Dia dos namorados. Dia especial. Ao abrira janela de casa, Lucia nem imaginava como seria o seu dia. Roupas por arrumar. Crianças acordando. Marido no banho. Diante de um sol escaldante, o dia era o mesmo. No parapeito, um cheiro de café desviou sua atenção para os andares abaixo. ‘Nossa! Café fresco’ pensou. Quanto tempo não acordava com uma mesa de café posta. Quanto tempo não acordava sem obrigações. Quanto tempo seu corpo vibrava por novas emoções. ‘De que adianta pensar nisso? O tempo não volta e não sou infeliz’. Passando a mão no cabelo, arrumando sua roupa, respirava a única novidade do dia: o ar. Distraída em suas dúvidas, não ouviu os gritos do marido e filhos no interior da casa. São gritos da dependência, da insegurança, das obrigações e, no fim do túnel, do amor. Com determinados papéis sociais, não há como escapar das escolhas. Seu vestido repuxa, repuxa e repuxa... Impaciente, dá um tapa no ar e acerta a mão do filho menor que pede atenção e um beijo. Que susto! Nunca batera no pequeno! Arrependida, segura-o nos braços e canta: essa é o seu dia. A canção alcança portas, janelas e basculantes... Na rua, uma criança suja grita: ‘moça, assim vou chorar, a senhora tem pão?’ Seu coração dói. No tempo em que vasculhará sua memória, esquecera que todos só precisam de muito colo.
Profa Ms Claudia Nunes
Nenhum comentário:
Postar um comentário