quinta-feira, 7 de março de 2013

DÚVIDA CRUEL: luta ou fuga?



Nós temos apenas cinco sentidos? Penso que não. Hoje diante de uma reunião pedagógica estranhíssima, pude acreditar que as emoções humanas não são sensações ou percepções advindas apenas dos cinco sentidos. O aprendizado sobre estes, desde Aristóteles, foi limitado ou restrito. Apenas os cinco sentidos não dão conta de tudo o que se passou em mim durante 4h de reunião, de novo, estranhíssima. Ou os sentidos não cabem em mim ou eu não caibo neles. Algo está errado. Hoje, na escola, a reunião.
Em princípio, uma reunião pedagógica voltada para o fomento de novas estratégias a serem realizadas durante o ano, ou ao menos, durante os dois semestres do ano. Planejamentos, planos, projetos, entrega de diários, esclarecimentos administrativos e reorganização das tarefas docentes e gestora eram os temas esperados. Todos os sistemas sensoriais dos docentes estavam voltados para os entendimentos das novas posturas pedagógicas para o ano de 2013. Estímulos orquestrando potenciais de ação quanto à criatividade e às sugestões de ensino dos docentes, diante do novo perfil do aluno 2013, já presente na escola. Todos cientes das suas capacidades e habilidades, apenas em expectativa de indicações de como usá-las em sala de aula.
Porém nada disso ocorreu. Houve variações nessas diretrizes. Houve variação na postura gestora, o que gerou mudanças na temperatura, na pressão, na posição das articulações motoras (propriocepção) e no equilíbrio emocional dentre outras sensações do grupo docente. Sem delongas, a gestora disse: ‘não quero me meter no ‘pedagógico’!’. Silêncio total. Penso até que os níveis de glicose em circulação de todos se alteraram completamente. Os cérebros ‘sentiram’ a informação chocante e demoraram a reagir. Alguns perderam momentaneamente a audição e disseram: ‘Ahã? Como é que é? Repete?’.
Sinceramente eu queria ser uma planta e viver com apenas dois sentidos: tato e luz. Aquilo não podia ser verdade, aquilo era uma sombra no sentido da visão, tão importante para o pensamento e a memória humanos. O grupo não falou mais nada. Minutos se passaram. Talvez ela nem tenha se dado conta. De repente, o mesmo grupo inverteu a situação: ‘vamos jantar?’
Se os sentidos comuns não deram conta da informação, é melhor ir caminhar, andar, respirar, falar em/por outros lugares e com outras pessoas, para arejar ‘a mente’ sem levar as emoções longe demais ou derramar, sem sentir, muito cortisol ou dopamina nas artérias.
No jantar, questões excitatórias no ar e sem controle, tal e qual ficam os feromônios humanos: ‘como não querer saber do ‘pedagógico’? Como assim?’ Uma amiga me disse: ‘ela precisa estudar...’. Será? Será que apenas estudando é possível adquirir um ‘sentir’ sobre o ambiente escolar e/ou as pessoas necessárias à escola? Diante da fala fatídica, se ela não sente, ela não se percebe também. Há uma cegueira sensorial diante de certezas e posturas anteriores de sucesso que atravancam a possibilidade de superação destes mesmos sucessos. É quase impossível ir além da paleta de sensações e envolver os docentes em novas diretrizes, a partir das memórias profissionais de formação, experiências e processamentos cognitivos mais sofisticados de cada um, dentro de uma expressão tão sem sentido.
