Novamente diante de todos máscaras e fantasias. Há uma alegria, uma animação e uma energia diferentes nos rostos e nos movimentos. É Carnaval! E de novo uma manifestação cultural que mexe com a neurociência. O que acontece com o cérebro neste tempo ‘momesco’?
Mar, povo, células, moléculas, tudo mexido! Os atabaques e surdos atraem as correntes sanguíneas e estimulam fortemente o sistema límbico. Há uma eletrificação generalizada na genética e milhares de corpos estão em expectativa e coloridos vagando pela cidade, porque a festa da carne traz uma ampla liberdade de ação das funções cerebrais e suas diferentes pulsões. Semanas antes, os preparativos já tornam as sinapses hiperativas. Mesmo aqueles que não enfrentam ‘momo’ pelas ruas da cidade e viajam para outras folias paradisíacas, ou entram em resguardo domiciliar para revitalizar seus dias seguintes, estão diferentes, animados e risonhos. Impulsos nervosos estão sem seus alinhavos naturais e o arlequim-DNA está desengonçado...
Casas, hotéis e pousadas parecem óvulos sendo atacados por espermatozóides em busca de transformação e irreverência muscular e respiratória. Mesmo no silêncio, o sentido da audição está alerta aos batuques do coração e aos blocos ao longe. O corpo é reação e impulso. Os celulares e os CDs tocam mais do que o normal e vibram faringes e laringes aos seus limites. As pessoas anseiam por liberdade de sentir, agir, ou mesmo, de se esconder, com a desculpa (e o estímulo) de que ‘mente e corpo precisam’ de outras mutações, neste momento.
Depois do Natal, o Carnaval é a outra festa da comunhão, dos encontros e das grandes aventuras que ficarão guardadas para sempre na memória. Há uma única certeza: o Carnaval e a idade são únicos. Lembranças de longa duração são assumidas como energéticos ao ano vindouro. Dopamina na veia! Adrenalina no sangue! O cérebro produz forte fluxo elétrico sem um enredo prévio. Os órgãos bombeiam alegorias e adereços celulares para dar vitalidade às infovias circulantes no corpo. No desfile molecular: muita ansiedade, sensibilidade e apreensão na harmonia e na evolução. São dias sem prisões, obediências e limites temporais. O tempo é de ir, não de chegar ou voltar.
Ainda assim, nos blocos e na vida, compromissos e responsabilidades sociais enormes. Ambos estão represados em cada dentrito sináptico causando forte pressão no hipotálamo. Neste caso, a rainha da bateria, a glândula hipófise (ou pituitária) - ‘mestra’ do organismo desfilante -, desencadeia diferentes jogos emocionais em torno de grandes alegorias ligadas às necessidades básicas do samba-enredo da sobrevivência corporal, cujos destaques são a sede, a fome ou o sexo. Os pré-foliões estão sujeitos às variadas doenças psicossomáticas (respiratórias, gastrointestinais, de pele e circulatórias), ao aumento dos níveis hormonais, além de alterações da pressão arterial e ritmo cardíaco. Se não entrar e sair, de forma previsível, dos recuos psíquicos e da avenida encefálica, esta bateria de eventos atravessará sua harmonia e o corpo entrará em pane.
Porém, no Carnaval, o corpo se defende se liberando (ou se libertando), se expondo e se encontrando com o bailado complexo de seu mestre-sala e porta-bandeira: tálamo e amígdala cerebral. No Carnaval, então há despressurização das veias e desconexão (além da ascensão) de um braço da tríade freudiana: o inconsciente. Este ‘braço’ ganha quase fisicidade tanta é a recompensa que o cérebro processa nos dias de folia.
Em parceria, a respiração fertiliza os sentidos e reposiciona os desejos diante da comissão de frente mais tradicional: as intermináveis regras sociais. Há um surrealismo na remodelação do cérebro diante do momento carnavalesco porque não há ajustes prévios, mas elevados níveis de açúcar. Como rebate o presidente desta escola cerebral, o cérebro reptiliano (primitivo), ‘é o sangue nas veias que falará mais alto’, logo a plasticidade da massa encefálica se apresentará como sua moenda purificadora.
Os hábitos aturdidos saem da concentração diária das repressões, negações e de diferentes formas de respeito, porque, de repente, têm tarefas múltiplas na rua, no bloco, no desfile, quanto ao prazer e à alegria de viver: pular, cantar, beijar, rir e amar em tempo integral. Culto ao corpo? Não! Culto à emoção revigorante de corpo e mente com novas composições mascaradas e multicelulares. E de novo, mais recompensa para o cérebro que canta: ‘É carnaval, oooo / o Rio abre as portas da folia / é tempo de cantar / mostrar ao mundo a nossa alegria...’.
