Vida de adulto é dura... Nosso imaginário alcança o infinito e lá somos capazes de tudo. Temos a intuição que o mundo além de nosso, precisa de nós. Então nos esforçamos. Cada momento conquistado ou objetivo ultrapassado enlaça nossos desejos e certezas. Só que a vida ensina, limita, poda. De repente, num espelho, somos outra gente. Sem perceber, nossas escolhas criaram outra figura: um adulto. Os impulsos precisam ser freados. Tudo tem conseqüência. Como adulto, o raciocínio cria o medo. Tantos passos dados até ali não podem ser ‘reandados’: é frente, frente, frente. Ou há soluções ou há esquecimento. O tempo não nos deixa mais ignorar. Mas sempre há encruzilhadas e nelas a dúvida cruel: seguimos? voltamos? direita? esquerda? Neste momento só nós. Cérebro e coração, únicos parceiros do segredo: não sabemos. Da pele para fora, um olhar imponente de um ínfimo intervalo. Da pele para dentro, uma confusão inominável. Corpo travado por aparência, veias tremulas por emoção. Passamos a vida nos conectando e nos misturando com tudo e todos por medo, mas na hora de uma decisão, solidão total. Igual ao momento de um seqüestro ou em que temos uma arma apontada para nós, o sangue corre tão forte ao redor do corpo que as lembranças surgem em flashes dolorosos. O que fazer? Tantos sonhos, tantos passos, tantas decepções, tantos silêncios e nada parece servir. Será que vivemos vidas descartáveis? Uma voz surge: Use sua inteligência! Aproveite sua experiência! Seja criativo! E nada... Uma vida de aprendizagem e fazer o que? Uma luz: esticar os braços...
Claudia Nunes
Do bar, do vinho, da comida, vejo pessoas. Ninguém se fala. Passam para lá e para cá focados em seus problemas, passos, vida. Dê preferência nem se tocam. Mas há um ponto de ônibus. Todos juntos. Demora, demora, demora. Há uma esgrima de olhares na tentativa de se manter a distancia. Há uma esgrima de olhares: começa o reconhecimento. Roupa, cheiro, jeito do cabelo, celular, bolsa, sobrancelha, agitação, tudo serve para passar o tempo. Quem é? Quem será? Conheço? Já vi? Várias interrogações que cortam o fluxo das preocupações individuais. Não estamos sozinhos, estamos no mundo, convivemos. Oi? Tá muito tempo aqui? Demora né? O ônibus chega. Cada um no seu banco. Para onde vou mesmo? O sol se põe...
Claudia Nunes
Nos bate-papos nas esquinas ou nos bares, todo mundo tem história de confrontos. Todo mundo já passou por uma situação ímpar. Para quem não se destaca profissionalmente, estas situações dão status / engrandecem / fazem a diferença. Mas passamos por tantas coisas assim na vida? Será que tudo deve ter um efeito tão forte em si e nas pessoas? Pode ser. Como diz o poeta, ‘a vida é bonita, é bonita, é bonita’. O ‘eu’ é sempre tudo de bom: forte, corajoso, salvador. Medo, perturbações e sensações negativas não têm morada neste corpo. Precisa-se de energias positivas. Com os amigos, as marcas deste ser livre é permanente. Mas é preciso ter cuidado: a vida cobra a verdade. Ao contrário da falácia carregada de heroísmo, ‘na real’ temos perdas, covardias, silêncios, impulsos, rompimentos. E aí? Não somos super-heróis, precisamos de afeto, carinho, ‘colo’ e não vamos escapar das cobranças. E aí? Fazer o que? Fluir... Jogar a fronha suja de lágrimas na máquina de lavar, reorganizar o armário, jogar fora milhares de papéis, arrumar só um pouco a casa e voltar àquela esquina ou bar. Fato? Regeneração!
Claudia Nunes
Nenhum comentário:
Postar um comentário