domingo, 2 de outubro de 2011

O Casamento


Em 20 anos de casamento, Juliana não tinha do que se queixar. Bernardo era um príncipe. É verdade que tinham um relacionamento diferente: cada um morava em seu próprio apartamento. Assim decidiram, depois de 05 anos de casados. Neste tempo, as discussões eram intensas. Cada um tentando fazer com que o outro respeitasse sua individualidade e mania. Mas se amavam, se admiravam e conversavam demais. Então, antes de perderem algo que consideravam precioso, resolveram ter espaços diferentes. Não chegaram a abrir mão da exclusividade sexual. Aliás, quanto ao sexo, tudo era muito maravilhoso. Mas cada um tinha uma forma de viver o cotidiano pessoal e profissional. Juliana era escritora. Bernardo era programador de Informática. Em 20 anos, a vida se tornou um amplo lugar da felicidade e da amizade: Juliana e Bernardo eram amigos, por princípio. Só que Juliana não estava se sentindo bem. Há algumas semanas, Bernardo estava distante. Pouco ligava, pouco aparecia, pouco a procurava. O ano de 2010 fora muito ruim para ele. Depois que perdera o emprego e voltara a trabalhar com seu pai, havia uma grande tristeza em seu olhar. A conversa era cheia de silêncios e grande tensão. Seria insatisfação? Frustração? Juliana não sabia o que pensar nem o que fazer. Um dia, Juliana estava em casa, quando a campainha tocou, era Bernardo. Sem nada falar, ele entrou, deitou na cama e chorou compulsivamente. Juliana estava assustada, mas nada fez nem falou. Na madrugada, Bernardo dormia e Juliana o observava. O que pode estar acontecendo? O amor deles era vivido com muita força. Não necessitavam de mentiras. Estavam completos, mesmo separados. Então o que faltava? O que faltava para Bernardo? Sem perceber, Bernardo acordou e a olhou. Olhou tão profundamente que ela se envergonhou. Estranho... “O que estava acontecendo?”. Bernardo não respondeu. Ele se levantou, a abraçou, a beijou cheio de desejo e a amou com nunca. Juliana nem teve tempo para pensar e se entregou ao momento com toda a emoção possível. Ambos reconheciam, aceitavam e viviam o desejo do corpo e do coração com intensidade só vivida assim nos tempos de namoro. Juliana e Bernardo se falam em meio aos movimentos do amor: falam da vida, de si mesmo, do romance, da loucura. É uma conversa que exclui as palavras, é puro êxtase, compreensão e liberdade. Mas havia uma mentira. Juliana, no momento do gozo, enfrenta o olhar de Bernardo e entende: há uma mentira, uma ilusão. Não eram infiéis sexuais, mas havia uma sombra no canto do olhar dele. O que seria? Os corpos foram se acalmando. Os corações desacelerando. Frente a frente, Juliana e Bernardo. Frente a frente, dois olhares sentimentais, mas procurando se (re)entender. Depois de tanta entrega e tanta emoção, era preciso falar. De mãos dadas, cada um esperava o som da voz do outro. Cada um sabia que o destino da relação estava nesta pronúncia. Bernardo puxa Juliana para mais perto, beija sua boca amorosamente e lhe entrega a aliança. Juliana não consegue tirar os olhos dele. “Olhe, leia...” – diz Bernardo. Ela sabe que se despregar seus olhos de Bernardo terá uma séria decisão para tomar. Ela resiste. Resiste muito. Mas ele insiste. Na aliança, ela lê: “Amor e união, Marcely, 1985”.

Ms Profa Claudia Nunes

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