quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

AH!... O AMOR, uma leitura

‘É preciso amar as pessoas como se não houvesse amanhã...’ Renato Russo

Ah!...o Amor, expressão que demonstra sempre uma melancolia, uma emoção, uma lembrança, um suspiro. Navalha na carne e na memória. Hoje fui ver o filme ‘Ah!... O Amor’ com uma amiga. Shopping super fino. Pessoas bonitas e cheirosas demais. No hall, a elegância de quem sabe bem usar o dinheiro com prazer. Ao redor, muitas histórias de amor. Rostos com marcas e cheiros do amor. Eu nada sabia sobre o filme e estava ali por amizade. Minha amiga entrou rapidamente na fila da pipoca. Ah!... a pipoca! O que seria de um cinema sem a pipoca! Em cena, emoções e amores de infância... e o gosto da pipoca. Na fila, cochichos sobre o filme, cabelos de mil formatos... e mais pipoca com guaraná. As pessoas estavam realmente ansiosas para ver o filme e eu surpresa comigo mesma porque me considero uma intensa cinéfila, mas nada sabia sobre a película. Como eu não sabia nada sobre um filme tão disputado? Problema de zona residencial talvez.

Bem, amigas armadas com bebidinhas e pipocas, nos acomodamos nas poltronas marcadas e aguardamos o início. Ah!... o beijo! Muitos beijos! O prazer invade a sala de projeção. Assim começa o filme. Casais de idades e em situações diferentes dentro da emoção dos muitos beijos sinceros. Ao olhar do espectador, um sorriso no canto dos lábios se insurge: é a memória e o tempo retornando. Em cada beijo, o início de tudo, o selo da vida feliz, a certeza de um encontro para sempre, a força necessária ao romantismo de vida inteira. A fantasia do amor está estampada nas imagens: tudo se resolve com um beijo! tudo se apaga com um beijo.

Após cinco minutos de filme, o tempo cinematográfico acelera e vemos outra realidade entre os mesmos casais. Todos, de alguma maneira, estão em rede e na rede de um amor já em crise. Ou seja, presentifica-se o amor questionável, o amor desilusão, o amor sem chance de ceder. Por quê? Após dois minutos da paixão, todos os casais estão em suas horas do amor + rotina. São casais amorosos em sofrimento. O amor não é mais só romântico e cheio de beijos, ele exige o estabelecimento de outros vínculos advindos do córtex, como responsabilidade, segurança, comprometimento, respeito e compreensão.

Casais casados, namorados, amantes sofrem com as novas emoções em boa parte do filme. Se o beijo sela o ‘para sempre’, é a realidade que amálgama a verdadeira conexão entre os parceiros. A paixão cria o casal, o amor cria os companheiros. A paixão é tesão, o amor é confiança. Mas há os ruídos da comunicação. Ou melhor, há o acontecimento de pequenos ruídos nas relações. Até onde se vê, não há como construir uma relação de amor sem eles. Ruídos são sinais de insatisfação, de desejos mal-resolvidos, de início do ‘ser-único’. Mas também são sinais do esclarecimento de quem é quem. É o momento de desvelamento das verdadeiras personalidades. O casal da cama começa a se transformar nas pessoas da casa. Cada uma começa a ter performances individuais diante da vida conjugal. Os ruídos tornam-se sinais do muito 'ver' e da falta do 'olhar', o que abre espaço para o aumento dos abismos sentimentais.

O roteiro do filme, neste momento, apresenta o desligamento amoroso em várias situações: um casal, diante de um juiz, parece não se suportar mais e não quer a guarda dos filhos; o juiz está numa crise de meia idade e com a mulher, logo, insatisfeito, sonha viver novos sentimentos; a filha do juiz precisa separar-se do namorado porque recebeu uma proposta de emprego na Nova Zelândia; o psicólogo do juiz tem uma vida cheia de sexo casual, porque nunca se desligou emocionalmente da esposa, apesar de anos de separação; a amiga da mulher do juiz prepara-se para se casar, mas descobre que o padre é o grande amor de quem se separou por imaturidade; e, por fim, a amiga desta amiga da mulher do juiz, volúvel, se separa de seu namorado porque, de repente, este muda seu comportamento na relação. Shakespeare escreveu ‘Assim é se lhe parece’. No cinema já vimos ‘Beleza americana’, ‘Simplesmente amor’ e ‘Sexo com amor?’. Daí poucas novidades na construção da trama.

Apesar disso, nesta comédia romântica, os ruídos situacionais geram torrentes de paixões que transformam as pessoas e as fazem revisitar suas ações e corações em busca de amor com paz e harmonia. O fluxo dos desejos a muito reprimidos tem sua oportunidade de exposição e todos se deparam consigo mesmos e a fragilidade dos próprios ruídos. O amor está no ar, mas não nos corações. As pessoas renovam seus votos com as solteirices, mesmo com dor porque precisam de renovações, precisam ser vistas, precisam ser escutadas, precisam experimentar sua própria potencia na vida, precisam se desamarrar. Não precisam de motivos fortes, apenas sentem que precisam 'reaprender a viver'. Como disse bem Arnaldo Jabour, ‘amor precisa de pensamento’ e muita imaginação. Neste processo, surge um grande erro, segundo Bauman (2004, p. 07), a tentativa da garantia da permanência. Isso não existe sem esforço, silêncios e algumas cessões. Não sendo assim, dificilmente é assim, os corações estão partidos.

Mas aí uma das coisas mais balsâmicas que existe na vida se revela: o tempo. Os antigos estavam certos: ‘o tempo é um santo remédio’. E eu digo: tempo e atividade são sublimes porta-vozes da conquista da auto-estima. Não há seres imunes ao amor, há seres tardios. Não há seres em sofrimento eterno, há seres orgulhosos. Não me lembro quem disse, mas uma coisa é certa: 'o sofrimento é opcional'. Entre a seleção de beijos e a seleção de corações partidos, no filme e na vida, o que se percebe é a rotina dos dias e a prepotência dos amantes com seus amores. Segundo Christopher Clulow, do Instituto Tavistock de Estudos Matrimoniais (apud Bauman, p.31), 'quando se sentem inseguros, os amantes tendem a se portar de modo não-construtivo, seja tentando agradar ou controlar, talvez até agredindo fisicamente - o que provavelmente afastará o outro ainda mais'. E isto leva a muitas confusões que se traduzem em risos nervosos ou grandes ansiedades.

