sexta-feira, 10 de janeiro de 2020

Pensando em Neurociência: pensar tecnologia e sensação de pertencimento




Pensar em neurociência e, basicamente, em neuroplasticidade (propriedade que todos os sistemas neurais tem, de modificar-se dinamicamente na interação com o ambiente – Lent, 2019, 15) é pensar no funcionamento do encéfalo ou mesmo pensar no sistema nervoso sendo constantemente estimulado e tentando se adaptar a esses estímulos sem trégua. Vamos pensar nessa tecnologia.

Diante das mídias virtuais, nosso encéfalo teve suas engrenagens aceleradas. E aceleração constante, em muitos casos, estabelece diferentes formas de memorizar, mas também tipos de compulsão e/ou vício. Não são os jovens que não sabem viver sem as mídias digitais; todos nós assimilamos sua funcionalidade, sua facilidade e sua comodidade; e não sabemos mais viver sem elas.

A expressão do corpo entre outros corpos; ou do corpo em diferentes territórios ao ar livre foi reconfigurada; às vezes, fica lentificada; ou mesmo, é ignorada. Nós somos viciados digitais: é prazeroso; é cômodo; não há perda de tempo; resolvemos múltiplas situações; decidimos relações e relacionamentos; incluímos mais trabalho; sentimos mais segurança; vivemos amores e amizades; etc. Nós nos sentimos produtivos!

Nós somos viciados digitais e... transtornados. Não podemos apontar dedos aos nossos jovens. Segundo os mais velhos “quando o pequeno faz é porque o grande já fez”. Ou seja, em uma leitura mais distorcida, somos O EXEMPLO do vício que apontamos em nossos jovens. Então nesse caso, por que proibir seu uso na escola tão radicalmente? Celulares e tablets são recursos! Eles são objetos da sociedade. Todos nós os usamos o tempo todo, então por que proibir seu uso na escola tão radicalmente?

A ênfase na palavra ‘radicalmente’ significa que jovens não podem sequer pegar no celular ou tablet porque serão apontados, olhados de mal jeito, repreendidos e até estigmatizados. Há sim a lógica da construção dos limites, do respeito aos espaços, da manutenção das relações mais físicas etc. Mas mesmo assim todos estão sempre com celulares ou tablets em mãos. Por que não rever essa postura? Por que não pensá-los como recursos pedagógicos? Por que não entender que o mundo mudou e que TODOS nós somos viciados nessas mídias?

Em algumas conversas, algumas impressões: talvez os profissionais da educação ainda não os percebam como pedagógicos; ainda não os observem incluídos no desenvolvimento de aulas e projetos; ainda temam seu uso fora de um contexto ou padrão; ainda acreditem que serão eliminados (os profissionais) pelas suas presenças ou, de acordo com cada personalidade, que possam responder processos por determinadas posturas orais ou físicas.

Quando reconhecemos que somos viciados digitais, nós, profissionais da educação, devemos reconhecer que não há como eliminar tais objetos do dia a dia. No século XXI, nós não sabemos mais viver sem essas mídias digitais; logo, em diferentes setores, principalmente, na escola, devemos repensar conteúdos sendo aprendidos com a participação destes objetos, valorizando o saber aprendente e estimulando novos protagonismos. É uma forma de nós termos atenção focada, de trabalharmos emoções positivas, de aguçarmos imaginação e criatividade, e de convocarmos a amígdala (alerta) à sala de aula e às atividades propostas. Celulares e tablets, em sala de aula (composição de atividades) tornam-se fortes geradores da chamada “sensação de pertencimento” do aprendente, o que favorece aprendizagens de forma significativa e o desenvolvimento intenso das funções cognitivas e executivas.

Talvez, com essa atitude / pensamento / estudo, os profissionais da educação possam minimizar, por exemplo, a ascensão crescente das depressões relacionadas ao isolamento tecnológico; do distúrbio da dependência da Internet (IAD) ou da chamada ‘Nomofobia’ (nome dado ao mal-estar ou ansiedade apresentado pelos sujeitos quando não estão com seus celulares ou tablets), transtornos que desorganizam as emoções e as cognições, transformando drasticamente o sistema nervoso.

Segundo vários estudos americanos e ingleses, diante dessa situação, jovens tem, por exemplo, sintomas de abstinência tal e qual os dependentes de drogas ou de jogos. Além disso, na escola, quando focamos no aprendizado do adolescente, nós sabemos que proibições aguçam a vontade de quebrar as regras e esta pode causar diferentes prejuízos em âmbito escolar e pessoal. Desta feita, nós, profissionais da educação, precisamos estudar bem nosso tempo tão tecnológico para influenciar adequadamente os encéfalos aprendentes tão distraídos pelas múltiplas facilidades das mídias e com muitas dificuldades para controlar o tempo de acesso e imersão.

Pensar em neurociência na escola é pensar em reajustes nas emoções, na qualidade das cognições, no respeito aos contextos experienciados e, principalmente, nas novas formas de se comporem relações mais empáticas e resilientes.

Pensar em neurociência na escola é pensar mesmo em como seu aprendente aprende, mesmo diante do excesso de tecnologia virtual.

Pense nisso e se atualize!

Profª Claudia Nunes (21.11.19)

Referência:
LENT, Roberto. O Cérebro Aprendiz: neuroplasticidade e educação. Rio de Janeiro: Atheneu, 2019.
MEDICINA & BEM-ESTAR – Edição nº: 2289. 27.Set.13 - 20:50. Atualizado em 03.Out.13. 22:25.


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