Oi tudo bem?
Mais um texto e mais uma preocupação: o mundo está carregado de emoções tóxicas
e estas estão transformando os comportamentos de maneira rápida e violenta. As
gerações mais jovens estão confusas, iludidas, perdidas e ansiosas demais. E
mesmo assim, o mundo exige deles: responsabilidade social, coerência emocional,
habilidades diversas e um enorme poder de resiliência. Neste processo, a
maturidade emocional se perde, se desgoverna e o jeito é se colocarem (os mais
jovens) em risco atabalhoadamente, sem sequer terem a oportunidade de APRENDER
a refletir. Tenso!
Mas antes de
compreender este ponto das emoções, é preciso saber o que seja emoção, ou seja, é preciso saber do que
estamos falando quando mencionamos a palavra emoção nas múltiplas relações construídas pelas gerações mais
jovens. Então, para o contexto deste artigo, utilizarei a conceituação de Prof.
Robert Lent (2008), a saber: “Do ponto de
vista biológico, a emoção pode ser
definida como um conjunto de reações químicas e neurais subjacentes à
organização de certas respostas comportamentais básicas e necessárias à
sobrevivência dos animais.” (p.254).
Nossas gerações
mais jovens estão respondendo às suas experiências e necessidades, além das
exigências alheias, acreditando estarem aumentando suas chances de
sobrevivência no cotidiano. Impressionante
é que, cada vez mais, são as faixas etárias que inauguram os novos
comportamentos, e não a maturidade emocional adquirida junto às experiências ou
à memória delas. Nossas gerações mais jovens, além de ansiosas, estão muito
solitárias em seus desenvolvimentos cognitivo, emocional e físico; e por isso,
talvez, sejam tão reativos, impulsivos, agitados, tensos, quando se deparam /
lidam com determinados problemas como, por exemplo, limites e regras em geral.
Para sobreviver,
é preciso (se) dar uma resposta todos os dias. É parte da integralização no
social, o sentir e o dominar as emoções para a permanência no ‘aprender a
conviver’ com poucos obstáculos. Só que os excessos são imperdoáveis e
negativos. Emoções positivas demais causam indiferença, soberba e alienação;
emoções negativas diárias sugam as energias, roubam o futuro e cegam a visão ‘criativa’.
E nossas gerações mais jovens crescendo... e nossas gerações mais jovens livres
demais...
Hoje quero
‘conversar’ sobre as emoções negativas (ou tóxicas).
De antemão,
alguns conselhos de Stamateas (2010, p.07-08), “se foi roubado, que sinta raiva, mas não que saia
quebrando tudo; se foi traído, que
sinta decepção, mas não que nunca mais confie em ninguém; se foi humilhado, que sinta vergonha, mas não que deixe de correr
riscos; se alguém mentiu, que sinta
desconfiança, mas não que sinta ressentimento; se foi intimidado, que sinta medo, mas não que fique parado; se não foi amado, que sinta rejeição,
mas não que procure ser rejeitado; se
perdeu ou se frustrou com alguma coisa, que sinta tristeza, mas não que
permaneça chateado.” Ou seja, para emoções tóxicas, equilíbrio emocional,
crença em si mesmo e intensa escuta sensível.
As emoções
negativas podem favorecer revisões de comportamento e a instalação de um
crescente esforço para se superar em outra oportunidade. Ou seja, sistemas neurais mais elaborados permitem
respostas bastante variadas, facilitando a adaptação do ambiente (LENT, 2008, p.254).
Mas, de outra forma, também podem evaporar a qualidade dessas respostas porque,
no caso dos nossos jovens, há forte contexto repressivo dos seus sonhos,
desejos e fantasias. Ou seja, eles não se conhecem, eles apenas refletem o
alheio.
De acordo com o
que venho observando, em minhas salas de aula do ensino médio noturno, as
gerações mais jovens (de 15 a 23 anos) são grandes corpos-esconderijos de
emoções cujo ponto final são as confusões em que se metem, as apatias em
relação a quase tudo, a descrença em sua própria potencialidade, a
superficialidade dos projetos pessoais e, principalmente, a imensa
reprodutibilidade do status quo de
onde emergem e crescem. E como corpos-esconderijos, são seres ansiosos sem
tempo para emoções positivas.
