O mundo é desconhecido e estou desbravando a mim mesma para aceitar o mundo como ele é. Como professora (Estado), Tutora em cursos de EAD, Revisora de Material Didático e MESTRE em Educação (UNIRIO), estou seguindo a vida fazendo o que gosto, como gosto e com quem gosto muito. Escrevo e publico textos para me esvaziar de mim e poder aceitar o Outro como vier. De resto meu vicio é o mundo virtual, ainda que eu nao seja dissimulada. Mutante? Isso! Eu gosto de ser mutante!
terça-feira, 23 de junho de 2020
ERRO DE DESCARTES (um resumo do capítulo)
SETE REGRAS DA MENTE (resumo capítulo)
SETES
REGRAS DA MENTE |
|
1.
Todo
pensamento ou ideia causa uma reação física. Lição: Esteja atento às reações
do corpo. Quais pensamentos podem causá-las? |
Corpo e mente estão sempre conectados.
Início de um pensamento, alguma emoção ativada. Organismo em preparação.
Momento de terror? De amor? De susto? De paixão? Diferentes situações. Pele
em reação. A mente subconsciente não sabe a diferença do real para o
imaginário. Imagine uma cena de amor ‘caliente’, por alguns segundos. Sentidos
excitados. Seu coração bate mais acelerado. Pressão aumenta. Reações físicas fortes. |
2.
O
que é esperado tende a ser realizado. Lição: Acredite que você pode
realizar o que quiser. |
‘Efeito placebo’. A mente projeta o desejo de
melhora. Cria uma crença. A saúde física depende da expectativa mental. Tudo
é mais difícil quando o pessimismo impera, ideia já aceita pelos médicos. Mas
é difícil expandir essa regra para outras áreas da vida, como profissional ou
pessoal. Talvez pensamento positivo. Talvez força de vontade. Leiam ‘O
Segredo’ de Rhonda Byrne cuja interpretação é, em termos simples, que toda
energia vibra numa frequência; por ser energia, você também vibra numa
frequência, e o que determina sua frequência de vibração a qualquer momento
dado é o que você pensa e sente. Para Arruda (2018), da mesma forma que suas
programações podem mudar você e seus planos para pior, também podem mudar para
melhor. Tente. |
3.
A
imaginação é mais poderosa do que o conhecimento quando lidamos com a própria
mente Lição: Não julgue, menospreze ou discuta
com pessoas com crenças ou opiniões particulares diferentes das suas. A razão
dificilmente pode contra a emoção. |
A razão é facilmente
anulada pela imaginação. Pense em seu parceiro (a) lhe traindo. Pense nos
detalhes. O desconforto, inclusive no corpo, é natural. Na verdade, qualquer
ideia acompanhada por uma forte emoção, como raiva e ódio, acaba se sobrepondo
à razão. E geralmente essas ideias não podem ser alteradas apenas com o uso
da razão. Lembre-se das brigas sobre política, religião, futebol etc. |
4.
Uma
vez que um conceito foi aceito pela mente subconsciente, ele permanecerá lá
até ser substituído por outro. Lição: Questione as verdades que
não são úteis. Mantenha só aquelas que o ajudam a ser quem você quer ser. |
Todo mundo tem pontos de vista
que não são corretos. Certezas são perenes. Uma verdade se mantém até surgir
outra. A permanência de uma ideia dificulta a troca. Há verdades nem pensamos
que podem ser falsas, como: ‘qualquer pessoa na minha situação também se
sentiria deprimida’; ‘é difícil sair de uma depressão’; ‘vou levar anos para
mudar minha saúde’; ‘não dá para sair de um vício de uma hora para outra’; ‘preciso
sofrer muito para ser alguém na vida’; ‘não sou atraente para outras pessoas’;
‘difícil ser bem-sucedido’. Programações subconscientes. Assim, os hábitos
(bons ou maus) são formados. Mas primeiro a gente pensa, depois age. |
5.
Cada
sugestão aceita cria menos oposição às próximas sugestões Lição: Comece construindo o que
quer em sua mente de pouco em pouco. |
Elogios são importantes
e animam o dia de alguém. Mas de acordo com o estilo de cada um, um elogio
pode ser sentido como ironia ou com surpresa ou mesmo descrença. Elogio
alegra o dia de alguém. Quem não tem o costume de recebe-lo agiam com dúvida.
Elogio por mais de uma pessoa, num mesmo dia, também gera desconforto e estranheza.
Mas a regra 5 também funciona para as considerações positivas, e aí podemos nos
beneficiar dela. Táticas de convencimento. Acesso direto às programações do
subconsciente. |
6.
Um
sintoma físico emocionalmente induzido tende a causar uma mudança orgânica se
persistir por tempo suficiente Lição: Preste atenção nas emoções
que você tem cultivado e busque formas de evitá-las. Foque-se cada vez mais
em experiências positivas para incentivar emoções positivas. |
Lembra da regra 1? O pensamento gera uma emoção, e
esta produz uma reação física. Todavia, se essa reação física não for
saudável, ao longo do tempo vai prejudicar o organismo. São as chamadas doenças
psicossomáticas, que podem também apresentar sintomas físicos, sem ter uma
origem orgânica. Quando você sente raiva, o cérebro produz cortisol, hormônio
liberado em situações de estresse. E o estresse, além de bloquear a liberação
de substâncias químicas para uma digestão saudável, pode aumentar a secreção de
ácidos no estômago e provocar os sintomas clássicos da gastrite. Qualquer
obsessão acaba agravando a situação, e o corpo começa a realmente produzir o
que eles querem encontrar. Mas, por outro lado, também não podemos separar
corpo e mente. Muitos problemas podem ser evitados se a gente mudar o jeito
de pensar. |
7.
