terça-feira, 8 de outubro de 2013

Por enquanto: O CAOS...


Em muitos casos, o princípio era o VERBO, mas atualmente, a base de tudo é o CAOS. É o abismo insondável, massa informe e confusa. Estamos vivendo o vazio primordial e onde a ordem parece não ter vez e nem lugar. Vivemos a energia poderosa de um mundo já quase informe de valores, ética e educação. Diante de uma ordenação que finge e subtrai mínimos respeitos, observa-se um crescente e turvo oceano de radicalismos e ignorâncias. Que natureza humana é essa? Dia após dia, ceifam-se direitos, atacam-se corpos, eliminam-se vozes. Que país se faz sem educação? Que país se desenvolve sem luta por seus direito? Que país evolui sem coexistência de ideias? Roberto da Matta tem toda razão: há muitas diferentes entre ‘a casa’ e ‘a rua’. Não fomos apáticos no tempo, fomos espectadores postos em banho maria sem formas conscientes de repelir nossas incontinências e sofrimentos por hábito. Mas esse banho-maria se perdeu; esse banho maria ferveu. Passamos do ponto; ultrapassamos a marca das ordenações infligidas. É o Caos grego mesmo. É a desorientação mostrando suas garras na perspectiva de uma organização romântica que provavelmente não virá. Tempos de desorientação consciente em busca de outro tempo, momento, vida mesmo. Bombeiros escorraçados, povo surpreso e desconfiado. Aumento de ônibus com o tal de 20 centavos, povo desconfiado acordando. Professores paralisados, povo acordando e, enfim gritando, de novo: que país é esse? As emoções estão em todo lugar. O Caos é sedutor, prazeroso, libertador, reacionário mesmo. Como a primeira divindade a surgir no universo, o Caos é a mais velha das formas de consciência divina e não tem os recalques das transformações de sentidos impingidas a ele pelas religiões ou pelos interesses. Dele surge Geia (Terra e tem como virtudes: doçura, submissão, firmeza cordata e duradoura, humildade), Tártaro (local mais profundo das entranhas da Terra; local do suplício permanente dos grandes criminosos) e Eros (desejo incoercível dos sentidos; ele dilacera, transtorna, mas é mutável). Pelo jeito, vivíamos como Geia: subservientes, ainda que fecundássemos o espaço público e o capital intelectual com nossas práticas e posturas por respeito, receio, atenção, compreensão e incômodo com o cotidiano. Agora estamos na loucura de Eros e à beira do abismo do Tártaro sem vontade nenhuma de retroceder ou, como dirão alguns, sem vontade nenhuma de ‘botar o galho dentro’. Nisso tudo, o deus Tempo é o pior dos pesares. A duração das persistências incluem novos incômodos. Ninguém quer os dias eternamente mexidos pelas tensões, expectativas ou medos. Há o cheio de uma força catabólica em curso. Há a sensação de quem o ‘anima’ se perdeu e agora só nos resta reaprender a gerenciar nossos cérebros reptilianos com um pouco mais de maestria. O deus Tempo nos envolve e nos cansa, afinal para além dos cassetetes e dos sprays de pimenta, não se vê nem a luz e nem um túnel. Enquanto Eros une selvagemente, mas fecunda Geia; o Caos é desproporcional, corta, racha, separa e nos faz perder o ponto de mutação e de repensamentos sobre tudo e todos. No Caos, não temos diálogo com nada mesmo! Nós ultrapassamos o limite, mas ainda assim perspectivamos o diálogo, a possibilidade de uma fala poderosa que nos reacondicione de volta aos nossos dias e afazeres. Por enquanto o Caos... Estamos fundidos em nossas certezas e em nossos orgulhos em ambos os lados e isso é perigoso, muito perigoso. Entramos numa androginia caótica das insensibilizações sobre tudo em função de um ou dois pontos nevrálgicos e dolorosos à alma. O que fazer? Temos forças sem forma. Temos energia sem consistência. Temos hoje uma luta de razões e poderes, mais do que de reivindicações de uma classe a dezenas de ano em processo de desvalorização total. O que fazer então? Estamos na terceira margem do rio de Guimarães Rosa e criando uma enorme desordem em posturas absurdamente cegas a tudo. Tudo está indefinido, desorganizado, enevoado. As Moiras e sua roda da fortuna estão tecendo nossos destinos. Tecem com cuidado, ainda que velozes. Mas há uma preparação: haverá cortes e contra isso nem Zeus poderá agir. Estamos à mercê da sorte sem romantismos. Pena... Pena mesmo... Vou voltar a ler meu mitólogo de vida inteira, Junito Brandão, você é o melhor...

Passeata Professores Rio de Janeiro - 07.10.2013

Bjos assim mesmo...

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