sexta-feira, 6 de abril de 2012

SINCRONIAS


Hoje acordei querendo sincronias: confortos aprazíveis para cadenciar o dia sem mudanças inseguras. Sem querer percebi: isto é impossível. Almejar sincronia na vivência do coletivo é impossível. Antes mesmo de levantar, o cotidiano: tomo ciência da presença de outras pessoas: barulhos, bagunças, cheiros, outras cobertas. Queria levantar e me preparar para o futuro ou ao menos para os meus trabalhos da hora sem outros, mas com a cara amarrotada já tomava uma decisão: arrumar os restos de pessoas para procurar a sincronia desejada. Sim, sincronia não é algo natural, não vive ou morre de véspera, apenas lambuza os sonhos de mais soluções, resultados e conformidades. Sem mais, o telefone toca: é o alerta do mundo distraindo meu cérebro das liberdades ou novidades ainda em potência. Não vou atender ao telefone: estou estacionando no meu corpo tentando, ao menos, improvisar outros alimentos aos meus valores. Sincronia é o sinal de que há uma recomposição acontecendo vagarosamente. Sem correr preciso entender tudo isso; preciso recuperar meu dote principal: a inteligência; e aceitar as novas águas abertas para outro movimento. O sol me incomoda, a luz me envergonha, a casa me ignora. Com o que me paramentar? Que ferramentas usar? Para ir em frente, terei que retornar as minhas origens répteis? Sem sincronia sou um personagem kafkiano jogado numa cama sem saber bem o que lhe aconteceu. Qual seria a melhor travessia? Há uma febre em mim cuja sincronia deseja só alimentar. Bobamente penso 'ninguém passa por isso por acaso ou impunemente'. Essa emoção tão forte não é por acaso: busco significação, imobilização e, lógico, animação. Nada mais natural. Quero praticar diferenças, surpresas, disfunções e desequilíbrios para (re)acordar o conhecimento e a noção de humano. Sair da condição de rascunho e ser, ao menos, um projeto de provocação do outro e de mim sem edições interesseiras. Em sincronia, assumirei a transversalidade das energias e, assim como Guimarães Rosa, assumirei meu lugar na terceira margem do rio pouco caudaloso, espero. Anos em cavernas verdejantes sob o canto das sereias de Ulisses, mas agora querendo o reduto das montagens tensas e incomodas de Gerald Thomas. E tudo com sincronias, tudo ultrapassando meu neuroeixo e se espalhando por outras dimensões dos meus mundos. Agora é o despertador que toca. Agora é preciso reanimar meu córtex e aceitar minha condição de bípede. Agora é a obrigação de conviver com alto desempenho e performance novelística. Mas e a sincronia? Uma vez dada a largada não tem volta... estou sem correntes... me aguardem... bjos

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