A partir do momento que todos os ruídos são parcialmente apresentados, há o susto da morte. Uma morte. Um amante morto. Um ‘sem sentido’ irreparável. Deste clímax, o espectador começa a se repensar como um ser social que, vez por outra, ama incondicionalmente, comete erros, é desatento, é ciumento, é possessivo, é soberbo, é ‘amor demais’. Nestas lembranças, cenas dos seus muitos ruídos construídos ou não; cenas de suas relações congeladas e coaguladas (Bauman, p. 11) ou não. Risos tímidos e francos; corpos se mexendo ansiosos; pipocas sendo mastigadas com mais rapidez; exclamações de reconhecimento; tudo, dentro da sala escura, refletia um envolvimento sorrateiro, apesar de forte, com as imagens. Interessante. Transferências quase diretas às cenas vistas. E uma certeza: 'na balsa dos relacionamentos não há peças sobressalentes (Bauman, p. 31).

Enquanto as histórias iam se (re)conectando com diferentes soluções, os espectadores acalmavam seus sentidos de maneira terapêutica. O amor volta aos olhos; ganha ‘cama, comida e roupa lavada’; e se prepara para novas ilusões, novos egoísmos, novas tentativas, novo sexo, novas surpresas. ‘Cada qual é uma incógnita na equação do outro’, mas é preciso ‘abrir-se ao destino, a mais sublime de todas as condições humanas, em que o medo se funde ao regozijo num amálgama irreversível’ (Bauman, p. 21): o amor.

E no final, de novo, outros beijos e as insônias da paixão...

Referência:
BAUMAN, Zygmunt. Amor Líquido: sobre a fragilidade dos laços humanos. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2004.


Profa. Ms. Claudia

LOST e nossa humanidade

Não sei se há mesmo uma onda ‘Lost’, mas sei que milhares de pessoas em diferentes países aguardam o ‘grand finale’ desta série de televisão. O trabalho montado para atingir o imaginário dos telespectadores foi muito inteligente e partiu do princípio de que, em todos nós há um pouco de detetive e de medo, diante de um grande segredo ou de uma situação complexa. A atenção gira em torno das relações iniciadas numa ilha deserta, após um grave desastre aéreo e de quando seriam, por fim, resgatados. Dois grupos de passageiros são jogados em cada ponto da ilha e precisam sobreviver enquanto ‘o socorro não vem’. Tal e qual a história de Robinson Crusoé, na solidão de um lugar sem as regalias das cidades modernas, todos se vêem frente a frente com seus próprios medos e tendo que reorganizar seus cotidianos junto a desconhecidos, o mais rápido possível. Não é uma tarefa fácil até porque a ilha surge como outro personagem independente, cheia de mistérios, atividades e seres estranhos. Como a mente das pessoas é atingida diante de tal situação? Depois do susto, a realidade que se instaura destrói, aos poucos, conceitos, certezas e formas de vida anteriores. A questão maior é a sobrevivência de si e de todos. Semelhante a uma mudança radical de comportamento pessoal ou profissional que demande intensas superações por sobrevivência, o psiquismo dos sobreviventes acorda para um mundo, cuja manutenção de si mesmo deve ser ‘custe o que custar’. Os outros são os outros e por isso vêm depois, mas intensificada está o processo de adaptação. Levanta-se outra questão: é possível estabelecer novas conexões com o real, dentro de uma performance de ‘lobo solitário’ humano? Embora em certos momentos acreditemos que seja uma das melhores opções na vida, não se pode encarar a dinâmica social sem o Outro. Ainda que diante de uma situação de exceção, somos seres cuja combinação genética e interativa nos fez/faz respirar todos os dias em conjunto. Ou seja, o Outro é nosso outro ‘eu’, produtor de nossas maiores ponderações, equilíbrios e reflexões sobre a (nossa) vida, como transferência. É uma gripe social que necessita anestésicos, analgésicos, antibióticos e muitos banhos purificadores. Com este entendimento, mais do que respostas aos segredos da vida ou ao final de ‘Lost’, nos reinventamos por nossos questionamentos e dúvidas, cujo ponto de partida é o seguinte: ‘na dúvida, siga os instintos’ ou, como diria minha avó, ‘na dúvida, siga o coração’. Seria isso incentivar uma alucinação coletiva ou as benesses dos sonhos? Como em ‘Lost’, a expectativa é sobre o fim deles ou nossos. ‘Ainda que vaguemos pelo vale da sombra da morte’, nossas histórias têm um sentido que, entre diferentes rascunhos e roteiros, pode mudar constantemente, dependendo do quanto nos emocionarmos. A arena da realidade exige o tempo todo de seus personagens, inteligência, força, criatividade e muito amor, de forma que, em cada transformação interior ou inserção de um novo personagem, haja amarrações bem feitas nos sentimentos e pensamentos. Caso não seja esse o compromisso, a solução está no distanciamento ou na morte. ‘Lost’ ou ‘Perdidos’ recupera o ser humano em seus sigilos, sua honra, sua animalidade, sua candura e sua solidariedade porque não há mais os véus dos hábitos e/ou dos costumes. O desastre de avião é um desapego compulsório. Os reversos da vida são motores da (re)valorização do simples, belo e objetivo na vida. Diante do inusitado e da perda total de uma identidade espacial, e se rejeitadas estão suas formas de subterfúgio, ilusão, escape e defesa, o homem pode tornar-se o objeto da promessa de vida. Em tempos ‘inumanos’, a humanidade (e os personagens de ‘Lost’) é temperada com a dor da solidão e da restrição numérica. Será o futuro delineado por ‘Matrix’? Será a percepção da presença de outra dimensão real? Tanto em ‘Lost’ como no contexto atual do que melhor nos valemos é de nosso cérebro reptiliano (primitivo) cuja impulsividade e reatividade reafirmam nossa possibilidade de sobreviver na terra, apesar de qualquer coisa. Pode-se viver num castelo, mas este deve ser transpassado, vez por outra, por ventos arejadores e organizadores de idéias, decisões e emoções em prol também do Outro. Janelas e portas abertas para a aventura de viver e conviver, mesmo obrigados pelos ‘abracadabras’ da vida. Segundo William Irwin, em seu livro ‘Lost e a filosofia’, nossa dimensão tem o concurso dos opostos e deve priorizar:
L = Love;
O = origem;
S = sobrevivência;
T = transformação.


