quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

PORTELA 2013


MADUREIRA... onde o meu coração se deixou levar

E lá vou eu cantando com a minha viola
O amor tem seus mistérios
Por onde me deixo levar
Laiá
Nossa história começa por lá
No engenho da fazenda
Dos cantos de “canaviá”
Bate o sino da capela
Ôi… que é dia de santo, sinhá
Tem mironga de jongueiro
O tambor me chamou pra dançar
Tempo rodou na roda do trem e veio
A inspiração do partideiro
Que versou no Mercadão
Foi nesse chão
Que a estrela brilhou no tablado
O “Madura” pisou no gramado
O malandro charmoso dançou
No pagode com outro gingado
Quando o bloco chegou
Agitou o suingue do black
E a nega baiana girou
Cai na folia, sem grilo, meu bem vem na fé
Na ilusão da fantasia
Vai como pode quem quer
Surgiu a serrinha imperial
Em outros caminhos para o mesmo ritual
Portela, meu orgulho suburbano
Traz os poetas soberanos nesse trem para cantar
Que Madureira é muito mais do que um lugar
É a capital de um sonho que me faz sambar
Abre a roda, chegou Madureira
A poeira já vai levantar
O batuque ginga ioiô
Ginga iaiá

quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

ATENÇÃO, desempenho e sala de aula


Fim do ano. Avaliações finais. Todos muito tensos. Professores querendo férias. Pais em expectativa quanto à nota final dos filhos. Mesmo alunos-adultos, há uma tensão: perspectiva de promoção, de alcance de outro cargo ou de maior valorização em família ou no trabalho depende da nota final. Os sentidos estão à prova. Eles lutam entre o que realizaram durante o ano e como foram vistos (analisados) ao longo das suas realizações no mesmo ano. É uma tensão misturada com um grande desejo: tomara que tudo termine bem, tomara que ‘eu’ passe de ano. Não interessa mais como foi o ano, agora é torcer para que o professor seja, além de tudo, sensível e o promova. É tensão mesmo.
Mas como foi seu desempenho durante o ano? Hoje em dia, em geral, os pais têm preocupações enormes quanto ao desempenho dos seus filhos na escola. Eles pouco observam o processo de aprendizagem cotidiana, mas se preocupam muito com o objetivo final: a nota. Pouco se ligam nas notas bimestrais, ou visitam a escola vez por outra, mas a nota final é primordial. Caso haja sucesso, tudo o que foi organizado com antecedência (viagens, festas, mudanças) ocorrerá sem transtorno, mas se há o fracasso, tudo se torna a metáfora do fim do mundo. Festas, viagens e mudanças vão acontecer normalmente, afinal o filho estará em férias, mas há o drama da decepção (ou culpa) e o ridículo dos castigos mais variados.
Para os pais é um momento de susto mesmo. Em suas tantas responsabilidades diárias, acreditaram que o filho estava bem e aprendendo. Se ele, filho, vai à escola todos os dias e só tem isso para fazer é lógico que tudo vai bem. Só que não é bem assim. Do nada, ele (o pai) percebe o filho em seu pior momento e não entende o que aconteceu, já que deu todo o conforto e alimento para o sujeito. O que fazer? Ter mais atenção!
Na sociedade moderna, ter atenção está muito difícil. São milhares de informações por segundo com as quais não conseguimos lidar, muito menos apreender. E aí reproduzimos de fato o que o cérebro faz com naturalidade: seleção. Entre o input e o output de informações, a formação de conexões neuronais acontece por associação por semelhança de conteúdos em cada núcleo de cada neurônio e isto de comum acordo com os chamados ‘neurônios espelho’. É um processo de seleção cerebral em busca da formulação do pensamento. Ter atenção é um processo então que antecede ao pensar. E muitos pais precisam pensar seus filhos durante todo o ano letivo. Ou melhor, muitos pais precisam estar atentos aos seus filhos para pensá-los em sua formação integral cotidianamente. E aí nova pergunta: se isso foi feito, como está a atenção dos filhos?
Uma das ações cerebrais mais importantes no processo de aprender é a atenção. Mas até esta ação demanda outras ações para acontecer. Segundo Johnson, então “é preciso descobrir a sensação de prestar atenção” para se reconhecer o prazer de aprender. O cérebro é um espaço de ações complexas e integradas. Nada acontece sem afetar de alguma maneira todo o sistema nervoso. Logo a ação de atenção é uma ação que também estimula à mudança de comportamento. É o início deste processo de mudança biocomportamental que convoca os sujeitos a entrar em sinergia aprendente com suas emoções, desejos, objetivos, certezas etc.
Como o aprender é uma ação que altera a neuroquímica cerebral, fortalece conexões entre várias sinapses, estimula memória, emoção e cognição (hipocampo, amígdala e córtex pré-frontal), a atenção é uma ação que atrai habilidades internas que necessitam destes mesmos elementos para se transformar em conhecimento. E isso não é fácil. Ter atenção nos dias de hoje mais tecnológicos (velozes) não é fácil. Então como está a atenção dos ‘filhos’ no processo de aprendizagem?
