De novo pensando em
jovens da escola pública. Mais do que qualquer coisa, uma primeira impressão:
eles não tem autoconsciência e nem tem onde busca-la ou aperfeiçoa-la de modo
que ganhem autonomia de emocional. Sentada no pátio da escola, eu observo
comportamentos, a partir das linguagens verbal e nao-verbal. E é a não-verbal
que mais me surpreende, pelo descontrole, pela insegurança, pelo disfarce, pelo
nervoso, pela indiferença, das atitudes (formas de fazer valer suas vontades /
crenças) emocionais diferentes.
Em papos diversos, eles
reagem com o corpo e com a voz de forma agressiva ou abrupta. A sensação é a
seguinte: quando colocados em xeque, eles se desarticulam e atacam. Atacam com
deboche, palavrões, gritam, irritação, riso histérico. E eles só estão juntos e
conversando. Tudo natural... Mas há temas que fragilizam, que tocam em suas
memórias mais afetivas ou traumáticas, e eles reagem... reagem para acabar com
o problema: sua insegurança / seu medo. E de novo, lembro: eles estão apenas conversando.
De repente penso em Paul
Ekman, um psicólogo americano (Washington, 1934), especialista no estudo das
emoções e da expressão facial. Para além da cultura, Ekman percebeu, em suas
pesquisas, que era preciso aceitar a perspectiva evolutiva e o pensamento de
Darwin foi fundamental. Além da cultura (internalizada pelas interações em
espaços de média violência e tensão), então, meus jovens nascem e crescem com
emoções conturbadas: exemplos diversos o que gera comportamentos ‘fora do
padrão’ num simples ‘bate-papo’.
Penso em Ekman e em seu
livro “A Linguagem das Emoções” que estou lendo com calma. Esses jovens não têm
emoções de qualidade; eles chegaram aos 17 ou 18 anos sem emoções de qualidade,
principalmente, qualidades positivas para a convivência e aceitação da
diversidade em geral. Esses jovens são ‘umbilicais’, aprenderam a ser
‘umbilicais’ por se desenvolverem ou muito sós, ou com muitas pessoas em um
cômodo só. Ambas as siturações são inibidores ou intensificadores do sistema
nervoso em termos de autonomia de pensamento, e/ou estratégias de
sobrevivência. É muita energia / vontade represada...
Segundo Ekman (2011), no
século XXI, é preciso preparar os jovens com quatro habilidades básicas: (1)
torna-se mais consciente do momento em que se emocionam; (2) escolher como se
comportam quando se emocionam; (3) torna-se mais sensível em relação à maneira
como os outros estão se sentindo; e (4) usar cuidadosamente as informações que
se adquire a respeito dos sentimentos do outro. Afinal “as emoções determinam nossa qualidade de vida”. Ou seja, Ekam
refere-se ao ensino da empatia e do equilíbrio às funções executivas!
Aos 17 ou 18 anos, eles
nem tem noção dos gatilhos emocionais que insistem em aceitar e que resultam em
ações cujas consequências não estão preparados para assumir; quanto mais
reconhecerem quais gatilhos mentais tem para poderem trabalha-los adequadamente
na medida em que surgem. Dificil pedir equilíbrio emocional quando mal se
conhecem emocionalmente. Então aos trancos e barrancos, eles vão agindo sem
pensar e liberando energias / vontades em todo e qualquer espaço.
Segundo Tomkins (apud
EKMAN, 2011, p.17) “as emoções motivam todas as escolhas importantes que
fazemos”, mas para isso é preciso que se conheçam emocionamente e que adquiram
ferramentas para lidarem com as emoções quando surgirem. Sentada no pátio, eu penso em Ekman (2011) e nas mudanças que as
emoções podem causar a cérebros tão juvenis.
Ao mesmo tempo em que
reconhecemos a presença de partes do cérebro que regulam as emoções,
reconhecemos também que estas são as primeiras atingidas pelos estímulos que
deflagram as emoções. Mesmo conversando entre amigos, num intervalo de aula,
eles estão com o sistema nervoso autônomo muito alterado. Este “regula o batimento
cardíaco, a respiração, a transpiração e muitas alterações corporais” (p.37). Mas
estão desregulados: eles querem de quaisquer maneiras aparecer; eles amam a
exposição mesmo que beire ao ridículo ou um transtorno.
Através das linguagens
nãoverbais, eles expõem todas as experiências de interação que tiveram até a
idade de 17 ou 18 anos, e quase sempre ou são impróprias, ou são disfuncionais,
ou mesmo desorganizadas; e quase sempre geram situações de desconforto ou
chateação por parte da equipe pedagógica.
Ekman (2011, p.44),
afirma que “nascemos preparados, com uma sensibilidade em desenvolvimento para
os eventos que foram relevantes para a sobrevivência de nossa espécie em seu
ambiente ancestral como caçadores e coletores”. Eu acredito que estamos
desenvolvendo apenas jovens coletores emocionais já que as emoções que vão
angariando enquanto crescem tem poucas oportunidades de sublimação, de
experimentação e/ou extravasamento. Sendo assim, há uma carga neuroquímica
sendo alimentada pelas revoluções hormonais e amplificada pelos níveis de
negação ou de violência cujo resultado são violências supreendentes; ações
intempestivas; desejos de riscos absurdos; medos insensatos; e silêncios
inacessíveis.
Sabemos que as emoções
negativas, quando controladas (na medida certa), ajudam à sobrevivência, tanto
da espécie, quanto dos mais jovens. Por isso, Ekman (2011, p.75) afirma que
“tristeza, raiva, surpresa, medo, aversão, desprezo e felicidade são termos
emocionais de emoções afins”. O que pode variar é a genética, a intensidade e a
frequencia de sua vivência e convivência. E, de onde eu observo, a constante
vivência dessas emoções trouxe comportamentos que, na escola, são quase
aceitáveis, pois observamos este local como local do erro, do resgate, do
ajuste, da reabilitação, do controle e do equilíbrio para viver em sociedade;
mas, quando eles forem para o mundo, estes comportamentos serão pontos para sua
desagregação, desilusão, depressão e ações preconceituosas destes mesmos
jovens, quanto da sociedade para com eles.
Meus jovens dialogam
como se estivessem em um ringue de luta livre cuja ideia é disputar uma vaga no
ranking dos mais descolados, intensos, inteligentes, amoroso, chamativos,
intransigentes, participativos, junto às emoções de uma geração que só saber se
fazer presente, no presente, com força, vontade e muitas emoções no corpo. A
linguagem nãoverbal reafirma sua vontade de ser único: a estrela criada em seu
imaginário.
Hora da aula. Vamos ao
futuro...
Profª
Claudia Nunes
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