Profa. Ms. Claudia Nunes

terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

BRUXOS, VAMPIROS E AVATARES

"A tecnologia abre territórios fascinantes, e ameaça nos controlar: se pensarmos um pouco, sentiremos medo"

Cibernéticos e virtuais, nadamos num rio de novidades e nos consideramos moderníssimos. Um turbilhão de recursos trazidos pela ciência, pela tecnologia, nos atrai ou confunde. Se somos mais velhos, nos faz crer que jamais pegaremos esse bonde - embora ele seja para todos os que se dispuserem a nele subir, não necessariamente para ser campeões ou heróis.

A tecnologia abre territórios fascinantes, e ameaça nos controlar: se pensarmos um pouco, sentiremos medo. O que mais vem por aí, quanto podemos lidar com essas novidades, sem saber direito quais são as positivas, quanto servem para promover progresso ou para nos exterminar ao toque do botão de algum demente no poder? Exageradamente entregues a esses jogos cada dia inovados, vamos nos perder da nossa natureza real, o instinto? Viramos homens e mulheres pós-modernos, sem saber o que isso significa; somos cibernéticos, somos twitteiros e blogueiros, mas não passamos disso. E, se não formos muito equilibrados, vamos nos transformar em hackers, e o mundo que exploda.

Sobre a sensação de onipotência que esse mundo novo nos confere, lembro a história deliciosa do aborígine que, contratado para guiar o cientista carregado de instrumentos refinados, lhe disse: "Você e sua gente não são muito espertos, porque precisam de todas essas ferramentas simplesmente para andar no mato e observar os animais".

Não vamos regredir: a civilização anda segundo seu próprio arbítrio. Mas, como quase todas as coisas, seus produtos criam ambiguidade pelo excesso de aberturas e pelo receio diante do novo, que precisa ser domesticado, para se tornar nosso servo útil. As possibilidades do mundo virtual são quase infinitas. Sua sedução é intensa. Tão enganador quanto fascinante, no que tange à comunicação. Imenso, variado, assustador, rumoroso, ameaçador, e frio, porque impessoal. Nesse mundo difuso somos quase onipotentes, sem maior responsabilidade, pois cada ação nem sempre corresponde a uma consequência - e ainda podemos nos esconder no anonimato. Criam-se sérias questões morais e éticas não resolvidas nesse território: através da mesma ferramenta que nos abre universos e nos comunica com o outro, caluniamos e somos caluniados, ameaçamos e somos ameaçados, nos despersonalizamos, nos entregamos a atividades estranhas, algumas perversas; espiamos, espreitamos, maldizemos amigos e desconhecidos, odiamos celebridades, cortamos a cabeça de quem se destaca porque se torna objeto de inveja e ressentimento, escutamos mensagens sombrias e cumprimos, talvez, ordens sinistras.

Relacionamentos pessoais começam e terminam, bem ou mal, nesse campo virtual - não muito diferente do mundo dito real, dos bares, festas e trabalho, faculdade e escola. Para as crianças, esse universo extenso e invasivo pode ser uma grande escola, um mestre inesgotável, um salão de jogos divertido em que elas imediatamente se sentem à vontade, sem os limites dos adultos. Mas pode ser a estrada dos pedófilos, a alcova dos doentes, ou a passagem sobre o limite do natural e lúdico para o obsessivo e perverso.

Como quase tudo neste mundo nosso, duplo é o gume: comunicar-se é positivo, mas sinais feitos na sombra, sem verdadeiro nome nem rosto, podem acabar em fantasmáticas perseguições e males. Singularmente, mas de maneira muito significativa, enquanto estamos velozes e espertos no computador, criando mundos virtuais, e jogando jogos cada vez mais complexos, buscamos o nevoeiro desse anonimato e, na época das maiores inovações, curtimos voar com bruxos em suas vassouras, namorar vampiros e inventar avatares que vão de engraçados a sinistros.

Estimulante, múltiplo, tão rico, resta saber o que vamos fazer nesse novo mundo - ou o que ele vai fazer de nós. Quando soubermos, estaremos afixados nele como borboletas presas com alfinete debaixo da tampa de vidro ou vaga-lumes em potes de geleia vazios, naquelas noites de verão quando a infância era apenas aquela, inocente, que ainda espia sobre nossos ombros.

Lya Luft é escritora
VEJA.com - edição 2152 - 17/02/10

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

Jovens cérebros e estudo (em construção)

Jovens cérebros e o estudo, uma relação de amor e indiferença apontáveis em cada fase da cognição. Para transpor o Ensino Médio com poucos obstáculos, o mundo exige deles: planejamento quanto a preparação, adoção de uma disciplina de estudos, organização das atenções cotidianas, além de lidar com a pressão psicológica de todos. Ou seja, o mundo exige deles o que eles não são AINDA nos quesitos psiquismo, personalidade e processo cognitivo.

Segundo Carmem Zara, em entrevista à Folha Dirigida, “... A pressão psicológica é o inventário que se faz de um grande acontecimento”. Só que entre jovens cérebros e cérebros adultos ‘um grande acontecimento’ tem níveis diferentes de funcionamento e plasticidade ou, como afirma Relvas (2005, p.48), a “aprendizagem se distribui como conhecimento no cérebro de acordo [e dependendo] da carga emocional” a qual estiver exposto. E jovens cérebros, de acordo com o dito popular, “são emoção pura quase o tempo todo”.

No período do Ensino Médio, jovens cérebros são assolados de informações cuja função é criar ‘homens seguros’, integrados (e íntegros), críticos e, lógico, ‘profissionais de sucesso’, mas, na verdade, só acrescentam expectativas e ansiedades ‘inadministráveis’ aos seus cotidianos e às suas sinapses, “locais de comunicação entre os neurônios e a unidade elementar de armazenamento da memória, e onde ocorrem sínteses de proteína, trocas elétricas e ativação de genes que resultam na assimilação da informação” (RELVAS, 2005, p.49).

