Ontem eu estava com uma amiga ao telefone. Papo vai, papo vem, chegamos a seguinte conclusão: fofoca e inveja estão no mesmo campo semântico e em todas as nossas redes sociais. Parece que as pessoas não estão bem consigo mesmas ou com o que conquistam na vida. Elas atravessam o outro com olhares de cobiça cujas capas podemos encontrar em certas delicadezas, sorrisos (sempre apáticos) e disponibilidades. Então estávamos certas: fofoca e inveja são emoções costuradas em todas as linhas do que chamamos ‘relação’.
Nós duas supomos que essas emoções circulam o ser humano e se revelam quando o sucesso do outro (de qualquer tipo ou grandeza) age como um incômodo. Sem a coragem de assumir limitações e diferenças, nós podemos ser sufocados pela energia repressora do outro. E ficamos sem entender porque estamos sem sono, de mau humor, sem concentração e com dores desconhecidas.
Minha amiga se diz assustada. Ela me revelou que está em um processo profissional ascendente há semanas, mas tem percebido diferenças nos comportamentos dos colegas de trabalho. É uma sensação que a deixa mais vulnerável, indecisa, insegura. Em conseqüência, seus projetos começam a sofrer pequenas perturbações ou pequenos senões em seus processos de implantação. Uma chateação!
Depois de escutar, falei: “Amiga, é importante entender ou reconhecer que o ser humano tem uma tendência a querer agradar e ser agradado pelos menos vez por outra. É uma questão de dar e receber carinho e atenção. Só que só podemos nos responsabilizar por nossas atitudes e ações. Não dá pra entrar na energia do outro e acreditar na promessa de retorno. Antes de nos olharmos como seres humanos”, - eu disse a ela – “temos que nos reconhecer como selvagens e os selvagens sempre sobrevivem, entende?”
É ilusão acreditar que cedendo ao outro, seremos aceitos e amados como imaginamos. Esta ilusão inaugura obrigações, cobranças, expectativas e apegos incoerentes. Hoje eu sei disso e minha amiga também precisa entender. A doação emocional na esperança de um retorno causa mais raiva e desagrados do que alegrias. Ai, com certeza, ingratidão será a palavra de ordem e fará morada na mente como realidade. Neste sentido, o respeito aos pontos de vista e experiências do outro serão completamente ignorados.
Minha amiga atribuía aos colegas os problemas que vinham ocorrendo em seu trabalho porque, provavelmente, esperou demais das pessoas. Nem todo mundo está preparado para vivenciar e compartilhar o sucesso do outro. Este sucesso pode expor suas (dos outros) deficiências e dificuldades. E antes de se aceitarem como são, algumas pessoas podem ‘sabotar’, até mesmo com suas energias (força do pensamento, a vida do outro.
Sem pensar, - digo ainda à minha amiga – “cuidado porque nem todo mundo é tão bom ou tão mal quanto parece”. Susto! A força ou o alcance desta frase nos pegou de surpresa. Ao reconhecer que a fofoca e a inveja são quase siamesas, há coerência, mas quando podem ser reconhecidas com certa facilidade nos ambientes nas quais imergimos diariamente, tornam-se assustadoras e ambíguas. “Ambígua?” – perguntou sem entender, minha amiga. “Sim querida, ambígua.” – reafirmei – “É uma frase que demanda outro sentido: você, por exemplo, pode estar querendo ser vista como superior devido ao seu sucesso veloz. E isto também é um problema”.
Em toda relação lidamos com as diferenças e por causa delas nós relacionamos, em princípio, emocionalmente: ao abrir espaço às proximidades alheias, é preciso ‘sentir o clima’, sentir a pessoa e o momento. E assim as emoções serão nutridas com eficiência. Em muitos casos, segundo alguns escritores, “a inveja é admiração invertida”. Ou seja, a sensação negativa pode sugerir apenas que todos temos qualidades e pontos fracos, logo o cuidado maior é procurar ir além das aparências e se perguntar: “Isto é uma situação de risco? É apenas uma sensação de fracasso? Ou é uma simples forma de chamar atenção?”.
Minha amiga ficou perplexa, estas possibilidades não lhe passaram pela cabeça. Sabem por quê? Penso mas me calo: porque a intuição da minha amiga estava voltada ao seu umbigo, e não para o contexto na qual se movimentava. Intuição é importante e não se engana mesmo, mas minha amiga precisava ampliar seu poder de alcance para não ser injusta. Não podemos descartar a existência clara ou disfarçada da fofoca ou da inveja, mas partir para um julgamento particular e condenação generalizada é sempre muito mais pernicioso para quem sofre do que para quem faz sofrer a fofoca ou a inveja.
Todos nós precisamos de proteção, preservação (da integridade) e das relações amistosas só com quem temos afinidade. É uma escolha que nos convoca a respeitar as diferenças e, por consequência, a nos valorizar. Porém todos nós vivemos dentro da oportunidade de evoluir com nossas ações e exemplos. E assim diluímos, ao máximo, tanto a fofoca quanto a inveja.
Diante disso, decidimos: minha amiga procurará mudar partes do seu comportamento (talvez sendo mais elogiosa com os outros) e perceber como as pessoas vão reagir.
“Que bom!” – suspirei e desliguei o telefone.
Profa Claudia Nunes
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