"Quando só
se pensa como sempre se pensou, só se vai manter o que sempre se manteve - as
mesmas velhas ideias". (Michael Michalko, um dos mais importantes
treinadores da criatividade nos Estados Unidos)
Sem
sombra de dúvidas, as formas de pensar mudaram. Se elas ficaram mais velozes,
mais superficiais, mais simples, mais incompreensíveis, mais dinâmicas, não
sabemos ao certo, mas elas mudaram e essa mudança vem mudando as dinâmicas da
sociedade quiçá da escola. Neste viés, as práticas de ensino estão precisando
de upgrades urgentes. Sei que muitos
já falaram sobre isso, pelo menos, há uns 10 anos se fala sobre isso, mas,
ainda assim, é perceptível a forte resistência de todos, todos mesmo, quanto à
consciência efetiva destas ‘outras’ formas de pensar e suas práticas redimensionadoras
dos comportamentos cognitivos, emocionais e físicos. Desta feita, há a
constante necessidade de livros e livros sobre o assunto.
Só
que é justamente ai o meu incomodo. Livros e livros sobre o assunto, e a velha
performance do ‘aprender a aprender’ com um privilégio absurdo sobre a
concepção do conhecimento. Hoje eu quero pensar, junto a vocês, sobre o
aprender FAZENDO, algo importante aos cérebros aprendentes, às relações
afetivas (ou não) e a chamada ‘criatividade’. E sem querer eu me defrontei com
a leitura de um livro de/sobre PAULO BARROS (carnavalesco) e suas formas de
pensar (criar) enredos carnavalescos. Eu então parei para pensar em outra
dimensão: o mundo PAULO BARROS na escola.
Há
um mantra na escrita e na fala acadêmica: a geração atual (aprendentes da
modernidade / nativos digitais) precisa aprender por desafios, por colaboração,
através da proatividade e de forma contextualizada. Mais do que os conteúdos, é
preciso criar uma ‘neuróbica’ das informações até a criação de pensamentos que
solucionem atividades ou que gerem criticidades realistas e criativas. Nossa,
que lindo! Só que todo docente quer saber COMO? Essa é a pergunta do docente do
século XX, com conhecimento do século XIX, pensando no aluno do século XXI:
COMO? Diante de nós, a percepção da mudança das formas de pensar e agir criando
dificuldades aos docentes imersos em políticas públicas pouco afeitas à
valorização da Educação e do educador, por exemplo. Há o choque de sensações.
Há o sentido real da obsolescência. Há grande dificuldade nas resiliências. Mas
o COMO permanece sem sutilezas.
Somos
todos inteligentes. Somos todos sensórios em processo de racionalização para
sobreviver e conviver. Logo DESAFIAR perpassa por algumas palavras-chave:
CURIOSIDADE, FLEXIBILIDADE, DISPONIBILIDADE e, por fim, CRIATIVIDADE. A inteligência, capacidade de se orientar em
meio a situações novas e desconhecidas, A PARTIR, por exemplo, da curiosidade
(desejo de conhecer), é estimulada quando, segundo Sidarta Ribeiro, o cérebro é
desperto a realização de atividades cujas predições criam outras neurovias
comparativas contínuas em busca de soluções ou resultados. Em cena, a dopamina, neurotransmissor que se ativa
imediatamente após o estímulo e a recompensa. Há o acontecimento de um processo
cognitivo complexo e a neuroplasticidade, adaptação do sistema nervoso às
diferentes exigências internas e externas para continuar sobrevivendo, acontece
intensamente. O aprendente cria memória, aprender ‘a saber’ e sabe!
Do
que estamos falando? A experiência de expressão de si para o outro ‘fora da
caixa’. Estamos falando da possibilidade de experiências (projetos) fora do
padrão. Estamos falando de cérebro necessitando de estímulos diferentes para
também pensar diferente. Estamos falando em inaugurar criatividades. E Paulo Barros
pode nos ajudar. Para começar a discussão, vamos entender o que seja essa tal ‘criatividade’.