Neste processo, lembrando de Piaget, para tanta assimilação há de a ver o mesmo tanto de equilibração, senão não haverá o desenvolvimento da memória de longa duração, elemento básico para o pensamento analítico e/ou crítico, ou para absorção de conjuntos maiores de informação, já que, segundo Relvas (2005, p.49), a “memória é também a capacidade de planejamento, abstração, julgamento crítico e atenção”. Qualquer dificuldade nestas capacidades gera dificuldade de concentração, atenção e aprendizagem, cujo reflexo serão dispersão, indisciplina, aumento da violência, níveis de neglicência e fracasso escolar.

Há uma potencialização ‘ao cubo’ da capacidade de entender, interpretar e aprender dos jovens cérebros em nome da ‘conquista de um futuro’. Ou seja, se de um lado, estes jovens estão expostos ao imaginário social muito relacionado às inseguranças, incertezas e dependências anteriores ao seu nascimento e participação social e cultural; de outro, suas habilidades e competências individuais são descartadas / desvalorizadas no processo de estudos / aprendizagem.

Hoje em dia, jovens cérebros precisam de espaço, de conversa, de parceria. E parte disso, exige de seus responsáveis, ações de escuta, compreensão, escuta, alerta, escuta, disponibização, escuta, limite, escuta e confiança. As relações estão ainda mais hipertextualizadas porque muitos recursos humanos precisam interagir em sinergia no processo de construção da aprendizagem e da personalidade dos jovens cérebros. Seus responsáveis (familiares e educacionais) precisam encontrar outras formas de gerar um ambiente de segurança até mesmo para os seus deslizes, extremamente naturais. E como se incentiva o estudo? Resposta: com menos pressão e mais informação e diálogo. Em neurociência, a senha de produção do conhecimento está nas formas de estímulo, ou melhor, concentra-se nos tipos de estímulos que dentritos, neurônios e axônios recebem a cada nova experiência de aprender.

Jovens cérebros estão velozes em suas estratégias de raciocínio. Jovens cérebros têm sua plasticidade determinada por suas teias de imersões no ambiente virtual de diferentes maneiras. Jovens cérebros são velozes em seus “rearranjamentos neuronais formando outras tantas sinapses mais reforçadas e com múltiplas possibilidades de respostas ao ambiente” (RELVAS, 2005, p. 43). Logo cérebros adultos precisam olhá-los com calma e respeito, ao mesmo tempo em que devem desafiá-los a superar suas dificuldades. É um verdadeiro cerco às suas emoções mais pulsantes, sem denegri-las.

Anatomicamente falando, jovens cérebros estão crescendo e se transformando, logo é imprescindível aprender a se comunicar com ele. Suas necessidades nunca devem ser vistas como ‘menores’ ou ‘superficiais’. Fora alimentação e vestimentas, jovens cérebros precisam de amor, dedicação e estratégias diferentes de aproximação recursiva, como jogos, filmes, música, caminhadas, hobbys dentro outros, porque aprendem de forma diferente; porque privilegiam atividades diferentes e curiosas; porque anseiam por sanar suas próprias curiosidades; porque têm competência para o auto-gerenciamento cognitivo e social.

Segundo Carmem Zara, autora do livro ‘Como usar o cérebro para passar em provas e concursos’, “o cérebro tem seu limite: 40 minutos seguidos é o máximo de tempo em que ele recebe informações de forma concentrada. Depois deste tempo, é necessário um intervalo para envio das informações à memória”. Ou seja, jovens cérebros são ágeis, mas limitados em seu tempo de absorção de informações. A permanência da concentração e/ou atenção dependerá (e muito!) da estruturação dos processos mentais de cada um no momento do encontro, por exemplo, com os conteúdos disciplinares.

Mas o que fazer com a dispersão? Jovens cérebros ‘ideais’ não contam; conta o trabalho com jovens cérebros ‘reais’. Não se pode criar uma teoria em torno do ‘aluno ideal’, deve-se aceitar o ‘aluno atual’, um aluno seduzido pelas múltiplas informações dos múltiplos meios de comunicação. Saber o que quer, trabalhar com metas, identificar objetivos, saber o que quer, são coisas de cérebros adultos, pessoas maduras já com a experiência do fracasso e da superação em diferentes estâncias.

Jovens cérebros estão na efervescência das emoções e em busca da felicidade / recompensa completa HOJE. “Tudo ao mesmo tempo agora” é o que afirma o CD dos Titãs e é como a grande maioria dos jovens cérebros está vivendo / sentindo. Então como atender ao chamado do futuro e estudar ‘para ser alguém’? Jovens cérebros precisam de “situações desafiadoras e ambientes ‘complexos’, agradáveis e divertidos que forneçam capacidade extra (...) para reconfigurar-se” (RELVAS, 2005, p.47). Ou seja, jovens cérebros precisam concentração e relaxamento em igual medida.

De simples informação a conhecimento aprendido e preso na memória de longa duração, jovens cérebros precisam de horas de estudo e horas de descanso. É a emoção de aprender com a emoção de viver. Jovens cérebros cansados com uma única rotina enfadonha de estudos não aprendem, esquecem, dormem; mas quando jovens cérebros param, se levantam, ouvem música, fazem outras coisas, ‘arejam’ sua massa encefálica e a preparam às novas atividades cognitivas. É a ‘oxigenação’ cerebral através de ludicidade. Jovens cérebros dão intensidade aos seus hemisférios e todos os neurônios necessários à continuidade da aprendizagem quando as ações de suas memórias são reverberadas por diferentes estímulos.

“A memória é a reprodução mental das experiências captadas por meio de movimentos e dos sentidos. Essas representações são evocadas na hora de executar atividades, tomar decisões e resolver problemas na escola e na vida” (LIMA, Elvira, psicóloga e antropóloga, especialista em desenvolvimento humano; apud. RELVAS, 2005, p.49).

