28 de maio de 2013 às 9:07 | Por
Cheyenne Cavalcanti
O país com a
melhor educação do mundo é a Finlândia. Por quatro anos consecutivos, o país do
norte da Europa ficou entre os primeiros lugares no Programa Internacional de
Avaliação de Alunos (Pisa), que mede a qualidade de ensino. O segredo deste
sucesso, segundo Jaana Palojärvi, diretora do Ministério da Educação e
Cultura da Finlândia, não tem nada a ver com métodos pedagógicos
revolucionários, uso da tecnologia em sala de aula ou exames gigantescos
como Enem ou Enade. Pelo contrário: a Finlândia dispensa as provas nacionais e
aposta na valorização do professor e na liberdade para ele poder trabalhar.
Jaana Palojärvi
esteve em São Paulo nesta quinta-feira (23) para participar de um seminário
sobre o sistema de educação da Finlândia, no Colégio Rio Branco. A diretora do
ministério orgulha-se da imagem de seu país “tetracampeão” do Pisa. O ranking é
elaborado pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico
(OCDE), e aplicado a cada três anos com ênfase em uma área do
conhecimento. No último, em 2010, o Brasil ficou na 53ª colocação entre 65
países. Uma nova edição do Pisa será lançada em dezembro.
Na Finlândia a
educação é gratuita, inclusive no ensino superior. Só 2% das escolas são
particulares, mas são subsidiadas por fundos públicos e os estudantes não pagam
mensalidade. As crianças só entram na escola a partir dos 7 anos. Não há
escolas em tempo integral, pelo contrário, a jornada é curta, de 4 a 7 horas, e
os alunos não têm muita lição de casa. “Também temos menos dias letivos que os
demais países, acreditamos que quantidade não é qualidade”, diz Jaana.
A diretora
considera que o sistema finlandês de educação passou por duas grandes mudanças,
uma na década de 70 e outra em 90. A partir do início da década de 90, a
educação foi descentralizada, e os municípios, escolas e, principalmente, os
professores passaram a ter mais autonomia.
“Fé e confiança
têm papel fundamental no sistema finlandês. Descentralizamos, confiamos e damos
apoio, assim que o sistema funciona. O controle não motiva o professor a dar o
melhor de si. É simples, somos pragmáticos, gostamos de coisas simples.”
O governo também
não costuma inspecionar o ensino das 3.000 escolas que atendem 55.000
estudantes na educação básica. O material usado e o currículo são livres, por
isso podem variar muito de uma unidade para outra.
“Os professores
planejam as aulas, escolhem os métodos. Não há prova nacional, não acreditamos
em testes, estamos mais interessados na aprendizagem. Os professores têm muita
autonomia, mas precisam ser bem qualificados. Esta é uma profissão desejada na
Finlândia.”
Os docentes da
Finlândia ganham, em média, 3 mil euros por mês, em torno de R$ 8 mil reais,
considerado um salário “médio” para o país. Para conquistar a vaga é preciso
ter mestrado e passar por treinamento. O salário aumenta de acordo com o tempo
de casa do professor, mas não há bônus concedidos por mérito. A remuneração não
é considerada alta. “Em compensação, oferecemos ao professor um ambiente de
trabalho interessante.”
Jaana diz que a
educação na Finlândia faz parte de uma cultura, resultado de um trabalho longo,
porém, simples, mas evita dar lições ou conselhos a outras nações. “Temos
muitas diferenças em relação ao Brasil, que é enorme, somos um país pequeno de
5,5 milhões de habitantes. Na Finlândia não temos a figura do Estado, a relação
fica entre governo, município e escola. O sistema é muito diferente. A
Finlândia não quer dar conselhos, nós relutamos muito em relação a isso”,
afirma.
Mais do que o
bom resultado do país no Pisa, Jaana comemora a equidade entre as escolas –
também apontada pelo exame. “Para nós, é o mais importante. Queremos que as
escolas rurais localizadas nas florestas, ou do Norte que ficam sob a neve em
uma temperatura negativa de 25 graus, tenham o mesmo desempenho das da capital,
das áreas de elite. E (este desempenho) é bem semelhante.”
Entre todos os
países testados pelo Pisa, a Finlândia tem a menor disparidade entre as
escolas. O resultado tem explicação. Lá, os alunos mais fracos estão sob a mira
dos docentes. “Os professores não dedicam muita atenção aos bons alunos, e sim
aos fracos, não podemos perdê-los, temos de mantê-los no sistema.”
‘Tecnologia é
ferramenta, não conteúdo’
Tecnologia
também não é o forte das escolas finlandesas, que preferem investir em gente.
“Não gostamos muito de tecnologia, ela é só uma ferramenta, não é o conteúdo em
si. Tecnologia pode ser usada ou não, não é um fator chave para a
aprendizagem.”
A educação
básica dura nove anos. Só 2% dos estudantes repetem o ano, o índice de
conclusão é de 99,7%. O segredo do sucesso não está ligado ao investimento,
segundo Jaana, que reforça que o país investe apenas 6% de seu PIB no segmento.
“O sistema de educação gratuito não sai tão caro assim, é uma questão de
organização”, afirma.
A diretora do
ministério da Finlândia esteve na terça-feira (21) em uma audiência pública na
Comissão de Educação e Cultura do Senado, em Brasília, para apresentar o modelo
de educação do seus país aos parlamentares brasileiros.
Fonte:
g1.globo.br
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