Todos
nós buscamos a alegria de viver. Isso nada tem a ver com negação dos problemas. Justamente os
problemas são os temperos das futuras alegrias (prazer e bem-estar) de viver. Nós
somos organismos que se desenvolvem qualitativamente nos processos, nas
intermediações, nos meios-termos. E estes vãos insuspeitos, sempre
surpreendentes, informam que todas as zonas de conforto (nossas defesas e
certezas) são prejudiciais ao corpo e à mente quando alcançam tempo ilimitado,
quando diminuem uma das funções do córtex pré-frontal: o pensamento. Assim
sendo, mesmo nos processos, nas intermediações ou nos meios-termos, que
justificam diferentes aprendizados, há que se deixar presentificar (e
presenciar) os limites, os ‘nãos’, os ‘pitstops’ dos sentidos e das ações, a
fim de vivenciarmos nossas imperfeições, defeitos e impossibilidades. Essa é a
tônica do princípio da plasticidade cerebral, da metacognição, da possibilidade
neurogenética e da convivência equilibrada.
Somos
cíclicos. Somos corpos projetados no cotidiano humano em parabólicas complexas
pelo prazer e pela dor. Em ambas as emoções, devemos pensar estrategicamente;
devemos elaborar caminhos que mantenham, minimamente, nosso equilíbrio; devemos
induzir, em todos os momentos, a geração de elementos químicos que ‘alimentem’
nosso circuito de recompensa cerebral, a saber: conjunto que sinaliza ao
restante do cérebro quando algo deu certo; ou segundo Davidson (2013), circuito
situado numa região do estriado ventral, abaixo da superfície cortical, no centro
do cérebro, [ativado] quando as pessoas recebem ou prevêem que irão receber
algo gratificante ou agradável (p.100).
Mas
como ativar e induzir este sistema em situações de risco comportamental e, por
conseqüência, emocional?
Hoje,
diante da vida moderna, cheia de impossibilidades quanto ao tempo de reflexão,
ou seja, cheia de experimentações instintivas de si e do outro, numa velocidade
intensa, por invocarmos apenas lampejos das associações neuronais necessárias à
formação do equilíbrio emocional, esta ativação (ou indução) só pode se dar por
uma decisão, uma escolha, uma parada forçada na dinâmica da vida, na intenção
da recomposição interior, na intenção da sobrevivência em sociedade.
A
neurociência afirma que precisamos aumentar, estrategicamente, o funcionamento
de dois componentes cerebrais: a área Tegmental Ventral (acionada quando recebe
no córtex pré-frontal, um sinal de que algo interessante e positivo acaba de
acontecer ou tenha grandes chances de acontecer em breve): é o momento do jorro
químico (neuronal) de dopamina sobre o núcleo accubens. E o núcleo accubens propriamente
dito que, segundo Davidson (2013, p.100), é a região crítica para a motivação e
a sensação de gratificação, no interior do estriado ventral, com um amontoado
de neurônios que secretam ou captam a dopamina (neurotransmissor ligado às
emoções positivas, à motivação e ao desejo) e os opiáceos endógenos (ligados ao
bem-estar).
A
neurociência nos apresenta, de novo e dentro de um conjunto teórico específico,
nossa capacidade de gerar e gerenciar bem estar e equilíbrio, por exemplo,
diante de situações ou pessoas difíceis, cuja convivência nos é imposta por um
tempo relativamente grande. Esta capacidade de reelaborar estratégias de defesa
quanto às sensações ou pensamentos negativos vai além da simples indução do bem
estar (alegria de viver) a que nos referimos no início deste texto. Ela só será
incorporada aos nossos tantos comportamentos internos (emoções) quando
sustentadas após a vivência do acontecimento estranho, a simples visualização
de um fato (emoção) ruim ou a escuta de palavras incômodas.
Somos
humanos em neuromodulagens internas constantes. Somos humanos capazes de modificar
nossas atividades elétricas neuronais quando surpreendidos pelas distrações das
certezas (e posturas) dos outros. Somos humanos investidos do poder do
pensamento (e até da vontade) sobre como queremos acordar e atravessar nossos
‘dias seguintes’. Somos humanos capazes de MUDAR, de nos TRANSFORMAR, de
REINAUGURAR novas (e outras) conexões sinápticas, e verdadeiramente NOS
SUPERAR. É uma decisão! Neste sentido, temos que fazer parceria objetiva com
nosso núcleo accubens porque ele é o receptor dos sinais de instrução do
córtex pré-frontal (região de hierarquia mais avançada) para a intensificação e
sustentação da sensação de alegria.
Todos
os estímulos do mundo moderno afetam a todos. Ninguém foge às suas provocações.
Então o que se sugere aqui, é o entendimento de que o processo de recompensa ou
de reprogramação para a alegria de viver começa no cérebro e por nossas
decisões de viver dentro de bases comportamentais que nos façam aprender com
menos dor; que nos façam reconhecer os momentos de ‘desgoverno’ emocional; que
nos façam induzir e sustentar estratégias neuronais à vontade de superar diferentes
intempéries; e que nos façam entender que ATITUDE é tudo!
Não desista ainda!
Profa
Claudia Nunes
Referência:
DAVIDSON, Richard J.
O Estilo Emocional do Cérebro. Rio de Janeiro: Sextante, 2013.
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