Ao
lidar com o subconsciente e suas funções, quanto maior esforço consciente,
menor a resposta subconsciente. Lição: Entenda o que precisa
mudar, mas não se torne neurótico ou se esforce demais, não é assim que o
subconsciente responde. |
Já pensou que precisava
dormir logo e, quanto mais queria dormir, parecia que menos sono tinha? Já
pensou em se deitar sem se preocupar se precisa dormir e, de repente, o sono vem antes que
perceba? Já aconteceu de esquecer o nome de algo que precisava saber naquele
momento, e fez de tudo para lembrar? Já colocou a mão sobre a cabeça, franziu
a testa, mas nada de a palavra vir à mente, mas aí quando desiste, como num
passe de mágica, a lembrança vem à mente? Quanto mais você ativa a parte
consciente da mente, menos o subconsciente trabalha. Não é possível
controlarmos diretamente o subconsciente, então não adianta forçar. |
Nós
precisamos então ter cuidado com nossas mentes. Em nosso desenvolvimento e
formas de interação, os tipos de interpretação, edição, roteirização das
informações criam tanto nossas expectativas, quanto nossas identidades. Estamos
sempre sob a influência da geração de informações / estímulos que recebemos; e
nesse princípio, a mente segue alterando comportamentos, certezas e sentimentos.
Prof.ª Ms. Claudia Nunes (23.06.20)
Referência:
ARRUDA, Michael. Desbloqueie o poder da sua mente: programe o seu subconsciente para se libertar das dores e inseguranças, e transforme a sua vida. São Paulo: Editora Gente, 2018.
segunda-feira, 15 de junho de 2020
Pensando em AUTORREALIZAÇÃO a partir de Maslow
Em
meio a pandemia, que tal nós, professores, apostarmos no potencial aprendente?
Difícil pensar diferente? Difícil sair da caixinha e agir por instinto e
experimentar outros comportamentos ou recursos? É sim. É difícil sim. Mas que
tal só experimentar? Enquanto reclamamos, impedimos nossa própria adaptação ao
que nos aconteceu e, com isso, eliminamos a possibilidade de aprender do aprendente.
Hoje estou lendo um pouco sobre a psicologia humanista de Maslow. A quarentena
tem sido de grandes descobertas sobre mim mesmo, também na seara dos
conhecimentos pedagógicos. Estou só me experimentando e conhecendo outros
autores ou áreas de saber.
Maslow pensou no
homem saudável, seus comportamentos, suas necessidades e autorrealizações. Foi e
(no meu caso) ainda é uma nova visão sobre a psicologia humana, e influenciou, não
somente a educação, como também, o campo dos negócios. Como sempre, outro autor
cuja infância e juventude foram marcadas por problemas de interação social e de
educação muito rigorosa; além disso, foi muito rejeitado por ser judeu. Impressionante
como, ao ler a biografia de diferentes autores que influenciaram a educação, eu
me deparo com situações de exceção (guerras) ou traumas em seu psicologismo, no
período da infância ou juventude, como fatores que estimular suas criatividades
em diferentes áreas de saber.
No caso de Maslow,
em seus estudos universitários, a área escolhida para aprofundamento foi a
psicologia. Depois do doutorado, publicou sua primeira hierarquia de
necessidades, um esboço daquela que seria terminada anos depois. Maslow teve
como mentor Alfred Adler e montou sua teoria da Autorrealização com base nos rastros
das personalidades de Erich Fromm, Einstein e outros.
A pirâmide de Maslow, também chamada de hierarquia das necessidades de Maslow, conceito criado na década de 50 para “determinar o conjunto de condições necessárias para que um indivíduo alcance a satisfação, seja ela pessoal ou profissional”. Tais condições vão desde aquelas necessárias à sobrevivência até às mais complexas, em uma hierarquia de satisfações motivadoras.
Em princípio, há cinco níveis: fisiologia, segurança, amor e relacionamentos, estima e realização pessoal. Mas, mais recentemente, foram incluídos mais três níveis, a saber:
NIVEIS
DE NECESSIDADES de Maslow |
|
Necessidades Fisiológicas |
São as necessidades mais básicas que
precisam ser saciadas para manter o corpo saudável e garantir a
sobrevivência, a saber: processos de homeostase (sentimento da
temperatura corporal, funcionamento hormonal, entre outros); processos de respiração, sono e digestão;
saciamento de fome e sede; disponibilidade de abrigo. |
Necessidades de Segurança |
A necessidade de segurança
engloba mais do que a presença de um abrigo. A saber: estabilidade no emprego:
renda garantida; segurança do corpo: abrigo seguro, proteção contra
ameaças; segurança da saúde: planos de saúde, ausência de doenças; segurança
da família: seguros de vida; segurança da propriedade: casa
própria, garantia de proteção aos seus bens. Ou seja, esse nível da pirâmide
trata das sensações de proteção e garantias de soluções perante a situações
que estão fora do controle do indivíduo. Planos de saúde são um exemplo de
necessidades de segurança. |
Necessidades de Amor e
Relacionamentos |
Relacionadas com o senso de
pertencimento e intimidade, fatores essenciais para a felicidade humana.
