Sem querer me
deparei com a expressão ‘design thinking’[1]
e fiquei interessada em um de seus itens: a
experimentação. É interessante que, neste nosso século, tão cheio de
mudanças e estranhezas em diferentes setores da sociedade, experimentar seja um
verbo tão em voga, mas pouco praticado. Eu penso que ele deveria virar moda
como foi o TDAH e são a neurociência e o autismo, pois assim muitos professores
já estariam (se) experimentando em sala e junto aos seus alunos.
Segundo o livro ‘Design Thinking’, a “experimentação dá vida às suas ideias”.
Ou seja, é preciso sair do mundo das essências platônico e seguir o
desenvolvimento humano experimentando, fazendo, colocando em práticas nossas
ideias acreditando em nossas potencialidades e dos nossos alunos. Nossos alunos
agradecerão, não é? Sim, nossos alunos, professora. Mesmo lendo algo relacionado
ao mundo dos negócios, meus pensamentos se focaram na escola, basicamente, nas
práticas de ensino.
Professora,
estamos em início das aulas, num século cujas mídias digitais estão ditando e
exigindo mudanças em nossos planejamentos:
nossos jovens mudaram demais. Há outro comportamento mais sinérgico em relação
à assimilação, adequação e evocação das informações. O transito da memória
mudou. As formas de os sentidos sentirem mudaram. As percepções e ações dos
nossos alunos, ao interagirem com o mundo, mudaram tanto que, no mínimo,
precisamos recompor nossos conhecimentos de como esse aluno deve continuar
aprendendo.
De novo torna-se
importantíssimo, saber planejar os caminhos pelos quais as aprendizagens desses
alunos terão qualidade. Nós temos que experimentar: abrir espaços e tempos para
o momento experimentação. Temos que saber experimentar. Mas como?
Experimentar
sugere um jogo estratégico de erros e ganhos que precisarão ser vividos e/ou
resolvidos da melhor forma possível. Planejar as experiências de aprendizagem
requer aceitar que nem todos seguirão os mesmos caminhos para aprender e nem
todos irão efetivamente aprender tudo. Professora, abandone o ‘tudo’, o
‘todos’. Experiência significa abrir as portas das possibilidades e das
surpresas dos ‘sentires’. Nossos alunos anseiam aprender, mas não o querem como
sempre; querem (sem o saberem) a diversidade de uma sala de aula menos
tradicional. Mas como?
Uma das possibilidades
apresentadas pelo design thinking são
os protótipos. Vamos construir protótipos às diferentes aprendizagens. Ou seja,
vamos “tornar as ideias tangíveis,
aprender enquanto as constrói e dividi-las com outras pessoas”. Professora, a senhora não está (e nem deve
estar) sozinha no processo de planejar a experiência de ideias para com seu
aluno: compartilhe!
No
compartilhamento de ideias, no caso da educação, dos objetivos, metodologias e
avaliação, você pode aprender outros caminhos e refinar suas ideias. Seus
colegas são importantes! Ouça sem retrucar! Ouça apenas e pense calmamente.
De acordo com o
design thinking há algumas formas de ‘prototipar’ a dinâmica de sua sala de
aula: crie um caderno de atividade onde você documente suas experiências e
analise diferentes aspectos do desenvolvimento dos seus alunos; crie ‘storyboards’ em que, a partir de
imagens, esboços, desenhos ou mesmo blocos de textos, você e seus alunos possam
ser capazes de acompanhar as próprias aprendizagens; crie diagramas como mapas
conceituais ou linhas de tempo cujo objetivo seja não perder o foco de aspectos
importantes do desenvolvimento dos alunos e dos alunos em atividade; crie uma
história ou artigo ou resenha em que possa descrever objetivamente suas
experiências; e por ai vai.
