Em muitos casos,
o princípio era o VERBO, mas atualmente, a base de tudo é o CAOS. É o abismo
insondável, massa informe e confusa. Estamos vivendo o vazio primordial e onde
a ordem parece não ter vez e nem lugar. Vivemos a energia poderosa de um mundo
já quase informe de valores, ética e educação. Diante de uma ordenação que
finge e subtrai mínimos respeitos, observa-se um crescente e turvo oceano de
radicalismos e ignorâncias. Que natureza humana é essa? Dia após dia, ceifam-se
direitos, atacam-se corpos, eliminam-se vozes. Que país se faz sem educação?
Que país se desenvolve sem luta por seus direito? Que país evolui sem coexistência
de ideias? Roberto da Matta tem toda razão: há muitas diferentes entre ‘a casa’
e ‘a rua’. Não fomos apáticos no tempo, fomos espectadores postos em banho maria
sem formas conscientes de repelir nossas incontinências e sofrimentos por
hábito. Mas esse banho-maria se perdeu; esse banho maria ferveu. Passamos do
ponto; ultrapassamos a marca das ordenações infligidas. É o Caos grego mesmo. É
a desorientação mostrando suas garras na perspectiva de uma organização
romântica que provavelmente não virá. Tempos de desorientação consciente em
busca de outro tempo, momento, vida mesmo. Bombeiros escorraçados, povo
surpreso e desconfiado. Aumento de ônibus com o tal de 20 centavos, povo
desconfiado acordando. Professores paralisados, povo acordando e, enfim
gritando, de novo: que país é esse? As emoções estão em todo lugar. O Caos é
sedutor, prazeroso, libertador, reacionário mesmo. Como a primeira divindade a surgir
no universo, o Caos é a mais velha das formas de consciência divina e não
tem os recalques das transformações de sentidos impingidas a ele pelas
religiões ou pelos interesses. Dele surge Geia (Terra e tem como virtudes:
doçura, submissão, firmeza cordata e duradoura, humildade), Tártaro (local mais
profundo das entranhas da Terra; local do suplício permanente dos grandes
criminosos) e Eros (desejo incoercível dos sentidos; ele dilacera, transtorna, mas
é mutável). Pelo jeito, vivíamos como Geia: subservientes, ainda que
fecundássemos o espaço público e o capital intelectual com nossas práticas e
posturas por respeito, receio, atenção, compreensão e incômodo com o cotidiano. Agora estamos na loucura de Eros e à beira do abismo do Tártaro sem vontade
nenhuma de retroceder ou, como dirão alguns, sem vontade nenhuma de ‘botar o
galho dentro’. Nisso tudo, o deus Tempo é o pior dos pesares. A duração das persistências
incluem novos incômodos. Ninguém quer os dias eternamente mexidos pelas
tensões, expectativas ou medos. Há o cheio de uma força catabólica em curso. Há
a sensação de quem o ‘anima’ se perdeu e agora só nos resta reaprender a
gerenciar nossos cérebros reptilianos com um pouco mais de maestria. O deus
Tempo nos envolve e nos cansa, afinal para além dos cassetetes e dos sprays de
pimenta, não se vê nem a luz e nem um túnel. Enquanto Eros une selvagemente,
mas fecunda Geia; o Caos é desproporcional, corta, racha, separa e nos faz
perder o ponto de mutação e de repensamentos sobre tudo e todos. No Caos, não
temos diálogo com nada mesmo! Nós ultrapassamos o limite, mas ainda assim
perspectivamos o diálogo, a possibilidade de uma fala poderosa que nos reacondicione
de volta aos nossos dias e afazeres. Por enquanto o Caos... Estamos fundidos em
nossas certezas e em nossos orgulhos em ambos os lados e isso é perigoso, muito
perigoso. Entramos numa androginia caótica das insensibilizações sobre tudo em
função de um ou dois pontos nevrálgicos e dolorosos à alma. O que fazer? Temos forças
sem forma. Temos energia sem consistência. Temos hoje uma luta de razões e
poderes, mais do que de reivindicações de uma classe a dezenas de ano em
processo de desvalorização total. O que fazer então? Estamos na terceira margem
do rio de Guimarães Rosa e criando uma enorme desordem em posturas absurdamente
cegas a tudo. Tudo está indefinido, desorganizado, enevoado. As Moiras e sua
roda da fortuna estão tecendo nossos destinos. Tecem com cuidado, ainda que
velozes. Mas há uma preparação: haverá cortes e contra isso nem Zeus poderá
agir. Estamos à mercê da sorte sem romantismos. Pena... Pena mesmo... Vou voltar
a ler meu mitólogo de vida inteira, Junito Brandão, você é o melhor...
Bjos assim mesmo...Passeata Professores Rio de Janeiro - 07.10.2013 |
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