Evoluímos, afinal, de maneira social. É importante para os esquemas de
motivação. A saber: Amizades; Família; Relacionamentos amorosos; Intimidade sexual;
Intimidade platônica; Pertencimento a grupos ou sociedades (igreja,
escola, grupos de atividades, grupos de interesses em comum); Identificação
e aceitação perante a seus pares. |
Necessidades de Estima |
Sensação de ser estimado. Além de
precisar desenvolver a habilidade de reconhecer suas potencialidades; que
seus pares reconheçam e identifiquem seu valor no grupo. A saber: autoestima;
confiança; conquistas e realizações; reconhecimento dos pares; respeito dos
outros; respeito aos outros; conquistas e reconhecimento. |
Necessidades de Realização
Pessoal |
São mais complexas necessidades
do ser humano e, por isso, essenciais para que o indivíduo alcance a
verdadeira realização pessoal e profissional. A saber: moralidade; valores;
independência: autossuficiência e liberdade; criatividade; espontaneidade; controle;
autoconhecimento. É preciso muito trabalho, reflexão e conhecimento de si
para satisfazer essas necessidades. |
Necessidade de aprendizado |
O indivíduo sente ânsia de
aprender, conhecer e compreender o mundo à sua volta. |
Necessidade de satisfação
estética |
A busca pela perfeição, simetria,
beleza e arte. |
Necessidade de transcendência |
Fé, espiritualidade, conexão com
a natureza, aceitação da mortalidade. |
Quadro organizado a partir da fonte: https://www.sbcoaching.com.br/blog/piramide-de-maslow/
Mas, e as
perguntas iniciais? Como apostar no potencial humano através da psicologia
humanista? Segundo Maslow, nós devemos compreender as necessidades humanas para
seu crescimento cujo ponto culminante seria o movimento de autorrealização. Eis
aí a representação de todo o potencial humano, quando adequada e continuamente
estimulado. Neste sentido, eu fico pensando: todo comportamento reflete tanto
as necessidades humanas, quanto a ausência de respeito a elas. A
autorrealização é a parte que cabe desenvolver nas escolas, nas salas de aula,
nos grupos familiares, enquanto os aprendentes se desenvolvem biologicamente e
para que se fortaleçam emocional e cognitivamente. Na maturação das interconexões
neuronais, a partir do acesso e assimilação das informações, a autorrealização
acontece.
Além de Maslow,
nós precisamos ler Carl Rogers, Victor Frank e Erich Fromm, por exemplo, e a
chamada Terceira Força. Em tempos de pandemia, talvez (estou apenas começando
os estudos), seja necessário que nós, professores, entendamos o valor da
descoberta de si mesmo (dos aprendentes) para o acontecimento de
autorrealização no futuro. Esta é uma capacidade aprendida juntando diferentes
saberes, de forma consciente, para que, na medida em que o córtex frontal esteja
desenvolvido, as escolhas e as decisões ocorram com equilíbrio e atenção.
Segundo alguns
textos pesquisados na Internet, “a teoria
da autorrealização de Maslow propõe que o homem é um todo integrado e
organizado; mas que, cada um tem necessidades hierárquicas que devem ser satisfeitas. Essas
necessidades são fisiológicas, afetivas e de autorrealização, e devem ser
resolvidas a partir da base da pirâmide, que são as necessidades fisiológicas,
de segurança, afetivas e de autoestima”.
Em tempos de
ensino remoto, será possível pensar desta forma? Agora nós, professores, temos
outra medida de tempo e menos mobilidades pela cidade para ensinar. Será que
temos tempo para pensar como nosso aprendente aprende e, principalmente, quais
são suas reais necessidades? Se, em quarentena, estamos nos adaptando por uma
questão de saúde mental, por que não nos adaptar respeitosamente às
necessidades de nossos aprendentes mantendo, pelo menos, uma rotina de estudos
de qualidade e significativa?
Muitos professores
me perguntarão: como? Todos estamos distantes. Os sentidos necessários para o
trabalho da percepção e da atenção (audição e visão) destas questões estão
muito limitados ou mediados pela máquina. Então como? Bem comece se
perguntando: quais são suas (deles) necessidades? Todo o processo de
ensino-aprendizagem pode, em princípio, apenas se basear no sentido da palavra
NECESSIDADE. Em linha sequencial, a MOTIVAÇÃO torna-se uma das grandes
necessidades humanas e o ESTÍMULO, uma das fontes para se criar a motivação e a
necessidade e, nessa linha triádica, se sustenta bem a questão da
AUTORREALIZAÇÃO.
Nós, professores,
poderíamos nos apresentar como grandes estimuladores ou motivadores destes
aprendentes a ponto de torná-los ‘metamotivadores’ que, segundo Maslow, a
partir de estímulos positivos, seriam os exploradores das próprias necessidades
básicas para a autorrealização. É um quebra-cabeças motivacional cujo resultado
serão os ‘peaks’ (experiências de pico), momentos em que, de acordo com Maslow,
nossos aprendentes sentem grande vontade de aprender e experimentar o que
aprenderam. Momentos de imersão em sua própria experiência de aprendizagem.
Só alguns
lembretes: hoje em dia, a pirâmide é analisada e aplicada com mais
flexibilidade; em muitos casos, não há necessidade de todos os itens de um
nível serem satisfeitos para que o aprendente passe para o segundo nível como
num jogo de videogame; sendo assim, a autorrealização nunca se completa porque
surgem sempre novos objetivos e sonhos (novas necessidades no pico da pirâmide);
é possível que determinados fatores em um dos níveis não sejam relevantes para
a motivação; é possível, em determinado momento, haver mistura de fatores de
níveis diversos e, assim mesmo, criar e manter a motivação e a criatividade; e
mesmo que a autorrealização demore a acontecer, o autoconhecimento está em
pleno andamento pela superação de cada dificuldade no processo de aprendizagem;
e, por fim, o acontecimento de frustrações, medos, angústias e inseguranças podem
ser interpretados tanto como motivadores para o alcance de determinadas necessidades
com mais coerência; como também “consequências da falha no cumprimento de
determinadas necessidades”.
Talvez devamos
pensar melhor sobre o conceito de HIERARQUIA dadas tantas flexibilidades. Mas, pelo
menos, diante da pirâmide de Maslow, nós podemos reconhecer quais necessidades
devem ser atingidas, em nossos aprendentes, para estimular seus sentidos, sua
motivação, sua imaginação, sua criatividade, de forma a se interessarem pela
manutenção da própria aprendizagem, mesmo dentro de uma rotina de estudos em
geral ou a distância.
Nesta perspectiva,
quando voltarmos ao ‘novo normal’ da sala de aula física, nós, professores,
poderemos investir em boas experiências pedagógicas que gerem, no futuro, a
autorrealização.
Ah vou lembrar: com a presença do autoconhecimento e da autorrealização (utilização do potencial pessoal como impulso para manter a motivação para aprender e alcançar expressivamente seus objetivos ou sonhos), ações de empatia, resiliência, solidariedade e equilíbrio emocional ocorrerão simples e naturalmente em nossa sociedade.
