segunda-feira, 20 de janeiro de 2014

JOGOS: primeiras ideias





Muita diversão e arte
Claudia

MULHERES DE CALÇADA


Fico impressionada com ‘mulheres de calçada’. Sentada numa praça de alimentação, minha imaginação voa com liberdade e uma ideia me surpreende: depois dos ‘homens que cansam’, penso em ‘mulheres de calçada’. É uma luta ser mulher hoje: princípio básico da própria aceitação. Não dá para ser princesa; ignorar inadequações hormonais; fingir menos emoções; agir sem malemolências; ou lutar contra desejos reprimidos de ser livre apesar de tudo e todos.

‘Mulheres de calçada’ são da Era de Aquário: é consciente de si e do outro; age dentro de uma realidade quase planetária e sinceramente tem suas próprias regras de vivência social. É uma mulher em processo de adaptação diante das próprias necessidades e jamais perde oportunidades. ‘Mulheres de calçada’ funcionam dentro de adequações singulares e enfrentam obstáculos sem perder o frescor de um sorriso quase indecifrável de tão inacreditável. Mas por que são chamadas, aqui, de ‘mulheres de calçada’? Porque, no mínimo, são duplas.

Vocês sabem que, numa praça de alimentação, há muitos rostos, emoções, gestos, vozes e silêncios. Sim, há silêncios que só quem está ao longe e que ‘perde’ segundos observando, pode entender o que significam. Sem provocar incômodos, eu olho os rostos das mulheres e sinto as diferenças entre o dito e o não dito. E muitas são ‘mulheres de calçada’ mesmo sem o saber. E é triste não se saber. É uma rede feminina de querências, ignorâncias, repressões, alívios, tranquilidades e... silêncios. Sem querer, talvez pela força da maioria das maquiagens, eu determino as ‘mulheres de calçada’.

De um lado, de longe, ‘mulheres de calçada’ são planas; arrumadinhas; equilibradas; certinhas; comuns; com poucas inadequações; passantes num mundo cheio de loucuras e de gente sem noção das consequências de cada passo ou das responsabilidades com os outros; ansiosas pelo que não vivem ou pelo que vivem sem o querer; conformadas, ainda que tenham brilhos de olhos desejantes; opacas apesar do batom vermelhão; espaçadas de corpo e alma de acordo com quantidade de filhos.



De outro lado, de perto, na calçada da vida, ‘mulheres de calçada’ conhecem e vivem o mundo a pé. E a pé, determinam cada padrão de ação e de emoção; a pé, determinam o transito das pessoas que vao e vem ou que permanecerão de qualquer forma; a pé, tem evoluções com revoluções emocionais intensas sem perder o ar de princesa ou a cara de madrasta; a pé, abrem, com inteligência, ‘passarelas’ para encontros ou reencontros com acabamentos primorosos à sua sobrevivência e à sua realidade sem mudar o rumo da prosa; a pé, apesar de surpreendidas, dão acessibilidade ao passado, ao presente e ao futuro, como um bônus às suas vontades, desejos e necessidades; a pé, entre aclives e declives naturais, tornam-se antiderrapantes às faltas de planejamento e oportunizam a abertura de faixas livres aos ignorantes, aos inocentes e, principalmente, aos ‘inecessários’; a pé, focam nos olhos, pensa em dispositivos realistas, implementa poucas trepidações ao corpo e se joga na loucura de beijos roubados, abraços intensos e toques arrepiantes, mesmo os mais insensatos; e a pé, ignoram desníveis covardes, tímidos, e atravessam suas calçadas com memórias afetivas sempre prestes a serem revisitadas ou revividas como mandam as estrelas.

Enfim ‘mulheres de calçada’ vivem histórias particulares sem morrer por dentro ou no caminho. Morrer nunca é uma opção, afinal, em cada ‘calçada’ elas tem a oportunidade de se impermeabilizar e recriar camadas internas em que reassentam fragilidades, instabilidades, pequenas deformidades e muito, mas muito amor para espalhar.

‘Mulheres de calçada’, diante dos ‘homens que cansam’, precisam de materiais adequados para acontecer: amor, atenção, vontade e muita coragem. Como diz Cora Coralina, na calçada, ‘os caminhos são de pedras, não de rosas’, logo, a existência das ‘mulheres de calçada’ promove novos designs aos estilos de vida, ou melhor, aos estilos de viver a vida, mesmo a distancia ou a partir das ‘mentiras sinceras’.



