domingo, 12 de fevereiro de 2017

EXPERIMENTAÇÃO: carta a uma professora

Sem querer me deparei com a expressão ‘design thinking’[1] e fiquei interessada em um de seus itens: a experimentação. É interessante que, neste nosso século, tão cheio de mudanças e estranhezas em diferentes setores da sociedade, experimentar seja um verbo tão em voga, mas pouco praticado. Eu penso que ele deveria virar moda como foi o TDAH e são a neurociência e o autismo, pois assim muitos professores já estariam (se) experimentando em sala e junto aos seus alunos.

Segundo o livro ‘Design Thinking’, a “experimentação dá vida às suas ideias”. Ou seja, é preciso sair do mundo das essências platônico e seguir o desenvolvimento humano experimentando, fazendo, colocando em práticas nossas ideias acreditando em nossas potencialidades e dos nossos alunos. Nossos alunos agradecerão, não é? Sim, nossos alunos, professora. Mesmo lendo algo relacionado ao mundo dos negócios, meus pensamentos se focaram na escola, basicamente, nas práticas de ensino.

Professora, estamos em início das aulas, num século cujas mídias digitais estão ditando e exigindo mudanças em nossos planejamentos: nossos jovens mudaram demais. Há outro comportamento mais sinérgico em relação à assimilação, adequação e evocação das informações. O transito da memória mudou. As formas de os sentidos sentirem mudaram. As percepções e ações dos nossos alunos, ao interagirem com o mundo, mudaram tanto que, no mínimo, precisamos recompor nossos conhecimentos de como esse aluno deve continuar aprendendo.

De novo torna-se importantíssimo, saber planejar os caminhos pelos quais as aprendizagens desses alunos terão qualidade. Nós temos que experimentar: abrir espaços e tempos para o momento experimentação. Temos que saber experimentar. Mas como?

Experimentar sugere um jogo estratégico de erros e ganhos que precisarão ser vividos e/ou resolvidos da melhor forma possível. Planejar as experiências de aprendizagem requer aceitar que nem todos seguirão os mesmos caminhos para aprender e nem todos irão efetivamente aprender tudo. Professora, abandone o ‘tudo’, o ‘todos’. Experiência significa abrir as portas das possibilidades e das surpresas dos ‘sentires’. Nossos alunos anseiam aprender, mas não o querem como sempre; querem (sem o saberem) a diversidade de uma sala de aula menos tradicional.  Mas como?

Uma das possibilidades apresentadas pelo design thinking são os protótipos. Vamos construir protótipos às diferentes aprendizagens. Ou seja, vamos “tornar as ideias tangíveis, aprender enquanto as constrói e dividi-las com outras pessoas”.  Professora, a senhora não está (e nem deve estar) sozinha no processo de planejar a experiência de ideias para com seu aluno: compartilhe!

No compartilhamento de ideias, no caso da educação, dos objetivos, metodologias e avaliação, você pode aprender outros caminhos e refinar suas ideias. Seus colegas são importantes! Ouça sem retrucar! Ouça apenas e pense calmamente.

De acordo com o design thinking há algumas formas de ‘prototipar’ a dinâmica de sua sala de aula: crie um caderno de atividade onde você documente suas experiências e analise diferentes aspectos do desenvolvimento dos seus alunos; crie ‘storyboards’ em que, a partir de imagens, esboços, desenhos ou mesmo blocos de textos, você e seus alunos possam ser capazes de acompanhar as próprias aprendizagens; crie diagramas como mapas conceituais ou linhas de tempo cujo objetivo seja não perder o foco de aspectos importantes do desenvolvimento dos alunos e dos alunos em atividade; crie uma história ou artigo ou resenha em que possa descrever objetivamente suas experiências; e por ai vai.