Referência:
https://amenteemaravilhosa.com.br/biografia-de-abraham-maslow/
https://www.sbcoaching.com.br/blog/piramide-de-maslow/
Indicações de leitura: Motivação e Personalidade, publicado em 1954; Psicologia do Ser, 1962; A Psicologia da Ciência, 1966.
Prof.ª Ms. Claudia Nunes (16.06.20)
quarta-feira, 10 de junho de 2020
ANTIFRÁGIL: indicação e primeiras impressões
ANTIFRÁGIL: indicação e primeiras impressões
Enquanto
o isolamento não passa, estou lendo livros por indicação. E nas últimas
semanas, o livro ANTIFRÁGIL vem surgindo muitas vezes em grupos de whatzap. E olhem
que são grupos com perfis diversos. Então cá estou apresentando algumas lições
aprendidas com sua parcial leitura.
Já,
no prologo, nós lemos o seguinte: não devemos ter uma atitude submissa diante
da incerteza ou da aleatoriedade. Não
queremos apenas sobreviver à incerteza, nem pura e simplesmente passar por ela.
Queremos sobreviver à incerteza e, além disso — como certo tipo de romanos
estoicos agressivos —, ter a última palavra. O objetivo é saber domesticar, até
mesmo dominar e conquistar o invisível, o opaco e o inexplicável. Entao
como seria isso? Como faríamos isso?
Algumas coisas se beneficiam dos impactos; elas
prosperam e crescem quando são expostas à volatilidade, ao acaso, à desordem e
aos agentes estressores, e apreciam a aventura, o risco e a incerteza. Ainda assim, não existe uma palavra para designar
exatamente o oposto de frágil; logo o autor a chamará de antifrágil.
A antifragilidade não se resume à resiliência ou à
robustez. O resiliente resiste a
impactos e permanece o mesmo; o antifrágil fica melhor. Essa propriedade está
por trás de tudo o que vem mudando com o tempo: a evolução, a cultura, as ideias,
as revoluções, os sistemas políticos, a inovação tecnológica, o sucesso cultural
e econômico, a sobrevivência das empresas, as boas receitas de cozinha [...], o
surgimento de cidades e culturas, os sistemas jurídicos, as florestas
equatoriais, a resistência bacteriana... até mesmo a nossa própria existência
como espécie neste planeta. E a antifragilidade determina o limite entre o que é
vivo e orgânico (ou complexo), como o corpo humano, e o que é inerte, digamos,
um objeto físico como o grampeador em sua mesa.
O antifrágil aprecia a aleatoriedade e a incerteza, o
que também significa — acima de tudo — apreciar os erros, ou pelo menos certo
tipo de erro. A antifragilidade tem uma
propriedade singular de nos capacitar a lidar com o desconhecido, de fazer as
coisas sem compreendê-las — e fazê-las bem. Permita-me ser mais incisivo: somos muito melhores agindo do que
pensando, graças à antifragilidade. Eu preferiria ser ignorante e antifrágil
a extremamente inteligente e frágil, em qualquer ocasião.
É fácil perceber coisas em torno de nós que apreciam
um pouco de estressores e de volatilidade: sistemas econômicos, seu corpo, sua
nutrição (diabetes e muitas doenças modernas similares parecem estar associados
à falta de aleatoriedade na alimentação e à ausência de um agente estressor, a
fome ocasional), sua psique. Há até mesmo contratos financeiros que são antifrágeis
— explicitamente projetados para se beneficiar da volatilidade do mercado.
A antifragilidade
nos faz entender melhor a fragilidade. Da
mesma forma que não podemos melhorar a saúde sem reduzir a doença, ou aumentar
a riqueza sem, primeiro, diminuir os prejuízos, antifragilidade e fragilidade são
graus em um espectro.
Entenderam?
Para nos tornamos
melhores, precisamos aprender a tomar decisões, mesmo diante das incertezas,
urgências ou dúvidas. E tais decisões são devem ser aplicáveis em todos os
setores profissionais e sociais. [...] Onde
quer que reine o desconhecido, em qualquer situação em que haja aleatoriedade,
imprevisibilidade, opacidade ou a compreensão incompleta das coisas; lá
está a antifragilidade; lá estarão os antifrágeis; lá talvez estaremos nós.
Apontar
fragilidades é fácil; prever a ocorrencia
de um evento capaz de prejudicá-lo, não. A fragilidade pode ser medida; o risco, não (à exceção de cassinos ou
da mente de pessoas que se dizem “especialistas em risco”). [...] A sensibilidade aos danos causados pela volatilidade
é remediável, mais ainda do que a predição do evento que poderia causar o dano.
Uma leitura: tudo o que surgir a partir de eventos aleatórios
(ou de certos impactos) e que apresentar mais vantagens do que desvantagens será
antifrágil; o inverso será frágil. Então não nos privemos da volatilidade, da
aleatoriedade e de agentes estressores. Nós nos tornaremos fracos, tenderemos a
morte ou à destruição. Somos sistemas complexos que morremos caso sejamos
privados de agentes estressores; nós
precisamos de estímulos intensos (e até desgastantes) para qualificarmos nossa
curiosidade, criatividade e imaginação nas diversas formas de relação. Nós nos
movemos, interagimos e nos expandimos através da dúvida, da curiosidade, da experiência.
Não ‘ofendamos’ os antifrágeis. Se quase
tudo aquilo que vem de cima para baixo fragiliza e bloqueia a antifragilidade e
o crescimento, tudo que vai de baixo para cima prospera sob a quantidade certa
de tensão e desordem.
O processo de descoberta (ou de inovação, ou de progresso tecnológico) em si depende de ajustes antifrágeis e da assunção agressiva de riscos, mais do que da educação formal. E, em nenhum momento da história, tantas pessoas que não assumem riscos, ou seja, aquelas sem qualquer exposição pessoal, exerceram tanto controle. A principal regra ética é a seguinte: não terás a antifragilidade à custa da fragilidade dos outros.
