quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

Jovens cérebros e estudo (em construção)

Jovens cérebros e o estudo, uma relação de amor e indiferença apontáveis em cada fase da cognição. Para transpor o Ensino Médio com poucos obstáculos, o mundo exige deles: planejamento quanto a preparação, adoção de uma disciplina de estudos, organização das atenções cotidianas, além de lidar com a pressão psicológica de todos. Ou seja, o mundo exige deles o que eles não são AINDA nos quesitos psiquismo, personalidade e processo cognitivo.

Segundo Carmem Zara, em entrevista à Folha Dirigida, “... A pressão psicológica é o inventário que se faz de um grande acontecimento”. Só que entre jovens cérebros e cérebros adultos ‘um grande acontecimento’ tem níveis diferentes de funcionamento e plasticidade ou, como afirma Relvas (2005, p.48), a “aprendizagem se distribui como conhecimento no cérebro de acordo [e dependendo] da carga emocional” a qual estiver exposto. E jovens cérebros, de acordo com o dito popular, “são emoção pura quase o tempo todo”.

No período do Ensino Médio, jovens cérebros são assolados de informações cuja função é criar ‘homens seguros’, integrados (e íntegros), críticos e, lógico, ‘profissionais de sucesso’, mas, na verdade, só acrescentam expectativas e ansiedades ‘inadministráveis’ aos seus cotidianos e às suas sinapses, “locais de comunicação entre os neurônios e a unidade elementar de armazenamento da memória, e onde ocorrem sínteses de proteína, trocas elétricas e ativação de genes que resultam na assimilação da informação” (RELVAS, 2005, p.49).

Neste processo, lembrando de Piaget, para tanta assimilação há de a ver o mesmo tanto de equilibração, senão não haverá o desenvolvimento da memória de longa duração, elemento básico para o pensamento analítico e/ou crítico, ou para absorção de conjuntos maiores de informação, já que, segundo Relvas (2005, p.49), a “memória é também a capacidade de planejamento, abstração, julgamento crítico e atenção”. Qualquer dificuldade nestas capacidades gera dificuldade de concentração, atenção e aprendizagem, cujo reflexo serão dispersão, indisciplina, aumento da violência, níveis de neglicência e fracasso escolar.

Há uma potencialização ‘ao cubo’ da capacidade de entender, interpretar e aprender dos jovens cérebros em nome da ‘conquista de um futuro’. Ou seja, se de um lado, estes jovens estão expostos ao imaginário social muito relacionado às inseguranças, incertezas e dependências anteriores ao seu nascimento e participação social e cultural; de outro, suas habilidades e competências individuais são descartadas / desvalorizadas no processo de estudos / aprendizagem.

Hoje em dia, jovens cérebros precisam de espaço, de conversa, de parceria. E parte disso, exige de seus responsáveis, ações de escuta, compreensão, escuta, alerta, escuta, disponibização, escuta, limite, escuta e confiança. As relações estão ainda mais hipertextualizadas porque muitos recursos humanos precisam interagir em sinergia no processo de construção da aprendizagem e da personalidade dos jovens cérebros. Seus responsáveis (familiares e educacionais) precisam encontrar outras formas de gerar um ambiente de segurança até mesmo para os seus deslizes, extremamente naturais. E como se incentiva o estudo? Resposta: com menos pressão e mais informação e diálogo. Em neurociência, a senha de produção do conhecimento está nas formas de estímulo, ou melhor, concentra-se nos tipos de estímulos que dentritos, neurônios e axônios recebem a cada nova experiência de aprender.

Jovens cérebros estão velozes em suas estratégias de raciocínio. Jovens cérebros têm sua plasticidade determinada por suas teias de imersões no ambiente virtual de diferentes maneiras. Jovens cérebros são velozes em seus “rearranjamentos neuronais formando outras tantas sinapses mais reforçadas e com múltiplas possibilidades de respostas ao ambiente” (RELVAS, 2005, p. 43). Logo cérebros adultos precisam olhá-los com calma e respeito, ao mesmo tempo em que devem desafiá-los a superar suas dificuldades. É um verdadeiro cerco às suas emoções mais pulsantes, sem denegri-las.

