O mundo parece cada vez mais
complexo. E não apenas por conta da quantidade absurda de informações a que
podemos ter acesso, a qualquer hora da noite ou do dia. Mas, principalmente,
porque com as transformações sociais e culturais, do ponto de vista biopsíquico,
multiplicaram-se as formas de ser (família, profissional, adulto, homem,
mulher, cidadão...). Modelos mais flexíveis abriram espaço para nos
perguntarmos: como ensinar hoje?
Aparentemente tudo já foi dito,
mostrado e escrito. Aparentemente o que importa é o tanto de acessibilidade
cada um consegue em seu cotidiano, dentro das suas especificidades também
sociais e culturais, e isso vem modificando o modus operandi das formas de aprender. Ensinar, então ganha uma
nova juventude: um momento em que a ação de experimentar torna-se a melhor
estratégia para se impulsionar a vontade de aprender ou, ao menos, de se
estimular a curiosidade sobre determinado assunto.
Celestin Freinet sem um método
pedagógico rídigo, nem uma teoria propriamente científica, nos apresenta
pedagogias possíveis às ‘novas’ salas de aula: a pedagogia do trabalho, do bom
senso, da afetividade e do êxito. Todas relacionadas com uma proposta de mais
autonomia, criticidade e solidariedade no desenvolvimento das aprendizagens.
Bem antes do sócio-interacionismo de
Vigotsky e da afetividade de Wallon, Freinet nos apresenta, a partir das
técnicas pedagógicas mais colaborativas ou da vivência do aprender ‘fora
escola’, a possibilidade de se transformar aprendentes em sujeitos sociais
proativos e integrados em suas referências sociais. Ensinar, a partir do
desenvolvimento de atividades em conjunto, torna-se um momento de respeito a
maneira como os aprendentes aprendem e como constroem os próprios caminhos
neurais até o conhecimento. Ensinar torna-se criar uma vida cognitiva através
do trabalho colaborativo.
De acordo com Freinet, é preciso
observar, entender e usar as diversidades e contradições em prol do processo de
aprender. É ensinar no aprender fazendo, interagindo, criando sinergias entre o
que se sabe e o que se pode saber no grupo. Córtex pré-frontal, hipocampo e
lobos parietais acionados. É ensinar na colaboração para constantes
reelaborações das informações na memória.
Ensinar à geração multimídia demanda
então os 04 fatores importantes: trabalho, bom senso, afeto e êxito. E este
ensinar, quando à luz da neurociência, torna-se excitante e prazeroso. É
promoção das neuroplasticidades, ou seja, da mutabilidade da sala de aula, a
partir da mutabilidade neuronal de todos os cérebros em funcionamento focado. Além
das emoções estimuladas pelo sistema límbico, há a demonstração da capacidade
do encéfalo com seu córtex, tronco encefálico, bulbo e cerebelo de gerar e
assumir funções e decisões, também gerando uma suficiente e ampla comunicação
entre neurônios de forma a incentivar qualitativamente as atividades.
Ao
elaborar seu planejamento então, o educador deve criar atividades que comportem
um conjunto mínimo de conteúdos a serem assimilados durante sua realização.
Ensinar torna-se a criação de processos de adaptação internas (bio) e externas
(psicossocial) constantes. Ou seja, é exigir do cérebro sua função executiva
com prazer e crescente auto-estima.
Segundo
Lent (2008, p.289), as funções executivas “é
um conjunto de operações mentais que organizam e direcionam os diversos
domínios cognitivos categoriais para que funcionem de maneira biologicamente
adaptativa”, mas também nos informa que estas mesmas funções executivas “são de difícil mensuração (...) e se
manifestam em ambientes que demandam criatividade, respostas rápidas a
problemas novos, planejamento e flexibilidade cognitiva” (p.291). Todo o
processo, por conseguinte, acessa e estimula as amígdalas cerebrais, produzindo
memórias emocional, que ativam o córtex pré-frontal, que introduz o raciocínio,
o pensamento racional às etapas a serem enfrentadas por todos em cada
atividade.
Ensinar,
hoje, ganhar um novo estilo: um estilo mais ‘cerebelar’, mais equilibrado, com
mais postura, apesar da necessidade de uso incessante de recursos tecnológicos
no trato com a dinâmica da sala de aula. Há uma neurogênese importante no processo
de se adquirir conhecimento, mas só ativada e desenvolvida caso aja uma adição
constante de novas células para manter tanto o tônus muscular, quanto às
faculdades mentais.
Hoje
ensinar precisa ativar com intensidade áreas do aprendizado e da memória
(hipocampo). E Freinet, com sua técnicas, torna-se extremamente atual e
necessário.
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