Prof.ª
Claudia Nunes (10.06.20)
QUAL É A SUA RAZÃO DE SER? (Ikigai, o segredos dos japoneses para uma vida longa e feliz
QUAL É A SUA RAZÃO DE SER?
Em tempos de
isolamento social e quarentena, eu tenho lido partes de diferentes livros. Algo
que não fazia há muito tempo. Antes tinha mais foco em determinados temas e
organizava o tempo para ler um pouco de tudo na hora certa. Agora, depois de
mais de 80 dias em casa, perdi a noção das horas e pego os livros à revelia,
dia a dia. Alguns consigo atenção por mais de 4 capítulos; outros, apenas gosto
de manusear e folhear a esmo, lendo apenas um ou dois capítulos. Hoje comecei a
ler um livro chamado IKIGAI, o segredo
dos japoneses para uma vida longa e feliz, de Hector Garcia e Francesc Miralles
e descobri uma outra dimensão de pensamento e de atuação para/na vida.
Segundo os
autores, segundo os japoneses, todo mundo possui um ikigai, o que um filósofo francês
traduziria como raison d’être, razão de ser. Alguns encontraram seu ikigai e
têm consciência dele, outros o carregam dentro de si, mas ainda o procuram. O
ikigai está escondido em nós e é necessária uma investigação paciente para
chegar até o mais profundo de nosso ser e encontrá-lo. De acordo com os nativos
de Okinawa, a ilha com maior índice de centenários do mundo, o ikigai é a
razão pela qual nos levantamos pela manhã.
Ter um ikigai
claro e definido, uma grande paixão, dá satisfação, felicidade e significado à
vida. [...] Uma das coisas mais surpreendentes de se notar ao viver por algum
tempo no Japão é como as pessoas continuam ativas, inclusive depois de se
aposentarem. Na verdade, um grande número de japoneses nunca se “aposenta”, mas
sim segue trabalhando naquilo de que gosta, a menos que a saúde não permita. Na
verdade, não existe na língua japonesa uma palavra que signifique
“aposentar-se” no sentido de “retirar-se para sempre”, como temos no Ocidente. Base:
“ter um propósito é tão importante nessa cultura que eles não têm nosso
conceito de aposentadoria”. (Jan
Buettner, jornalista da National Geographic).
Alguns estudos
sobre a longevidade sugerem que ter uma vida em comunidade e um ikigai claro é
tão ou mais importante do que a saudável dieta japonesa. O conceito [...] está
especialmente enraizado em Okinawa, uma das chamadas “zonas azuis”, onde vivem
as pessoas mais longevas do mundo. Essa ilha tem o maior índice do planeta de
pessoas com mais de cem anos por cem mil habitantes. [...] Além de viverem
muito mais que o restante da população mundial, é menor o seu histórico de
doenças crônicas como câncer ou patologias cardíacas; enfermidades
inflamatórias também são menos comuns.
Nesta cidade há um
grande número de centenários com um nível de vitalidade invejável e um estado
de saúde que seria impensável para anciãos de outras localidades. Seu sangue
apresenta um nível mais baixo de radicais livres, que são os responsáveis pelo
envelhecimento celular, graças à cultura do chá e ao costume de se alimentar
apenas até saciar 80% do estômago. A menopausa é muito mais suave e, de maneira
geral, homens e mulheres mantêm um nível elevado de hormônios sexuais até
idades muito avançadas.
O índice de casos
de demência é notavelmente mais baixo do que a média da população mundial. De
acordo com os autores, [...] um importante responsável pela saúde e longevidade
dos habitantes de Okinawa é sua atitude “ikigai” diante da vida, que os faz
buscar um sentido profundo em cada dia.
Antes de tudo,
entendamos o sentido da palavra: Ikigai se escreve 生き甲斐, onde 生き
significa “vida” e 甲斐 significa “valer a pena”. Pode-se
decompor 甲斐 em 甲, que significa
“armadura”, “número um”, “ser o primeiro a ir (à frente de uma batalha, tomando
a iniciativa e a liderança)”, e 斐, que significa
“elegante”, “belo”.
O livro afirma que
existem CINCO ZONAS AZUAS, assim são denominadas pelos cientistas e demógrafos,
as regiões em que há muitos casos de longevidade. [...] As cinco regiões
identificadas e analisadas por Buettner em um de seus livros sobre as zonas
azuis são:
1. Okinawa, Japão (sobretudo, o norte da ilha). A dieta da
região inclui muitas verduras e tofu. Seus habitantes comem em pratos pequenos.
Em sua expectativa de vida, além da filosofia ikigai, é importante o conceito
de “moai” (grupo de amigos muito próximos), que veremos a seguir.
2. Sardenha, Itália (especificamente as províncias de
Nuoro e Ogliastra).
Seus habitantes consomem muitas verduras e vinho. Trata-se de comunidades muito
unidas, o que exerce grande influência na longevidade.
3. Loma Linda, Califórnia. Os pesquisadores
estudaram um grupo de adventistas do sétimo dia que estão entre os mais
longevos dos Estados Unidos.
4. Península de Nicoya, Costa Rica. Muitos nativos
passam dos noventa anos com uma vitalidade admirável. Grande parte dos anciãos
se levanta às 5h30, sem grandes dificuldades, para trabalhar no campo.
5. Icária, Grécia. Um em cada três habitantes dessa
ilha próxima à costa turca tem mais de noventa anos, o que lhe valeu o apelido
de “a ilha da longevidade”. [...] Ao que parece, o segredo dos nativos remonta
a um estilo de vida existente desde o ano 500 a.C.
A obrigação de
ajudar uns aos outros constitui para muitas pessoas um ikigai poderoso o
suficiente para continuar vivendo. Segundo os cientistas que compararam a vida
nas cinco zonas azuis, os segredos para uma vida longa são a dieta, o
exercício, ter um propósito (um ikigai) e boas ligações sociais, ou seja,
muitos amigos e boas relações na família. Essas comunidades administram bem o
seu tempo para reduzir o estresse, comem pouca carne e alimentos processados e
ingerem álcool com moderação. Os exercícios praticados por seus integrantes não
são extremos, mas eles se movimentam todos os dias para passear ou ir à horta.
