Ms Claudia Nunes

Nada nunca é igual

  Nada nunca é igual   Enquanto os dias passam, eu reflito: nada nunca é igual. Não existe repetição. Não precisa haver morte ou decepçã...