Anatomicamente falando, jovens cérebros estão crescendo e se transformando, logo é imprescindível aprender a se comunicar com ele. Suas necessidades nunca devem ser vistas como ‘menores’ ou ‘superficiais’. Fora alimentação e vestimentas, jovens cérebros precisam de amor, dedicação e estratégias diferentes de aproximação recursiva, como jogos, filmes, música, caminhadas, hobbys dentro outros, porque aprendem de forma diferente; porque privilegiam atividades diferentes e curiosas; porque anseiam por sanar suas próprias curiosidades; porque têm competência para o auto-gerenciamento cognitivo e social.

Segundo Carmem Zara, autora do livro ‘Como usar o cérebro para passar em provas e concursos’, “o cérebro tem seu limite: 40 minutos seguidos é o máximo de tempo em que ele recebe informações de forma concentrada. Depois deste tempo, é necessário um intervalo para envio das informações à memória”. Ou seja, jovens cérebros são ágeis, mas limitados em seu tempo de absorção de informações. A permanência da concentração e/ou atenção dependerá (e muito!) da estruturação dos processos mentais de cada um no momento do encontro, por exemplo, com os conteúdos disciplinares.

Mas o que fazer com a dispersão? Jovens cérebros ‘ideais’ não contam; conta o trabalho com jovens cérebros ‘reais’. Não se pode criar uma teoria em torno do ‘aluno ideal’, deve-se aceitar o ‘aluno atual’, um aluno seduzido pelas múltiplas informações dos múltiplos meios de comunicação. Saber o que quer, trabalhar com metas, identificar objetivos, saber o que quer, são coisas de cérebros adultos, pessoas maduras já com a experiência do fracasso e da superação em diferentes estâncias.

Jovens cérebros estão na efervescência das emoções e em busca da felicidade / recompensa completa HOJE. “Tudo ao mesmo tempo agora” é o que afirma o CD dos Titãs e é como a grande maioria dos jovens cérebros está vivendo / sentindo. Então como atender ao chamado do futuro e estudar ‘para ser alguém’? Jovens cérebros precisam de “situações desafiadoras e ambientes ‘complexos’, agradáveis e divertidos que forneçam capacidade extra (...) para reconfigurar-se” (RELVAS, 2005, p.47). Ou seja, jovens cérebros precisam concentração e relaxamento em igual medida.

De simples informação a conhecimento aprendido e preso na memória de longa duração, jovens cérebros precisam de horas de estudo e horas de descanso. É a emoção de aprender com a emoção de viver. Jovens cérebros cansados com uma única rotina enfadonha de estudos não aprendem, esquecem, dormem; mas quando jovens cérebros param, se levantam, ouvem música, fazem outras coisas, ‘arejam’ sua massa encefálica e a preparam às novas atividades cognitivas. É a ‘oxigenação’ cerebral através de ludicidade. Jovens cérebros dão intensidade aos seus hemisférios e todos os neurônios necessários à continuidade da aprendizagem quando as ações de suas memórias são reverberadas por diferentes estímulos.

“A memória é a reprodução mental das experiências captadas por meio de movimentos e dos sentidos. Essas representações são evocadas na hora de executar atividades, tomar decisões e resolver problemas na escola e na vida” (LIMA, Elvira, psicóloga e antropóloga, especialista em desenvolvimento humano; apud. RELVAS, 2005, p.49).

Enquanto isso, ao redor do jovem cérebro, ambiente facilitador deste processo. Sem isso o imaginário sobre o resultado do estudo ou mesmo o próprio estudo torna-se fluído, inconsistente e de curta duração.

Referências:

DECCACHE, Renato. Cérebro: o maior aliado dos vestibulandos. Entrevista dada ao jornal Folha Dirigida, Caderno Educação, pela especialista em neurolinguística e co-autora do livro ‘Como usar o cérebro para passar em provas e concursos’, Carmem Zara. Edição 30/07 a 05/08, capa, 2009.
RELVAS, Marta. Fundamentos Biológicos da Educação: despertanto inteligência e afetividade no processo de aprendizagem. Rio de Janeiro: WAK Ed. 2005.
______________. Neurociência e Educação: potencialidades dos gêneros humanos na sala de aula. Rio de Janeiro: WAK ed., 2009.

Profa. Ms. Claudia Nunes

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