Os habitantes das zonas azuis preferem caminhar a usar um carro. Em todas elas,
é muito comum a prática da jardinagem, que requer movimento físico diário, mas
de baixa intensidade.
Um dos provérbios
mais populares em Okinawa é Hara hachibu, que significa algo como “A barriga a
80%” e é dito antes e depois das refeições. A sabedoria ancestral recomenda não
comer até ficar cheio. Por isso, em vez de se saciarem, obrigando o corpo a se
desgastar e acelerando a oxidação celular com uma longa digestão, os nativos
param de comer quando sentem que seu estômago está 80% cheio. Talvez algo tão
simples assim seja um dos segredos da longa vida dos okinawanos.
A dieta deles é
rica em tofu, batata-doce, peixe (três vezes por semana) e muitas verduras
(trezentos gramas por dia). [...] Ao dividi-la em vários pratos pequenos, os
japoneses tendem a comer menos.
O MOAI é uma
tradição de Okinawa — e também de Kagoshima — para formar laços fortes nas
comunidades locais. O moai é um grupo informal de pessoas com interesses comuns
que se ajudam. Para muitos, o serviço comunitário se converte em um de seus
ikigais.
A origem dos moais vem de tempos difíceis, quando os agricultores se reuniam para trocar informação sobre as melhores formas de cultivar, assim como para ajudar uns aos outros nos anos em que a colheita não havia sido boa. Os membros de um moai têm que pagar uma quantia mensal preestabelecida. Esse pagamento lhes permite participar de reuniões, jantares, partidas de go (um jogo de tabuleiro de origem chinesa), de shogi (o xadrez japonês) ou desfrutar de qualquer que seja o hobby comum do grupo. [...] Estar em um moai ajuda a manter a estabilidade emocional e também a financeira.
Então quais seriam as causas do envelhecimento prematuro no mundo moderno?A árvore do conhecimento: síntese
(HARARI, Yuval Noan. Livro Sapiens, uma breve história da humanidade. Parte 1, capítulo 2)
A África Oriental
há 150 mil anos, apenas por volta de 70 mil anos atrás eles começaram a dominar
o resto do planeta Terra e levar as demais espécies humanas à extinção. Eles
não gozavam de qualquer vantagem notável sobre outras espécies humanas, não produziam
ferramentas particularmente sofisticadas e não realizavam nenhum outro feito
especial. Os neandertais levaram a melhor (...) e os sapiens acabaram por se
retirar, deixando os neandertais como senhores do Oriente Médio.
A partir de 70 mil
anos atrás, o Homo sapiens começou a fazer coisas muito especiais. Eles
expulsaram os neandertais e todas as outras espécies humanas não só do Oriente
Médio como também da face da Terra e, num período incrivelmente curto, eles se
espalharam pela Europa, Ásia e chegaram à Austrália, um continente até então
intocado por humanos.
O período de 70
mil anos atrás a 30 mil anos atrás testemunhou a invenção de barcos, lâmpadas a
óleo, arcos e flechas e agulhas (essenciais para costurar roupas quentes).
Surgem os primeiros objetos chamados de arte e joalheria; além dos primeiros
indícios incontestáveis de religião, comércio e estratificação social. A
maioria dos pesquisadores acredita que essas conquistas sem precedentes foram
produto de uma revolução nas habilidades cognitivas dos sapiens. O surgimento
de novas formas de pensar e se comunicar, entre 70 mil anos atrás a 30 mil anos
atrás, constitui a Revolução Cognitiva. O que a causou? Não sabemos ao certo.
A teoria mais
aceita afirma que mutações genéticas acidentais mudaram as conexões internas do
cérebro dos sapiens, possibilitando que pensassem de uma maneira sem
precedentes e se comunicassem usando um tipo de linguagem totalmente novo.
Poderíamos chamá-las de mutações da árvore do conhecimento. E até onde pudemos
verificar, foi uma questão de puro acaso. Mas é mais importante entender as
consequências das mutações da árvore do conhecimento do que suas causas. O que
havia de tão especial na nova linguagem dos sapiens que nos permitiu conquistar
o mundo?
Todos os animais
têm alguma forma de linguagem. Até mesmo os insetos, como abelhas e formigas,
sabem se comunicar de maneiras sofisticadas, informando uns aos outros sobre o
paradeiro de alimentos. Tampouco foi a primeira linguagem vocal. Muitos
animais, incluindo todas as espécies de macaco, têm uma linguagem vocal. [...]
O que, então, há de tão especial em nossa linguagem? A resposta mais comum é
que nossa linguagem é incrivelmente versátil. Podemos conectar uma série
limitada de sons e sinais para produzir um número infinito de frases, cada uma
delas com um significado diferente. Podemos, assim, consumir, armazenar e
comunicar uma quantidade extraordinária de informação sobre o mundo à nossa
volta.
[...] Uma segunda
teoria concorda que nossa linguagem singular evoluiu como um meio de partilhar
informações sobre o mundo. Mas as informações mais importantes que precisavam
ser comunicadas eram sobre humanos, e não sobre leões e bisões. Nossa linguagem
evoluiu como uma forma de fofoca. De acordo com essa teoria, o Homo sapiens é
antes de mais nada um animal social. A cooperação social é essencial para a
sobrevivência e a reprodução. Não é suficiente que homens e mulheres conheçam o
paradeiro de leões e bisões. É muito mais importante para eles saber quem em
seu bando odeia quem, quem está dormindo com quem, quem é honesto e quem é
trapaceiro.