Criatividade
(do latim = creatio = criação) é a
capacidade de pensar produtivamente à revelia de regras; e é criar coisas novas
combinando de maneira inusitada o saber já disponível. Todos nós estamos à
procura de uma ideia luminosa. Segundo Kraft (2004, p.46), “desde a invenção do fogo, da roda e da imprensa, até a penicilina e a
fissão nuclear – nosso desenvolvimento evolutivo só foi possível graças a um
fluxo inesgotável de lampejos criativos do intelecto. E onde tem origem todas
essas ideias? No cérebro!” È um processo psíquico, mas além de inédita, a
presença da criatividade precisa ser útil e adequada aos estímulos (atividades,
projetos) propostos: prática de ensino é fonte do conhecimento de longa
duração, e não engodos ou passatempos.
Mas
tudo é promessa, parte de uma promessa, cujos aliados devem ser o DESEJO, o FOCO,
a ATENÇÃO e a PRÁTICA. Nesse nosso mundo ‘diferente’, a criatividade só surge
se incentivarmos ou tivermos mentes abertas, pouca autocensura (controle da
cognição) e calma. Vamos acalmar o nosso córtex pré-frontal e criar pequenos
desligamentos, por exemplo, das regras / certezas / aprendizados / egos /
práticas de sucesso. Vamos ESCUTAR os outros e nos sensibilizar realmente. A
criatividade precisa de atenção desfocada: é pensar além do próprio umbigo.
Fuga do mesmo. Mais ondas alfa no córtex pré-frontal, típicas da vigília
relaxada. Então, um lembrete: em geral, a criatividade, não sabe trabalhar com
pressão.
Não
nos enganemos, em nenhuma profissão, nada deve ser encarado como um dom de
realizar ações magníficas e de sucesso. Não somos Midas em tempo integral! Aprender
a fazer é fazer racional e não apenas enlouquecer o imaginário ou o futuro em
prol da moda INOVAÇÃO. Segundo Barros (2013), prestem atenção, SEGUNDO Paulo
Barros, “show de estratégia e criação
dependem muito de trabalho, comprometimento, sorte e [ai sim] criatividade. É
fazer a diferença apesar de tudo, mas com responsabilidade, escuta e
compartilhamento. É procurar soluções para o que então parecia impossível. Enfim,
o que prende a atenção não são os protocolos pré-estabelecidos, mais sim os
encantamentos.”
Fato:
nem só de teorias vive a educação. Educar é uma questão de humanizações
constantes ao bem estar e à convivência de qualidade em sociedade. Não há passe
de mágica! Soluções inovadoras se realizam a partir do conhecimento e
aprendizado, de tentativas e acúmulo de experiência em muitos contextos. Há
limitações técnicas para a execução do trabalho? Há sim. Mas também deve haver
o desejo sincero de superá-las. ‘Talvez
não encontremos respostas, mas é bem provável que encontremos novas perguntas.
E podem tirar o cavalinho da chuva porque, com essas, nós teremos que nos
virar’, [ou seja,] provocar o imprevisível, o imponderável e o inesperado’
é o que deveria mover os diferentes docentes na atualidade. (BARROS, 2013, p.45)
Temos
que ter, como docentes, mais descontração e distância do que nos causa estresse
e/ou ansiedade. Estamos dentro do processo de discernimento, ponderação,
equilíbrio convergente de pensamento e emoções. Em um momento qualquer, novas associações irrompem e o espírito
criativo finalmente recebe a tão esperada recompensa: a iluminação, o
conhecimento intuitivo, (BARROS, 2013, p.51) a criatividade de pensamento.
Ou como afirma Paulo Barros, em um momento qualquer, devemos trocar de lugar
com o outro e “buscar descobrir como ele
vai se sentir, interagir, estimulando sensações que já fazem parte do cotidiano
das pessoas [que] podem surpreendê-las porque se manifestam onde menos se espera”.
(2013, p.55).
Mas
a falta de inventividade não é aliviada. Alguns chamam de ‘preguiça mental’;
outros, de displicência, indiferença, desmotivação. Uma pena! A criatividade
não é um dom dos deuses, ela precisa ser estimulada e, muitas vezes, treinada. “É preciso criar condições básicas
necessárias para se aproveitar ao máximo o potencial criativo de cada um,
bastando para isso, mudanças na postura e nas condições circundantes que se
oferecem. E o que está em questão, de início, são coisas aparentemente muito
simples: curiosidade, vontade de surpreender-se, a coragem de derrubar certas
muralhas intelectuais e a confiança em ser capaz” ( KRAFT, 2004, p.46). É
preciso se automotivar para ‘por a mão na massa’ e, de novo, interferir e provocar
os processos de mudanças.
