Nós
temos apenas cinco sentidos? Penso que não. Hoje diante de uma reunião
pedagógica estranhíssima, pude acreditar que as emoções humanas não são
sensações ou percepções advindas apenas dos cinco sentidos. O aprendizado sobre
estes, desde Aristóteles, foi limitado ou restrito. Apenas os cinco sentidos
não dão conta de tudo o que se passou em mim durante 4h de reunião, de novo,
estranhíssima. Ou os sentidos não cabem em mim ou eu não caibo neles. Algo está
errado. Hoje, na escola, a reunião.
Em
princípio, uma reunião pedagógica voltada para o fomento de novas estratégias a
serem realizadas durante o ano, ou ao menos, durante os dois semestres do ano.
Planejamentos, planos, projetos, entrega de diários, esclarecimentos
administrativos e reorganização das tarefas docentes e gestora eram os temas
esperados. Todos os sistemas sensoriais dos docentes estavam voltados para os
entendimentos das novas posturas pedagógicas para o ano de 2013. Estímulos
orquestrando potenciais de ação quanto à criatividade e às sugestões de ensino
dos docentes, diante do novo perfil do aluno 2013, já presente na escola. Todos
cientes das suas capacidades e habilidades, apenas em expectativa de indicações
de como usá-las em sala de aula.
Porém
nada disso ocorreu. Houve variações nessas diretrizes. Houve variação na
postura gestora, o que gerou mudanças na temperatura, na pressão, na posição
das articulações motoras (propriocepção) e no equilíbrio emocional dentre
outras sensações do grupo docente. Sem delongas, a gestora disse: ‘não quero me
meter no ‘pedagógico’!’. Silêncio total. Penso até que os níveis de glicose em
circulação de todos se alteraram completamente. Os cérebros ‘sentiram’ a
informação chocante e demoraram a reagir. Alguns perderam momentaneamente a
audição e disseram: ‘Ahã? Como é que é? Repete?’.
Sinceramente
eu queria ser uma planta e viver com apenas dois sentidos: tato e luz. Aquilo
não podia ser verdade, aquilo era uma sombra no sentido da visão, tão
importante para o pensamento e a memória humanos. O grupo não falou mais nada.
Minutos se passaram. Talvez ela nem tenha se dado conta. De repente, o mesmo
grupo inverteu a situação: ‘vamos jantar?’
Se
os sentidos comuns não deram conta da informação, é melhor ir caminhar, andar,
respirar, falar em/por outros lugares e com outras pessoas, para arejar ‘a
mente’ sem levar as emoções longe demais ou derramar, sem sentir, muito cortisol
ou dopamina nas artérias.
No
jantar, questões excitatórias no ar e sem controle, tal e qual ficam os feromônios
humanos: ‘como não querer saber do ‘pedagógico’? Como assim?’ Uma amiga me
disse: ‘ela precisa estudar...’. Será? Será que apenas estudando é possível
adquirir um ‘sentir’ sobre o ambiente escolar e/ou as pessoas necessárias à
escola? Diante da fala fatídica, se ela não sente, ela não se percebe também.
Há uma cegueira sensorial diante de certezas e posturas anteriores de sucesso
que atravancam a possibilidade de superação destes mesmos sucessos. É quase
impossível ir além da paleta de sensações e envolver os docentes em novas
diretrizes, a partir das memórias profissionais de formação, experiências e
processamentos cognitivos mais sofisticados de cada um, dentro de uma expressão
tão sem sentido.
O
sentido do que foi falado torna-se barulho, confusão, ruído; e os filtros
cerebrais complexos barram este tipo de som enquanto se presta atenção na
‘janta’. Impressionante! Os docentes então agem da seguinte forma: ignoram o
ruído irrelevante e mudam o foco. Tanto o som da mensagem, quanto a emissora,
são ignorados. É ouvir sem escutar. É o dilema da sobrevivência em âmbito
escolar. E aí constantemente em nossas mentes, a presença das amígdalas
cerebrais em sua dicotomia: luta ou fuga? Ou melhor, expondo a perversidade
humana, mantida no campo do pensamento (imaginário) pelas tantas regras sociais:
comer, fugir ou acasalar? Entendo agora estatísticas que anunciam milhares docentes
em licença psiquiátrica.
É
tão bom ser um simples animal sem uma forte complexidade cerebral (pelo
desenvolvimento do córtex) e viver sob a égide de decisões também tão simples
como luta ou fuga, ou, comer, fugir ou acasalar. Mas, quanto mais alto na
escala filogenética (o que significa processos perceptivos mais complexos),
menos o organismo está a mercê dos seus sentidos primitivos... dizem...
Infelizmente
se não há geneticamente inserido em nossas moléculas, quaisquer transtornos de
ansiedade, neurotransmissores como serotonina, dopamina e noradrenalina nos
oferecem o equilíbrio motor e sensor necessários ao processo de calma das
tensas amígdalas cerebrais e do ‘irônico’ sistema límbico, através do córtex e
do neo-cortex.
Por
conseguinte, nós pensamos; nós podemos analisar e pensar; nós podemos nos
corticalizar em estratégias internas e externas de forma a recompor nossas
coerências cerebrais (neuroplasticidade) e estabelecer outros comportamentos
(ainda) emocionais diante do que quer que seja ou de quem seja. Não é fácil.
Diante de determinadas posturas, isso é dificílimo. Mas seguimos tentando para não
entrarmos em barbárie total.
Depois
da ‘janta’ retornamos à sala de reunião. Talvez tivéssemos sido enganados pelos
sentidos. Talvez tivéssemos julgados a ‘pessoa’ com muita rapidez. Talvez não
tivéssemos entendido o sentido da mensagem. Talvez nossos cérebros tivessem
misturado os sentidos que, em princípio não são entidades independentes, mas cuja
percepção é seu produto final.
Ledo
engano. Tudo ratificado na primeira fala de retorno à reunião. Não fomos
enganados por uma falsa leitura labial; pelo cruzamento momentâneo de estímulos
entre diferentes áreas sensoriais e nossa imaginação; ou pelas tantas conversas
paralelas comuns numa sala de professores. Todos fomos enganados por nossas
teorias: nossas leituras e nossa formação.
Então
a questão dos cinco sentidos, da geração espontânea, da frenologia, da gestão
democrática e do respeito ao aluno devem ser colocadas em ‘stand by’, ou no conjunto
dos absurdos, sem nenhum sentido, de determinadas políticas públicas.
Profa. Ms Claudia Nunes