Enquanto isso, ao redor do jovem cérebro, ambiente facilitador deste processo. Sem isso o imaginário sobre o resultado do estudo ou mesmo o próprio estudo torna-se fluído, inconsistente e de curta duração.

Referências:

DECCACHE, Renato. Cérebro: o maior aliado dos vestibulandos. Entrevista dada ao jornal Folha Dirigida, Caderno Educação, pela especialista em neurolinguística e co-autora do livro ‘Como usar o cérebro para passar em provas e concursos’, Carmem Zara. Edição 30/07 a 05/08, capa, 2009.
RELVAS, Marta. Fundamentos Biológicos da Educação: despertanto inteligência e afetividade no processo de aprendizagem. Rio de Janeiro: WAK Ed. 2005.
______________. Neurociência e Educação: potencialidades dos gêneros humanos na sala de aula. Rio de Janeiro: WAK ed., 2009.

Profa. Ms. Claudia Nunes

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

Enfim UNIDOS DA TIJUCA!


Enfim UNIDOS DA TIJUCA! O ano de 2010 começa muito bem. Justiça! A cidade está feliz! Dirigentes de outras escolas podem até questionar ou ignorar Paulo Barros e sua mágica comissão de frente. Mas o Carnaval é feito de criatividade, alegria e um pouco de luxo. Pamplona deu o pontapé das mudanças. Joãozinho 30 jogou os destaques para o alto dos carros. Renato Lage e Rosa Magalhães e outros deram grandiosidade e luxos aos carros e às fantasias. E agora, Paulo Barros! Este é um segredo que ele vem contando a vários anos. Em segredo, revoluciona a magia dos desfiles. Depois de muitas tentativas que atingiram em cheio a tradição, retorna à sua casa tijucana e emociona o povo. Mais do que jurados ou pretensos entendidos de Carnaval, Paulo quer a alegria do povo e a felicidade das arquibancadas. Por isso a cidade só falava de Paulo Barros, sua comissão de frente, seu batmam voando, seu pavão vivo, sua biblioteca pegando fogo. Seu desfile continuou acontecendo magicamente dias após o desfile nas ruas, nos bares, nas casas. Este é o grande segredo de Paulo: alegria, criatividade e trabalho. Bastante entrosado com a escola, este título espana de vez qualquer desconfiança sobre ele e abre mais curiosidade sobre seus próprios carnavais. Só o Carnaval ganha com isso. E o público (re)acredita na seriedade dos julgamentos.

É SEGREDO - Samba de enredo UNIDOS DA TIJUCA 2010
(Julio Alves, Marcelo e Totonho)

Desvendar esse mistério
é caso sério, quem se arrisca a procurar
o desconhecido, no tempo perdido
aquele pergaminho milenar
são cinzas na poeira da memória
e brincam com a imaginação
unidos da tijuca, não é segredo eu amar você
decifrar, isso eu não sei dizer
são coisas do meu coração

Eu quero ver esse lugar
que o próprio tempo acabou de esquecer
meu deus, por onde vou procurar
será que alguém pode me responder

Quem some na multidão
esconde a sua verdade
imaginação, o herói jamais revela a identidade
será o mascarado
nesse bailado um folião?

A senha, o segredo da vida
a chave perdida é o “x” da questão
cuidado, o que se vê pode não ser... Será?
Ao entender é melhor revelar
no sonho do meu carnaval
pare pra pensar, vai se transformar
ou esconder até o final?

É segredo, não conto a ninguém
sou tijuca, vou além
o seu olhar, vou iludir
a tentação é descobrir

Sou uma portelense intensa!
Parabéns Tijuca!
A beleza e a justiça venceram!
Que venha 2011!

Profa. Ms. Claudia Nunes

É Carnaval: folia do cérebro

Novamente diante de todos máscaras e fantasias. Há uma alegria, uma animação e uma energia diferentes nos rostos e nos movimentos. É Carnaval! E de novo uma manifestação cultural que mexe com a neurociência. O que acontece com o cérebro neste tempo ‘momesco’?
Mar, povo, células, moléculas, tudo mexido! Os atabaques e surdos atraem as correntes sanguíneas e estimulam fortemente o sistema límbico. Há uma eletrificação generalizada na genética e milhares de corpos estão em expectativa e coloridos vagando pela cidade, porque a festa da carne traz uma ampla liberdade de ação das funções cerebrais e suas diferentes pulsões. Semanas antes, os preparativos já tornam as sinapses hiperativas. Mesmo aqueles que não enfrentam ‘momo’ pelas ruas da cidade e viajam para outras folias paradisíacas, ou entram em resguardo domiciliar para revitalizar seus dias seguintes, estão diferentes, animados e risonhos. Impulsos nervosos estão sem seus alinhavos naturais e o arlequim-DNA está desengonçado...

Casas, hotéis e pousadas parecem óvulos sendo atacados por espermatozóides em busca de transformação e irreverência muscular e respiratória. Mesmo no silêncio, o sentido da audição está alerta aos batuques do coração e aos blocos ao longe. O corpo é reação e impulso. Os celulares e os CDs tocam mais do que o normal e vibram faringes e laringes aos seus limites. As pessoas anseiam por liberdade de sentir, agir, ou mesmo, de se esconder, com a desculpa (e o estímulo) de que ‘mente e corpo precisam’ de outras mutações, neste momento.

Depois do Natal, o Carnaval é a outra festa da comunhão, dos encontros e das grandes aventuras que ficarão guardadas para sempre na memória. Há uma única certeza: o Carnaval e a idade são únicos. Lembranças de longa duração são assumidas como energéticos ao ano vindouro. Dopamina na veia! Adrenalina no sangue! O cérebro produz forte fluxo elétrico sem um enredo prévio. Os órgãos bombeiam alegorias e adereços celulares para dar vitalidade às infovias circulantes no corpo. No desfile molecular: muita ansiedade, sensibilidade e apreensão na harmonia e na evolução. São dias sem prisões, obediências e limites temporais. O tempo é de ir, não de chegar ou voltar.