O sentido do que foi falado torna-se barulho, confusão, ruído; e os filtros cerebrais complexos barram este tipo de som enquanto se presta atenção na ‘janta’. Impressionante! Os docentes então agem da seguinte forma: ignoram o ruído irrelevante e mudam o foco. Tanto o som da mensagem, quanto a emissora, são ignorados. É ouvir sem escutar. É o dilema da sobrevivência em âmbito escolar. E aí constantemente em nossas mentes, a presença das amígdalas cerebrais em sua dicotomia: luta ou fuga? Ou melhor, expondo a perversidade humana, mantida no campo do pensamento (imaginário) pelas tantas regras sociais: comer, fugir ou acasalar? Entendo agora estatísticas que anunciam milhares docentes em licença psiquiátrica.
É tão bom ser um simples animal sem uma forte complexidade cerebral (pelo desenvolvimento do córtex) e viver sob a égide de decisões também tão simples como luta ou fuga, ou, comer, fugir ou acasalar. Mas, quanto mais alto na escala filogenética (o que significa processos perceptivos mais complexos), menos o organismo está a mercê dos seus sentidos primitivos... dizem...
Infelizmente se não há geneticamente inserido em nossas moléculas, quaisquer transtornos de ansiedade, neurotransmissores como serotonina, dopamina e noradrenalina nos oferecem o equilíbrio motor e sensor necessários ao processo de calma das tensas amígdalas cerebrais e do ‘irônico’ sistema límbico, através do córtex e do neo-cortex.
Por conseguinte, nós pensamos; nós podemos analisar e pensar; nós podemos nos corticalizar em estratégias internas e externas de forma a recompor nossas coerências cerebrais (neuroplasticidade) e estabelecer outros comportamentos (ainda) emocionais diante do que quer que seja ou de quem seja. Não é fácil. Diante de determinadas posturas, isso é dificílimo. Mas seguimos tentando para não entrarmos em barbárie total.
Depois da ‘janta’ retornamos à sala de reunião. Talvez tivéssemos sido enganados pelos sentidos. Talvez tivéssemos julgados a ‘pessoa’ com muita rapidez. Talvez não tivéssemos entendido o sentido da mensagem. Talvez nossos cérebros tivessem misturado os sentidos que, em princípio não são entidades independentes, mas cuja percepção é seu produto final.
Ledo engano. Tudo ratificado na primeira fala de retorno à reunião. Não fomos enganados por uma falsa leitura labial; pelo cruzamento momentâneo de estímulos entre diferentes áreas sensoriais e nossa imaginação; ou pelas tantas conversas paralelas comuns numa sala de professores. Todos fomos enganados por nossas teorias: nossas leituras e nossa formação.
Então a questão dos cinco sentidos, da geração espontânea, da frenologia, da gestão democrática e do respeito ao aluno devem ser colocadas em ‘stand by’, ou no conjunto dos absurdos, sem nenhum sentido, de determinadas políticas públicas.

