domingo, 28 de dezembro de 2014

RESENHA: EXODUS: deuses e reis


Dezembro de 2014, eu vi ÊXODO: DEUSES E REIS. Que decepção! Amo épicos de todo jeito. Não perco um. Mas esse eu poderia ter perdido fácil. Cansativo. Chato. Lento. Incoerente. Adaptação bíblica que podíamos ficar sem. Querem conhecer a historia direito? Assistam OS DEZ MANDAMENTOS, dez vezes melhor! Ridley Scott, depois de O GLADIADOR, nunca mais fez nada de excelência. Tem PROMETHEUS, mas sei lá... A opção pelo sombrio no épico nem sempre é inteligente.
Fugindo da moda atual de revisitação de histórias conhecidas a partir de outro olhar ou focado na releitura de um dos personagens (vejam MALÉVOLA e o enjoado ALICE NO PAÍS DAS MARAVILHAS), EXODUS reproduz quase literalmente uma história conhecida sem nenhum desafio. O que mudou? Os artistas e suas insossas representações. É uma condensação ruim das quatro horas do filme OS DEZ MANDAMENTOS, de Cecil B. Mille (1957). E não deu para não ficar indignada ao lembrar de Yul Brynner (como Ramsés) e Charlton Heston (como Moisés) e observar que estes personagens fortes se tornaram psicológicos, frágeis, sem graça e complexos demais. Inclusive Ramsés é inseguro, chato, sem energia e, em alguns momentos, a plateia o vê como homossexual e debocha claramente. Horrível!
É um típico filme promocional para o período das festas natalinas. Se não lembra O GLADIADOR, nem pensar em lembrarmos de ROBIN HOOOD. Em OS DEZ MANDAMENTOS há um alinhavo compreensível sobre a história da ‘irmandade’ de Ramsés e Moises. A plateia consegue acompanhar cada cena e uni-las uma a uma sem perder nada, mesmo àqueles que, como eu, leem ou leram A BÍBLIA como um livro apenas; ou àqueles que nunca a leram. Em EXODUS isso é difícil por causa da edição e da rapidez do fluxo entre cenas.
Em EXODUS, tudo está picotado, talvez represente as formas de narrar espetacularizadas da vida pós-moderna. Tudo realmente é líquido demais como ensina Bauman. É preciso tempo e paciência para entender a conjuntura do que se representa. Alias o que se representa? Nada! Emoções sem emoção. Mesmo na hora em que o povo hebreu perde a fé em Moisés e teme atravessar o Mar Vermelho, a fala do personagem para 400 mil pessoas é vazia, sem vibração. Particularmente eu o abandonaria fácil...
O filme passa simples assim. História de hebreus e egípcios. História trágica que se inicia com uma profecia sobre um líder que se tornará líder ao salvar um líder em batalha. Ramsés é salvo por Moises, e daí a insegurança emocional se inicia e descortina toda a história da infância de ambos. Mortes inúteis por todo lado. Pessoas pagam com a vida pela intolerância dos dois ‘reis’. Neste ponto o Antigo Testamento é vermelho mesmo: Deus mata gerações para mostrar sua força e mudar pensamentos e comportamentos. Não se compreende porque Moises é escolhido para libertar o povo hebreu, simplesmente o tempo passa e isso acontece. E de novo o editor resolve picotar tudo: pragas de Deus (sequencia looonga demais); saída do Egito; abertura do Mar Vermelho (alias em OS DEZ MANDAMENTOS (1957), isto está melhor resolvido); subida ao Monte Sinai (que ninguém vê); e a construção das Tábuas da Lei de Deus (algo que dura 4min): tudo em 30min. Graças a Zeus, a travessia até Cannaã e os percalços pelos quais Moisés passará fica para nossa imaginação.
O que presta nisso tudo? O visual, o figurino egípcio (impecável) e alguns efeitos especiais. É tudo apressado demais, como a vida atual, e tem clímax manjado e efêmero. Ah, esqueci, impossível entender a pífia participação de Sigourney Weaver (ALIEN) e Ben Kingsley (GANDHI). Este último ainda é o cara que revelará a história de vida a Moises; mas ela? Nada faz além de sabermos pela boca de Ramsés que ela quer, desde sempre, a morte de Moisés. Outra coisa: que ‘Deus’ é aquele? Vejam é me digam: ele (uma criança) é tão ‘mal’ quanto Ramsés e, pior, Moisés diz isso a ele e é ignorado totalmente. Ou ele (Moisés) é subserviente ou perderá tudo inclusive a família.
É reconhecível que ‘mexer’ na história seria angariar polêmicas demais e tornaria o filme ‘invendável’. Logo o ‘caminho’ (palavra em latim para ‘êxodo’) não poderia fugir dos ‘contos’ bíblicos já consagrados pelo imaginário coletivo; mas sem ritmo e compasso nas cenas e personagens, o filme se torna a representação de um folhetim do século XVIII: pura água com açúcar.

CLAUDIA NUNES 

Nada nunca é igual

  Nada nunca é igual   Enquanto os dias passam, eu reflito: nada nunca é igual. Não existe repetição. Não precisa haver morte ou decepçã...