sábado, 19 de dezembro de 2020

Uma noite com o 'INDEVIDO'... só uma noite... (22.07.2020)

Há algumas noites que se apresentam sem estrelas. Noites de turbilhão, insegurança e negatividade. Então é preciso deixar fluir tudo isso para não sustentar o indevido. Nada indevido se sustenta numa mente harmônica ou com a consciência da presença deste indevido. Nesse fluir, portas emocionais são abertas. Não há opção. Ficar melhor ou sustentar o autoconhecimento exige portas abertas, mesmo diante de uma ‘surpresa ruim’. É acesso, reconhecimento, limpeza e uma próxima vez.

Nesse instante, o indevido se movimenta com vigor. De tanto tempo guardado, o indevido nem sabe que vivo está ou quais caminhos tomar; ele apenas quer o luxo da liberdade oferecida e perturbar. Sim, o indevido tem uma característica clara: ele perturba. Nem dá tempo para se sentir empatia por ele; ele perturba as emoções e desorganiza o florescer das ligações ritmadas de pensamentos mais calmos ou compreensíveis, pelo menos, para que durmamos bem.

O tempo passa, mas não ajuda, afinal foi uma decisão deixar fluir as emoções e abrir as portas. Alguns dirão: aprendizagem. Outros dirão: autoconhecimento. Outros mais: liberdade. Tanto faz. O contato com as perturbações do indevido convocam sentimentos protegidos e bem controlados a serem invadidos e destravados. E um deles, é o desprezo.

Que susto? Logo nós, desprezando? É. E é ruim. Ruim demais sentir desprezo. Este sentimento é uma forma de esquecimento dolorido e humilhante. Mas também uma proteção sensorial; uma salvaguarda. Só que, diante do sentimento de desprezo, muitos outros se aproximam, como a recusa, a vergonha, o estresse, o descontrole, a ansiedade e, talvez, a raiva e a tristeza. É o indevido perturbando e tentando fazer morada.

Em alguns casos, ‘quem despreza tem a clara intenção de humilhar o outro’. Tudo bem. Diante do livre arbítrio e uma porta aberta, tudo é possível. E o indevido segue perturbando; segue abrindo feridas e algumas verdades. E a noite se aprofunda... Dor e alívio na mesma intensidade. Na psicologia, afirma-se que o desprezo é uma emoção letal. É o indevido tendo a capacidade de fazer uma rave, junto às outras emoções, criando um ambiente alucinógeno e cheio de armadilhas adocicadas. Estamos num território subterrâneo muito obscuro e louco.

Só que a mente forte e positiva tem outras tantas portas a serem abertas, mesmo nesta noite profunda; além disso, alimentar covardia e ressentimento não faz parte do seu show. É importante saber que o indevido participa do conjunto de sentimentos passíveis de serem revelados e usados no cotidiano; mas é necessário reajustar a maturidade emocional e manter a saúde mental, social, afetiva e profissional. Não é fácil. O indevido é confortável, amigável, conhecido e prazeroso. Então, queridos, empatia inversa.

Não devemos ter empatia pelo indevido, iríamos enlouquecer ou morrer, em tempo recorde; nós precisamos ter empatia por nós mesmos; daí nós a chamarmos de empatia inversa: na presença do indevido, há nossa capacidade de sentir nossas emoções e nos colocarmos em nosso próprio lugar, fora da ‘cadeia alimentar’, das perturbações indevidas de outrem.

Da noite mais profunda ao dia mais ensolarado, do autoconhecimento à empatia inversa, outra palavra de ordem é reconexão. É experimentar o tal ‘fundo do poço’ e ter a capacidade de se reconectar com as próprias necessidades, sonhos e objetivos, apesar das sensações indevidas. E, no clarear do dia mais ensolarado, empatia, reconexão e o fortalecimento da autoestima, da autovalorização, do foco, da escuta, da sensibilidade e do sorriso fácil, tornam-se armas violentas para destruição dos sentimentos indevidos.

Ainda não é possível pensar em compaixão; nem na ilusão religiosa do perdão; mas é possível parar de se autoflagelar pelo indevido que nós aceitamos e deixamos livres no transito da vida.

Sigamos vivendo, aprendendo e prestando atenção, os indevidos estão em nossa mente, mas também em nosso coração.

 

Prof.ª Claudia Nunes (22.07.2020)

Nenhum comentário:

Nada nunca é igual

  Nada nunca é igual   Enquanto os dias passam, eu reflito: nada nunca é igual. Não existe repetição. Não precisa haver morte ou decepçã...