segunda-feira, 20 de junho de 2011

UM CORREDOR À VIDA


Todos dizem que as cidades ganharam arranha-céus e as pessoas, grande distancia. Mesmo arrebanhadas em limites territoriais específicos, não há indicativo de relação. Em prédios de muitos andares, os corredores sentem a presença da vida, mas também são pontos em que todos estão devidamente separados. É o público estabelecendo particularidades e sem permissão a qualquer invasão. Cada um em seu espaço e sem problemas ou sem a necessidade de administrá-los por causa do alheio. Em prédios de muitos andares e muitos apartamentos por andar, as paredes não negam as vidas, as formas de vida, mas só por trás delas. Em cada parede, uma porta; e, em cada porta, uma luta para se esconder das possíveis necessidades dos outros. Todavia Amanda estabeleceu novos rumos para a sua vida. Deprimida, com síndrome do pânico, ela começava a ficar cansada das suas 04 paredes e de conviver com sua imaginação sobre a vida dos outros do outro lado da porta. Era o além das portas que lhe dava forças para se manter viva. Era uma passividade inútil, ela sabia, porque ela estava fora do movimento do mundo.
Por recomendações médicas, durante 02 meses, ela se divertiu decorando e redecorando seu apartamento, falando ao telefone, acessando a Internet, lendo livros, escutando música e escrevendo cartas. Cartas? Sem querer, ela se pergunta: “escrevo para quem?” Só tinha como companheiros uma vizinhança fantasma e barulhenta. “Escrevo cartas para quem?” – repete ela. Sem resposta, a porta da rua cresceu em seus olhos. Não há diálogo sem o outro. Não há emoção sem o outro. “Eu não vou viver sem o outro!” Alguém precisava ler suas cartas... Alguém precisava conhecer seus pensamentos... Ela queria reconexão e muita emoção.
Ansiosa, tomou um banho, amarrou o cabelo, passou batom e ficou frente a frente com sua porta. Silencio. Seu corpo e seus ouvidos estavam tensos e atentos. Seu coração estava acelerado. Seus braços estavam super-pesados. Ainda o silêncio. O prédio não ajudava, nenhum pulso, nenhum som.
Num impulso, Amanda ataca a maçaneta e abre a porta. Um vento de múltiplos odores acerta seu rosto e penetra sua pele e sentidos. Seu mundo se embaraçou todo. Além das portas, só portas e uma claridade incômoda. Quem leria suas cartas? Ainda sob os efeitos do seu gesto, Amanda sente sua angustia aumentar: quem leria suas cartas? É impressionante o vazio do corredor, apenas a ventilação era sentida. Que mundo é esse?
No fim do corredor, uma janela. Muitas luzes desfocaram seus olhos. Que felicidade! Essa era a vida que desejava: animada, positiva, divertida.
Ela estava calma e deitada no chão do play. Só conseguiu ouvir: “Gente, é Amanda, a moça doente do 4º andar, chamem os bombeiros!”
Ela era conhecida...

Nenhum comentário:

Nada nunca é igual

  Nada nunca é igual   Enquanto os dias passam, eu reflito: nada nunca é igual. Não existe repetição. Não precisa haver morte ou decepçã...