Sem roteiros e nem mapas, ajustados são o neocórtex e o hipocampo às novas experiências e informações dirigidas às amígdalas cerebrais e ligadas aos sentidos. Prazer nos poros! Anatomicamente não há mudanças, mas fisiologicamente, o corpo treme quase desfalecendo. Sinapses sempre tão silenciosas, agora, têm vibrações em todo o corpo. Nada de Apolo, ‘hola’ para Dionísio, o deus das encrencas e dos prazeres irreverentes revividos apenas da quarta-feira de cinzas em diante...
Sem mais nem menos, o cérebro está em ginástica forte e estratégica porque o que se busca é prazer, alívio, agradabilidade, felicidade e vida. Culto à descompensação! Uma ala de neurotransmissores liderada pela dopamina, serotonina e adrenalina dá o tom desta forte plasticidade cerebral. Todas, em rede, dão complexidade às funções de órgãos como rins, fígado, coração e pâncreas. É um jorro de emoções / afetividades em toda parte das cidades-corpo. Cérebro repaginado! E nele, um hipocampo completamente liberal e estimulante. E nele, o reflexo de um sistema nervoso realmente nervoso... e feliz!
É o Carnaval! Os indivíduos se desmascaram e se disfarçam com as máscaras e as fantasias da nova vitalidade, o que aumenta as especializações dos hemisférios criando ligações indissociáveis no corpo caloso, na bainha de mielina e na memória. Os indivíduos aproveitam e aprimoram, como afirma Relvas, suas ‘ferramentas decisórias, na construção do conhecimento’, voltadas para realização de sinapses prazerosas que aliviem tensões e ‘tesões’ no/do dia-a-dia, e de maneira saudável e quase segura. Ave Baco! No ambiente de ‘momo’, atingido está o núcleo acumbente, no córtex frontal, com uma carga de dopamina intensa. É o abre-alas das seduções reais e imaginárias. Resultado? Sambódromo infestado com a invasão surpreendente de hiperativos cheios de emoções conscientes e pulsões nem tanto.
Essa malhação toda estimula mais conexões nervosas com um tempero que condimente e sustente os próximos 360 dias do ano. O cérebro, a memória e os sentidos ganham ‘química’ para lembrar e agir diante de informações e situações semelhantes que ocorrerão durante os dias do ano. A plasticidade cerebral aliada ao exercício físico (desfilar, acompanhar blocos, beijar na boca, amar, dirigir pela cidade etc) mantém o hipocampo (região do cérebro responsável pelas memórias novas), altamente seduzido e eletrizado, e inaugura movimentos mais flexíveis e versáteis às funções dos hemisférios cerebrais (fala e linguagem) e das funções motoras e sensitivas. São movimentos mais abertos e dispostos a viver ‘o show da vida’ e a ocupar todo o organismo, do esqueleto à pele. Mais do que 82 minutos de desfile, são quatro dias de intensa folia encefálica cujo sistema nervoso procura ‘encarar’ todos os seus jurados de frente e com muito prazer.
É o Carnaval! O cérebro está instável, o que, diante da aprendizagem e do desenvolvimento do conhecimento, gera respostas mais instintivas e estonteantes. Respirações aceleradas e moléculas de oxigênio alterando batimentos cardíacos e as habilidades cerebrais. Junto aos instintos, a vontade de experimentar em quatro ou cinco dias, sem depurações, somente o tálamo, sede do sistema límbico, responsável pelas emoções que são distribuídas em jorros pelo corpo, ganham cor nas amígdalas cerebrais e atingem o cérebro como euforia, entusiasmo e/ou felicidade. Não é hora do córtex pré-frontal e seus raciocínios. Com uma fantasia ou uma máscara, a atenção/razão está distraída dando vazão ao fluxo dos triglicerídeos, das baterias e do prazer mais livre.