Ainda assim, nos blocos e na vida, compromissos e responsabilidades sociais enormes. Ambos estão represados em cada dentrito sináptico causando forte pressão no hipotálamo. Neste caso, a rainha da bateria, a glândula hipófise (ou pituitária) - ‘mestra’ do organismo desfilante -, desencadeia diferentes jogos emocionais em torno de grandes alegorias ligadas às necessidades básicas do samba-enredo da sobrevivência corporal, cujos destaques são a sede, a fome ou o sexo. Os pré-foliões estão sujeitos às variadas doenças psicossomáticas (respiratórias, gastrointestinais, de pele e circulatórias), ao aumento dos níveis hormonais, além de alterações da pressão arterial e ritmo cardíaco. Se não entrar e sair, de forma previsível, dos recuos psíquicos e da avenida encefálica, esta bateria de eventos atravessará sua harmonia e o corpo entrará em pane.

Porém, no Carnaval, o corpo se defende se liberando (ou se libertando), se expondo e se encontrando com o bailado complexo de seu mestre-sala e porta-bandeira: tálamo e amígdala cerebral. No Carnaval, então há despressurização das veias e desconexão (além da ascensão) de um braço da tríade freudiana: o inconsciente. Este ‘braço’ ganha quase fisicidade tanta é a recompensa que o cérebro processa nos dias de folia.

Em parceria, a respiração fertiliza os sentidos e reposiciona os desejos diante da comissão de frente mais tradicional: as intermináveis regras sociais. Há um surrealismo na remodelação do cérebro diante do momento carnavalesco porque não há ajustes prévios, mas elevados níveis de açúcar. Como rebate o presidente desta escola cerebral, o cérebro reptiliano (primitivo), ‘é o sangue nas veias que falará mais alto’, logo a plasticidade da massa encefálica se apresentará como sua moenda purificadora.

Os hábitos aturdidos saem da concentração diária das repressões, negações e de diferentes formas de respeito, porque, de repente, têm tarefas múltiplas na rua, no bloco, no desfile, quanto ao prazer e à alegria de viver: pular, cantar, beijar, rir e amar em tempo integral. Culto ao corpo? Não! Culto à emoção revigorante de corpo e mente com novas composições mascaradas e multicelulares. E de novo, mais recompensa para o cérebro que canta: ‘É carnaval, oooo / o Rio abre as portas da folia / é tempo de cantar / mostrar ao mundo a nossa alegria...’.

Sem roteiros e nem mapas, ajustados são o neocórtex e o hipocampo às novas experiências e informações dirigidas às amígdalas cerebrais e ligadas aos sentidos. Prazer nos poros! Anatomicamente não há mudanças, mas fisiologicamente, o corpo treme quase desfalecendo. Sinapses sempre tão silenciosas, agora, têm vibrações em todo o corpo. Nada de Apolo, ‘hola’ para Dionísio, o deus das encrencas e dos prazeres irreverentes revividos apenas da quarta-feira de cinzas em diante...

Sem mais nem menos, o cérebro está em ginástica forte e estratégica porque o que se busca é prazer, alívio, agradabilidade, felicidade e vida. Culto à descompensação! Uma ala de neurotransmissores liderada pela dopamina, serotonina e adrenalina dá o tom desta forte plasticidade cerebral. Todas, em rede, dão complexidade às funções de órgãos como rins, fígado, coração e pâncreas. É um jorro de emoções / afetividades em toda parte das cidades-corpo. Cérebro repaginado! E nele, um hipocampo completamente liberal e estimulante. E nele, o reflexo de um sistema nervoso realmente nervoso... e feliz!

É o Carnaval! Os indivíduos se desmascaram e se disfarçam com as máscaras e as fantasias da nova vitalidade, o que aumenta as especializações dos hemisférios criando ligações indissociáveis no corpo caloso, na bainha de mielina e na memória. Os indivíduos aproveitam e aprimoram, como afirma Relvas, suas ‘ferramentas decisórias, na construção do conhecimento’, voltadas para realização de sinapses prazerosas que aliviem tensões e ‘tesões’ no/do dia-a-dia, e de maneira saudável e quase segura. Ave Baco! No ambiente de ‘momo’, atingido está o núcleo acumbente, no córtex frontal, com uma carga de dopamina intensa. É o abre-alas das seduções reais e imaginárias. Resultado? Sambódromo infestado com a invasão surpreendente de hiperativos cheios de emoções conscientes e pulsões nem tanto.

Essa malhação toda estimula mais conexões nervosas com um tempero que condimente e sustente os próximos 360 dias do ano. O cérebro, a memória e os sentidos ganham ‘química’ para lembrar e agir diante de informações e situações semelhantes que ocorrerão durante os dias do ano. A plasticidade cerebral aliada ao exercício físico (desfilar, acompanhar blocos, beijar na boca, amar, dirigir pela cidade etc) mantém o hipocampo (região do cérebro responsável pelas memórias novas), altamente seduzido e eletrizado, e inaugura movimentos mais flexíveis e versáteis às funções dos hemisférios cerebrais (fala e linguagem) e das funções motoras e sensitivas. São movimentos mais abertos e dispostos a viver ‘o show da vida’ e a ocupar todo o organismo, do esqueleto à pele. Mais do que 82 minutos de desfile, são quatro dias de intensa folia encefálica cujo sistema nervoso procura ‘encarar’ todos os seus jurados de frente e com muito prazer.

É o Carnaval! O cérebro está instável, o que, diante da aprendizagem e do desenvolvimento do conhecimento, gera respostas mais instintivas e estonteantes. Respirações aceleradas e moléculas de oxigênio alterando batimentos cardíacos e as habilidades cerebrais. Junto aos instintos, a vontade de experimentar em quatro ou cinco dias, sem depurações, somente o tálamo, sede do sistema límbico, responsável pelas emoções que são distribuídas em jorros pelo corpo, ganham cor nas amígdalas cerebrais e atingem o cérebro como euforia, entusiasmo e/ou felicidade. Não é hora do córtex pré-frontal e seus raciocínios. Com uma fantasia ou uma máscara, a atenção/razão está distraída dando vazão ao fluxo dos triglicerídeos, das baterias e do prazer mais livre.