[...] As novas
habilidades linguísticas que os sapiens modernos adquiriram há cerca de 70
milênios permitiram que fofocassem por horas a fio. Graças a informações
precisas sobre quem era digno de confiança, pequenos grupos puderam se expandir
para bandos maiores, e os sapiens puderam desenvolver tipos de cooperação mais
sólidos e mais sofisticados. A teoria da fofoca pode parecer uma piada, mas
vários estudos a corroboram. Ainda hoje, a maior parte da comunicação humana –
seja na forma de e-mails, telefonemas ou colunas nos jornais – é fofoca. É tão
natural para nós que é como se nossa linguagem tivesse evoluído exatamente com
esse propósito. [...] A fofoca normalmente gira em torno de comportamentos
inadequados. [...] Muito provavelmente, tanto a teoria da fofoca quanto a
teoria do leão perto do rio são válidas.
Mas a
característica verdadeiramente única da nossa linguagem não é sua capacidade de
transmitir informações sobre homens e leões. É a capacidade de transmitir
informações sobre coisas que não existem. Até onde sabemos, só os sapiens podem
falar sobre tipos e mais tipos de entidades que nunca viram, tocaram ou
cheiraram. Lendas, mitos, deuses e religiões apareceram pela primeira vez com a
Revolução Cognitiva. [...] Graças à Revolução Cognitiva, o Homo sapiens
adquiriu a capacidade de dizer: “O leão é o espírito guardião da nossa tribo”.
Essa capacidade de
falar sobre ficções é a característica mais singular da linguagem dos sapiens.
Mas a ficção pode ser perigosamente enganosa ou confusa. Ainda assim, [...] a
ficção nos permitiu não só imaginar coisas como também fazer isso
coletivamente: os MITOS. [...] Tais mitos dão aos sapiens a capacidade sem
precedentes de cooperar de modo versátil em grande número. [...] Os sapiens
podem cooperar de maneiras extremamente flexíveis com um número incontável de
estranhos. É por isso que os sapiens governam o mundo, ao passo que as formigas
comem nossos restos e os chimpanzés estão trancados em zoológicos e
laboratórios de pesquisa.
Os humanos, como
os chimpanzés, têm instintos sociais que possibilitaram aos nossos ancestrais
construir amizades e hierarquias e caçar ou lutar juntos. No entanto, como os
instintos sociais dos chimpanzés, os dos humanos só eram adaptados para
pequenos grupos íntimos. Quando o grupo ficava grande demais, sua ordem social
se desestabilizava, e o bando se dividia.
Após a Revolução
Cognitiva, a fofoca ajudou o Homo sapiens a formar bandos maiores e mais
estáveis. Mas até mesmo a fofoca tem seus limites. Pesquisas sociológicas
demonstraram que o tamanho máximo “natural” de um grupo unido por fofoca é de
cerca de 150 indivíduos. A maioria das pessoas não consegue nem conhecer
intimamente, nem fofocar efetivamente sobre mais de 150 seres humanos. [...]
Quando o limite de 150 indivíduos é ultrapassado, as coisas já não podem
funcionar.
[...] Se não forem
capazes de se reinventar, acabam falindo. Mas como o homo sapiens conseguiu, ao
longo do temo, fundar grandes impérios com centenas de milhões? O segredo foi
provavelmente o surgimento da ficção. Um grande número de estranhos pode
cooperar de maneira eficaz se acreditar nos mesmos mitos. Toda cooperação
humana em grande escala – seja um Estado moderno, uma igreja medieval, uma cidade
antiga ou uma tribo arcaica – se baseia em mitos partilhados que só existem na
imaginação coletiva das pessoas. [...] Histórias que as pessoas inventam e
contam umas às outras.
Não há deuses no
universo, nem nações, nem dinheiro, nem direitos humanos, nem leis, nem justiça
fora da imaginação coletiva dos seres humanos. [...] Contar histórias eficazes
não é fácil. A dificuldade está não em contar a história, mas em convencer
todos os demais a acreditarem nela. [...] Com o passar dos anos, as pessoas teceram
uma rede incrivelmente complexa de histórias. [...] Os tipos de coisa que as
pessoas criam por meio dessa rede de histórias são conhecidos nos meios
acadêmicos como “ficções”, “construtos sociais” ou “realidades imaginadas”. Uma
realidade imaginada não é uma mentira.
[...] Ao contrário
da mentira, uma realidade imaginada é algo em que todo mundo acredita e,
enquanto essa crença partilhada persiste, a realidade imaginada exerce
influência no mundo. [...] Desde a Revolução Cognitiva, os sapiens vivem, portanto,
em uma realidade dual. Por um lado, a realidade objetiva dos rios, das árvores
e dos leões; por outro, a realidade imaginada de deuses, nações e corporações.
Com o passar do tempo, a realidade imaginada se tornou ainda mais poderosa, de
modo que hoje a própria sobrevivência de rios, árvores e leões depende da graça
de entidades imaginadas, tais como deuses, nações e corporações.
A capacidade de
criar uma realidade imaginada com palavras possibilitou que um grande número de
estranhos coopere de maneira eficaz. Mas também fez algo mais. Uma vez que a
cooperação humana em grande escala é baseada em mitos, a maneira como as
pessoas cooperam pode ser alterada modificando-se os mitos – contando-se
histórias diferentes. Nas circunstâncias adequadas, os mitos podem mudar muito
depressa. Em 1789, a população francesa, quase da noite para o dia, deixou de
acreditar no mito do direito divino dos reis e passou a acreditar no mito da
soberania do povo. Em consequência, desde a Revolução Cognitiva o Homo sapiens
tem sido capaz de revisar seu comportamento rapidamente de acordo com
necessidades em constante transformação. Isso abriu uma via expressa de
evolução cultural, contornando os engarrafamentos da evolução genética.
Acelerando por essa via expressa, o Homo sapiens logo ultrapassou todas as
outras espécies humanas em sua capacidade de cooperar.
