quarta-feira, 14 de abril de 2010

DUAS IDADES

Hoje eu estava pensando em relacionamentos. Engraçado né? Todo mundo quer independência, mas quase todo mundo deseja parcerias de vida... e parcerias de vida inteira! Desde cedo, há todo um esquema social montado ou pré-moldado para o acontecimento de determinados eventos de vida. Estou dirigindo pela orla do Flamengo e vejo, passeando, diversos casais arrulhando como pombos. Interessante é que se você se aproxima tem a nítida sensação de que ou o amor tem limites, ou não há peles compromissadas. Os olhares estão turvos e o calor das ações são realizadas com pouquíssimos encantamentos. Não me interesso mais por questões de gêneros, acredito no bem estar, mais do que na felicidade. Então, por que as pessoas aceitam ficarem juntas apesar de qualquer coisa? Não sei, nada me vem à memória. A idéia parece ser curtir, ficar, namorar. Ambos de alguma maneira confiam desconfiando, mas seguem de mãos dadas pelos dias supondo o próximo prazer. Meses ou anos tornam-se tempos que não refletem estabilidades a ninguém, mas o ideal é TER alguém. Parei e estacionei numa praça com carrocinhas de sorvete. Estou com um dilema: o que essas pessoas sentem? Onde apontar a emoção da paixão? Difícil... Um casal de idosos chama a minha atenção. Ela chora. Ele olha para o nada. Ela olha para dentro. Ele olha para o outro lado. Ficam ali, sentados, sem reação, mas abraçados e se amparando. O que será que aconteceu? Eu precisava saber: o que será que houve? Imaginei: depois de anos, eles descobriram novidades do corpo e da mente. Nas peles enrugadas e nos cabelos em neve, todo o esforço para construir uma história. Foram amantes de outras pessoas e, na ponta da vida, se comunicam, dialogam sobre o que não puderam ser. Suas histórias hoje causam dramas esquisitos. Eles não se conheceram nunca? O que teria acontecido? Orgulho? Vingança? Esperança? Solidão? Os velhos choram uma vida de esguelha. Do meu banco, eu via um rito de passagem para o mundo real. Discretamente, levantei e me aproximei. Ao invés de triste, eu estava empolgada com a possibilidade de saber. É infantil, bobo, cruel, mas por que não? Escuto uma última frase: ‘... volte a pensar em nossos filhos...’ Era uma decisão? Era um lamento? Era um pedido? Dois idosos sofrendo os desagradáveis efeitos de uma vida sem ternura. Dois idosos repensando seus pontos de contato. Dois idosos pensando em (re)proteger seus desejos e pensamentos com novos recursos ou disfarces. Todas as pessoas utilizam seus imaginários para suspender suas crescentes frustrações ou depressões. Seus sonhos ganham existência como defesa. Tal e qual uma bengala, os dois idosos são personagens em vôo alto, muito alto, de um mundo que se esqueceu do ritmo das idades e suas formas de envolvimento. Sinto uma tristeza absurda. Do nada, um sorriso compreensivo do homem ‘acarinha’ o meu coração. Seus braços entornam o corpo da mulher como se tocasse algo luxuoso demais. Levanto, saio e penso, ‘ninguém pode satisfazer ninguém plenamente’. Oh imaginação!

Profa Ms Claudia Nunes

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