domingo, 7 de março de 2010

O Amante de Lady Chatterley: um olhar pessoal

D. H. Lawrence constroi um perfil de mulher fora dos padrões da época. Constance é uma personagem complexa porque vive a liberdade da vivência dos sentidos, vive e convive com as regras sociais / conjugais muito rígidas, e vive a dinâmica do desequilíbrio de sua realidade quando diante da prática do amor sensual desreprimido. Desde jovem assume o gerenciamento do seu corpo e mente. Sua família é liberal e esclarecida. Entremeando estas 'vivências', há amores com nuances decepcionantes, repressoras, indignantes, trágicas, mágicas e altamente sensuais. Constante não aceita constâncias e está sempre analisando seu corpo, suas sensações e as posturas alheias diante da sexualidade. Seu psiquismo acalenta o encontro com a felicidade e a tranquilidade da liberdade de amar, de 'dar' o corpo sem cortes exteriores, a alguém que ame, independente da sua condição social. Dona de uma renda volumosa, Constance quer o gozo intenso no corpo e do sexo. Suas relações são intensas, inteligentes e críticas. Talvez encontrasse todo o ardor do amor carnal com Clifford, seu marido, mas este, atingido pela guerra na flor da idade, é impedido de procriar, fato que transforma o casamento num jogo de idéias e intenções. E diante apenas da idéia, do imaginário, ambos se afastam gradualmente e reconhecem este movimnto em diferentes incidentes. Idéias, intenções, companheirismo, bem-estar não são amarras suficientes para diminuir a excitação de Constance diante a volúpia da paixão. Ainda assim Constante aceita sua anulação, por um tempo. O leitor acompanha todos os percalços de sua tentativa de se entender como mulher para enfim poder, realmente, se olhar como esposa de alguém. No meio disso tudo, uma grande crítica à industrilização e à crescente desvalorização do homem diante do desenvolvimento (e forte uso) da máquina. Também é possível observar críticas às diferenças sociais em completa decadência (perda dos status) e um alerta às mudanças de comportamentos entre as classes 'dominantes' e 'dominada'. Mas o que mais chamou/chama a atenção ontem e hoje, é a preocupação pelo desejo físico e a descrição desinibidora do ato sexual. O ato sexual apresentado de diferentes formas é uma forma de catarse, e não apenas uma consumação previsível APENAS entre um 'casal-casado'. Medo, timidez, inibição, repressão são depuradas pelo autor. Mellors traz o esclarecimento do espírito desejante de Constance. Ambos vivem momentos cuja palavra 'VERGONHA' não se sustenta como possibilidade, nem para a construção da personagem, nem como alinhavo do enredo. Após cada encontro carnal, mudanças nas relações familiares. É o conflito entre a imperiosa exigência do sexo e a serenidade do amor. É um desfraldar de véus internos para que emerja um SER quase purificado. Cada ato sexual entre Constance e Mellors (seu guarda-caça) atinge subjetiva e diretamente os personagens e suas reações dependerão de seus status social ou familiar. Por ser considerado obsceno para época, o livro não pôde ser chamado de 'TERNURA' como desejava o autor. Diante da negativa de diversos autores de publicá-lo, Lawrence assumiu o risco e a bancou do próprio bolso. Foi atacado, censurado, proibido e condenado. O livro apresenta TEMAS bem interessantes também para os dias de hoje como os efeitos da debilidade física, da impotência psíquica, da desigualdade social, da moralidade hipócrita, da eloquencia vazia e inibidora, das emoções reprimidades, do casamento sem virilidade etc. Lawrence demonstra no psiquismo mutante dos personagens e em cada ato sexual realizado, a realidade de um tempo cujas descrições suprimiam o prazer como fonte de beleza, transformação e liberdade.

Profa. Ms. Claudia Nunes

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