O comportamento de
outros animais sociais é determinado em grande medida por seus genes. O DNA não
é um autocrata. O comportamento animal também é influenciado por fatores
ambientais e por peculiaridades individuais. No entanto, em um ambiente
estável, animais da mesma espécie tendem a se comportar de maneira similar. Em
geral, mudanças significativas no comportamento social não podem ocorrer sem
mutações genéticas. [...] Por razões similares, os humanos arcaicos não
iniciavam revoluções. Até onde sabemos, as mudanças nos padrões sociais, a
invenção de novas tecnologias e a consolidação de novos hábitos decorreram mais
de mutações genéticas e pressões ambientais do que de iniciativas culturais. É
por isso que levou centenas de milhares de anos para os humanos darem esses
passos.
Há 2 milhões de
anos, mutações genéticas resultaram no surgimento de uma nova espécie humana
chamada Homo erectus. Seu surgimento foi acompanhado pelo desenvolvimento de
uma nova tecnologia de ferramentas de pedra, hoje reconhecida como uma
característica decisiva dessa espécie. Enquanto o Homo erectus não passou por
novas alterações genéticas, suas ferramentas de pedra continuaram mais ou menos
as mesmas – por quase 2 milhões de anos!
Por sua vez, desde
a Revolução Cognitiva, os sapiens têm sido capazes de mudar seu comportamento
rapidamente, transmitindo novos comportamentos a gerações futuras sem
necessidade de qualquer mudança genética ou ambiental. Por exemplo, considere o
advento repetido de elites sem filhos, como a classe sacerdotal católica, as
ordens monásticas budistas e as burocracias eunucas chinesas. [...] Em outras
palavras, enquanto os padrões de comportamento dos humanos arcaicos permaneceram
inalterados por dezenas de milhares de anos, os sapiens conseguem transformar
suas estruturas sociais, a natureza de suas relações interpessoais, suas
atividades econômicas e uma série de outros comportamentos no intervalo de uma
ou duas décadas.
[...] Em uma briga
de um para um, provavelmente um neandertal teria derrotado um sapiens. Mas em
um conflito de centenas, os neandertais não teriam uma chance sequer. Os
neandertais podiam partilhar informações sobre o paradeiro de leões, mas
provavelmente não podiam contar – e revisar – histórias sobre espíritos
tribais. Sem a capacidade de criar ficção, os neandertais não conseguiam
cooperar efetivamente em grande número nem adaptar seu ambiente social para
responder aos desafios em rápida transformação. [...] Os sítios de neandertais
não têm indícios de tal escambo. [...] E nenhum outro animal além do sapiens
pratica o comércio, e todas as redes de comércio dos sapiens sobre as quais
temos informações detalhadas se baseiam em ficções. O comércio não pode existir
sem confiança, e é muito difícil confiar em estranhos. [...] As técnicas de
caça são outro exemplo dessas diferenças. Os neandertais geralmente caçavam
sozinhos ou em pequenos grupos. Os sapiens, por outro lado, desenvolveram
técnicas que se apoiavam na cooperação entre dezenas de indivíduos, e talvez
até mesmo entre bandos diferentes.
O que aconteceu na
Revolução Cognitiva? - A imensa diversidade de realidades imaginadas que os
sapiens inventaram e a diversidade resultante de padrões de comportamento são
os principais componentes do que chamamos “culturas”. Desde que apareceram, as
culturas nunca cessaram de se transformar e se desenvolver, e essas alterações
irrefreáveis são o que denominamos “história”. A Revolução Cognitiva é,
portanto, o ponto em que a história declarou independência da biologia. Até a
Revolução Cognitiva, os feitos de todas as espécies humanas pertenciam ao reino
da biologia, ou, se quisermos, da préhistória (expressão do autor).
[...] A partir da
Revolução Cognitiva, as narrativas históricas substituem as narrativas
biológicas como nosso principal meio de explicar o desenvolvimento do Homo
sapiens. Para entender a ascensão do cristianismo ou a Revolução Francesa, não
basta compreender a interação entre genes, hormônios e organismos. É
necessário, também, levar em consideração a interação entre ideias, imagens e
fantasias. Isso não significa que o Homo sapiens e a cultura humana tenham se
tornado isentos de leis biológicas. Ainda somos animais, e nossas capacidades
físicas, emocionais e cognitivas continuam sendo moldadas por nosso DNA. [...]
No entanto, é um erro procurar as diferenças no nível do indivíduo ou da
família. Nas comparações entre indivíduos, ou mesmo entre grupos de dez, somos
embaraçosamente similares aos chimpanzés. As diferenças significativas só
começam a aparecer quando ultrapassamos o limite de 150 indivíduos, e, quando
chegamos a mil ou 2 mil indivíduos, as diferenças são assombrosas.
[...] A diferença
real entre nós e os chimpanzés é a cola mítica que une grandes quantidades de
indivíduos, famílias e grupos. Essa cola nos tornou os mestres da criação. É
claro, também precisamos de outras coisas, como a capacidade de confeccionar e
usar ferramentas. Mas a confecção de ferramentas é insignificante se não estiver
associada com a capacidade de cooperar com muitas outras pessoas. [...]
Fisiologicamente, não houve qualquer melhoria significativa em nossa capacidade
de confeccionar ferramentas nos últimos 30 mil anos. Albert Einstein era muito
menos hábil com as mãos do que um antigo caçador-coletor. No entanto, nossa
capacidade de cooperar com um grande número de estranhos aumentou
consideravelmente.
[...] Para resumir
as relações entre a biologia e a história após a Revolução Cognitiva: a. A
biologia estabelece os parâmetros básicos para o comportamento e as capacidades
do Homo sapiens. Toda a história acontece dentro dos limites dessa arena
biológica.; b. No entanto, essa arena é extraordinariamente grande,
possibilitando que os sapiens joguem uma incrível variedade de jogos. Graças à
sua habilidade de criar ficções, os sapiens inventam jogos cada vez mais
complexos, que cada geração desenvolve e elabora ainda mais.; c. Em
consequência, a fim de entender como os sapiens se comportam, devemos descrever
a evolução histórica de suas ações.
Prof.ª
Ms. Claudia Nunes (08.06.20)
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