Em minha escola,
estamos no período de provas, organização de notas e conselhos de classe. É o
período de maior agitação entre as turmas. Mesmo com grande ‘infrequencia’, é o
período em que mais alunos aparecem pelos corredores à procura do ‘seu’
resultado. Eles sofrem. A ansiedade é quase palpável. Não nos interessa neste
artigo se eles realizaram ou não todas as atividades ao ponto de ‘se’
reconhecerem em suas notas baixas ou não. Importante aqui é entender outra
inquietude: a inquietude ‘inatural’, aquela que reflete uma crescente
‘aculturação’ de nossos jovens e das suas emoções, hoje, muito fora do foco: a
própria aprendizagem. É uma pena...
Mente e corpo
estão fora do prumo. É o período das dores de cabeça, mal-estar, suores fora de
hora etc. Mas também, em muitos grupos, é apenas mais um momento sem ‘gosto’ ou
sem ‘cor’: emoções tóxicas também são paralisantes. E eles me preocupam. Cada
vez mais a ansiedade se transforma em preguiça mental / emocional. Assumem,
talvez como defesa inconsciente, a descrença em/de si mesmo e, por outro lado,
procuram, avidamente, ferramentas, exemplos e heróis de toda sorte. Como no
jogo ‘pacman’, eles estão ávidos e famintos, só não sabem do que ou por quê. Sem
perceberem, comprometem o próprio futuro e favorecem o crescimento de
diferentes transtornos que incluem pânico, obsessão-compulsiva e diferentes
tipos de fobias etc.; e/ou transtornos mentais, ou seja, alterações mórbidas do
comportamento associadas a angústia expressiva e/ou deterioração do
funcionamento psíquico global. Pane
emocional total!
Diante de
emoções negativas contínuas, o organismo reage em cascata. Lembremos que as emoções
não são apenas elementos imateriais, elas têm correspondência bioquímica. Ao
irrigarmos o corpo com determinados elementos negativos (cortisol), há o
adoecimento físico e mental; mudança de comportamento; e desordem emocional. Desta
feita, a escolha será sempre pela sobrevivência, de novo, mesmo não sendo os
mais fortes. O cérebro primitivo ‘falará’ mais alto e forte! E ai, surgem as
indisciplinas, as agressividades, as falas inconsequentes, as ‘malandragens’
(tentativas constantes de burlar as regras ou acordos) e, em outro viés, a
falta de atenção, de concentração e de foco.
Inconscientemente,
me parece que estes jovens estão em processo de desligamento emocional tal a força
da pane eletroquímica (emocional) envolvida em seu crescimento. As descargas
atencionais giram em torno de outros interesses, como ganhar dinheiro rápido,
sexo constante, participação em baladas (noitadas), mundo tecnológico
atualizado e mais interativo, visual ‘descolado’ dentre outros. O que fazer?
Bom se há ‘pane
emocional’, a perspectiva é a manutenção preventiva, daí é preciso aconselhar
mudança de comportamento para professores e pais:
I – Para professores:
- revisitação
das formas de ensinar;
- compreensão de
como esse aluno aprender;
- entendimento
das mudanças emocionais;
- introdução de
desafios contextualizados;
- incentivo à
proatividade e à criatividade;
- inserção do
contexto de interesse dos alunos nas atividades;
- presença real
de uma escuta sensível (diálogo);
- cumprimento
dos acordos pedagógicos.
II- Para pais:
-
Percepção real de que os filhos cresceram;
-
Valorização das descobertas e experiências, principalmente, as emocionais;
-
Aceitação das diferenças de pensamentos com paciência e respeito;
-
Presença, proximidade e diálogo constante;
-
Adequação e pertinências em relação às cobranças e/ou aos limites;
-
Afeto, carinho, humor: escuta mais sensível;
-
Liberdade e confiança de acordo com a faixa etária e maturidade;
-
Maior entendimento em determinadas crises / momentos;
-
Hierarquização das relações de forma clara.
Essa geração
mais jovem precisa de espaço, compreensão e descanso, tempo de descanso, para
reorganização (neuroplasticidade) das informações e construção da memória de
longo prazo. Talvez ai o cotidiano se desvele e haja reações diferenciadas aos
acontecimentos da escola e da vida, além da compreensão de que aprender gera
mais liberdade do que a própria liberdade.
Referencias:
LENT, Robert. Processamento Emocional do Cérebro (p.254-269). In. Neurociência: da mente e do
comportamento
STAMATEAS, Bernard. Emoções Tóxicas: como se livrar dos sentimentos que fazem mal a
você. Rio de Janeiro: Thomas Nelson Brasil, 2010.
Profa
Claudia Nunes
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