Pensar em
neurociência e, basicamente, em neuroplasticidade (propriedade que todos os
sistemas neurais tem, de modificar-se dinamicamente na interação com o ambiente
– Lent, 2019, 15) é pensar no funcionamento do encéfalo ou mesmo pensar no
sistema nervoso sendo constantemente estimulado e tentando se adaptar a esses
estímulos sem trégua. Vamos pensar nessa tecnologia.
Diante das
mídias virtuais, nosso encéfalo teve suas engrenagens aceleradas. E aceleração
constante, em muitos casos, estabelece diferentes formas de memorizar, mas
também tipos de compulsão e/ou vício. Não são os jovens que não sabem viver sem
as mídias digitais; todos nós assimilamos sua funcionalidade, sua facilidade e
sua comodidade; e não sabemos mais viver sem elas.
A expressão do
corpo entre outros corpos; ou do corpo em diferentes territórios ao ar livre
foi reconfigurada; às vezes, fica lentificada; ou mesmo, é ignorada. Nós somos
viciados digitais: é prazeroso; é cômodo; não há perda de tempo; resolvemos
múltiplas situações; decidimos relações e relacionamentos; incluímos mais
trabalho; sentimos mais segurança; vivemos amores e amizades; etc. Nós nos
sentimos produtivos!
Nós somos
viciados digitais e... transtornados. Não podemos apontar dedos aos nossos
jovens. Segundo os mais velhos “quando o pequeno faz é porque o grande já fez”.
Ou seja, em uma leitura mais distorcida, somos O EXEMPLO do vício que apontamos
em nossos jovens. Então nesse caso, por que proibir seu uso na escola tão
radicalmente? Celulares e tablets são recursos! Eles são objetos da sociedade.
Todos nós os usamos o tempo todo, então por que proibir seu uso na escola tão
radicalmente?
A ênfase na
palavra ‘radicalmente’ significa que jovens não podem sequer pegar no celular
ou tablet porque serão apontados, olhados de mal jeito, repreendidos e até
estigmatizados. Há sim a lógica da construção dos limites, do respeito aos
espaços, da manutenção das relações mais físicas etc. Mas mesmo assim todos
estão sempre com celulares ou tablets em mãos. Por que não rever essa postura?
Por que não pensá-los como recursos pedagógicos? Por que não entender que o
mundo mudou e que TODOS nós somos viciados nessas mídias?
Em algumas
conversas, algumas impressões: talvez os profissionais da educação ainda não os
percebam como pedagógicos; ainda não os observem incluídos no desenvolvimento
de aulas e projetos; ainda temam seu uso fora de um contexto ou padrão; ainda
acreditem que serão eliminados (os profissionais) pelas suas presenças ou, de
acordo com cada personalidade, que possam responder processos por determinadas
posturas orais ou físicas.
Quando
reconhecemos que somos viciados digitais, nós, profissionais da educação,
devemos reconhecer que não há como eliminar tais objetos do dia a dia. No
século XXI, nós não sabemos mais viver sem essas mídias digitais; logo, em
diferentes setores, principalmente, na escola, devemos repensar conteúdos sendo
aprendidos com a participação destes objetos, valorizando o saber aprendente e
estimulando novos protagonismos. É uma forma de nós termos atenção focada, de
trabalharmos emoções positivas, de aguçarmos imaginação e criatividade, e de
convocarmos a amígdala (alerta) à sala de aula e às atividades propostas.
Celulares e tablets, em sala de aula (composição de atividades) tornam-se
fortes geradores da chamada “sensação de pertencimento” do aprendente, o que
favorece aprendizagens de forma significativa e o desenvolvimento intenso das
funções cognitivas e executivas.
Talvez, com essa
atitude / pensamento / estudo, os profissionais da educação possam minimizar,
por exemplo, a ascensão crescente das depressões relacionadas ao isolamento
tecnológico; do distúrbio da dependência da Internet (IAD) ou da chamada
‘Nomofobia’ (nome dado ao mal-estar ou ansiedade apresentado pelos sujeitos
quando não estão com seus celulares ou tablets), transtornos que desorganizam
as emoções e as cognições, transformando drasticamente o sistema nervoso.
Segundo vários
estudos americanos e ingleses, diante dessa situação, jovens tem, por exemplo,
sintomas de abstinência tal e qual os dependentes de drogas ou de jogos. Além
disso, na escola, quando focamos no aprendizado do adolescente, nós sabemos que
proibições aguçam a vontade de quebrar as regras e esta pode causar diferentes
prejuízos em âmbito escolar e pessoal. Desta feita, nós, profissionais da
educação, precisamos estudar bem nosso tempo tão tecnológico para influenciar
adequadamente os encéfalos aprendentes tão distraídos pelas múltiplas facilidades
das mídias e com muitas dificuldades para controlar o tempo de acesso e
imersão.
Pensar em
neurociência na escola é pensar em reajustes nas emoções, na qualidade das
cognições, no respeito aos contextos experienciados e, principalmente, nas
novas formas de se comporem relações mais empáticas e resilientes.
Pensar em
neurociência na escola é pensar mesmo em como seu aprendente aprende, mesmo
diante do excesso de tecnologia virtual.
Pense nisso e se
atualize!
Profª
Claudia Nunes (21.11.19)
Referência:
LENT, Roberto. O Cérebro Aprendiz:
neuroplasticidade e educação. Rio de Janeiro: Atheneu, 2019.
MEDICINA & BEM-ESTAR – Edição nº:
2289. 27.Set.13 - 20:50. Atualizado em 03.Out.13. 22:25.
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