Profa. Ms Claudia Nunes



quarta-feira, 6 de março de 2013

COMPETÊNCIAS docente no século XXI


Hoje devemos ter preocupação com os jovens do século XXI. São muitas exigências, muitas pressuposições, muitas sugestões, e nem sempre a geração mais jovem adquire habilidades para se sustentar dentro desse conjunto de necessidades. Ao se reconhecer que a sociedade está em crise, porque em processo de transição, deve-se reconhecer também que, no meio de tudo, está a geração jovem em processo de aprendizagem e de desenvolvimento biológico; e, pelo visto, uma geração com chances mínimas de se estabelecer bem no social e/ou no campo de trabalho.


No campo biopsicossocial, a tríade família, escola e trabalho apresentam conflitos, desrealizações, mudanças, necessidades, cada vez mais intensas e rápidas. Estas requerem decisões absurdamente objetivas e quase sempre a geração mais jovens ainda não tem ferramentas cognitivas e afetivas suficientes para observar, pensar e decidir com média coerência. Nada incomum, apenas a ratificação de que a geração jovem do século XXI, apesar das tantas tecnologias a que tem acesso, é mesmo uma geração jovem, ou seja, uma geração ainda necessitando de parcerias, seguranças, pontos de contato com as gerações anteriores. Um grande período em que esta geração jovem pode se instrumentalizar cognitivo-afetivamente para o mundo é o período escolar.
Durante quase 10 anos, esta geração jovem está imersa no ambiente escolar, em diferentes níveis e, em cada nível, é esperado que habilidades inatas e aprendidas no convívio social sejam trabalhadas e aprofundadas até o ponto do conhecimento efetivo e da construção de uma memória de procedimentos importante à vida integral. Surge então um questionamento: será que as novas tecnologias da Internet podem dar conta disso? Sinceramente, não há como responder por que estas ‘novas tecnologias’ necessitam também de pensamento, criação e aplicação contextualizada de novas metodologias relacionadas a desafios de aprendizado inovadores e não a práticas ainda fixadas no passado apenas transpostas, por exemplo, do quadro ao datashow. 
Esta questão é difícil por que as novas tecnologias, quando encaradas como parte do conjunto de recursos de aprendizagem, exigem conhecimento docente sobre suas dinâmicas de ação e construção. Ao introduzi-las em sala, o próprio docente deve ser capaz de responder determinadas questões ‘mecânicas’, como ‘professor, como mudar o perfil do blog?’, ‘professor, como faço para não receber todos os emails do nosso grupo online?’, ‘quero colocar só vídeos no nosso blog, como faço?’ etc. Será que os professores estão (já) competentes para lidar com essa outra gama de questões em sala de aula? É preciso pensar além do conteúdo e transformá-lo em dinâmicas interessantes e desafiantes no contexto escolar visando realmente o futuro de uma nação.
No século XXI, os docentes têm a necessidade de renovar seus procedimentos metodológicos, de acordo com o contexto em que trabalham. Não vale mais a idéia de que, diante do conteúdo, a aula está pronta e deve ser realizada linearmente como o planejado. Diante de uma geração jovem, completamente envolvida com a dinâmica da vida social, ainda que muitos não tenham tanto acesso às novas tecnologias, a complexidade cognitiva e emocional são os conceitos da hora e devem ser os principais objetivos na construção dos planejamentos e das relações entre professores e alunos.
Planejamentos de cursos, planos de aula, ações de proximidade, inclusão escolar, estratégias de aprendizagem, práticas de ensino, fazem parte de um pacote dinamizador tanto da escola quanto da sala de aula, quando pensados em termos globais, em termos de rede complexa de respeito às subjetividades e ao contexto escolar. Neste pacote, é possível pensar a aprendizagem em ligação com outros saberes que não apenas o do saber específico de uma área de saber. É possível pensar interdisciplinarmente. É possível desenvolver a formação integral dos sujeitos-aprendentes. É o momento idealizado, na formação docente, em que ensinantes e aprendentes se integram na perspectiva de compor emoções e cognições no ato de aprender fazendo. Daí está favorecido, o ‘pensar’ e o ‘realizar’ o conteúdo tendo sentido e significado, ou seja, sendo utilizado na vida de cada aprendente ou formando memórias para a vivência e convivência na/com a vida.

Porém que competências docentes são necessárias?

Segundo site PORVIR, um grupo de fundações pediu que o National Research Council (organização norte-americana que faz pesquisas sobre temas importantes da sociedade para ajudar governos a desenharem políticas públicas) reunisse especialistas para definir quais são essas competências. Durante um ano, um comitê formado por educadores, psicólogos e economistas fez pesquisas sobre o que se espera que os estudantes alcancem nos seus ciclos escolares, nos seus futuros trabalhos e em outros aspectos da vida. O resultado, publicado no fim de julho no livro digital “Educação para a Vida e para o Trabalho: Desenvolvendo Transferência de Conhecimento e Habilidades do Século 21” (download gratuito), tenta dar nomes aos bois e ajudar professores e gestores públicos a prepararem os estudantes para o século 21.
Apesar de ainda serem necessários alguns estudos para pavimentar esse caminho, os pesquisadores dão seis dicas de atuação em sala de aula para que professores possam preparar o aluno para o século 21 – que começou há 12 anos.
1)   Procure usar representações variadas, como diagramas, representações numéricas e matemáticas, simulações;
2)   Encoraje uma postura questionadora e proporcione momentos em que os alunos possam expor o que sabem;
3)   Incentive os alunos a participarem de desafios; neste processo, seja um facilitador, dê feedback e os faça compreender seus próprios processos de aprendizagem;
4)   Ensine dando exemplos, citando casos; use, por exemplo, modelos de passo a passo explicando cada etapa;
5)   Prime pela motivação dos alunos, escolhendo temas que se conectem com suas paixões; incentive-os a resolver problemas, preste atenção na evolução de seus conhecimentos, muito mais que em suas notas;
6)   Use avaliações formativas em que o aluno é monitorado continuamente.


Profa Claudia Nunes

Nada nunca é igual

  Nada nunca é igual   Enquanto os dias passam, eu reflito: nada nunca é igual. Não existe repetição. Não precisa haver morte ou decepçã...