domingo, 13 de outubro de 2013

No frio, A PAIXÃO...

Sem luz, sem energia, a mulher encara o frio da noite somente com seus poucos botões. Ela não tem idade, ela tem pressa, tem vida. Em sua mente, muitas mulheres e seus assuntos inacabados. É noite e ela na aventura ‘dos sem caminhos’. A loucura do tempo se desdobra em muitas faces e ela não sabe mais para onde se transbordar e simplesmente ser feliz. Feliz?
A iluminação da rua não a deixa ver nada a não ser seus pés sempre amigos em horas de desconforto. Sim, ela é uma mulher cabisbaixa, envergonhada, de alguma maneira aflita e caminhante. Puro blefe!
Em cada poste, uma iluminação que o incomoda: não era completa; nunca fora completa; nunca pensou em ser completa: isso seria sua morte e ela só queria desfalecer nas liberdades que desejasse.
Depois da discussão em casa, na rua, somente ela, seu casaco e suas emoções. Hoje o equilíbrio se perdeu, ela estava plena no mundo. A rua fria era a extensão da sua sobrevivência cujo resultado era o esmagamento de um desejo: amar. Sem amizades, a chuva caia sem dó também por dentro. Mas amar é sempre sua meta.


Mesmo com a discussão, saíra para mexer em suas relíquias, seus guardados, seus escândalos, seus retratos ocultos, sem os vigias sociais. Viver também é ter memórias resguardadas dos contratos sociais sem culpas. Sucesso também é, apesar de outros, nos mínimos escapes, reconhecer no corpo e na mente, a volúpia da própria e verdadeira identidade. A rua faz isso: desmembra e amplia todas as verdades. E o poder feminino é sugerir aos outros rostos confortáveis e de pouca cor, uma novidade: ela mesma, de novo.
A chuva não alcança suas paixões. Em sua passagem pelos becos e vielas, é surpreendida por diferentes casais correndo para se proteger. Proteger? Que graça tem isso? Hoje em dia, amores apaixonados não precisam de proteção. Alias para que tantas proteções, se o risco de crescer acontece na liberdade do próprio risco de crescer? Depois de um mal estar de anos, nenhuma proteção é o básico para realmente (se) saber viver. É aceitar que a lágrima seja uma conexão profunda com o desejo e marcar sua homenagem até os olhos descansarem.
As pessoas sinceramente estão perdidas: elas julgam e se julgam; elas se defendem e ignoram; elas mentem e (se) mentem; elas criam e suportam as rotinas que negam e amam. Que pena! Oportunidades são os benefícios da alma sempre.
Ela, andando, se sente invadida por uma música e sente que precisa de mais exposição: ela precisa de coragem! E ela se lembra: quantos baús de guardados emocionais teve que abrir para querer e conquistar? Quantos outros tantos baús de guardados emocionais teve que fechar para se adaptar e integrar? Difícil realmente a vida da bailarina...
Neste momento cai por terra hábitos antes ‘imexíveis’ ou ‘intocáveis’. Realmente querer é poder e de alguma maneira, é sofrer com consciência e certo orgulho. A música flui pela rua, corpo e memória. A música é o fio de Ariadne da memória e reorganiza os sentidos. Fora da discussão, ela se inverte.
A mulher já tem 18 anos. Seus passos diminuem pelo encantamento de poder olhar, de repente, para si mesma. Lindas imagens! É viçosa, interessante e ama. Ama como todo amor romântico possível. Abraços, beijos, olhares, ela treme, não mais de frio, mas de paixão. O refrão da música lhe completa ‘recordar é viver, eu ontem sonhei em você’.
Naquela rua fria, um conflito de desejos. Ela olha seu desejo com uma atração intensa. Ela não fala. Sem questionamentos, a realidade cortou sua vitalidade e a deixou se chances de se desculpar. Seus 18 anos merecem apenas a magia daquela memória e daquele prazer.
Tempos perturbadores. Tempos de prazer imaginário. Tempos de descobertas. A promessa era: será diferente e inesquecível. Seu corpo se perde nestes sentidos. Se antes a razão não abria espaço à emoção, na dimensão dos seus 18 anos, os limites foram abertos como buracos sem fundo. Amor total!
Sem domínios ou contornos, ela se lança a apreensão sem travas sobre o amor da sua inocência. Ela atravessa parques inteiros, pessoas por dentro, e embarca na loucura das poucas horas da sua melhor primitividade. Há entraves, mas o lampejo da possível perda lhe joga na frente dos medos e, além daquela rua fria, ela abraça sua vontade e explode. Êxtase da saudade! Não era invenção, era a vida em sua estratégia de recompor as sensibilidades e renovar os baús de guardados. O manejo dos caprichos sensuais estabelecem outras ligações. Depois de 20 anos, ela tem 18 anos sem nenhum contexto repressivo. Sem perigo de ser piegas: o desejo venceu.
Na manha seguinte sem explicações, corpo marcado, rosado no rosto, a mulher viaja para a África sem tempo de pensar ‘em casa’.



Profa. Claudia Nunes

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