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Cadê meus óculos escuros?
- Perco tudo, menos meus óculos
escuros!
- Perdi tudo, nunca meus óculos
escuros!
- Sem eles, a vida só tem muros!
Naquele quiosque, o vento limpava
calçadas e sua vida.
Sol fora, lua dentro, óculos no rosto
e emoções intensas.
No tempo que o tempo tem: a escuridão
era seu maior desejo.
O brilho do sol no mar e a escuridão
de uma paz sem um par
Faziam do seu mundo um lugar sem
pomar,
Então, era apenas o par de óculos
escuros de outra idade
E os corpos bronzeados vagando sem
vaidades.
Estes lhe ‘diziam’: siga com mais
verdade!
Virginia vivia o looping de outra
grande negação.
De novo, a encruzilhada dos sonhos
desfeitos e opções de caminhos a seguir.
De novo, as escolhas difíceis junto às
novas cicatrizes do porvir.
De novo, emoção à flor da pele, raiva
e descrença, sem noção.
Sua vida era uma negação de si mesma
na contramão
E a escuridão recobria a loucura de
viver uma grande paixão.
No quiosque,
Difícil pensar nisso sem seus óculos maduros...
De momentos apaixonantes, agora a
escuridão sem pulo do gato.
Nunca imaginara isso 10 anos antes.
Nunca imaginara isso 50 anos depois.
De novo, o cansaço dos seus ‘capitães do
mato’,
Pois, ela já conhecera a queda livre antes.
Agora só restava recolher a alma depois.
E a escuridão vagava por suas emoções
sem tato.
Suas mãos e pernas não tinham ponto
fixo, só os óculos escuros.
Seu corpo e mente não eram mais
simples, só os corpos robustos.
Ali, só ela, o mar, sua loucura e a
escuridão de seus óculos.
Ali só ela, suas memórias, seu tempo e
a escuridão daqueles óculos.
Mas ela estava cansada e de óculos em
apuros.
Ser fênix tem um tempo limite:
O tempo dos óculos mais seguros.
No quiosque
Difícil pensar nisso sem seus óculos
nulos...
A escuridão dos óculos trazia o som das
marés e da respiração insossa.
Virginia, cansada, não queria nada
disso.
Ela não queria mais isso.
Ela queria proteção, paz e emoção,
como uma moça.
Uma realidade verdadeira, simples, sem
ilusão.
Mas sua aventura ultrapassara todos os
limites.
Sua aventura fora exageradamente sem
palpites
E sem querer, ela soube que a verdade
era só sua.
E de repente, ela soube que, da
mentira, todos sabiam: imatura!
Pelos sinais, ouvidos e olhares, ela
soube: todos sabiam!
Mesmo de óculos escuros, todos
observaram e sabiam.
Tanto respeito e todos sabiam.
No quiosque
Difícil pensar nisso sem seus óculos
amigos...
Que loucura isso!
Ela e seus óculos escuros não viram os
sinais.
Agora, no fim, suas apostas eram marginais.
Como conseguira fazer isso com a vida,
apesar dos óculos divinais?
Sem resposta, sem desvios, sem
garantias, sem confianças...
Apenas ela, seus óculos e seu coração
sem lembranças.
Diante de uma bebida forte, ela soube:
Nunca se enganou realmente.
Seu coração palpita: ela também sabia
Sua pressão aumenta: ela também sabia
Apenas aceitara os óculos escuros da
poesia e do sorriso bonito
Sem pensar que o amanhã também tem
óculos sem brilho
E sem valia...
No quiosque
Difícil pensar nisso sem seus óculos
escusos...
A roleta da aposta girou forte.
Apostas sérias foram feitas: sorte?
E ela vendera a alma: Quixote?
Agora de novo, a toalha estava no
chão.
Óculos na mesa e toalha no chão.
A luta acabara.
O ringue estava vazio.
A mesa de jogo só tinha seu corpo sem
alma.
Só restava a escuridão e seus óculos sem
cartas.
No quiosque, no coração,
Difícil pensar nisso com seus óculos duros
e vãos
E a roleta segue girando...
Virgínia fecha os olhos e entra em
luto.
Mágoa, tristeza, raiva, confusão,
Miguel.
Miguel? Sim, Miguel, seu treinador.
Fora os óculos escuros, havia Miguel,
seu primeiro amor.
Sempre e sempre havia Miguel, seu calor!
Ele nunca se fora.
Nunca deixara de lhe olhar.
E agora, quando se distraiu, ela o viu
através do mar, sem dor.
- Oi! Precisa de mim? Estive sempre
aqui sem falar.
Ela nunca chorara tanto na vida.
Ela, o mar, sua valentia e seus óculos
escuros.
Ela e sua voz: é hora de limpar os
óculos escuros e nus.
Ela, Miguel e a luz da manha em
ventura.
- Oi! Preciso de você! Pode me ajudar?
O tempo mostra tudo.
O tempo cura tudo.
O tempo ilumina a alma.
O tempo transforma a calma.
Virginia ganhou o tempo
E criou novo momento de palmas.
Profª
Claudia Nunes
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