137 Dor e dores
Sinto
a dor plana
Sinto
a dor pano de fundo
Sinto
a dor louca de vida
Das
dores sentidas na noite
Sinto
a dor dos luxos e luxúrias
Sinto
a dor das perdas sem ganhos
Quando
sinto dor escolho
Senta
aqui e sinta a dor minha
É
tarde para sondar a dor
É
noite para sanar a dor
Sente
dor os vivos
Sente
dor os inquietos
Sente
dor os ilustres da dor alheia
Das
dores da vida meus guias
Das
dores do corpo minhas alegrias
Das
dores da alma meus afetos
Quando
sinto dor uma alma morre
Quando
sinto dor um beijo se perde
Porque
morrer é dor sem dó
Porque
morrer é dor sem dom
Porque
morrer é dor sem tom
Sorriam
enquanto há dor
Lutem
pela dor
Nunca
esqueçam a dor
Aprender
sempre começa na dor
Dói!
Doem! Claudia Nunes
138
Próprio amor próprio
Ame
ao próximo
Ame
em primeiro lugar
Ame
sem esperar
Ame
com delicadezas
Sem
tempo de viver
Ame
com amor e liberdade
Se
em tantos abandonos
Pensamos
em felicidades
Ame
destinos
Ame
dores
Ame
anseios
Ame
loucuras
Sem
tempo de pensar
Ame
com sentidos inteiros
Se
em tantos projetos
Vivemos
momentos
Ame
as verdades
Ame
os infernos
Ame
as mentiras
Ame
os silêncios
Sem
tempo de sorrir
Ame
o fim de tudo
Vamos
prestar atenção
Vamos
sentir aversão
Vamos
compor alegrias
E
com tantas vantagens
Temos
uma viagem
Temos
muitos riscos
Temos
várias marcas
Temos
mil vontades
Aceitemos
muitas emoções
Então
ame!
Seja
franco e ame!
E
comece por você: ame! Claudia Nunes
139
O som dos amigos
Amigo
é um ser no olho do furacão
É
um ser diante da retina,
É
um ser vidrado nos olhos,
É
um ser de olhos de outros.
Infinitamente
Amigo
é um ser que faz parte,
Faz
ponta, faz ponte,
faz
peso, faz pingo, sem suspenses.
É
um ser das rotinas e das surpresas
Das
luzes e dos abraços
Dos
desencontros apertados
Das
horas sem promessas
Boas
ou más, os amigos.
E
assim se fazem evoluções
Revoluções
Loucuras
Senões
Universais.
Amigo
é aprendente
De
saúde e sabedoria
De
fogo e água fria
De
cor e manchas coloridas
De
brilhos e cinzas metálicos,
Sem
quebrar o ritmo da música.
Amigo
é casa
É
conjunto
É
sem pressa
É
sorriso torto
Então,
na janela do carro,
Na
janela do mundo,
No
vão das portas,
Amigo
transborda
Age,
toca, ama, envolve e luta.
Hoje,
amigo é um luxo,
Não
finge ou amarga frescuras.
É
lance do instante e tudo da vida.
Façamos
o nosso caminho de flores
De
amigos simples e ilustres
Sem
meta, mito ou morte.
Pedras?
Façamos castelos de paz
E
de resto,
Assim
se fazem amigos. Claudia Nunes
140 Entre guerra e paz...
Guerra!
Quando a vida disse não,
Eu enviei amores e promessas.
Quando a vida disse sim,
Eu amei com dores e pressas.
Tudo foi evolução, conclusão e emoção,
Tão fortes, que sequestrei a sorte.
Fui ser doce em universos diferentes,
Com loucuras insistentes
E vontades indigentes.
Mas era preciso ser reticente e
sobrevivente
Então conquistei independência,
Estraguei resistentes
E orei a divina essência.
Agora, quando penso em luz e sombra,
Penso em paz e sossego
Penso em gente e apego
Penso em amor e sempre.
Eu sou penumbra, lamento e instante,
Só que sem tensão, agito e arrogância.
A vida me conquistou e me revirou.
Agora, na pureza do gesto,
Sou ambulante e modesta
Um ser de dores honestas.
Paz! Claudia
Nunes
141
Selo de Autenticidade
Ontem
eu desisti
Fui
imoral e desisti
Insisti
mas desisti
Às
vezes a vida escolhe
E
uma onda mórbida nos encolhe
Eu
me defendi e desisti
Eu
sei fazer isso bem.
Em
grande avalanche branca desapareci,
Braços
ou pernas em rota para o além.
Sem
confiança,
As
pessoas me significaram errado.
Eu
aceitei e desisti como criança.
Diante
da lua, eu estava desgarrado.
Afeto,
imaginação e desistência,
Será
que há pontos de fuga?
Quero
outras salvaguardas e lutas
Quero
outras andanças e inocências
Em
que momento tudo mudou?
Na
hora da minha insanidade,
O
tempo passou demais,
Outras
pessoas me afetaram demais,
Estive
numa teia de afinidades demais,
E
tudo pôde sem autenticidade.
Que
palavra!
Descansei
e não desisti
Sou
o privilégio do mundo
E
no mundo vou encantar minhas escolhas.
Não
aceito ‘viradas de mesa’
E
nem o império das simulações
Pois
viver é fácil
Basta
seguir o sol e os sentidos;
Sem
surpresas
Renasci.
Estou
no jogo outra vez. Claudia Nunes
142
O Fim
Sem entender uma fala mal dita,
Sem atenção, o inconfesso e o perdido.
Éramos desejos implícitos,
Agora somos mal ditos e incontidos.
Tudo é esquecimento.
Tudo é lamento...
Na sala de estar, o ar pesou e fomos
infelizes.
Na cozinha, o cheiro não nos deixava
respirar.
Amor e ódio tinham muitas cicatrizes,
Afinal, não éramos mais urgentes e
imperativos.
Somos loucura.
Somos censura...
A expressão do sentir se perdeu,
Doeu, rompeu, entristeceu...
Você não me ama mais!
Você me esqueceu...
Você mudou demais!
Você me adormeceu...
E nada restou...
Os sonhos estavam sem norte
E nós não éramos mais da sorte.
Naquela noite sem lua,
A ignorância do amor se fez desabafo,
Sarrafo, inconfessado, frustrado.
Tapas no corpo, manchas na pele,
vazios no peito.
E nada vingou...
O amor se desligou e fugiu na noite
mais escura
Chorando, dolorido, ensanguentado de
amar.
Nós vimos o brilho da infelicidade
E saímos pelas cidades e pelo tempo
Em busca de novidades...
Em busca de outros nós...
E tudo mudou...
Muitas trilhas de rosas e espinhos.
Outros vingaram nossos sentidos e
nossas curvas.
Não havia infâmias apenas outros
vinhos e linhos,
Além de uma colcha de verdades
esquecidas e turvas:
Amar exige sinceridades.
Amar importa imensidades.
Então um conselho:
Desista! Exista! Claudia Nunes
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