domingo, 14 de abril de 2013

NÃO DESISTA AINDA! (Bases neurocientíficas à alegria de viver)


Todos nós buscamos a alegria de viver. Isso nada tem a ver com  negação dos problemas. Justamente os problemas são os temperos das futuras alegrias (prazer e bem-estar) de viver. Nós somos organismos que se desenvolvem qualitativamente nos processos, nas intermediações, nos meios-termos. E estes vãos insuspeitos, sempre surpreendentes, informam que todas as zonas de conforto (nossas defesas e certezas) são prejudiciais ao corpo e à mente quando alcançam tempo ilimitado, quando diminuem uma das funções do córtex pré-frontal: o pensamento. Assim sendo, mesmo nos processos, nas intermediações ou nos meios-termos, que justificam diferentes aprendizados, há que se deixar presentificar (e presenciar) os limites, os ‘nãos’, os ‘pitstops’ dos sentidos e das ações, a fim de vivenciarmos nossas imperfeições, defeitos e impossibilidades. Essa é a tônica do princípio da plasticidade cerebral, da metacognição, da possibilidade neurogenética e da convivência equilibrada.
Somos cíclicos. Somos corpos projetados no cotidiano humano em parabólicas complexas pelo prazer e pela dor. Em ambas as emoções, devemos pensar estrategicamente; devemos elaborar caminhos que mantenham, minimamente, nosso equilíbrio; devemos induzir, em todos os momentos, a geração de elementos químicos que ‘alimentem’ nosso circuito de recompensa cerebral, a saber: conjunto que sinaliza ao restante do cérebro quando algo deu certo; ou segundo Davidson (2013), circuito situado numa região do estriado ventral, abaixo da superfície cortical, no centro do cérebro, [ativado] quando as pessoas recebem ou prevêem que irão receber algo gratificante ou agradável (p.100).
Mas como ativar e induzir este sistema em situações de risco comportamental e, por conseqüência, emocional?
Hoje, diante da vida moderna, cheia de impossibilidades quanto ao tempo de reflexão, ou seja, cheia de experimentações instintivas de si e do outro, numa velocidade intensa, por invocarmos apenas lampejos das associações neuronais necessárias à formação do equilíbrio emocional, esta ativação (ou indução) só pode se dar por uma decisão, uma escolha, uma parada forçada na dinâmica da vida, na intenção da recomposição interior, na intenção da sobrevivência em sociedade.
A neurociência afirma que precisamos aumentar, estrategicamente, o funcionamento de dois componentes cerebrais: a área Tegmental Ventral (acionada quando recebe no córtex pré-frontal, um sinal de que algo interessante e positivo acaba de acontecer ou tenha grandes chances de acontecer em breve): é o momento do jorro químico (neuronal) de dopamina sobre o núcleo accubens. E o núcleo accubens propriamente dito que, segundo Davidson (2013, p.100), é a região crítica para a motivação e a sensação de gratificação, no interior do estriado ventral, com um amontoado de neurônios que secretam ou captam a dopamina (neurotransmissor ligado às emoções positivas, à motivação e ao desejo) e os opiáceos endógenos (ligados ao bem-estar).
A neurociência nos apresenta, de novo e dentro de um conjunto teórico específico, nossa capacidade de gerar e gerenciar bem estar e equilíbrio, por exemplo, diante de situações ou pessoas difíceis, cuja convivência nos é imposta por um tempo relativamente grande. Esta capacidade de reelaborar estratégias de defesa quanto às sensações ou pensamentos negativos vai além da simples indução do bem estar (alegria de viver) a que nos referimos no início deste texto. Ela só será incorporada aos nossos tantos comportamentos internos (emoções) quando sustentadas após a vivência do acontecimento estranho, a simples visualização de um fato (emoção) ruim ou a escuta de palavras incômodas.
Somos humanos em neuromodulagens internas constantes. Somos humanos capazes de modificar nossas atividades elétricas neuronais quando surpreendidos pelas distrações das certezas (e posturas) dos outros. Somos humanos investidos do poder do pensamento (e até da vontade) sobre como queremos acordar e atravessar nossos ‘dias seguintes’. Somos humanos capazes de MUDAR, de nos TRANSFORMAR, de REINAUGURAR novas (e outras) conexões sinápticas, e verdadeiramente NOS SUPERAR. É uma decisão! Neste sentido, temos que fazer parceria objetiva com nosso núcleo accubens porque ele é o receptor dos sinais de instrução do córtex pré-frontal (região de hierarquia mais avançada) para a intensificação e sustentação da sensação de alegria.
Todos os estímulos do mundo moderno afetam a todos. Ninguém foge às suas provocações. Então o que se sugere aqui, é o entendimento de que o processo de recompensa ou de reprogramação para a alegria de viver começa no cérebro e por nossas decisões de viver dentro de bases comportamentais que nos façam aprender com menos dor; que nos façam reconhecer os momentos de ‘desgoverno’ emocional; que nos façam induzir e sustentar estratégias neuronais à vontade de superar diferentes intempéries; e que nos façam entender que ATITUDE é tudo!

Não desista ainda!

Profa Claudia Nunes

Referência:
DAVIDSON, Richard J. O Estilo Emocional do Cérebro. Rio de Janeiro: Sextante, 2013.

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