Nesta
perspectiva, será que o imponderável é eliminado? Não! “Tem coisas que você não espera e acontecem e outras que você espera e
não acontecem” (BARROS, 2013). Logo, “propor
mudanças é saber enfrentar normas estabelecidas que muitas vezes limitam o seu
trabalho. É preciso conhecer as regras e usar os instrumentos do passado para
construir um futuro diferentes. Essa é a maior dificuldade. Uma solução
diferenciada que não (fira) o regulamento, mas contorna o obstáculo imposto a
ele. (p.71)
Projetos
inovadores devem causar memórias de longo prazo: nunca esquecimento! “Não se conta a verdadeira história do homem
só com poesia e prazer. As cicatrizes da alma são a melhor forma de proteção
contra novas feridas” (BARROS, 2013, p.57). É preciso enxergar e não somente
ver: este é um condicionamento para autoconhecimento e mudança da direção do
olhar, e assim desvenda-se a mágica do saber
viver e do saber fazer.
Segundo
Barros (2013), “o mais difícil é desligar
o piloto automático de quem faz a mesma coisa há anos. Eu dependo de outras
pessoas e os projetos muito diferentes esbarram em dificuldades. Eu dependo de
que cada um cumpra bem o seu papel.” (p.80). E, na escola, o processo de
mudança é uma luta constante. As pessoas insistem num padrão por comodismo. O
padrão constrói o conforto. E o conforto engessa, estatiza. Difícil remexer
nesta lagoa e abrir caminho ao mar. “Qualquer
processo mais elaborado, tecnicamente pensado, muda a execução. Logo muda-se a
forma de construção” (p.81). São criadas novas situações e se torna
necessário dar mais elasticidade e mobilidade a esse invólucro. Difícil mudar o
costume do pensamento estático (padrão) e dar movimento, outros movimentos ao
fazer pedagógico, levando em consideração os novos contextos, as novas formas
de pensar e as novas relações. Difícil superar o ‘tá bom assim’, ou o ‘sempre
funcionou assim’, ou o ainda ‘não liga, vai funcionar de qualquer jeito’ (p.81):
eis o princípio do COMO com que iniciei o texto.
Como
o pensamento e a ação criativos exigem trabalho e rotina, o docente deve
iluminar pontos do seu conteúdo de diferentes ângulos conhecidos e
desconhecidos. Soluções novas surgem da reordenação de ideias, noções e intuições
existentes, como peças de um jogo de montar. É o aprender fazendo. É experimentar outros ‘COMOs’ de forma a cotejar
potencialidades silenciosas / silenciadas. Portanto, COMO fazer? Siga algumas dicas
para o pensamento criativo:
Descobrir
e espantar-se com a rotina;
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Aceitar e
acreditar em momentos de inspiração;
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Admirar-se
com as diferenças, principalmente de pensamento;
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Ter
coragem e liberdade de pensamento;
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Saber
investigar;
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Reservar
tempo para sonhar acordado;
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Ser
curioso;
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Oportunizar
momento de relaxamento;
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Fortalecer
a percepção;
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Descrever
sensações e objetos de maneira incomum;
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Entusiasmar-se
com as mudanças;
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Mudar as
formas de ver e utilizar os objetos / os sentimentos;
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Ler o
mundo de maneira positiva;
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Executar
tarefas em ordem não convencional;
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Entender
suas motivações;
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Tentar se
desligar de problemas / tensões;
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Distrair-se
|
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Profª. Claudia Nunes
Referências:
BARROS, Paulo. Sem Segredo: estratégia, inovação e criatividade. Rio de Janeiro:
Casa da palavra, 2013.
CHRYSIKOU, Evangelia G. Mente criativa em ação (p.30-39) In. Criatividade: é possível exercitar a
capacidade de ter boas ideias e encontrar soluções com mais facilidade. Editora
duetto: Revista Mente & Cérebro, ano XIX, nº 235, agosto 2012.
KRAFT, Ulrich. Em busca do gênio da lâmpada (p.44-51). In. Inteligência e Criatividade. Editora Duetto: Revista Mente &
Cérebro, ano XIII, nº 142, novembro de 2004.