O design thinking, de acordo com a
personalidade do professor, ainda oferece opções como criar cartas, anúncios,
modelos em computadores, maquetes tridimensionais, encenações (role play) e
material digital (vídeos, por exemplo). Professora, o modus operandi de uma aula precisa mudar logo. Menos transmissão e
mais mediação, parcerias, coprotagonismos, por favor! Desafie-se por dentro de
recursos e metodologias que reestruturem o ambiente escolar de forma agradável,
prazerosa e significativa. Estamos lidando com outras versões de humanos e elas
exigem edições de tempo e espaço dentro de uma sensação de pertencimento
efetiva. Quando tudo estiver mais esclarecido e organizado em sua mente: planeje!
experimente!
Nesse percurso,
outra chave para mudança às formas de ensinar para as formas de aprender, é o feedback, “uma das ferramentas mais importantes para o desenvolvimento de uma
ideia”.
A experimentação
estimulará o acontecimento de outros comportamentos ligados a determinadas
emoções. O novo ou o diferente provocam isso. Saiba lidar com isso. Uma boa
leitura é a literatura sobre gestão de conflitos. A experimentação tira as
mentes e os corpos da caixinha, e a primeira ação é a negação. Portanto, à
experimentação, diálogos (feedbacks) constantes são imprescindíveis.
Professora, o
poder do hábito traz muitos problemas à sala de aula. Não é porque algo vai ser
feito diferente que será ruim, entenda isso! A senhora tem o poder de criar
outros hábitos, principalmente quando instala a liberdade de expressão a partir
da experimentação. Todos podem sugerir. Todos sabem pensar. Seja flexível e
tente não estigmatizar gestos e atitudes. Ouça mesmo! Sendo assim, um bom
momento de feedback pode ser organizado em alguns itens, de acordo com o design thinking:
- Identifique fontes para feedback: traços
incongruentes na experimentação:
- Selecione participantes: alunos que
consigam se expressar com naturalidade;
- Construa um roteiro de perguntas que imprimam
significado/veracidade á discussão;
- Facilite as conversas de feedback: honestidade é
tudo!;
- Documente os aprendizados do feedback: sensações,
palavras significativas, outras ideias, sugestão de regras etc.:
- Integre o feedback: reveja suas
impressões; discuta reações; repense o próximo feedback; mude o que for
necessário;
- Identifique as necessidades: o grupo é
diverso, logo itens como habilidades, tempos e recursos; formas de falar e
escutar; precisam ser respeitados e encarados;
- Identifique fontes para o feedback: outras formas e
ambientes para realização do feedback; itens que sejam importantes à qualidade
do feedback como competências, desejos, sonhos, etc.; inclua pais, vizinhos e
ex-alunos no processo ou na rede de experimentações.
Professora,
mesmo diante de tantas injustiças e desvalorização da própria educação, nossos
alunos precisam de aliados/mediadores ao seu desenvolvimento natural cuja
organização, para a futura inserção em uma sociedade, depende de como lhes forem
dadas as oportunidades de aprender, ou melhor, mais que isso, depende de como
lhes forem dadas as oportunidades de ele SER ‘gente de bem’, como diriam nossas
avós. E ‘gente de bem’, a senhora sabe, depende de como foram lapidadas suas
MEMÓRIAS emocional e estratégica. Então professora, PERMITA-SE! Cause mudanças
significativas com EXPERIMENTAÇÕES reais e efetivas.
Obrigada
pela atenção! Aguardo retorno!
Sua aluna!
Profª
Claudia Nunes
[1] Segundo o site Design Thinking
(expressão idiomática) para professores, disponível em http://www.dtparaeducadores.org.br/site/o-que-e-design-thinking/ e acessado em 12/12/15, design thinking é “um novo jeito de pensar e abordar problemas ou,
dito de outra forma, um modelo de pensamento centrado nas pessoas.” Segundo
seus autores, Tennyson Pinheiro e Luis Alt, “o DT deve ser considerado como uma
“abordagem” e não como uma metodologia. Ninguém vai aprender um passo a passo, uma
receita de bolo; mas sim um conjunto de etapas que “permitem releituras e
remixagens a partir das demandas de quem as usa.”
Foi popularizado pela “empresa americana de
design e inovação, IDEO, de Palo Alto, na Califórnia (Vale do Silício). A IDEO
também é autora do livro Design Thinking for Educators, lançado em 2012.
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