Mas a composição cerebral tem uma carga genética prevenida (e preventiva). Esta promove ajustes ‘alertando’ uma série de sensores moleculares que ficam se reorganizando em todo momento para que o encéfalo se mantenha em estado de aparente estabilidade. Antes da Unidos da Tijuca, este é o grande segredo humano! Em ação, quesitos como conjunto, evolução, alegorias e adereços genéticos. Por conseguinte, dentro do corpo, gens saltadores e salteadores, compondo e recompondo a dinâmica dos pensamentos, da memória e da pulsação coronariana. Mesmo no Carnaval, cérebro e corpo não enlouquecem e nem entram em curto-circuito psíquico. Mesmo no Carnaval, mais do que fantasias, imaginários e volúpias, está em cena o genoma cerebral e seu trabalho de suporte de um nível extraordinário de mutações somáticas.

Ave Carnaval a todos!

Profa. Ms. Claudia Nunes

sábado, 13 de fevereiro de 2010

Olho direito de Horus: MINHA TATUAGEM

Olho de Hórus é um símbolo, proveniente do Egito Antigo, que significa proteção e poder, relacionado à divindade Hórus. Trata-se de um dos amuletos mais usados no Egito em todas as épocas.

Amuleto com o olho de Hórus, no Museu do Louvre, França.Segundo a lenda de Osíris, na sua vingança, Set arrancou o olho esquerdo de Hórus que foi substituído por este amuleto, que não o dava visão total então colocou também uma serpente sobre sua cabeça. Depois da sua recuperação, Horus pôde organizar novos combates que o levaram à vitória decisiva sobre Set.

O Olho de Hórus e a serpente simbolizavam poder real tanto que os faraós passaram a maquiar seus olhos como o Olho de Hórus e a usarem serpentes esculpidas na coroa. Os antigos acreditavam que este símbolo de indestrutibilidade poderia auxiliar no renascimento, em virtude de suas crenças sobre a alma. Este símbolo aparece no reverso do Grande selo dos Estados Unidos da América,sendo também um símbolo frequentemente usado e relacionado a Maçonaria.

O Olho Direito de Hórus representa a informação concreta, factual, controlada pelo hemisfério cerebral esquerdo. Ele lida com as palavras, letras, e os números, e com coisas que são descritíveis em termos de frases ou pensamentos completos. Ele aborda o universo de um modo masculino.

O Olho Esquerdo de Hórus representa a informação estética abstrata, controlada pelo hemisfério direito do cérebro. Lida com pensamentos e sentimentos e é responsável pela intuição. Ele aborda o universo de um modo feminino. Nós usamos o Olho Esquerdo, de orientação feminina, o lado direto do cérebro, para os sentimentos e a intuição.

Hoje em dia, o Olho de Horus adquiriu também outro significado e é usado para evitar o mal e espantar inveja (mau-olhado), mas continua com a idéia de trazer proteção, vigor e saúde.

copiado por Claudia Nunes

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

E a Natureza se insurge... e aí?

Primeiras horas do ano: desaparecem dezenas de pessoas em Angra dos Reis. Os dias de janeiro transcorrem: São Paulo é quase uma Atlântida. Outras dezenas de pessoas desaparecem sob a chuva ininterrupta. Santa Catarina é matéria antiga: chuvas de novo. Quase nos dias de Momo, o Haiti treme e cai. O mundo é informado que quase 200 mil pessoas foram abocanhadas pela Terra. Em torno do mundo, lembranças de uma Tsunami e todos se perguntam por quê? Ontem fui ver o show ‘Forças da Natureza’ na Cidade do Samba e a resposta era óbvia: forças da natureza em convulsão. A comparação não é irônica, é a verdade! Pela força humana, o paraíso terrestre se insurge por todo canto porque chegou aos seus limites, diante de tantas transgressões, destruições, invasões e, principalmente, desconsiderações da ‘inteligência’ humana. Desde menina escuto alertas sobre camada de ozônio, calotas polares, mata atlântica, mas, pelo jeito, foram ‘favas contadas’. Em diversos pontos do mundo, grupos de políticos se encontram para discutir o equilíbrio ambiental, econômico e social dos países ‘menos desenvolvidos’, para quê? Ninguém se compromete. Todos se escondem. Jogos de interesse. Quem dá mais? – gritará um leiloeiro. Vive-se ‘de favor’ em meio à Natureza, mas não se colabora para mantê-la. E aí a Natureza entra em convulsão e se revolta. Bem feito! Desculpe, leitor, mas bem feito mesmo! Não digo, ‘graças a Deus’, porque não devemos mencionar seu ‘santo nome em vão’, além do que alguém pode se incomodar. Mas se pensarmos claramente, fora o homem, alguém tem que levar a culpa por tantas vilezas, egoísmos e despudores. Que tal Deus? Não somos sua imagem e semelhança? Não sei... Ah, esqueci, em tempos de Avatar, podemos ter outro culpado: Pandora! Oh mulher danada! Ironias à parte, o homem não pode mais se esconder atrás de quem quer que seja! Nesta secular novela 'bufa', ele (o homem, nós) é o vilão mesmo! Ao analisar os acontecimentos de 2010 relacionados com o clima e a temperatura, é lógico que, em algum momento, o comportamento desregrado e sorrateiro do homem tinha que se deparar com certas conseqüências e estas bem radicais. 'Tem gente que só aprender na dor' - dizia minha avó. será verdade? Será que aprenderemos algo, por exemplo, com esse maçarico dos deuses em cima de nós nestes dias aqui no Rio de Janeiro? Toda repressão quando exagerada tem um confronto devastador. E a Natureza é bipolar, ou se apresenta parceira do prazer humano quando bem utilizada, ou investe na morte humana aleatoriamente. Ao diminuir, de hora para outra, o número de humanos, a Natureza acredita que diminui seus machucados e feridas (sua dor). Mas a Natureza pensa? Em literatura tudo é possível: é a chamada ‘personificação’. E há uma lógica nisso, né? Leitor, não sou fria, não desejo a morte, senti muito a perda de tantas pessoas 'inocentes', mas a alegação de Bin Laden para os ataques de 11 de setembro foi VINGANÇA após tantos anos de massacre americano. E aí? É possível a mesma leitura vinda desses 'revides' da Natureza? 'É preciso deixar o coração no armário' - diz minha mãe - e ler o tempo atual como consequencia de nossos atos. Neste nível de observação, podemos ter salvação. Em vários dias a sensação térmica em Copacabana foi de 50°. A umidade é alta demais. Não suamos. Já imaginou Bangu? E pasme, vai ficar pior. As atitudes necessárias para um início de reversão desse processo 'vingativo' são realizadas com enorme lentidão. Obesos, diabéticos, sedentários, alérgicos serão os primeiros corpos ceifados da Terra daqui a algum tempo. Darwin tem toda razão: só os fortes se manterão... e eu complemento: 'os fortes se manterão'... por um pouco mais tempo e só. No fim, o início. Como diz Guimarães Rosa, ao iniciar seu livro "Grande Sertão: Veredas', no fim, NONADA. Sente-se na pele nossa falta de caráter diante da morte lenta da Natureza, e isto será nossa herança, ainda que sejamos orgulhosos de nossas tecnologias e criatividade. Lamento leitor, mas bem feito para nós! Diante da evolução do conhecimento em tantas áreas, não temos mais defesa a vários séculos. Gerações inteiras de usufruto da Natureza sem organização, administração e previsão de futuro para nós mesmos diante de nossas necessidades básicas como ar, água, alimento e até luz. Gerações inteiras como ‘primas-dona’ leoninas do meio ambiente sem preocupação minima com o conjunto da ópera (ou da obra). Alguns dirão: ‘era preciso sobreviver, evoluir, desenvolver’. Uff! Certo, tudo certo, mas hoje se tem uma idéia do custo que isto teve/tem no meio ambiente. E aí? Nas duas ou três últimas gerações observa-se uma ‘grita’ generalizada nos diferentes meios de comunicação, grupos de estudos e nas etapas de diversos projetos sobre os efeitos das exageradas intervenções humanas na Natureza. Mas 'grita', sem efetivação, é loucura! Resultado final: camisa de força, surpresa e desaparecimento. E aí? Não adianta ficar sentado e cobrar ações, se ainda se joga papel no chão, lixo no lago ou material químico no mar. Sonho com a idéia de colaboração e solidariedade, mínimas, para a recomposição de parte do que fizemos. E ai, fiquei louca? A Natureza aguarda ‘medicamentos’, mas por enquanto, a estratégia de guerrilha dela é perfeita! Aprendamos!

