Em recesso, a mente começa a se refrescar. A trivialidade do dia a dia começa a ocupar minhas ações. Ao contrário do que possa parecer, não entro em inatividade, a força dos meus pensamentos e insights ganha mais compulsividade e intensidade. Como boa professora de Literatura, aproveito o momento para ler e escrever. Ou seja, para não perder meus links impulsivos com a realidade, em tempo livre, observo e escrevo. E faço isto sempre do mesmo jeito: sozinha e sentada na praça de alimentação de um shopping qualquer. Ali tento dar conta da vida.
Ali as pessoas passeiam em todas as direções. Não sabem o que querem, mas estão ao sabor do olhar mais emocionante que lhes realize desejos vários (e por vezes desconhecidos). Encontros, almoços, cinema, compras, muitas são as razões para os quais se projetam pelos corredores em ângulos incríveis. É uma babel moderna de muitos ruídos e poucos sentidos. Inclusive bons sites de relacionamento são sua metáfora mais real, ainda que com uma diferença: a força da invisibilidade dos sujeitos interagentes. Estou no playground das liberdades de todas as gerações. Razão disso tudo? A emoção da segurança. Neste ambiente de múltiplos cheiros, cores, sons e movimentos, a distração quase completa é permitida. Acredita-se na idéia de uma proteção assistida e controlada: em cada corredor, seguranças atentos.
Meu cérebro viaja. Não sou mais a pessoa que observa os passantes e os recobre de análises e mil histórias. Estou professora e observo meus alunos. Eles não me vêm nem me sentem. São espectros do semestre passado inaugurados repentinamente à memória. Outra onda de pensamentos jorra intensamente. Quais são suas expectativas? O que os emociona em sala? O que, hoje, provocaria uma mudança em seu comportamento pessoal/cognitivo?
Em sua maioria, eles são tão jovens... E mesmo assim já carregam tantas dores, exclusões, negações... Em cada gesto e olhar existe tanta falta... Se não pensamos em suas expectativas futuras, então quais são suas necessidades agora? O que acalmaria seus ânimos hiperativados pela realidade madrasta? Eu não sei... Teorias, diretrizes e projetos pululam apontando as tecnologias da informática como razões e meios de/para transformação geral... Eu não sei...
É lógico que tudo está mais rápido, mas o uso da tecnologia digital não fundamenta e nem resolve nada! Sempre convivemos com jovens e tecnologias. A Informática trouxe apenas mais elementos/ferramentas para seduzir a criatividade e para que se favoreça o processo de ensino e de aprendizagem. As tecnologias da informática são outros recursos/meios que podem mediar a relação professor-aluno, quando o primeiro for conhecedor de sua usabilidade e possa fundamentar suas atividades com objetivos mais significativos no ambiente de ensino e junto aos alunos. Mas esse ‘quando’ acontece quando? Eu não sei...
Diante dessa paisagem discente relacionada a comunidades de classe baixa ou média, o mais importante é promover um clima educacional que emocione a pele, que estabeleça um link de significados variados no corpo e que, principalmente, tenha a duração do tempo da vida. Em cena, estratégias de criação de diferentes empatias. Digo diferentes porque toda sedução corresponde a pontos de atração e fuga diversos e muito individuais. Se pelo corpo, pela voz, pelo saber, pelo comportamento, pelo sorriso, pela paciência, pela conversa direta, pelo cheiro, o que se reverte em aprendizado parte da construção da relação professor-aluno no dia-a-dia, nas formas de aproximação e de distanciamento do processo, no ambiente de ensino e de aprendizagem.
Nesta perspectiva, nasce o desconforto da desatenção ou da indisciplina, mas nasce também o conforto da responsabilidade, da autonomia, de uma crescente habilidade emocional para superar intempéries, entender o momento adverso, silenciar no calor das discussões e inaugurar-se como alguém melhor. O ensino não precisa de inovações grandiosas e extemporâneas, o ensino precisa de renovações internas profundas, fato que se revelará como um tempo de excelente criatividade e que assimilará com mais seriedade e tranqüilidade as inovações de nosso tempo.
Ops! Eu fugi da paisagem desarmônica de meus alunos no ambiente de ensino e não respondi as questões. Será que existem respostas? Não sei... Nós, professores, sabemos o porquê das apatias discentes. A contemporaneidade enche-nos de ferramentas de oportunidade. Mas como implementá-las ou mesmo como dialogar com elas dentro de um currículo tão compartimentado? De novo, minha resposta é: pelo vínculo entre todos e todos cujo início acessa e abrange vários espaços de interação. Segundo Casassus, em ‘Fundamentos da educação emocional’, “o mundo é interacional, toda hora estamos mudando, tudo muda constantemente. Então, é a partir da interação que se vai desenvolvendo a vida e a aprendizagem”.
Profa. Claudia Nunes
Mestranda em Educação
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