Segundo Johnson (2008, p.76), “o conceito de atenção é um prisioneiro em nossa linguagem: pensamos que [as] diversas habilidades são semelhantes em termos qualitativos porque temos uma só palavra que serve para todas elas”. Ou seja, pensar na ação de atenção no processo de aprender (plasticidade cerebral) não deve excluir a certeza de que somos completamente diferentes justamente no processo de aprender (construção de novas conexões neuronais). Há uma complexidade singular quase inimaginável na movimentação das redes de informações no espaço cerebral e isso sempre vai promover uma exposição comportamental também singular dos sujeitos sociais (filhos). Mas a proximidade real dos pais pode gerar formas de prestar atenção. E como isso se dá?
Todo professor deve condicionar, com ritmo e repetição, os cérebros para que estes se comportem de novas maneiras no mundo real. Esse condicionamento se dá através de uma aproximação mais afetiva e de estratégias de ensino mais emocionantes, atuais e diversas constantemente. O professor deve mudar (refletir) para emocionar, estimular e mudar cérebros cada vez mais ávidos pelo surpreendente e diferente na escola e nas relações, mesmo de conteúdo, que for construindo. Por isso o sabor ou a sensação de prestar atenção deve ser trabalhado como prazerosa e muito importante em todas as ações e comportamentos cognitivos, emocionais, sociais e pessoais. Afinal não existe boa ou má atenção, existem atenções bem ou mal estimuladas. Uma lembrança: os pais são os primeiros professores dos sujeitos (filhos).
            Quando pensamos em mudanças nas estratégias de ensino, pensamos na questão dos sentidos. O circuito da atenção no cérebro é dependente de como os sentidos são atingidos pelas informações ou emoções, no caso, dentro de uma sala de aula. Depois de se integrar na turma e de se adaptar às diferentes emoções de se estar junto a outras pessoas (outras experiências e expectativas), o aluno deve reconhecer seu papel como aprendente. A figura do professor, então, surge como o grande manipulador dos sentidos focados na idéia de aprender. E os primeiros sentidos a serem trabalhados são a visão e a audição, circuitos cerebrais abertos à composição de informações. É o primeiro momento de assimilação apresentada por Piaget.
            Mesmo com grandes responsabilidades, os pais têm que entender que os filhos aprendem por estimulação dos sentidos e esse ‘aprender’ é muito singular. Os filhos têm sistemas sensoriais, partes de seus sistemas nervosos, que consiste de receptores sensoriais e neurônios aferentes. Estes movimentam partes do cérebro envolvidas no processamento da informação. Daí o sabor de prestar atenção é o sabor da percepção e do reconhecimento da mensagem apresentada como interessante. O sabor de prestar atenção é o sabor da assimilação daquilo que for interessante. Então cada um (filhos), mesmo no início da sua formação educacional, após tempo de envolvimento com a educação familiar, tem atenção naquilo que for ou novidade ou interessante. Em ambos, neurônios espelhos se encontram com outros neurônios cujas informações semelhantes agitam o hipocampo e trazem ao córtex pré-frontal algum link com a realidade já vivida. Momento da atenção.
            Estímulos dentro das zonas de interesse dos alunos geram atenção e aprendizagem. Eles são os precursores das respostas fisiológicas e comportamentais envolvendo o sistema sensorial e a vida cotidiana. O desempenho de cada aluno depende então dos diferentes estímulos com as quais se deparar em casa, na escola, na rua, no trabalho, onde quer que seja. E cada cérebro, com seu sistema sensorial, responderá melhor a diferentes tipos de estímulos de acordo com suas diversas freqüência. Sendo assim, o desempenho é algo que deve ser observado (percebido) gradativamente porque, de uma forma intensa, vai gerar mudanças comportamentais, de visão de mundo, emocionais e cognitivas nos alunos.
            Segundo Johnson (2008, p.77), depois da sensação de prestar atenção segue-se a “sustentação, capacidade de permanecermos concentrados num único objeto ou tarefa por períodos mais prolongados”. Porém não há unanimidade em seu acontecimento nos cérebros aprendentes, já que alguns podem ter uma ótima sustentação olfativa, mas ter um sistema visual distraído com facilidade por causa dos novos estímulos. É o princípio da construção das habilidades e da afirmação das competências de cada um em determinados assuntos ou pensamentos.
Ao tentar acompanhar os desempenhos, os pais e professores precisam ter em mente um mantra: no processo de aprendizagem, os canais sensitivos são primordiais, eles captam, em qualquer momento específico, tantos dados relativos ao mundo externo que a principal capacidade da consciência não é a habilidade de perceber o ambiente ou de assimilar conteúdos, num curto espaço de tempo, mas sim a capacidade de ignorar a maior parte dos estímulos, criando combinações importantes ao próprio desenvolvimento cognitivo e emocional.
            Pais, os desempenhos dos seus filhos têm singularidades muito específicas porque atravessam sentidos também muito específicos. Logo atenção aos estímulos no processo de aprendizagem e não à sua culminância tão fechada numa nota final.

