01Ela se enganara. Ela interpretara mal
tudo o que vira. Simas, seu marido, fechara a porta e não mais voltaria. O sofá
estava parado: não sentirá mais às tardes de futebol, sonecas e amor. Era um
devaneio? Era um sonho mal? Ela não conseguia pensar. Suas mãos tremiam e ela
estava ofuscada pelas lágrimas. Nunca se enganara, nunca errara tão feio. Agora
sabia: entre farsas e omissões, seu casamento chegara ao fim. Na mesa, o
telefone toca e ela atende: ‘Sonia, avisa ao Simas que o bolo ‘Mundo’ de vocês
está pronto’. Em suas mãos, o bilhete encontrado: ‘amanha o mundo será só
nosso’.
Claudia
Nunes
02Luz no fim do túnel. Uma dor
lacerante. Um vôo para manter a vida. Linda não sabia o que fazer. Argumentava
para si mesmo: vai passar, vai passar, tem que passar. E o tremor continuava.
As alucinações vinham aos jorros na mente, nos olhos e na pele; e ela com medo
das perdas. Não podia perder agora... O passageiro do lado sente que há algo
errado, Mas, e se o silencio acabar? Ele desisti e ela briga com a vida e os
braços da poltrona. Sem incomodos, sem chaturas, sem pedidos, sem amizades,
Linda só sorrir novamente. Acima das nuvens, apenas um manto de objetivos
prestes a se evaporar. A aeromoça oferece agua, ela nao responde. Agua para
que? Todas as purificações vividas não deram em nada. O peito doi, doi, doi.
Linda está feia. Linda está suja. Linda não está mais lá. Numa barraca de
camping, a luz do sol e a língua de seu cachorro a acordam. Assustada, se
esconde: hora de ir à praia...
Claudia
Nunes
03- Eu quero o meu amor – grita ela. –
Eu quero tudo o que você me tirou! Malas no chão, guarda-roupa aberto, roupas
por toda parte. Na porta do quarto, ele não sabe o que responder. Seu olhar
denuncia um medo terrível: a cama vazia. Não há o que fazer. Não há como se
desculpar. Ela vai embora. Ela vai embora – pensa ele. Seu coração dói demais e
sua voz não atravessa a garganta. Da janela, um som aumenta sua agonia: é
Natal. Ela caminha até a janela observa a rua. Carros, gente e animais, ninguém
pode senti-lo. Lembranças dos risos, do sexo, dos presentes, dos toques, das
juras, das certezas e do ‘para sempre’. Quanta mentira se diz sob o poder da
emoção ou do sonho! Ele estica os braços tentando tocá-la. – Me esquece! Me
esquece! – avisa ela. Mala pronta, bolsa cheia e um último olhar. Um silêncio
esbofeteia os dois. Um silêncio sinistro paralisa os dois corpos quentes
dispostos aleatoriamente naquele espaço quase escuro. – Amor, nosso filho nos
deu bons 04 anos... Você pode recomeçar – disse ele antes de desaparecer dentro
da gaveta de meias.
Claudia
Nunes
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