APRENDIZAGEM: movimento de plasticidade
Noções de aprendizagem e desenvolvimento humano não são eventos diferentes. Em comum acordo com o sentido orgânico e cognitivo, desenvolver significa estabelecer uma relação de aprendizagem, troca e comunicação intensa entre o organismo e o ambiente no qual esse organismo vive e para o qual se direciona. Esse procedimento envolve crescimento, formação e gerenciamento tanto de diferentes conexões sinápticas quanto do conhecimento. Há a invocação de diferentes neurotransmissores para que a ocorrência dessas etapas, desde o registro e aquisição da informação até seu armazenamento e evocação (memória), imprimam novas e outras habilidades à mente humana.
O ser humano, então, vive por adaptações estruturais, sejam elas cerebrais (pela plasticidade) ou comportamentais (por aprendizagens). As mudanças agenciadas pelo meio externo e interno (atividades de interação, mesmo por lesões), afetam a rotina dos ambientes neuronal e social, provocando em um, sulcos no cérebro, e por outro, aprendizagens. É um fenômeno multidimensional e é impulsionado por desafios do meio ou por lesões. O corpo e a mente humano mantêm-se ativos, em diferentes graus, durante toda a vida, inclusive na velhice.
Quando falamos da dinâmica da plasticidade cerebral resultando em atividades de interação, acreditamos que diferentes níveis neuroquímicos, cuja estrutura funcional foi estipulada pela Natureza, envolvem diferentes padrões de conexão entre os neurônios, alterando as estratégias cognitivas e de comportamento de acordo com os desafios ambientais. Sendo assim, podemos entender o potencial de mutabilidade do cérebro humano diante das diferentes experiências vividas (vivenciadas) em cada etapa ultrapassada do desenvolvimento humano. É o chamado processo de maturação. É a nossa tão querida maturidade!
Façamos um acordo? Aprendemos sempre! Esqueçam a idéia de que neurônios lesados ou perdidos não podem ser repostos ou produzidos! O hipocampo, em suas chamadas “ilhas proliferativas”, mantém-se ativo no curso do desenvolvimento humano. Faz parte da sobrevivência do corpo humano, ter células neuronais embrionárias de diferentes linhagens migrando por áreas distintas de sua origem. Essa ação modifica suas funções de acordo com a estimulação recebida, por influência dos locais pelos quais perpassam e por fatores relacionados ao próprio microambiente molecular ligado a essas células. Como resultado, conexões capazes de recuperar vias comprometidas por eventos disruptivos são refeitas. Logo, novamente, mantém-se a aprendizagem.
Cada evento experienciado pelo homem, em seu cérebro ou em sua realidade, só se agrega ao conjunto de aprendizagens, a partir da vivência do chamado período crítico. Este se refere tanto aos eventos específicos do desenvolvimento neuronal, quanto a constatação de que os processos de desenvolvimento cognitivo são alterados mais facilmente ou de forma mais permanente dependendo do momento em que ocorre um evento disruptivo. É uma janela temporal mais suscetível a transformações neurais, ao potencial cerebral de flexibilidade e reorganização, e onde há uma lapidação constante dos sulcos cerebrais. E em cada lapidação cria-se a chamada “janela de oportunidade”, fase ideal, durante a maturação, para o desenvolvimento de habilidades, sejam elas de aprendizado de matemática, de línguas ou musical.
É importante ressaltar que, para todos os entendimentos alinhavados aqui, devemos levar em conta as variáveis, além da natureza neurobiológica, como fatores sociais e culturais. Essas variáveis modificam as respostas cerebrais e comportamentais em detrimento das aprendizagens que se quiser empreender e, mesmo assim, nada pode ser negligenciado. Aqui, entra em perspectiva e em profundidade a questão da INTEGRAÇÃO, e não da simples INCLUSÃO, quer seja das crianças, quer seja das comunidades, quer seja da sociedade, no elenco de possibilidades que os tornem capazes de aprender conteúdos contextualizados ou não. Afinal, manter o cérebro aprendendo e, conseqüentemente, o homem criativo, requer novas maneiras de ensinar e estimulações INOVADORAS cujas precedências se baseiem na formulação de melhores estratégias para as nossas várias disfunções.
Se o cérebro naturalmente tem a flexibilidade de revitalizar suas funções por relocações de suas redes neuronais, a interferência do ambiente escolar, nesse processo, deve surgir como solidária na organização das funções cognitivas mais complexas, como memória, atenção e linguagem, responsáveis pelo comportamento adaptativo e criativo intrínseco à comunicação humana.
É preciso RESPEITAR às diferenças, não apenas inclusive, mas com integralidade.
Profa. Claudia Nunes
Graduada em Letras/UVA
Especialista em Tecnologia Educacional/UCAM
Mestranda em Educação/UNIRIO
2 comentários:
Valeu Claudinha
Adorei o artigo ,como sempre lucida e competente.
valeriah
Adorei Claudinha
Como sempre competente e lúcida.
Valéria
Postar um comentário