Fim do ano.
Avaliações finais. Todos muito tensos. Professores querendo férias. Pais em
expectativa quanto à nota final dos filhos. Mesmo alunos-adultos, há uma
tensão: perspectiva de promoção, de alcance de outro cargo ou de maior
valorização em família ou no trabalho depende da nota final. Os sentidos estão
à prova. Eles lutam entre o que realizaram durante o ano e como foram vistos
(analisados) ao longo das suas realizações no mesmo ano. É uma tensão misturada
com um grande desejo: tomara que tudo termine bem, tomara que ‘eu’ passe de
ano. Não interessa mais como foi o ano, agora é torcer para que o professor
seja, além de tudo, sensível e o promova. É tensão mesmo.
Mas como foi
seu desempenho durante o ano? Hoje em dia, em geral, os pais têm preocupações
enormes quanto ao desempenho dos seus filhos na escola. Eles pouco observam o
processo de aprendizagem cotidiana, mas se preocupam muito com o objetivo
final: a nota. Pouco se ligam nas
notas bimestrais, ou visitam a escola vez por outra, mas a nota final é
primordial. Caso haja sucesso, tudo o que foi organizado com antecedência (viagens,
festas, mudanças) ocorrerá sem transtorno, mas se há o fracasso, tudo se torna
a metáfora do fim do mundo. Festas, viagens e mudanças vão acontecer
normalmente, afinal o filho estará em férias, mas há o drama da decepção (ou
culpa) e o ridículo dos castigos mais variados.
Para os pais é
um momento de susto mesmo. Em suas tantas responsabilidades diárias,
acreditaram que o filho estava bem e aprendendo. Se ele, filho, vai à escola
todos os dias e só tem isso para fazer é lógico que tudo vai bem. Só que não é
bem assim. Do nada, ele (o pai) percebe o filho em seu pior momento e não
entende o que aconteceu, já que deu todo o conforto e alimento para o sujeito.
O que fazer? Ter mais atenção!
Na sociedade
moderna, ter atenção está muito difícil. São milhares de informações por
segundo com as quais não conseguimos lidar, muito menos apreender. E aí
reproduzimos de fato o que o cérebro faz com naturalidade: seleção. Entre o input e o output de informações, a formação de
conexões neuronais acontece por associação por semelhança de conteúdos em cada
núcleo de cada neurônio e isto de comum acordo com os chamados ‘neurônios
espelho’. É um processo de seleção cerebral em busca da formulação do
pensamento. Ter atenção é um processo então que antecede ao pensar. E muitos
pais precisam pensar seus filhos durante todo o ano letivo. Ou melhor, muitos
pais precisam estar atentos aos seus filhos para pensá-los em sua formação
integral cotidianamente. E aí nova pergunta: se isso foi feito, como está a
atenção dos filhos?
Uma das ações
cerebrais mais importantes no processo de aprender é a atenção. Mas até esta
ação demanda outras ações para acontecer. Segundo Johnson, então “é preciso
descobrir a sensação de prestar atenção” para se reconhecer o prazer de
aprender. O cérebro é um espaço de ações complexas e integradas. Nada acontece
sem afetar de alguma maneira todo o sistema nervoso. Logo a ação de atenção é
uma ação que também estimula à mudança de comportamento. É o início deste
processo de mudança biocomportamental que convoca os sujeitos a entrar em
sinergia aprendente com suas emoções, desejos, objetivos, certezas etc.
Como o
aprender é uma ação que altera a neuroquímica cerebral, fortalece conexões
entre várias sinapses, estimula memória, emoção e cognição (hipocampo, amígdala
e córtex pré-frontal), a atenção é uma ação que atrai habilidades internas que
necessitam destes mesmos elementos para se transformar em conhecimento. E isso
não é fácil. Ter atenção nos dias de hoje mais tecnológicos (velozes) não é
fácil. Então como está a atenção dos ‘filhos’ no processo de aprendizagem?
Segundo
Johnson (2008, p.76), “o conceito de atenção é um prisioneiro em nossa
linguagem: pensamos que [as] diversas habilidades são semelhantes em termos
qualitativos porque temos uma só palavra que serve para todas elas”. Ou seja,
pensar na ação de atenção no processo de aprender (plasticidade cerebral) não
deve excluir a certeza de que somos completamente diferentes justamente no
processo de aprender (construção de novas conexões neuronais). Há uma
complexidade singular quase inimaginável na movimentação das redes de
informações no espaço cerebral e isso sempre vai promover uma exposição
comportamental também singular dos sujeitos sociais (filhos). Mas a proximidade
real dos pais pode gerar formas de prestar atenção. E como isso se dá?
