sexta-feira, 22 de abril de 2011

AMOR NEGADO

Lucio é um profissional respeitado. Depois de anos de luta, seus objetivos foram alcançados: estava estabilizado. Nada fora tranqüilo: incensos, rezas, projetos, concursos, investimentos, viagens e, enfim um lugar ao sol. Dinheiro não era mais problema ou angústia. Poucas vezes perdeu seu senso de responsabilidade. Era franco, simpático, de infância modesta e bem focado em princípios familiares sérios. Mesmo morando em Ipanema, era irreverente, solícito e extrovertido, adjetivos em alguns momentos observados como defeitos, presepadas ou abusos. Fazer o que? Ele não compactuava com as coerências impostas ou pelo social ou pelas pessoas ao seu redor. Com sua vida atual, os luxos eram seus hobbys e seu status; o despudor era sua marca e presença; e sua gargalhada era sua distração diária. Mas ele não aprendera a escutar. Ele não aprendera a ser menos. Mesmo procurado por todos os amigos, sempre pensava: ‘quem quer que alguém dê palpite na sua vida?’ Sua loucura escapava da razão seletiva que protege o ser humano das armadilhas da vida, das várias crises, das grandes mudanças. O que valia era sua emoção espalhada em todos os recantos e seu estigma de garotão. Era amadurecer e continuar não provando nada para ninguém! Sem a clareza dos caminhos racionais não percebia que a idade avançava. O mundo, nas vezes em que conseguia chateá-lo, se tornava risível. Hoje, com mais de 40 anos, Lucio optou por não chegar em casa com resíduos do dia. A idéia era criar indiferenças e, na manha seguinte, correr na frente do que planejara sem bloqueios ou repressões. Só que hoje algo estava diferente. Preso em sua poltrona, sabia que algo estava errado. A casa não tinha cor nenhuma. Ele se olhava e tudo estava negro. A respiração era entrecortada. O que acontecera? Na noite profunda, o telefone toca. Uma dor lancinante domina sua cabeça e ele se lembra: seu amor fora recusado. Aos 40 anos, essa era sua primeira experiência: o insucesso amoroso. Sem dominar o corpo, toda a sua fragilidade e insegurança estavam em cena. Homem das mil e uma amantes, como diziam, se acostumara com pessoas indo e vindo de sua cama sem durarem ou deixarem grandes marcas. Em tudo era eclético. Dentro de sua vida carnavalesca agia de acordo com um lema: ‘não termino relações, acumulo’. Sem pressa ou culpa dizia aos ventos ‘eu te amo’ várias vezes com sinceridade, mas nunca para a posteridade. O amor só era válido enquanto novidade. Para pessoas diferentes, amores diferentes, afinal tem gente que é melhor conversando, tem gente que é melhor transando e tem gente que é melhor saindo. Lucio amava amplamente as pessoas sem discriminações ou sem se desperdiçar em seleções bobas. Mas hoje alguém fugiu do seu balaio afetivo. A noite chegara forte e o encontrara sonhando acordado no meio da sala, ainda com o terno de trabalho. Como eu, um ariano nato, não realizei a expressão ‘eu quero’ como sempre? Ele era o máximo! Ele era perfeito! A noite não o abandona e as lembranças o perturbam. Espiritualizado, amigo, solidário, ele surfou pela vida ‘ralando’ muito, então como alguém o nega sem medo? Seu corpo não aceita a loucura do descarte. Sua mente não entende a volúpia da informação de uma negação sem precedentes. E ele cai vertiginosamente nas luzes da cidade. Estas são pontos abertos às suas necessidades sem pudores. É um processo sem base, sem ponto de contato e sem poder de administração. Pelas nuvens da cidade, ele busca elementos que preparem sua respiração para um renascer. De manhã, diante de um cheiro forte de gás residencial, vizinhos arrombam a porta e se deparam com Lucio, sorrindo, deitado no chão e fantasiado de Robin.

Um comentário:

Anônimo disse...

Finalmente, conseguí lo que estaba buscando! Sin duda disfrutando cada pedacito de ella. Me alegro de haber tropezado con este artículo! sonrisa Yo los he salvado de ver cosas nuevas lo que escribes.

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