Profa. Ms. Claudia Nunes

terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

MEIO-TERMO

Este ano vai ser diferente. Princípio de um novo ano todo mundo se diz ‘este ano vai ser diferente’. Minha amiga não fugiu a regra. Seus objetivos de estudos foram alcançados. E o novo ano realmente é um ilustre desconhecido. Não há coisas pela metade para finalizar, a não ser algumas dívidas. Fora trabalhar, ela não tinha mais outras atividades. Então: reeducação alimentar? Hidroginástica? Atualizar o inglês? Viver outro grande amor? Ela não sabe. Hoje ela pode tudo. Está animada. Esvaziou armários. Rasgou milhares de papéis e textos antigos. Doou livros. Organizou arquivos no computador. Apagou centenas de e-mails. Novo ano mesmo! Uma renovação real e colorida. Energias outras pelo ar. Por fim incenso na casa. Minha amiga respira seu imaginário e pensa em apostas. Quer apostar em si, num outro ‘si’, só para variar. Mas ela ainda não experimentou o espelho. Está se preparando, mas nada ainda. Espelho inverte demais! Espelho é verdade demais! Ele está coberto... Espelho é a caixa de Pandora do feminino. Nele estão tachados: vulnerabilidade, afetividade, negações, temores e inexperiências. Minha amiga se incomoda com isso. Amigos são muitos, eventos semanais, atividades diárias, mas a emoção ainda não é recordação. Com um aerosol perfuma a casa. Sente que exagerou, mas é a vida. Os dias passam. Surgem os primeiros convites e propostas de trabalho. O mundo da minha amiga se ampliou pelos vazios. Ela pode mais. Não há receitas milagrosas. Não se pode acreditar em sacrifícios irreais. E há momentos de franqueza. Minha amiga vai juntar novos papéis inúteis, vai comprar novas roupas que não usará, vai sair da dieta sem culpa etc. E aí nova decisão: o meio-termo. Ações que ficam entre o ideal e o impossível de proporcionar prazer e a alegria são o meio-termo. Depois de tudo limpo, minha amiga lembra de Roberto da Matta e vai à rua. A muito tempo não andava pelo bairro e precisava se sentir parte daquele mundo de novo. ‘Nossa, como o supermercado está amplo!’. Padaria, jornaleiro, locadora, dentista, farmácia, papelaria, pastelaria, como tudo mudou! E as lembranças da infância são fortes. Ao se propor mudar, é a determinação que alonga o traçado de vida de uma pessoa. Há medicamentos para muitas coisas hoje, mas nada supera o poder da vontade. Minha amiga está (re)visitando seu interior, rompendo com a mesmice dos dias e indo ao encontro do que possa sobressair na pele, no olho e na boca. ‘Sua viçosidade será conquistada pelo desejo’ – acredita ela -, aliado a crença numa expressão popularizada ‘só por hoje!’. No mundo do meio-termo, cada ‘sim’ é sucesso. Na virada do ano, minha amiga superou-se em gradações. Minha amiga está no ‘meio-termo’, em equilíbrio, sem agonias existenciais. E o Espelho? Ainda coberto, mas incomodando. Sua limpeza regular é feita por outra pessoa. Depois de horas de dispensa, o espelho cresceu. Domingo de madrugada. Insone, minha amiga atravessa sala e quarto. Busca a varanda, busca ar. Na passagem, tropeça e cai por cima do espelho. Queda e vertigem. Não há apoio. Tudo vai ao chão. Minha amiga e espelho espatifados. Um caco alcança seu braço. Dói, dói demais. Corajosa, arranca o caco e grita intensamente. De dentro do caco, um olho vivo e desconhecido lhe olha. Na garganta, presa, uma pergunta: QUEM É ESSA?

Profa. Ms. Claudia Nunes

Nada nunca é igual

  Nada nunca é igual   Enquanto os dias passam, eu reflito: nada nunca é igual. Não existe repetição. Não precisa haver morte ou decepçã...