quarta-feira, 12 de dezembro de 2007

POR QUE ESCREVER?


A escrita é uma subversão da realidade. As fissuras existentes entre as palavras tão bem encadeadas levantam questionamentos sobre os seus sentidos e os sentidos da mensagem. Entre uma palavra e outra, o leitor cria significados muito pessoais. Ou seja, a cada leitura de três palavras, acontece uma interpretação de acordo com o repertório intelectual de cada um. Semelhante às respirações mais profundas, continuamos passando o nosso olhar pelo papel e lendo, ininterruptamente, até porque o suporte livro ainda concentra todo o encantamento da vida diária. Se somos escritores ou não, a verdade é que, ao escrever, embutimos, nas palavras e em suas ligações semânticas, significados ponto a ponto, como se quiséssemos, antes de tudo, nos entender.

Toda a nossa literatura é um poço fundo de “quereres” guerreiros, estéticas múltiplas e possibilidades românticas e, segundo o poeta Tristan Tzara, em carta a Breton, “se escrevemos, é apenas por refúgio de todo ‘ponto de vista’. Não escrevo por profissão”. Eu também não! Alguns escrevem por fraqueza, outros para abreviar o tempo, outros ainda por pura exposição e outros ainda mais, por desejar a eternidade. A ação de escrever deduz uma sedução e um estranhamento sobre a realidade ou quanto à própria existência. Logo, “Por que escrever?”, segundo diferentes autores, é uma questão tão complexa quanto perguntar “qual é o sentido da vida?”. Ambas não são perguntas a que respondemos à queima-roupa. Ambas não são perguntas as quais precisamos responder. Apenas as vivemos. É o nosso processo de vida.

Se por obrigação (por exemplo, a monografia) ou por vontade, de qualquer jeito, escrever amplia as percepções, age por confrontação quanto ao já sabido (senso comum) e suscita aprimoramento do próprio ato de escrever. É a ficcionalidade causando deslumbramento sobre a observação cotidiana. Alguns escritores aceitam o pedido do destino e se esvaem em letras naturalmente. É uma questão do gosto. Outros criam propostas de escritas, como forma de relacionamento com a realidade. É uma questão profissional (acadêmica?). Em voz alta ou no silêncio do quarto, os “escritores” aceitam a magia da inspiração e do talento, e espalham seus imaginários em meio às nossas tantas formas simbólicas (letras). A escrita, assim tem sua utilidade efetivada na socialização e na paixão.

Também é possível escrever por divertimento, por alegria, até exaurir-se na criação de um traçado, às vezes, insólito, de tantas vidas e aventuras. Aceitar a aposta de escrever, depois que a memória for atingida por algo desconhecido (superior?), é passar o tempo escavando suas questões em profundidade até clarear as idéias, até entender-se. De qualquer jeito criam-se encontros com novelos em busca de desvendamento. Lya Luft, então, diz “escrevo para seduzir meus leitores que sejam cúmplices na inquietação fundamental, na busca de entender o mundo – e jamais o entenderemos.” O tempo todo, então, o escritor objetiva, em seu planejamento, “uma releitura dos valores familiares e sociais” de cada tempo, na intenção de esclarecer o próprio tempo. Para essa autora e tantos outros mais, a literatura “pode e deve ser lida como uma denúncia da hipocrisia, da superficialidade, da indiferença, da negligência e da mentira nas relações humanas, amorosas e familiares”. Em verdade, escrever é ratificar a idéia de que existimos.

Não há, enfim, uma razão para escrever. Como tudo o que fazemos, é fundamental o acontecimento, qualquer evento cotidiano que nos incomode em qualquer nível ou aspecto. Este evento desequilibrante gera o impulso, ou seja, uma vontade de “falar”, de entender e de exposição, via explicação, do que nos aconteceu. Sartre, nesta hora, nos ajuda, dizendo: “o problema não é o que fizeram conosco, o problema é o que fazemos de nós com o que fizeram conosco.” Este impulso não tem natureza identificável, mas nos espanta, nos tira do prumo e, dependendo da formação, cria uma das mais tradicionais formas de esvaziamento de si: a escrita e, por conseqüência, o texto. Sabemos que muitos se exprimem de diferentes maneiras como, por exemplo, pelo desenho, pela pintura, pela música, todas linguagens cuja mensagem investe numa provocação à uma mudança externa. Mas acordamos com Alexei Bueno: o prazer lúdico de combinar palavras e fazer arte, “livra-nos do egoísmo, praga suprema da espécie e forma geral de estupidez.”

Quando for escrever sua monografia, lembre-se: o cotidiano é seu melhor laboratório de idéias. Observe-o com atenção. E se pergunte: o que me incomoda? Que ponto pode ser revisto? Que atitudes podem ser melhoradas? Que conceitos precisam ser repensados? Anote. Rascunhe. Converse. Ainda que o tempo seja curto e suas atividades semanais sejam muitas, aprecie o seu entorno fazendo silêncio de si mesmo. O resultado será uma escrita compromissada, coerente e de acordo com o seu movimento na vida. E aí, mesmo em meio ao desenvolvimento de uma escrita em nossos cursos de pós-graduação e aceitando ou não diferentes estilos de orientação, você vai estar feliz sempre! Força!

Profa. Claudia Nunes
Tutora do curso de Pedagogia a distância
Mestranda em Educação / UNIRIO

Um comentário:

Anônimo disse...

Preciso de muito estímulo mesmo!!!! Pq até o projeto, que deve estar pronto no dia 17/12, não existe!!!!

Bjks, Silvia.

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