domingo, 28 de março de 2010

Novo alerta juvenil: AS PULSEIRINHAS

Há pouco tempo, eu e uma amiga (que tem um filho de 10 anos) estávamos passeando no Méier quando, de repente, observamos algumas pulseirinhas coloridas no chão. Minha amiga riu e disse: ‘Tá vendo estas pulseiras coloridas? Meu filho me disse que elas têm significado agora. Dependendo da cor, meninos e meninas se informam se querem um simples abraço a algo mais arrojado’. Eu sorri e me lembrei dos tempos da ‘salada mista’ e também que, a bem pouco tempo, este código de cores referia-se às camisetas com as quais os meninos e meninas compareciam às festas.

Pensamentos à parte, hoje, domingo, me deparo com uma grande reportagem sobre as benditas pulseirinhas e suas representações, e percebo que, de novo, a criatividade dos jovens quanto à realização ou não das suas primeiras curiosidades sexuais / amorosas é tachada de preocupante, imatura, perigosa e/ou inconseqüente. E isto desde o meu maravilhoso ‘salada mista’ é muito triste. Perde-se a oportunidade de se criar mais aproximações, diálogos e compreensões deste momento mais excitante na vida dos mais jovens, a partir de uma brincadeira conhecida no mundo desde 2006, quando os 'adultos experientes' assumem posições ‘ignorantes’, quanto ao real sentido da criação constante desses códigos lingüísticos.

A notícia do jornal ‘O Dia’, do dia 27/03, começa assim “Escolas do Rio estão fechando o cerco contra as ‘pulseiras do sexo’ (...) febre entre crianças e adolescentes.” Como assim ‘cerco’? São marginais? São fugitivos? Como assim ‘cerco’? Pais com filhos nestas fases devem ter atenção a este momento como outro momento qualquer cuja experiência gerará (ou gere) novo aprendizado aos filhos, seja menino ou menina. E o jornal segue dizendo, “As instituições começaram a alertar os pais, que estão sendo convocados como aliados na ‘quebra de braço’ contra o que consideram uma perigosa brincadeira.” Como assim ‘quebra de braço’? Sabe o que eu penso? Os núcleos familiares estão nulos de sentidos e as escolas estão se arvorando a serem ‘paladinos da justiça’ na vida afetiva das crianças e dos adolescentes. É o que me parece quando leio estas e outras notícias ou observo certos comportamentos da mídia e da escola com relação às atitudes dos mais jovens para ultrapassar suas fases ou faixas etárias mais pungentes e complexas.

E para (me) assustar ainda mais, o jornal anuncia que, por causa das representações das pulseiras, ‘moradores de rua podem atacar as meninas na saída da escola; pedófilos podem se sentir à vontade para aliciar menores; e pode haver aumento nos crimes virtuais ligados ao sexo’. É correto? É correto sim! Mas também, invoca-se nestas afirmativas, a ‘teoria da conspiração’ tal a carga emocional expressa. As conseqüências elencadas acima devem ser discutidas por causa tanto das pulseirinhas e seu código, como também do uso excessivo da Internet, da crescente falta de limites em casa, da desvalorização da figura do professor, das mudanças no conceito de liberdade, do aumento do uso das drogas etc. O que de pronto me vem à mente ao ler a reportagem é que, ao se criar a teoria da conspiração, disfarça-se a existência de uma completa separação entre escola e família na formação dos sujeitos sociais. Ou não?

Em uma sociedade, o núcleo familiar é o eixo das primeiras redes sociais; é o ponto de onde as crianças e os adolescentes obtêm suas primeiras surpresas e descobertas da vida e da convivência; e é o espaço de onde começam a assimilar o que é certo, o que é errado e, graças a Zeus, o que é possível ser e fazer na realidade. Nele (e depois no núcleo escolar) estão vinculados conceitos e valores com as quais todos se relacionarão / relacionam na construção de seus próprios núcleos afetivos. E destes núcleos, outros farão parceria em favor do desenvolvimento de suas personalidades, autonomias, criatividades e afetos, elementos importantes para determinação da confiabilidade e da convivência em comunidade.