Profa Claudia Nunes

terça-feira, 8 de janeiro de 2013

FREINET e o 'ENSINAR'


            O mundo parece cada vez mais complexo. E não apenas por conta da quantidade absurda de informações a que podemos ter acesso, a qualquer hora da noite ou do dia. Mas, principalmente, porque com as transformações sociais e culturais, do ponto de vista biopsíquico, multiplicaram-se as formas de ser (família, profissional, adulto, homem, mulher, cidadão...). Modelos mais flexíveis abriram espaço para nos perguntarmos: como ensinar hoje?
            Aparentemente tudo já foi dito, mostrado e escrito. Aparentemente o que importa é o tanto de acessibilidade cada um consegue em seu cotidiano, dentro das suas especificidades também sociais e culturais, e isso vem modificando o modus operandi das formas de aprender. Ensinar, então ganha uma nova juventude: um momento em que a ação de experimentar torna-se a melhor estratégia para se impulsionar a vontade de aprender ou, ao menos, de se estimular a curiosidade sobre determinado assunto.
            Celestin Freinet sem um método pedagógico rídigo, nem uma teoria propriamente científica, nos apresenta pedagogias possíveis às ‘novas’ salas de aula: a pedagogia do trabalho, do bom senso, da afetividade e do êxito. Todas relacionadas com uma proposta de mais autonomia, criticidade e solidariedade no desenvolvimento das aprendizagens.
            Bem antes do sócio-interacionismo de Vigotsky e da afetividade de Wallon, Freinet nos apresenta, a partir das técnicas pedagógicas mais colaborativas ou da vivência do aprender ‘fora escola’, a possibilidade de se transformar aprendentes em sujeitos sociais proativos e integrados em suas referências sociais. Ensinar, a partir do desenvolvimento de atividades em conjunto, torna-se um momento de respeito a maneira como os aprendentes aprendem e como constroem os próprios caminhos neurais até o conhecimento. Ensinar torna-se criar uma vida cognitiva através do trabalho colaborativo.
            De acordo com Freinet, é preciso observar, entender e usar as diversidades e contradições em prol do processo de aprender. É ensinar no aprender fazendo, interagindo, criando sinergias entre o que se sabe e o que se pode saber no grupo. Córtex pré-frontal, hipocampo e lobos parietais acionados. É ensinar na colaboração para constantes reelaborações das informações na memória.
            Ensinar à geração multimídia demanda então os 04 fatores importantes: trabalho, bom senso, afeto e êxito. E este ensinar, quando à luz da neurociência, torna-se excitante e prazeroso. É promoção das neuroplasticidades, ou seja, da mutabilidade da sala de aula, a partir da mutabilidade neuronal de todos os cérebros em funcionamento focado. Além das emoções estimuladas pelo sistema límbico, há a demonstração da capacidade do encéfalo com seu córtex, tronco encefálico, bulbo e cerebelo de gerar e assumir funções e decisões, também gerando uma suficiente e ampla comunicação entre neurônios de forma a incentivar qualitativamente as atividades.
Ao elaborar seu planejamento então, o educador deve criar atividades que comportem um conjunto mínimo de conteúdos a serem assimilados durante sua realização. Ensinar torna-se a criação de processos de adaptação internas (bio) e externas (psicossocial) constantes. Ou seja, é exigir do cérebro sua função executiva com prazer e crescente auto-estima.
Segundo Lent (2008, p.289), as funções executivas “é um conjunto de operações mentais que organizam e direcionam os diversos domínios cognitivos categoriais para que funcionem de maneira biologicamente adaptativa”, mas também nos informa que estas mesmas funções executivas “são de difícil mensuração (...) e se manifestam em ambientes que demandam criatividade, respostas rápidas a problemas novos, planejamento e flexibilidade cognitiva” (p.291). Todo o processo, por conseguinte, acessa e estimula as amígdalas cerebrais, produzindo memórias emocional, que ativam o córtex pré-frontal, que introduz o raciocínio, o pensamento racional às etapas a serem enfrentadas por todos em cada atividade.
Ensinar, hoje, ganhar um novo estilo: um estilo mais ‘cerebelar’, mais equilibrado, com mais postura, apesar da necessidade de uso incessante de recursos tecnológicos no trato com a dinâmica da sala de aula. Há uma neurogênese importante no processo de se adquirir conhecimento, mas só ativada e desenvolvida caso aja uma adição constante de novas células para manter tanto o tônus muscular, quanto às faculdades mentais.
Hoje ensinar precisa ativar com intensidade áreas do aprendizado e da memória (hipocampo). E Freinet, com sua técnicas, torna-se extremamente atual e necessário.

Profa Claudia Nunes

Nada nunca é igual

  Nada nunca é igual   Enquanto os dias passam, eu reflito: nada nunca é igual. Não existe repetição. Não precisa haver morte ou decepçã...