segunda-feira, 8 de março de 2010

OSCAR 2010: um resultado sem história

Desde pequena, algumas coisas fazem parte da minha vida: escutar Elis Regina, Eliseth Cardoso e Jamelão; cômodos cheios de livros para consulta; escutar minha avó contar histórias da família; vinho com grossos ‘nacos’ de queijo branco à tarde; carnaval e compras em Madureira; e cinema, muito cinema. Férias na casa da minha avó tinha que ter cinema ou se falar sobre cinema. Aprendi a ler, saber, colecionar, ter e ver tudo relacionado ao cinema. Cinema e suas trilhas sonoras são até hoje meu descanso, meu alívio e meu hobby. Preferência pelas décadas de 30, 40 e 50. Um ícone para mim? Greta Garbo! Ouvia minha mãe e avó falarem sobre atores, atrizes e filmes, e ficava deslumbrada e criava preferências. Seus nomes e filmes vinham com a seguinte expressão 'você tem que ver!' Beth Davis, Joan Crawford, Julie Andrews, Cary Grant, Dóris Day, Vivien Leight dentre outras ficam nos meus sonhos. Em casa, meu pai me encaminhava aos westerns (faroeste ou ‘bang-bang): John Wayne, Gary Cooper, James Stewart, Gregory Peck e Henry Fonda; aos filmes de guerra normalmente passados em porta-aviões; e aos filmes policiais com Chucky Norris e Charles Bronson. À noite, depois do Fantástico, todos os 'Desejo de Matar' sempre! Grandes filmes! Grandes performances! Grandes imagens e falas!

Neste processo, acompanhar a entrega do Oscar se tornou um evento familiar. Havia disputa, discussão e apostas. Anotávamos e víamos todos os indicados com grande interesse. A estatueta do Oscar criava um glamour também em nossa casa. Nós nos arrumávamos para ver o evento. Anos depois, do ‘the winner is...’ ao ‘the Oscar goes to...’, estamos em 2010. Novamente o show da entrega do Oscar. Família muito diferente, muitos membros longe uns dos outros, mas o cinema continua me excitando demais. Quem ganhará? Quem perderá?

Com o tempo (e muita leitura e filmes), é possível entender os trâmites e até acertar os futuros premiados. Por quê? Porque Hollywood muda muito pouco. Um dos pensamentos mais alardeado é que ‘filme que ganha Oscar, dificilmente é do gosto popular’. Segundo o blog http://multiplot.wordpress.com, eis alguns perdedores: Cidadão Kane, o Grande Ditador, Crepúsculo dos Deuses, Felicidade não se compra, Taxi Driver, As Vinhas da Ira, Dr. Jivago, ET o extraterrestre e por ai vai. Outro fato são as grandes injustiças com relação a vários produtores, diretores, atores e atrizes. Quando e como Hitchcock, Spielberg, Chaplin ganharam o Oscar, por exemplo? Conjunto da obra. Barbra Streisand já ganhou, apesar de Yentl? Tom Cruise já ganhou, apesar de Nascido em 4 de julho? Greta Garbo já ganhou, apesar de “Anna Karerina’? Stanley Kubrick já ganhou, apesar de ‘2001 uma odisséia no espaço’? Não! Não vou continuar com isso por hora porque no quesito trilha sonora as injustiças são bem piores. E em 2010 nada foi diferente.

Com uma politicagem explícita, ‘Guerra ao Terror’ desbanca ‘Avatar’. Não que Avatar tenho um enredo muito criativo, mas Guerra ao Terror também não. Diferente de Apocalipse Now, Resgate do Soldado Ryan ou Direito de Matar, Guerra ao Terror apresenta apenas a vida dos soldados que desarmam bombas no Iraque. E se desarmam bombas, o espectador já sabe que vai ver muitas mortes trágicas e chocantes. Nada mais óbvio! O filme não é um alerta, uma análise, uma crítica ou uma denúncia sobre a guerra, ou sobre o envio dos soldados ou sobre a forma como os Estados unidos entraram em luta. É um simples retrato sobre um grupo específico do contingente militar americano baseado no Iraque que desarma bombas.

As performances dos atores são esplendorosas e cativantes, mas nada que os Na’vi também não sejam, ou mesmo que a garota maltratada de Preciosa não seja. A questão é política mesmo. A questão é de lobby intenso (feroz) sobre um ex-marido e sua ex-esposa discutindo assuntos sérios, mas diferentes, utilizando meios semelhantes. O produto do homem envolve uma tecnologia inovadora. O produto da mulher incorpora o sentimentalismo americano quanto aqueles que estão longe de casa. Tocar o sentimentalismo sempre é ‘xeque-mate’.

Já deu para perceber que não gostei do resultado. Não gostei mais por perceber toda a politicagem que envolvia a premiação da primeira mulher diretora, do que efetivamente por pensar que um seja ‘melhor’ do que outro, fato que é falso. Assim que ‘Miss Simpatia’ ganhou seu Oscar, eu suspeitei que Cameron estava no precipício. Mas quando Barbra Streisand, mulher altamente politizada e poderosa nos meios políticos americanos (lembram do caso Clinton?), adentrou o palco para anunciar o prêmio, eu sabia, Kathyn Bigelow era a escolhida. Tom Hanks então nada mais tinha a fazer senão aproveitar e anunciar, sem preâmbulos, ‘Guerra ao Terror’ como melhor filme e sair de fininho.

Louis B. Mayer e seu grupo de 36 diretores e atores, num dia 11 de janeiro de 1927, se remexeram nos túmulos de novo. Da idéia de incentivar a produção de obras de qualidade técnica e artística, hoje temos um jogo poderoso (e ininterrupto) de combinações que possam gerar discussões e mais dinheiro aos cofres da indústria cinematográfica. Quem perde? Neste caso, ninguém! Tanto os filmes ganhadores quanto os perdedores têm (e terão) repercussão, mais dinheiro e novos investimentos.

‘Entre mortos e feridos, todos quase sobreviveram’.
Lamento Cameron...

Profa. Ms. Claudia Nunes

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