Dezembro de 2014, eu vi ÊXODO:
DEUSES E REIS. Que decepção! Amo épicos de todo jeito. Não perco um. Mas esse
eu poderia ter perdido fácil. Cansativo. Chato. Lento. Incoerente. Adaptação
bíblica que podíamos ficar sem. Querem conhecer a historia direito? Assistam OS
DEZ MANDAMENTOS, dez vezes melhor! Ridley Scott, depois de O GLADIADOR, nunca
mais fez nada de excelência. Tem PROMETHEUS, mas sei lá... A opção pelo sombrio
no épico nem sempre é inteligente.
Fugindo da moda atual de
revisitação de histórias conhecidas a partir de outro olhar ou focado na
releitura de um dos personagens (vejam MALÉVOLA e o enjoado ALICE NO PAÍS DAS
MARAVILHAS), EXODUS reproduz quase literalmente uma história conhecida sem
nenhum desafio. O que mudou? Os artistas e suas insossas representações. É uma
condensação ruim das quatro horas do filme OS DEZ MANDAMENTOS, de Cecil B.
Mille (1957). E não deu para não ficar indignada ao lembrar de Yul Brynner
(como Ramsés) e Charlton Heston (como Moisés) e observar que estes personagens
fortes se tornaram psicológicos, frágeis, sem graça e complexos demais. Inclusive
Ramsés é inseguro, chato, sem energia e, em alguns momentos, a plateia o vê
como homossexual e debocha claramente. Horrível!
É um típico filme promocional
para o período das festas natalinas. Se não lembra O GLADIADOR, nem pensar em
lembrarmos de ROBIN HOOOD. Em OS DEZ MANDAMENTOS há um alinhavo compreensível
sobre a história da ‘irmandade’ de Ramsés e Moises. A plateia consegue
acompanhar cada cena e uni-las uma a uma sem perder nada, mesmo àqueles que,
como eu, leem ou leram A BÍBLIA como um livro apenas; ou àqueles que nunca a
leram. Em EXODUS isso é difícil por causa da edição e da rapidez do fluxo entre
cenas.
Em EXODUS, tudo está picotado,
talvez represente as formas de narrar espetacularizadas da vida pós-moderna. Tudo
realmente é líquido demais como ensina Bauman. É preciso tempo e paciência para
entender a conjuntura do que se representa. Alias o que se representa? Nada!
Emoções sem emoção. Mesmo na hora em que o povo hebreu perde a fé em Moisés e
teme atravessar o Mar Vermelho, a fala do personagem para 400 mil pessoas é
vazia, sem vibração. Particularmente eu o abandonaria fácil...
O filme passa simples assim.
História de hebreus e egípcios. História trágica que se inicia com uma profecia
sobre um líder que se tornará líder ao salvar um líder em batalha. Ramsés é
salvo por Moises, e daí a insegurança emocional se inicia e descortina toda a
história da infância de ambos. Mortes inúteis por todo lado. Pessoas pagam com
a vida pela intolerância dos dois ‘reis’. Neste ponto o Antigo Testamento é vermelho
mesmo: Deus mata gerações para mostrar sua força e mudar pensamentos e
comportamentos. Não se compreende porque Moises é escolhido para libertar o
povo hebreu, simplesmente o tempo passa e isso acontece. E de novo o editor
resolve picotar tudo: pragas de Deus (sequencia looonga demais); saída do
Egito; abertura do Mar Vermelho (alias em OS DEZ MANDAMENTOS (1957), isto está
melhor resolvido); subida ao Monte Sinai (que ninguém vê); e a construção das
Tábuas da Lei de Deus (algo que dura 4min): tudo em 30min. Graças a Zeus, a
travessia até Cannaã e os percalços pelos quais Moisés passará fica para nossa
imaginação.
O que presta nisso tudo? O
visual, o figurino egípcio (impecável) e alguns efeitos especiais. É tudo
apressado demais, como a vida atual, e tem clímax manjado e efêmero. Ah,
esqueci, impossível entender a pífia participação de Sigourney Weaver (ALIEN) e
Ben Kingsley (GANDHI). Este último ainda é o cara que revelará a história de
vida a Moises; mas ela? Nada faz além de sabermos pela boca de Ramsés que ela
quer, desde sempre, a morte de Moisés. Outra coisa: que ‘Deus’ é aquele? Vejam
é me digam: ele (uma criança) é tão ‘mal’ quanto Ramsés e, pior, Moisés diz
isso a ele e é ignorado totalmente. Ou ele (Moisés) é subserviente ou perderá
tudo inclusive a família.
É reconhecível que ‘mexer’ na
história seria angariar polêmicas demais e tornaria o filme ‘invendável’. Logo
o ‘caminho’ (palavra em latim para ‘êxodo’) não poderia fugir dos ‘contos’
bíblicos já consagrados pelo imaginário coletivo; mas sem ritmo e compasso nas
cenas e personagens, o filme se torna a representação de um folhetim do século
XVIII: pura água com açúcar.
CLAUDIA NUNES