AUTONOMIA: princípio cientificado
Há algumas décadas descobrimos o cérebro. A ciência nos proveu de visões ideológicas sobre o cérebro. O cérebro tornou-se o lugar das representações conceituais e sensoriais que, praticamente, ditam TODAS as ações do homem na Terra. Não há o sentido de subjulgamento, há o entendimento de que, como organismo vivo, a construção do conhecimento tem o seu esboço inicial no cérebro. Mas nem sempre foi bem assim. O cérebro, ainda não sendo o centro da psique, era visto apenas como massa homogênea e amorfa, um reservatório cujos fluidos e humores atravessavam corpo e nervos, elaborando temperamentos e comportamentos instintivos.
Dessa visão medieval, entra-se na emergência da visão racionalista (Renascimento). E, segundo Descartes, o cérebro (máquina e mecanismo), em sua glândula pineal, abrigaria a sede da alma, o fantasma na máquina. Há a reflexão e tradução do mundo mecanicista e isto determina o homem ocidental, de forma sincronizada. Àqueles temperamentos e comportamentos instintivos, agora, estão raciocinalizados.
A frenologia, metáfora do século XIX, investe na compartimentalização do cérebro, em várias áreas, abrigando desde as diferentes funções psíquicas aos comportamentos humanos mais sutis. Tudo teria uma localização específica, razão pela qual nossa massa encefálica tem vários sulcos. E a Revolução Industrial acentuou essa visão tecnicista sobre o pensamento científico, premiando a razão como a mantenedora do equilibro de humor do homem. Para tudo há uma funcionalidade, há uma razão técnica de existência.
O cérebro, então, torna-se reflexo dos modelos da sociedade industrial mecanizada, hierárquica e frenológica do início do século XX. O advento dos computadores ampliou a metáfora mecanicista do cérebro como grande e potente gerenciador cibernético. A comparação entre cérebro e computador era plenamente aceita e ampliada nas mais diferentes pesquisas científicas.
Atualmente, depois de intenso desenvolvimento das neurociências e da ciência cognitiva, o cérebro passou a ser mais visto como um ecossistema que uma máquina, já que os neurônios vivem em situação de competição e organização pelo estímulo e direcionamento do ambiente. O cérebro não mais dicotomiza o que está fora daquilo que se auto-organiza. O cérebro, agora, é autopoético, orgânico, fluido e modular. Essa “autopoesis” (leiam Maturana e Varela) recompõe a dinâmica da cognição humana no retorno de sua melhor dupla psíquica: razão e emoção.
Hoje a palavra de ordem é plasticidade: milhares de genes, associados ao cérebro, confrontam-se com os trilhões de sinapses sujeitas à modulação e à mediação ambiental. Esse confronto, provocado por competições ininterruptas, imprime variabilidade, diversidade e fluidez às células neuronais, e faz emergir uma mente autônoma e auto-reflexiva da própria estrutura cerebral e de suas múltiplas e variáveis conexões.
Eis o princípio de nossa autonomia!
Profa. Claudia Nunes
Especialista em Tecnologia Educacional / IAVM
Mestranda em Educação / UNIRIO
Especialista em Tecnologia Educacional / IAVM
Mestranda em Educação / UNIRIO
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