Mas a composição cerebral tem uma carga genética prevenida (e preventiva). Esta promove ajustes ‘alertando’ uma série de sensores moleculares que ficam se reorganizando em todo momento para que o encéfalo se mantenha em estado de aparente estabilidade. Antes da Unidos da Tijuca, este é o grande segredo humano! Em ação, quesitos como conjunto, evolução, alegorias e adereços genéticos. Por conseguinte, dentro do corpo, gens saltadores e salteadores, compondo e recompondo a dinâmica dos pensamentos, da memória e da pulsação coronariana. Mesmo no Carnaval, cérebro e corpo não enlouquecem e nem entram em curto-circuito psíquico. Mesmo no Carnaval, mais do que fantasias, imaginários e volúpias, está em cena o genoma cerebral e seu trabalho de suporte de um nível extraordinário de mutações somáticas.
Ave Carnaval a todos!
Profa. Ms. Claudia Nunes
Casas, hotéis e pousadas parecem óvulos sendo atacados por espermatozóides em busca de transformação e irreverência muscular e respiratória. Mesmo no silêncio, o sentido da audição está alerta aos batuques do coração e aos blocos ao longe. O corpo é reação e impulso. Os celulares e os CDs tocam mais do que o normal e vibram faringes e laringes aos seus limites. As pessoas anseiam por liberdade de sentir, agir, ou mesmo, de se esconder, com a desculpa (e o estímulo) de que ‘mente e corpo precisam’ de outras mutações, neste momento.
Depois do Natal, o Carnaval é a outra festa da comunhão, dos encontros e das grandes aventuras que ficarão guardadas para sempre na memória. Há uma única certeza: o Carnaval e a idade são únicos. Lembranças de longa duração são assumidas como energéticos ao ano vindouro. Dopamina na veia! Adrenalina no sangue! O cérebro produz forte fluxo elétrico sem um enredo prévio. Os órgãos bombeiam alegorias e adereços celulares para dar vitalidade às infovias circulantes no corpo. No desfile molecular: muita ansiedade, sensibilidade e apreensão na harmonia e na evolução. São dias sem prisões, obediências e limites temporais. O tempo é de ir, não de chegar ou voltar.
Ainda assim, nos blocos e na vida, compromissos e responsabilidades sociais enormes. Ambos estão represados em cada dentrito sináptico causando forte pressão no hipotálamo. Neste caso, a rainha da bateria, a glândula hipófise (ou pituitária) - ‘mestra’ do organismo desfilante -, desencadeia diferentes jogos emocionais em torno de grandes alegorias ligadas às necessidades básicas do samba-enredo da sobrevivência corporal, cujos destaques são a sede, a fome ou o sexo. Os pré-foliões estão sujeitos às variadas doenças psicossomáticas (respiratórias, gastrointestinais, de pele e circulatórias), ao aumento dos níveis hormonais, além de alterações da pressão arterial e ritmo cardíaco. Se não entrar e sair, de forma previsível, dos recuos psíquicos e da avenida encefálica, esta bateria de eventos atravessará sua harmonia e o corpo entrará em pane.
Porém, no Carnaval, o corpo se defende se liberando (ou se libertando), se expondo e se encontrando com o bailado complexo de seu mestre-sala e porta-bandeira: tálamo e amígdala cerebral. No Carnaval, então há despressurização das veias e desconexão (além da ascensão) de um braço da tríade freudiana: o inconsciente. Este ‘braço’ ganha quase fisicidade tanta é a recompensa que o cérebro processa nos dias de folia.
Em parceria, a respiração fertiliza os sentidos e reposiciona os desejos diante da comissão de frente mais tradicional: as intermináveis regras sociais. Há um surrealismo na remodelação do cérebro diante do momento carnavalesco porque não há ajustes prévios, mas elevados níveis de açúcar. Como rebate o presidente desta escola cerebral, o cérebro reptiliano (primitivo), ‘é o sangue nas veias que falará mais alto’, logo a plasticidade da massa encefálica se apresentará como sua moenda purificadora.
Os hábitos aturdidos saem da concentração diária das repressões, negações e de diferentes formas de respeito, porque, de repente, têm tarefas múltiplas na rua, no bloco, no desfile, quanto ao prazer e à alegria de viver: pular, cantar, beijar, rir e amar em tempo integral. Culto ao corpo? Não! Culto à emoção revigorante de corpo e mente com novas composições mascaradas e multicelulares. E de novo, mais recompensa para o cérebro que canta: ‘É carnaval, oooo / o Rio abre as portas da folia / é tempo de cantar / mostrar ao mundo a nossa alegria...’.
