Não tem jeito. Cenas trágicas se repetem no RIO e minha pergunta nunca se cala: CADE DEUS? É só isso que eu quero saber: cade Deus? Cade essa entidade que tudo vê, cria, organiza, na hora em que inocentes numa van não conseguem chegar em casa? De novo, por acaso, por acidente, POR NADA, quatro famílias se viram completamente desentruturadas porque, ao longe, em seus portões de casa, repentinamente e sem explicações, os ventos não trouxeram seus filhos de volta. Anos de superação, responsabilidade, diálogo, sofrimento, confusões e do nada, de repente, os pais ficarão horas olhando a curva no fim da rua esperando o eterno retorno dos meninos, a partir de hoje, impossível. Cade a buzina? Cade o beijo de ‘até logo’ ou de ‘oi’? Nada... Cade Deus? Sorrisos largos, livros, roupas, brincadeiras nunca mais darão movimento (e preocupação) ao cotidiano dessas familias. Cade Deus? Todo mundo acredita em fórmulas milagrosas sobre segurança, orçamentos são ‘comidos’ para terem a certeza de que seus filhos irão e voltarão todos os dias no mesmo horário. E do nada, por pura displicência, desatenção, POW!, vazios... ventos... nada! De quatro a cinco crianças cobertas de ingenuidade e inocência foram ceifadas abruptamente e, no portão de casa, no celular, no jornal, na TV apenas as piores e inacreditáveis noticias. Pais lutando para realizar alguns dos desejos dos seus pequenos são supreendidos pelo inimaginável: não há mais pequenos... Ai como sair do portão? Como suspirar e criar forças para voltar e entrar em casa? Roupas do filho por lavar, contas do material/roupa do filho chegando, comidas preferidas do filho no armário/geladeira, fotos do filho em ‘momentos família’, fazer o que com tudo isso? Nada... porque só resta o desespero e o tempo. Sabem o que é ainda pior? A perda do filho ÚNICO! Além de ser uma loucura enterrar um filho, é absurda a idéia de que o fruto de um momento de grande amor sumiu! Não há consolo! Então cade Deus? Não há palavra que acalme. Não há o que fazer. Só resta assistir/ler a destruição do corpo emocional de quem fica. A questão da VAN não é novidade. TODOS os colégios com mais qualidade na estrutura de ensino tem 400 VANs indo e vindo TODOS os dias em vários turnos. Legais? Ilegais? Ah perai: vamos combinar! Na hora de organizar a vida escolar do filho há muitas adequações, mas segurança é um item importantíssimo! Nisso, os pais não brincam! Eles não entregam seus filhos a qualquer um. Os pais fazem levantamentos, perguntam, confirmam indicações, procuram a escola, outros amigos etc. Se há uma Associação de Pais e Alunos com indicações, poxa!, tudo resolvido! Ou não? Saber quem está trabalhando a mais tempo e, dentre as opções, quem trabalha na área onde moram, gera segurança: os filhos poderão estudar porque estão protegidos da cidade! Aquele ‘até logo’ de todo dia está garantido e nunca se tornará um ‘adeus’ definitivo. Minha avó dizia ao costurar nossa roupa: ‘cozo-te roupa, não cozo-te mortalha’. É isso! Esperança! Filhos na ‘mão de Deus’! Com a violência e a falta de educação espalhadas pela cidade em todos os setores, voltamos aos tempos primitivos e nos religamos ao divino: Deus proverá! Proverá o que, cara pálida? Vidas? Nunca! Nunca! Pais rezam pelos estudos dos filhos, para que se tornem boas pessoas e, fundamentalmente, para que voltem são/ilesos para casa todos os dias. E agora, resta o que? Fora a dor e a saudade, todo o resto é ‘crônica de uma morte anunciada’. Nada é novidade nessa história. No asfalto, quatro possibilidades de amor, felicidade, alegrias. Por que? Por que Deus quis assim? Difícil... Segundo uma das vítimas houve realmente uma ‘fechada’ de um carro; não estavam em alta velocidade; não usavam cinto; estavam cantando. Todos estavam distraídos do destino. E por algum motivo, ‘as moiras’ cortaram o fio da vida de quatro crianças por inveja, por egoísmo, só de sacanagem! Esse ‘Deus’ é radical demais! Como compreende-lo? Como amparar? Se essa entidade de sucesso não ‘segurou a onda’ da vida das crianças, como amparar os que ficam? Como amparar mães e pais? Triste ver a foto dos materiais escolares largados no asfalto. Quanto sacrificio para comprá-los... Quantos orçamentos comprometidos pelo desejo do filho... É inimaginável! Dizem que nao devemos dizer o ‘santo’ nome em vão, mas eu continuarei perguntando: CADE DEUS? Alguém, por favor, mande chamá-lo porque assim não dá!!!
Profa. Ms. Claudia Nunes
Um comentário:
Não sei responder... Verdade! Quando há uma crônica como esta, sempre aparece uma resposta conformista, que em síntese dizem: "Deus quis" (Ah! É bíblico). Será isso mesmo? Será que Ele quis, ou somos responsáveis por nosso destino, nossas escolhas e também por aquilo que escolhemos para nossos filhos...
Meu filho está em idade escolar e vai para a escola em um transporte não legalizado... Ontem, no horário da Van houve um tiroteio e pensei: "não vou ligar!" Sabe por quê? Não havia nada que eu pudesse fazer...
Não sei "cade Deus", só sei que o transporte estar legalizado ou não, não mudaria nada... E, mais! Também não acredito que a morte dessas crianças mude alguma coisa na sociedade...
Penso que nosso problema é mais social do que divino...
Silvia
Postar um comentário