Em meio a este mundo de ‘exigências’ e aprendizados, pulularão / pululam vários pontos de rebeldia, transgressão e certa agressividade, muito relacionados aos desentendimentos dos mais jovens sobre ‘viver a realidade’ e, porque, em crescimento, em formação, em muitos casos, observam o mundo olhando para o próprio umbigo. Ou seja, crianças e adolescentes estão na fase de estranhar o mundo dos pais ou responsáveis (adultos) e escolhem viver por si ou pelo seu grupo, intensamente. Lembro muito do conceito de ‘aprender a aprender’, conhecem?

Crianças e adolescentes são sujeitos, em sua maioria, ainda fora do campo de trabalho ou ainda dando os primeiros passos no mercado, e cujas mentes funcionam dentro das seguintes responsabilidades: os amigos, as diversões e os estudos. São sujeitos em fase de exposição visceral do corpo, dos desejos e dos sonhos. E, por isso, vivem a vida num forte vórtice do ‘experimentar’ ou do ‘se jogar’ no agora das oportunidades, principalmente, do prazer. ‘Amor está no ar’!

Crianças e adolescentes, se os pais não sabem, saibam, são apaixonados pela vida porque a vida ainda não lhes pregou peças decepcionantes; porque a vida é conduzida nos riscos e em suas superações com heroicidade; e porque a vida é um jogo de emoções fortes ou de conquistas tão intensas quanto desejarem. Logo suas ‘rebeldias’ só acontecem quando podadas ou negadas estão suas necessidades mais prementes, mesmo as mais pueris, à toa ou sem diálogo. Para eles, é ‘tudo ao mesmo tempo agora’ cujo ‘depois’ ou ‘para depois’ ou ‘esperar um pouco’ não têm sentido, mas precisam ser respeitados pelos assumidos ‘adultos experientes’.

Crianças e adolescentes, de 09 a 16 anos, estão despertados para os jogos dos amores porque sentem no corpo excitações diferentes diante dos outros. Em contrapartida, no mundo como o de hoje, em princípio, o que eles sentem é um certo tolhimento das suas condutas e de suas formas de pensar. Depois da fase infantil, a sensação deles é que tudo ‘não pode’, ou ‘não é certo’. Estão ‘crescidinhos’ e devem ter atitudes mais centradas, ter objetivos de vida e pensar no futuro. É certo? É certo, mas tudo isso leva tempo e só acontecerá com o compromisso dos tais ‘adultos experientes’ com grande cuidado e um bom respeito. Ou não?

Mas cá entre nós, como você conheceu o amor, o sexo, a aventura, a paixão? Lembra-se de sua primeira vez na paixão, no sexo, no amor e na aventura? Ah, lembra sim e quase tenho certeza, foi um momento de transgressão forte dos valores passados pelos 'adultos experientes'. Lembra da sensação? Mesmo quando deu errado, lembra da sensação? Pois é, crianças, adolescentes e o sentido das suas pulseirinhas estão neste processo, estão potencializando criatividades, construindo novos códigos e representações, e deixando os 'adultos experientes completamente sem chão em suas certezas e opiniões. Que bom! Eu acho ótimo uma boa sacudida nas minhas formas de pensar e agir! E você, não?

Não se esqueça disso! Lembre-se de seu tempo de adolescente! E analise a presença das pulseirinhas e seus filhos. Seu uso não está discutido, mas sim sua POSSÍVEL consequência. Segundo o jornal, ‘quando o menino arrebenta a pulseirinha, a menina precisa pagar a prenda, ou seja, consumar a ação correspondente’. Será que pagam mesmo? Será que suas conotações se efetivam mesmo? Será que isso precisa de tanto alarde? Na reportagem, o presidente do sindicato das escolas particulares do Rio (Sinepe), Victor Notrica, é a luz no fim do túnel porque diz ‘cada escola, de acordo com sua metodologia, deve conversar com pais e alunos’. Ou seja, é a oportunidade de tecer mais diálogo entre escolas, responsáveis e ALUNOS; é a oportunidade de entender que os alunos (crianças e adolescentes) estão chamando atenção, provavelmente, para a falta de pontos de contato entre escola e família, e/ou na escola e na família; e é a oportunidade de professores mesclarem suas práticas de ensino com os interesses do aluno ou referendadas em seus cotidianos. Em suma, é a oportunidade da promoção do diálogo entre todas as partes interessadas!