Sem roteiros e nem mapas, ajustados são o neocórtex e o hipocampo às novas experiências e informações dirigidas às amígdalas cerebrais e ligadas aos sentidos. Prazer nos poros! Anatomicamente não há mudanças, mas fisiologicamente, o corpo treme quase desfalecendo. Sinapses sempre tão silenciosas, agora, têm vibrações em todo o corpo. Nada de Apolo, ‘hola’ para Dionísio, o deus das encrencas e dos prazeres irreverentes revividos apenas da quarta-feira de cinzas em diante...
Sem mais nem menos, o cérebro está em ginástica forte e estratégica porque o que se busca é prazer, alívio, agradabilidade, felicidade e vida. Culto à descompensação! Uma ala de neurotransmissores liderada pela dopamina, serotonina e adrenalina dá o tom desta forte plasticidade cerebral. Todas, em rede, dão complexidade às funções de órgãos como rins, fígado, coração e pâncreas. É um jorro de emoções / afetividades em toda parte das cidades-corpo. Cérebro repaginado! E nele, um hipocampo completamente liberal e estimulante. E nele, o reflexo de um sistema nervoso realmente nervoso... e feliz!
É o Carnaval! Os indivíduos se desmascaram e se disfarçam com as máscaras e as fantasias da nova vitalidade, o que aumenta as especializações dos hemisférios criando ligações indissociáveis no corpo caloso, na bainha de mielina e na memória. Os indivíduos aproveitam e aprimoram, como afirma Relvas, suas ‘ferramentas decisórias, na construção do conhecimento’, voltadas para realização de sinapses prazerosas que aliviem tensões e ‘tesões’ no/do dia-a-dia, e de maneira saudável e quase segura. Ave Baco! No ambiente de ‘momo’, atingido está o núcleo acumbente, no córtex frontal, com uma carga de dopamina intensa. É o abre-alas das seduções reais e imaginárias. Resultado? Sambódromo infestado com a invasão surpreendente de hiperativos cheios de emoções conscientes e pulsões nem tanto.
Essa malhação toda estimula mais conexões nervosas com um tempero que condimente e sustente os próximos 360 dias do ano. O cérebro, a memória e os sentidos ganham ‘química’ para lembrar e agir diante de informações e situações semelhantes que ocorrerão durante os dias do ano. A plasticidade cerebral aliada ao exercício físico (desfilar, acompanhar blocos, beijar na boca, amar, dirigir pela cidade etc) mantém o hipocampo (região do cérebro responsável pelas memórias novas), altamente seduzido e eletrizado, e inaugura movimentos mais flexíveis e versáteis às funções dos hemisférios cerebrais (fala e linguagem) e das funções motoras e sensitivas. São movimentos mais abertos e dispostos a viver ‘o show da vida’ e a ocupar todo o organismo, do esqueleto à pele. Mais do que 82 minutos de desfile, são quatro dias de intensa folia encefálica cujo sistema nervoso procura ‘encarar’ todos os seus jurados de frente e com muito prazer.
É o Carnaval! O cérebro está instável, o que, diante da aprendizagem e do desenvolvimento do conhecimento, gera respostas mais instintivas e estonteantes. Respirações aceleradas e moléculas de oxigênio alterando batimentos cardíacos e as habilidades cerebrais. Junto aos instintos, a vontade de experimentar em quatro ou cinco dias, sem depurações, somente o tálamo, sede do sistema límbico, responsável pelas emoções que são distribuídas em jorros pelo corpo, ganham cor nas amígdalas cerebrais e atingem o cérebro como euforia, entusiasmo e/ou felicidade. Não é hora do córtex pré-frontal e seus raciocínios. Com uma fantasia ou uma máscara, a atenção/razão está distraída dando vazão ao fluxo dos triglicerídeos, das baterias e do prazer mais livre.
Mas a composição cerebral tem uma carga genética prevenida (e preventiva). Esta promove ajustes ‘alertando’ uma série de sensores moleculares que ficam se reorganizando em todo momento para que o encéfalo se mantenha em estado de aparente estabilidade. Antes da Unidos da Tijuca, este é o grande segredo humano! Em ação, quesitos como conjunto, evolução, alegorias e adereços genéticos. Por conseguinte, dentro do corpo, gens saltadores e salteadores, compondo e recompondo a dinâmica dos pensamentos, da memória e da pulsação coronariana. Mesmo no Carnaval, cérebro e corpo não enlouquecem e nem entram em curto-circuito psíquico. Mesmo no Carnaval, mais do que fantasias, imaginários e volúpias, está em cena o genoma cerebral e seu trabalho de suporte de um nível extraordinário de mutações somáticas.
Ave Carnaval a todos!
Profa. Ms. Claudia Nunes
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