O design thinking, de acordo com a personalidade do professor, ainda oferece opções como criar cartas, anúncios, modelos em computadores, maquetes tridimensionais, encenações (role play) e material digital (vídeos, por exemplo). Professora, o modus operandi de uma aula precisa mudar logo. Menos transmissão e mais mediação, parcerias, coprotagonismos, por favor! Desafie-se por dentro de recursos e metodologias que reestruturem o ambiente escolar de forma agradável, prazerosa e significativa. Estamos lidando com outras versões de humanos e elas exigem edições de tempo e espaço dentro de uma sensação de pertencimento efetiva. Quando tudo estiver mais esclarecido e organizado em sua mente: planeje! experimente!

Nesse percurso, outra chave para mudança às formas de ensinar para as formas de aprender, é o feedback, “uma das ferramentas mais importantes para o desenvolvimento de uma ideia”.

A experimentação estimulará o acontecimento de outros comportamentos ligados a determinadas emoções. O novo ou o diferente provocam isso. Saiba lidar com isso. Uma boa leitura é a literatura sobre gestão de conflitos. A experimentação tira as mentes e os corpos da caixinha, e a primeira ação é a negação. Portanto, à experimentação, diálogos (feedbacks) constantes são imprescindíveis.
 
Professora, o poder do hábito traz muitos problemas à sala de aula. Não é porque algo vai ser feito diferente que será ruim, entenda isso! A senhora tem o poder de criar outros hábitos, principalmente quando instala a liberdade de expressão a partir da experimentação. Todos podem sugerir. Todos sabem pensar. Seja flexível e tente não estigmatizar gestos e atitudes. Ouça mesmo! Sendo assim, um bom momento de feedback pode ser organizado em alguns itens, de acordo com o design thinking:
- Identifique fontes para feedback: traços incongruentes na experimentação:
- Selecione participantes: alunos que consigam se expressar com naturalidade;
- Construa um roteiro de perguntas que imprimam significado/veracidade á discussão;
- Facilite as conversas de feedback: honestidade é tudo!;
- Documente os aprendizados do feedback: sensações, palavras significativas, outras ideias, sugestão de regras etc.:
- Integre o feedback: reveja suas impressões; discuta reações; repense o próximo feedback; mude o que for necessário;
- Identifique as necessidades: o grupo é diverso, logo itens como habilidades, tempos e recursos; formas de falar e escutar; precisam ser respeitados e encarados;
- Identifique fontes para o feedback: outras formas e ambientes para realização do feedback; itens que sejam importantes à qualidade do feedback como competências, desejos, sonhos, etc.; inclua pais, vizinhos e ex-alunos no processo ou na rede de experimentações.
           
            Professora, mesmo diante de tantas injustiças e desvalorização da própria educação, nossos alunos precisam de aliados/mediadores ao seu desenvolvimento natural cuja organização, para a futura inserção em uma sociedade, depende de como lhes forem dadas as oportunidades de aprender, ou melhor, mais que isso, depende de como lhes forem dadas as oportunidades de ele SER ‘gente de bem’, como diriam nossas avós. E ‘gente de bem’, a senhora sabe, depende de como foram lapidadas suas MEMÓRIAS emocional e estratégica. Então professora, PERMITA-SE! Cause mudanças significativas com EXPERIMENTAÇÕES reais e efetivas.

            Obrigada pela atenção! Aguardo retorno!
Sua aluna!

Profª Claudia Nunes



[1] Segundo o site Design Thinking (expressão idiomática) para professores, disponível em http://www.dtparaeducadores.org.br/site/o-que-e-design-thinking/ e acessado em 12/12/15, design thinking é “um novo jeito de pensar e abordar problemas ou, dito de outra forma, um modelo de pensamento centrado nas pessoas.” Segundo seus autores, Tennyson Pinheiro e Luis Alt, “o DT deve ser considerado como uma “abordagem” e não como uma metodologia. Ninguém vai aprender um passo a passo, uma receita de bolo; mas sim um conjunto de etapas que “permitem releituras e remixagens a partir das demandas de quem as usa.” Foi popularizado pela “empresa americana de design e inovação, IDEO, de Palo Alto, na Califórnia (Vale do Silício). A IDEO também é autora do livro Design Thinking for Educators, lançado em 2012.

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