Virou moda chamar
todos os professores de “mediadores”, mas uma grande parte não é. Mediar não é
o mesmo que interagir, não é o mesmo que ensinar. Mediação é muito mais do que
isso. De acordo com Reuven Feuerstein, um dos maiores educadores do mundo, a mediação
precisa ter algumas características muito especiais. Sem elas, não é mediação,
é apenas uma “interação”.
Vejamos as três
principais:
1 – Intencionalidade e reciprocidade
O mediador precisa
querer ensinar o conteúdo com tal paixão e decisão que fará tudo o que estiver
ao seu alcance para explicar da melhor forma possível. Adaptará a linguagem
para que a criança com deficiência realmente compreenda. Usará as tecnologias
disponíveis na escola para que o conceito se torne claro. Isso tudo chamaremos
de intencionalidade, que é a soma do objetivo com as todas as ações possíveis
para que o ensino seja realmente de qualidade. Além da intencionalidade do
professor, o aluno precisa desejar aprender. Isso se chama reciprocidade. E o
mediador usa estratégias adequadas para encantar o aluno desde o princípio,
para chamar sua atenção, para conquistar sua vontade de aprender.
2 – Transcendência
Não basta aprender
para fazer uma prova. É preciso que se aprenda de tal forma que seja possível
aplicar o conceito construído em qualquer outra situação ou contexto. A
compreensão do conceito é tal que a criança passa a aplicar o aprendido em sua
própria vida e consegue explicar qualquer nova situação em que o conceito
esteja presente.
3 – Mediação do significado
Um conceito realmente
compreendido se interliga a outros conceitos já construídos pela criança. O
mediador precisa ajudar a criança a fazer isso, principalmente uma criança com
dificuldades de aprendizagem. Mediar o significado é mostrar aos alunos onde se
aplica o conteúdo recém-aprendido, de que forma esse conteúdo aumenta a
compreensão sobre outros fatos e como o conceito pode ampliar a compreensão de
mundo da criança. Tudo isso é mediar o significado de um conceito.
Segundo Feuerstein, um mediador sempre
considera em suas atitudes essas três características anteriores; no entanto,
para que um mediador seja ainda melhor é necessário que inclua outras nove
características em sua interação com seus alunos, incluindo as crianças com
deficiências. Se as três características estiverem presentes num professor, ele
já pode ser considerado um mediador; no entanto, se tal professor apresentar em
suas atitudes as outras nove, ele será um mediador ainda melhor.
Os professores
precisam receber formação continuada para que possam desenvolver melhor sua
metodologia. Sabemos que muitos professores já agem de acordo com as
características de mediação aqui defendidas, mas para que possam ser ainda mais
eficazes é importante que suas ações sejam conscientes e planejadas, e não
apenas fruto do acaso ou de experiências – ainda que bem-sucedidas. Precisamos
nos profissionalizar cada vez mais. Precisamos agir com nossos alunos sabendo o
que queremos e onde pretendemos levá-los com nossa ajuda, e em especial para
com os alunos com deficiências. Sem esses pré-requisitos iremos interagir com
eles, mas não saberemos se as vitórias ou fracassos dependeram mais de nós ou
das próprias crianças.
Inspirado na obra Mediação
da aprendizagem na educação especial, de Gislaine Coimbra Budel e Marcos Meier
(Editora IBPEX, 2012).
Artigo escrito por
Marcos Meier e Gislaine Coimbra Budel e publicado na edição de dezembro de 2012
da revista Profissão Mestre.
Bjos Claudia Nunes
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