As crianças e os jovens, hoje em dia, dominam a linguagem de forma diferente e a driblam com muita facilidade, principalmente e a partir da forte presença e uso das ferramentas virtuais. Com isso criam contextos onde podem realizar suas fantasias e propalar novas formas de agir ou de demonstrar suas necessidades. É importante lembrar que as conseqüências e/ou dimensões de certos atos não são arquitetadas e nem mensuradas com muita antecipação; porém nem tudo é uma ‘tragédia grega’. O alarde pode alimentar a vontade de ‘contrariar’ e de realmente ‘partir para o abraço’!

Muitas crianças ou adolescentes conhecem o sentido das pulseiras, mas as usam apenas como enfeite, por exemplo. É o que se lê no depoimento de alguns alunos, de 16 anos, do Pedro II, no mesmo jornal: eles gostam das cores, acham que ficam legais no braço, outras pessoas nunca tentaram arrancar suas pulseiras e acham que realizar a ‘prenda’ vai da ‘cabeça’ de cada um. Interessante é que até os pré-adolescentes observam as pulseiras como brincadeiras. E com certeza, muitos deles usam as pulseirinhas por influência dos outros ou para se sentirem aceitos no grupo. O que está se fazendo então? Aguçando a curiosidade! Aguçando a vontade de experimentar! Aguçando a certas práticas escondidas ou conversadas / preparadas pelos ‘amigos’. Escola e família, de novo, podem não fazer parte deste movimento.

Leitor, o que penso é o seguinte: crianças e adolescentes chamam a atenção da sociedade para solidão, para falta de atenção, para falta de diálogo, para falta de afetos crescentes em todos os setores nos quais estão imersos ou precisam se contatar. Levanta-se assim outra posição: a ascensão de certas violências nas escolas / na família, da presença de pedófilos, de tipos de bullying, da violência doméstica etc., ocorre porque, surpreendidos e sem saber o que fazer, os responsáveis agem abruptamente e demarcam o seu poder com proibições radicais. Ou seja, os responsáveis criam proibições ignorantes dos argumentos dos filhos. Por conseguinte, talvez, só o que façam é desenvolver desvios de conduta mais complicados e sujeitos menos conscientes de suas posturas na relação com o outro. Ou não?

Não há nada melhor do que observar, conversar, estar próximo, se fazer importante para um filho, com poucos gritos e imposições. É estar atento às suas mudanças, às vivências de situações estranhas e às suas dúvidas. É tentar esclarecer da melhor forma possível suas questões e estar presente quando procurado.

Seu filho ou sua filha está usando pulseirinhas, piercings, cabelo estranho, roupa chocante? Seu filho ou filha tem amigos novos, atitudes novas, desejos novos? Seu filho ou sua filha passa muito tempo na internet, parou de brincar, usa muito o telefone, quer passar noites na casa de amigos/amigas? Relaxa! É fase. Atenção! É a fase. Aproxime-se e converse. Tenha (ou crie) sensibilidade para escutar. Seja invisível e verifique roupas, lugares, pessoas. Rotineiramente, torne-se exemplo. E seja feliz sem dramas!

Referências:
BARRETO, Diego. Escolas em alerta contra as ‘pulseiras do sexo’. Jornal O Dia. Especial O Dia. Domingo, 27/03/2010, p.02-03. Disponível em: http://odia.terra.com.br/portal/rio/html/2010/3/escolas_em_alerta_contra_as_pulseiras_do_sexo_71745.html

Profa. Ms. Claudia Nunes

Um comentário:

Aivlis Bonini disse...

Mais uma vez, falta a sociedade o critério da ponderação. Quem não brincou de salada mista? Minha mãe, para me assustar, dizia: "cuidado com essa brincadeira, pq há doenças que pegamos com o beijo" (na época ela se referia a tuberculose). Enfim, sou mãe de um pré-adolescente que tem várias pulseiras compradas na porta da escola a R$ 1,50 (o pacote). Perguntei o que significavam, ele explicou, usou-as por algum tempo e já está esquecendo... Ponderar, este foi o meu critério.
Silvia

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