domingo, 2 de outubro de 2011

A Floresta

No meio da floresta, Elvira não pode se mexer. A escuridão sempre foi seu ponto de loucura. Nada fazia sentido. Seus olhos percorrem todo o lugar e apenas os arrepios se apresentam como parceiros de sua agonia. Em cada passo, novos suores e novos medos. Ela se perdeu. Vida boa. Vida rotineira. Ela devia ter prestado mais atenção os sinais: a vida é moleque. Embora tivesse uma organização bem orquestrada do próprio mundo, desde que Marcos desaparecera de seu coração, ela não conseguia mais passr um dia sem erros e confusões: ela não estava mais acostumada ao mundo dos solteiros. Para ela, era uma vida debilitada; era uma vida cheia de possibilidade que ela não tinha tempo para gestar ou gerenciar. A solução foi sumir e criar novos caminhos.
Dois anos fora do país por causa de um pós-doutorado lhe dariam a oportunidade de se recompor. Ser imigrante é ser livre. Que nada! Dois anos num país distante trouxeram à boca do seu estômago constantes sensações de ansiedade: ela não tinha lugar e perdera espaços. E de repente, aquela floresta. Sem parar para descansar não gritava, só andava. Sem parar, ela não ouvia sua razão e se jogava na noite escura dos seus sentimentos e emoções entranhados em cada ramo de sua memória. Ela aceitava todas as ilusões. Seu mundo era pura ilusão e ela se mostrava insegura.
Seus olhos não se integravam ao vento cheio de ruídos da floresta. E ela se aprofundava. Sem saber bem o porquê, decidiu: sua bússola seriam os cheiros. Estes movimentarão seus membros em busca de uma saída. O cheiro (re)introduz a memória afetiva e ela sabia que por aí seria salva. Adulta, ela tinha consciência de seus atos, mas não sabia por que tantos desmoronamentos internos nesta floresta. De repente, parou. Um movimento fortuito retesou seus músculos e aguçou sua audição: será que não estava só? O tempo passa. Passa muito tempo. Sem perceber seu corpo vai relaxando. É perigoso, mas confortável. Ela é sua própria companheira, não mais a solitária de alguém. Vagarosamente ela olha ao redor. O barulho continua e seus olhos não vêem nada. A água acabou. A floresta está mais densa. Ninguém sabe seu paradeiro. Ela quer dormir. Ela quer morrer: cadê todo mundo?
Sem controle de suas emoções, ela chora, chora muito. Tantos anos criando uma vida, um temperamento, papéis na sociedade, preferências pessoais e, agora, nada mais importa; e, agora, tudo isso se tornou um luxo insignificante. Marcos, seu ex-marido; Priscila e Juliana, suas pequenas gêmeas; Astolfo, seu gato birrento; todos integrantes de seus sonhos e arrependimentos mais distantes. Ela precisava de uma segunda chance. Ela precisava de outro segundo de vida.
Seu corpo cai. Diante de uma pedra enorme, seu corpo se entrega ao chão sem pudores. Elvira desistiu do horizonte e aceitou o conhecimento de sua base: sua família, seu início e sorriu. Do chão, o silêncio se apresentou como um encantamento: o inaudito a recompensava com mais energia e concentração. Ao respirar nova e profundamente, a floresta se abriu e ela entendeu: nunca havia saído do seu quarto. Pela primeira vez, suada, sem medo e cheia de confiança, sabia o que fazer hoje:
Elvira cortou e pintou seus cabelos, sorridente...

Ms Profa Claudia Nunes

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