Todo professor
deve condicionar, com ritmo e repetição, os cérebros para que estes se
comportem de novas maneiras no mundo real. Esse condicionamento se dá através
de uma aproximação mais afetiva e de estratégias de ensino mais emocionantes,
atuais e diversas constantemente. O professor deve mudar (refletir) para
emocionar, estimular e mudar cérebros cada vez mais ávidos pelo surpreendente e
diferente na escola e nas relações, mesmo de conteúdo, que for construindo. Por
isso o sabor ou a sensação de prestar atenção deve ser trabalhado como
prazerosa e muito importante em todas as ações e comportamentos cognitivos,
emocionais, sociais e pessoais. Afinal não existe boa ou má atenção, existem atenções
bem ou mal estimuladas. Uma lembrança: os pais são os primeiros professores dos
sujeitos (filhos).
Quando
pensamos em mudanças nas estratégias de ensino, pensamos na questão dos
sentidos. O circuito da atenção no cérebro é dependente de como os sentidos são
atingidos pelas informações ou emoções, no caso, dentro de uma sala de aula.
Depois de se integrar na turma e de se adaptar às diferentes emoções de se
estar junto a outras pessoas (outras experiências e expectativas), o aluno deve
reconhecer seu papel como aprendente. A figura do professor, então, surge como
o grande manipulador dos sentidos focados na idéia de aprender. E os primeiros
sentidos a serem trabalhados são a visão e a audição, circuitos cerebrais
abertos à composição de informações. É o primeiro momento de assimilação apresentada
por Piaget.
Mesmo
com grandes responsabilidades, os pais têm que entender que os filhos aprendem
por estimulação dos sentidos e esse ‘aprender’ é muito singular. Os filhos têm
sistemas sensoriais, partes de seus sistemas nervosos, que consiste de
receptores sensoriais e neurônios aferentes. Estes movimentam partes do cérebro
envolvidas no processamento da informação. Daí o sabor de prestar atenção é o
sabor da percepção e do reconhecimento da mensagem apresentada como
interessante. O sabor de prestar atenção é o sabor da assimilação daquilo que
for interessante. Então cada um (filhos), mesmo no início da sua formação
educacional, após tempo de envolvimento com a educação familiar, tem atenção
naquilo que for ou novidade ou interessante. Em ambos, neurônios espelhos se
encontram com outros neurônios cujas informações semelhantes agitam o hipocampo
e trazem ao córtex pré-frontal algum link com a realidade já vivida. Momento da
atenção.
Estímulos
dentro das zonas de interesse dos alunos geram atenção e aprendizagem. Eles são
os precursores das respostas fisiológicas e comportamentais envolvendo o
sistema sensorial e a vida cotidiana. O desempenho de cada aluno depende então
dos diferentes estímulos com as quais se deparar em casa, na escola, na rua, no
trabalho, onde quer que seja. E cada cérebro, com seu sistema sensorial,
responderá melhor a diferentes tipos de estímulos de acordo com suas diversas
freqüência. Sendo assim, o desempenho é algo que deve ser observado (percebido)
gradativamente porque, de uma forma intensa, vai gerar mudanças
comportamentais, de visão de mundo, emocionais e cognitivas nos alunos.
Segundo
Johnson (2008, p.77), depois da sensação de prestar atenção segue-se a
“sustentação, capacidade de permanecermos concentrados num único objeto ou
tarefa por períodos mais prolongados”. Porém não há unanimidade em seu
acontecimento nos cérebros aprendentes, já que alguns podem ter uma ótima
sustentação olfativa, mas ter um sistema visual distraído com facilidade por causa
dos novos estímulos. É o princípio da construção das habilidades e da afirmação
das competências de cada um em determinados assuntos ou pensamentos.
Ao tentar
acompanhar os desempenhos, os pais e professores precisam ter em mente um
mantra: no processo de aprendizagem, os canais sensitivos são primordiais, eles
captam, em qualquer momento específico, tantos dados relativos ao mundo externo
que a principal capacidade da consciência não é a habilidade de perceber o
ambiente ou de assimilar conteúdos, num curto espaço de tempo, mas sim a
capacidade de ignorar a maior parte dos estímulos, criando combinações
importantes ao próprio desenvolvimento cognitivo e emocional.
Pais,
os desempenhos dos seus filhos têm singularidades muito específicas porque
atravessam sentidos também muito específicos. Logo atenção aos estímulos no processo
de aprendizagem e não à sua culminância tão fechada numa nota final.
Profa Claudia Nunes