'HOMENS QUE CANSAM'


Em um mundo sem tempo para reflexão, o amor quase sempre aceita ilusões agradáveis. Embora as maturidades guardem ferramentas para se priorizar conquistas e aprendizados, suja-se o hoje com ilusões agradáveis. Talvez seja importante se experimentar assim também. Do banco de um jardim, debaixo de um sol ‘senegalês’, aguardo o encontro com uma amiga. Vamos às compras, uma recompensa por dias sem se ver e pelas férias que ansiávamos a muito tempo. Enquanto espero, escuto uma frase: ‘sinceramente, homem cansa!’. Interessante. Tenho escutado muito isso. Mulheres experientes, maduras, seguras, todas cansadas dos ‘homens que cansam’. Na sequencia do papo, uma resposta: ‘Amiga, parei com homem que cansa’. Ué, como assim? Homem cansado sugere mulher segura querendo vida, diversão e alegria, mesmo após uma semana de trabalho. Mas ‘homem que cansa’? Aqui há a sugestão de uma mulher em expectativa, após muitas tentativas, sem retorno ou com retorno depois ‘anos luz’. Ela manda torpedo, se ele responder, o faz uma semana depois. Ela deixa um post no facebook e, no máximo, recebe uma curtida três dias depois. Ela manda um e-mail e senta para dormir porque ele não responde. ‘Homem que cansa’ incorre na possibilidade de ‘ser desistido’, ainda que seja amado ou desejado. Interessante isso. Durante o passeio pela cidade, fiquei com isso na memória. Em reencontros da maturidade há sempre isso: ‘homens que cansam’. Homens com menos frescor, brilho, silêncio, elegância, atitude ou com mais vícios, filhos, hábitos, indiferenças, realidades, loucuras. ‘Homens que cansam’ sugerem um investimento feminino maior na paciência, nos argumentos, na linguagem corporal e principalmente, nas emoções. Lógico que ambos não são mais jovens e realmente há momentos e situações em que a maturidade ‘fala’ mais alto e os dias ‘cansam’ naturalmente. Mas ‘homens que cansam’ criam um alto volume emocional sem brechas, alívios, descansos, rotinas. Sim! ‘Homens que cansam’ não criam rotinas ao feminino; não modalizam a relação com equilíbrios e certezas; e, com certeza, ‘são desistidos’. É muita tensão, drama, negação. É muito ‘sem tempo’ ou ‘de tempo diferente’ ou ainda ‘de exigências de tempo desigual’. ‘Homens que cansam’ funcionam em outro tempo, lamento meninas, é isso! Os ajustes possíveis têm ruídos quase incompreensíveis à mulher que ama, afinal, ela também ama com outro tempo. Enquanto eu e minha amiga passeávamos e conversávamos, de novo, as personagens do diálogo se aproximam. Elas ainda falam de ‘homens cansados’ e ‘homens que cansam’. Papo de homem é mulher e papo de mulher é homem? Bem hoje é assim sim. As relações são bases das nossas projeções na realidade. Homens e mulheres se projetam sempre emocionalmente. O cognitivo tem segundos de diferença, mas vem depois mesmo. E nesse caso, ‘homens cansam’ e causam estresse feminino. Sem querer, sei que o namoro de uma tem anos de altos e baixos com algumas separações; e o namoro de outra teve seu auge na juventude, uma separação de anos e, agora estava em nova vida. Em ambas, havia ‘homens que cansam’. Era uma chateação, pelo que percebi. Homens complexos demais; em constantes crises"; com visões de mundo ‘insossas’ (segundo uma delas); dramáticos; e, principalmente, sem perspectivas. Uma delas diz: ‘não dá para ficar com um homem sem perspectiva!’. Sem querer julgar, isso é real: sem esforço, empenho, atitude e força, o que é ou para que ter um ‘homem que cansa’? Do jeito que a conversa acontecia, ambas eram mulheres em luta, mas não tinham ainda independência financeira. Daí nova moeda: ‘homens que cansam’ tem o seu ‘valer a pena’, tem a sua costura emocional importante na vida feminina. As personagens estavam procurando entendimentos, estratégias, linhas de ação, outras formas de enfrentamento. Não eram insensíveis, ao contrário, eram orgulhosas de si, afinal ter um par as diferenciava de muitas outras solitárias por ai. Elas não iriam desistir. Uma delas diz: ‘Eu não sei mais o que fazer, gosto dele, mas estou cansada’. A outra responde: ‘Eu também, mas ficar sozinha? Sei lá. Estou cansada, quero novidades, mas começar tudo de novo?’. Há perigos nos ‘homens que cansam’: eles não são moedas de troca à toa; eles têm seu valor; e, de um jeito cruel, são prisões do imaginário ou das regras sociais ligadas ao feminino. Impossível pensar em desistências. Não sei o que fazem, mas ‘homens que cansam’ não são ‘desapegáveis’ facilmente. ‘Homens que cansam’ são o enigma da emoção feminina. Dizem que, por natureza, as mulheres são mais inseguras, mas, ali, ouvindo aquela conversa, sinto que, no encontro e convivência com ‘homens que cansam’, às vezes isto não é uma verdade. Observei e ouvi duas mulheres e suas muitas tentativas, esquemas, aceitações de ajustes e manutenções amorosas, num período bem longo, antes de se agoniar com um fato: há ‘homens que cansam’ e elas precisam reaprender a viver com menos condescendência.

Pensamentos MARTA RELVAS







Neurobeijos Claudia

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