Há algumas noites
que se apresentam sem estrelas. Noites de turbilhão, insegurança e
negatividade. Então é preciso deixar fluir tudo isso para não sustentar o
indevido. Nada indevido se sustenta numa mente harmônica ou com a consciência
da presença deste indevido. Nesse fluir, portas emocionais são abertas. Não há
opção. Ficar melhor ou sustentar o autoconhecimento exige portas abertas, mesmo
diante de uma ‘surpresa ruim’. É acesso, reconhecimento, limpeza e uma próxima
vez.
Nesse instante, o
indevido se movimenta com vigor. De tanto tempo guardado, o indevido nem sabe
que vivo está ou quais caminhos tomar; ele apenas quer o luxo da liberdade
oferecida e perturbar. Sim, o indevido tem uma característica clara: ele
perturba. Nem dá tempo para se sentir empatia por ele; ele perturba as emoções
e desorganiza o florescer das ligações ritmadas de pensamentos mais calmos ou
compreensíveis, pelo menos, para que durmamos bem.
O tempo passa, mas
não ajuda, afinal foi uma decisão deixar fluir as emoções e abrir as portas.
Alguns dirão: aprendizagem. Outros dirão: autoconhecimento. Outros mais:
liberdade. Tanto faz. O contato com as perturbações do indevido convocam
sentimentos protegidos e bem controlados a serem invadidos e destravados. E um deles, é o desprezo.
Que susto? Logo
nós, desprezando? É. E é ruim. Ruim demais sentir desprezo. Este sentimento é
uma forma de esquecimento dolorido e humilhante. Mas também uma proteção
sensorial; uma salvaguarda. Só que, diante do sentimento de desprezo, muitos
outros se aproximam, como a recusa, a vergonha, o estresse, o descontrole, a
ansiedade e, talvez, a raiva e a tristeza. É o indevido perturbando e tentando
fazer morada.
Em alguns casos,
‘quem despreza tem a clara intenção de humilhar o outro’. Tudo bem. Diante do
livre arbítrio e uma porta aberta, tudo é possível. E o indevido segue
perturbando; segue abrindo feridas e algumas verdades. E a noite se
aprofunda... Dor e alívio na mesma intensidade. Na psicologia, afirma-se que o
desprezo é uma emoção letal. É o indevido tendo a capacidade de fazer uma rave, junto às outras emoções, criando
um ambiente alucinógeno e cheio de armadilhas adocicadas. Estamos num
território subterrâneo muito obscuro e louco.
Só que a mente
forte e positiva tem outras tantas portas a serem abertas, mesmo nesta noite
profunda; além disso, alimentar covardia e ressentimento não faz parte do seu
show. É importante saber que o indevido participa do conjunto de sentimentos
passíveis de serem revelados e usados no cotidiano; mas é necessário reajustar a
maturidade emocional e manter a saúde mental, social, afetiva e profissional.
Não é fácil. O indevido é confortável, amigável, conhecido e prazeroso. Então, queridos, empatia inversa.
Não devemos ter
empatia pelo indevido, iríamos enlouquecer ou morrer, em tempo recorde; nós
precisamos ter empatia por nós mesmos; daí nós a chamarmos de empatia inversa: na presença do
indevido, há nossa capacidade de sentir nossas emoções e nos colocarmos em
nosso próprio lugar, fora da ‘cadeia alimentar’, das perturbações indevidas de
outrem.
Da noite mais
profunda ao dia mais ensolarado, do autoconhecimento à empatia inversa, outra
palavra de ordem é reconexão. É
experimentar o tal ‘fundo do poço’ e ter a capacidade de se reconectar com as
próprias necessidades, sonhos e objetivos, apesar das sensações indevidas. E,
no clarear do dia mais ensolarado, empatia, reconexão e o fortalecimento da
autoestima, da autovalorização, do foco, da escuta, da sensibilidade e do
sorriso fácil, tornam-se armas violentas para destruição dos sentimentos
indevidos.
Ainda não é
possível pensar em compaixão; nem na ilusão religiosa do perdão; mas é possível
parar de se autoflagelar pelo indevido que nós aceitamos e deixamos livres no
transito da vida.
Sigamos vivendo,
aprendendo e prestando atenção, os indevidos estão em nossa mente, mas também
em nosso coração.
Prof.ª
Claudia Nunes (22.07.2020)
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