ATÉ QUANDO?
Há novos ares sendo respirados na educação estadual carioca. Há nova administração instaurando novos procedimentos que dinamizem as práticas pedagógicas. E há professores ainda extremamente descrentes quanto às mudanças ou quanto à possibilidade de se obter mais qualificação nas formas de aprender. Até quando?
Há o reconhecimento de que as políticas públicas voltadas à educação, por exemplo, do Ensino Médio, dependem da gestão em questão e em seu tempo de serviço na pasta. Há a certeza de que as propostas governamentais já nascem com data de término: a mudança de governo ou do próprio secretário. Até quando?
Diante desta situação híbrida, os educadores criaram uma couraça em torno de si mesmos: todo e qualquer indicativo ou projeto de mudança é desacreditado, questionado e, por vezes, anulado. E isto não é um posicionamento por infantilidade ou imaturidade. É uma postura contextualizada, ou seja, surgida a partir das várias experiências interessantes que realizaram (os educadores), mas quase nunca valorizadas. Em cada experiência de projeto ou de mudança estratégica de governo, muitos esforços, desgastes, apostas e... nada! Sem respaldo, sem retorno, sem valorização, esquecido, o educador se percebe inútil, então também se pergunta: até quando?
Atualmente, de novo, apresenta-se uma luz ao final do túnel: há uma política pública de revalorização dos educadores por meio de pequenos (e contínuos) aumentos de salários, diferentes gratificações, aberturas de espaços de formação continuada e alguns bônus de incentivo à pesquisa e à leitura. Nada de excelência ou que transforme a visão da sociedade sobre o educador ou a visão do próprio educador sobre si mesmo com agilidade, mas, diante de uma terra árida (políticas anteriores), dos males o menor; ou diante de um ‘nada’ anterior, apresenta-se uma primavera diferente. Até quando?
Segundo minha avó, porém, ‘para todo bônus, há um ônus’. E, no caso do ensino, este ônus apresenta-se nas exigências de reestruturação física e pedagógica da escola quase que urgentes, lembremos que o tempo das mudanças de governantes está próximo. Primeiro, há apresentação e conscientização dos gestores (entendidos como multiplicadores) quanto ao novo momento. Segundo, há a implantação de um programa cujos itens devem ser observados e suplantados quando fora dos padrões (ou metas) estipulados. E terceiro, há a construção de uma filosofia pedagógica voltada à dinamização, estímulo e motivação dos educandos. Sendo bem simples, duas questões devem ser revertidas: a ‘infrequencia’ e a indisciplina. Até quando?
Entende-se, então, que a introdução, por exemplo, de recursos tecnológicos digitais e virtuais às atividades de aula e mesmo a realização de aulas inovadoras e diferenciadas (mais dinâmicas) são fundamentais para o reposicionamento da escola como ambiente de encontro com a informação e de construção do conhecimento, além fazer com que os educandos permaneçam mais tempo em seu interior. Até quando?
Nesta perspectiva, tem-se observado a realização de vários projetos interdisciplinares, ou didáticos dentro da compreensão de inovação dos processos de aprendizagem. Vários educadores têm se esforçado em reler suas práticas de ensino e estabelecer novos desafios ao ato de ensinar. Mais do que o conteúdo, percebe-se que os educadores investem em carregar os educandos com variadas ferramentas que lhes proporcionem melhor integração em sociedade. As ações coletivas começam a ser focalizadas como pontos de onde os educadores podem resgatar as atenções de seus educandos ao contexto de maneira geral. Mas até quando?
Esta semana houve novo projeto de sensibilização na escola. Mas uma sensibilização dos educadores quanto a si mesmos; sua posição, hoje, em sociedade e, mesmo diante dos seus educandos. A equipe pedagógica promoveu um encontro pedagógico com outro projeto, o “PAPO DE RESPONSA”, projeto que prioriza as vozes desejantes de mudanças e a responsabilização sobre os sonhos e o futuro de si e dos outros, sob sua (aqui, dos educadores) responsabilidade ou não. Houve estranhamento, certo mal-estar e uma grande expectativa: os educadores não foram informados sobre o porquê do encontro. Era um desconforto necessário. Era uma experiência necessária, afinal, educadores fazem isso o tempo todo com seus educandos. Até quando?
Tudo correu bem. Depois das primeiras palavras dos palestrantes (um policial a caráter e um ex-criminoso), o desconforto virou surpresa e a surpresa, novos pensamentos. A desconfiança virou possibilidade e entendimento. Mas, e ainda assim, houve educadores ausentes e os que agiram com descaso: estavam na escola, mas optaram por não participar. Não há aqui inocência de expectativa: todos iriam participar. Há, talvez, a esperança de que a ética falasse mais alto do que a tradição; ou que a delicadeza e o coleguismo fossem mais fortes do que uma visão de mundo tão rude. Neste momento não há como não julgar: estes educadores se anularam; anularam a possibilidade de discussão; de confronto, nunca de conflito; de vitalizar o papo com um ideário carregado de outras informações; anularam a possibilidade de crescimento de todos. Até quando?
Fora isso, estes educadores discursaram, pelos corredores, sobre a inutilidade da proposta do projeto porque, segundo eles, pertencem à escola tradicional, gostam da aula tradicional, ministram aulas mesmo e que ‘essa coisa’ de projeto (ou promoção de palestras) é ação de quem não gosta de trabalhar sério. Triste, muito triste... Estou incomodada. Até quando?
Esta fala não os desqualificam como profissionais de ensino. Anos de exercício do ensino, com suas dinâmicas tradicionais, não podem ser desconsideradas e nem descartadas. Mas se considerarmos que os educandos são outros, mais envolvidos com as novas tecnologias, com novas responsabilidades profissionais e experiências relacionais, mas se acreditando com poucas expectativas de futuro, como ficam estes educadores?
É difícil entender que a questão dos desenvolvimentos dos mais variados projetos e/ou atividades didáticas diferentes criam opções ao ensinar e ao aprender? Aprender a aprender tornou-se primordial para estimular o aprender a ser, a conviver, e principalmente, a fazer. Não dá mais para se manter uma postura indiferente às mudanças. Não dá mais para, como São Tomé, ‘pagar para ver’ de longe. Este fechamento absoluto quanto à possibilidade de inovar pode provocar incompreensão nos educandos quanto à sua realidade e divergências entre os outros educadores quanto ao seu papel, fatos que, hoje, mais atrapalham, do que ajudam a transformação da escola, do ensino-aprendizagem, da educação em geral.
Até quando?
Ms. Profa Claudia Nunes
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