Com aulas longe da escola,
método "invertido" mostra mudanças no ensino graças às tecnologias
digitais que estão transformando a educação
A
professora April Burton explica as regras da gramática francesa ou detalha
expressões e aspectos do vocabulário do idioma como faria normalmente
em uma sala de aula, só que em um vídeo de cinco minutos que seus alunos
assistem em casa, na frente de seus computadores ou através de seus
smartphones.
No dia
seguinte, eles farão os exercícios práticos na presença dela, de acordo com
chamado método "invertido", uma forma diferente de ensino, possível
graças às novas tecnologias digitais que estão transformando a educação.
Burton,
professora do Liceu Francês Francis Howell, em Cottleville, no estado americano
do Missouri, decidiu lançar mão dessa estratégia pedagógica porque sentiu que
"as coisas precisavam mudar". "Havia tanto o que fazer com os
estudantes, mas nunca tínhamos tempo", conta.
Essa
estratégia de ensino é popular nos Estados Unidos desde a postagem na internet
dos vídeos da Academia
Khan, que oferece gratuitamente milhares de cursos e exercícios
online.
Para
levar esta metodologia adiante, a professora precisou modificar um software e
criar uma página na internet e um novo tipo de apresentações de PowerPoint.
"Madame Burton", como a professora passou a ser chamada no seu site,
tem 14 anos de experiência e explica as regras da gramática ou detalha
expressões e aspectos do vocabulário em um vídeo de cinco minutos que seus
alunos assistem de casa.
"A
aula tradicional deixou a sala de aula e os estudantes agora aproveitam o tempo
em sala para fazer exercícios, pesquisas pessoais, trabalhos em grupo e
apresentações", disse.
No
vídeo em que explica a conjugação do verbo "pouvoir" se pode ouvir
sua voz, vê-la escrevendo no quadro e sublinhando as palavras. Para ensinar os
adjetivos demonstrativos, a professora adiciona desenhos e fotos. "Na
verdade, o que digo com um PowerPoint, antes seria explicado em aula",
explicou.
O
estudante abre de casa o vídeo no computador, no tablet ou no celular e pode
fazer as lições no seu ritmo, além de fazer anotações. Caso não entenda alguma
coisa, pode perguntar no dia seguinte na sala de aula.
"Entro
na sala, falo individualmente com cada estudante e vejo se há alguma pergunta.
Passo a conhecê-los melhor, já que estou falando de igual para igual",
disse Burton.
"Em
tese, há muito tempo se pode dizer aos estudantes: 'Peguem o livro em casa,
leiam este capítulo e venham fazer as tarefas na escola', mas, se isso
funcionasse, já seria feito há muito tempo. Porém, o vídeo é uma maneira muito
mais fácil", explica à AFP Pascal-Emmanuel Gobry, fundador da Noosphere,
uma empresa de pesquisa voltada para a relação da educação com as novas
tecnologias.
Os
tablets, smartphones e reprodutores de música, cada vez mais sofisticados,
podem armazenar milhares de aplicativos, softwares, conteúdo e imagens que
podem ser fartamente usados na educação, para ampliar ou completar um curso
online.
"As
novas tecnologias mudaram o ensino, assim como a revolução industrial
transformou a sociedade agrária", explica Mike Kaspar, representante da
Associação Nacional de Educação (NEA), o maior sindicato de professores dos
Estados Unidos.
Para
Gaspar, essas tecnologias mudaram "a forma de passar o dia na escola, de
pensar a conveniência ou não de utilizar livros impressos ou digitais, vídeos,
jogos, etc.", acrescentou.
TeachThought,
uma plataforma online para educadores, prevê que, até 2028, ocorrerá uma perda
de docentes e escolas, com focos de resistência e "aumento das
desigualdades socioeconômicas", sobretudo pelo custo da tecnologia.
Burton
destaca que as crianças de hoje são diferentes das gerações anteriores, que se
sentavam em suas carteiras e recebiam as informações que os professores os
davam. "Elas estão o tempo todo jogando, enviando mensagens de texto para
os amigos, vendo vídeos no Youtube. Não se pode esperar que se sentem em uma
sala de aula e escutem", opina.
Mackenzie
Klotzbach, de 15 anos, gosta das aulas "invertidas". "Chego
pronta para a aula, aprendo melhor", disse. "O futuro, o passado, o
imperfeito... fácil. Mas os pronomes dos complementos de objeto são um pouco
difíceis!"
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