terça-feira, 22 de setembro de 2015

MICROCONTOS 121, 122, 123, 124, 125, 126, 127, 128, 128, 130

121 Na noite escura e barulhenta, ela escutou uma voz: aprenda! Não eram pensamentos, eram sensações: aprenda! Ela não estava dormindo: aprenda! Calculando que era um sinal, fechou os olhos e se deixou levar: aprenda! Num mundo solitário e branco, ela estava aberta, sem orgulhos, ansiedades ou tristeza. Lá nada disso servia: ela precisava enxergar. Um musica atravessou sua mente: e a limpeza emocional e mental começou. Ela conspirava em seu favor. Ela precisava retomar caminhos: aprenda! Sem esquecimentos, de manha, ela aprendeu: - Lucas? Quero vc! Claudia Nunes

122 Pensando em corpo. Voltando para casa, o corpo incomodou e perdeu o sentido. Desgovernado, ele não sabia onde começava ou terminava. Ele se olhava e se incompreendia. Não tinha mais dimensões ou limites. Corpo. Casa. Tumulo. Baú. Mais do que a pele, ele não mais se entendia como um concentrado de informações que se banham de mais informações para mudar, mudar e mudar. Sem corpo, como ficaria sua alma? Sua energia? Seus sentidos? Ele estava parado na esquina e apenas respirava a falta de pistas referentes a um possível reencontro. Estava insalubre, nervoso, inseguro, desconfortável. Ao fechar os olhos, as memórias e as emoções saltaram e doeram. Seu cérebro não recompunha a lista de tudo que ele fora com harmonia. Respirar, respirar e respirar: eis a única possibilidade de se reconectar. O tempo passou. Seus olhos abriram, o sinal esverdeou e a vida fluiu naturalmente. A necessidade é a base dos comportamentos. Claudia Nunes

123 Ela não sabia que caminho tomar. Ela apenas sabia que o caminho existia. Medo do que viria? Fato! Que obstáculos? Que pessoas? Nada lhe respondia. E os passos precisavam ser feitos. Seus objetivos eram claros, mas e os cruzamentos? E as expectativas? E as surpresas? Ela não sabia nada do caminho. Mas queria seu futuro e as atitudes. Difícil. Tenso. Ela não sabia por que se importava com as tentativas. Ou melhor, ela se importava com o resultado das tentativas. Pressa ou saltos? Sonho ou rotina? Ela sabia apenas sobre o primeiro passo: experimentar e persistir. Medo! Almas boas e más há em todo lugar: quais lhe dariam a mão? Quais lhe magoariam? Ela não sabia o sentido do ‘não’ e lutava por adequar seus ‘sins’. Energia. Atração. Ela não sabia qual caminho e a proposta fora fundamental. Diante do seu armário, caminhos, roupas e escolhas: o que fazer? Pensar, sentir e agir: é vida que segue com medo mesmo. Claudia Nunes

124 Ela perdeu seu mundo. Um erro e ela perdeu tudo. Ela se descuidou e estava só em sua depressão. No meio do choro, ela sentiu culpa. Ela era uma culpa. Seu comportamento fora reprovável: e se tornara frustrada. Nunca pensara em se envolver, mas fora uma mulher apaixonada. Saltara da dúvida para a paixão, sem se dar conta do futuro. Depois da sedução, muitos desequilíbrios e esconderijos: valia a pena. Fora do prumo se tornara distante entre o que fora e o que queria ter sido: valia a pena. Ela se violava e abria feridas claras ou obscuras em todos. Hoje: o fim e a culpa. Ela era culpada, mas precisava se recompor afastando-se do principal obstáculo: ela mesma. Depois do vendaval, o resultado era um crescimento emocional inadequado e novas perdas. Ela capengava emoções e não valia mais a pena. Ela precisava se atualizar internamente e se recuperar externamente. A vida cobrava forte. Era sobreviver aos acontecimentos ou enlouquecer. Ela tinha o mundo em suspenso: culpa e autorrealização não conseguiam um acordo. Solução? Limpeza. Descarte. Ignorâncias. Sua liberdade não tinha culpa, ela sim. Correu no quarto, fez uma mala e fugiu. Além do horizonte, devia haver outra civilização, outras naturezas. Claudia Nunes

125 Com toda a casa fechada, Helen se sentia vigiada. Amava o mundo, mas não queria mais vivê-lo. Ela respirava forte e lavava muito as mãos: culpa. Ela pecara: culpa. Seu trabalho ia bem. Sua casa estava arrumada. Sua relação com Lucas estava tranquila. Por que a culpa? Ela pensava. Em pensamento, estava envolvida em múltiplas transgressões e expiações do desejo. Em pensamento, não lutava para ser social. Em pensamento, tinha liberdades sem disfarces. Pecadora e errada! Culpa! No fim do dia, ali, fechada, seus erros eram monstros que não lhe deixavam resplandecer. Em erro, era indigna, má, inútil. Ela tinha raiva de si mesma: ‘incompetente!’. Como pode? Fechada, ali, só valia ser com intensa autopunição: abriu seu armário e picotou todos os seus melhores vestidos pensando: ‘sem tantas capas serei uma pessoa melhor, amanha, só amanha...’ Claudia Nunes

Quando as emoções não estão equilibradas é culpa dos pensamentos; quando as emoções são pensadas são fontes de sentimentos; o que fazer então? Emocionar-se sempre e construir outros designs afetivos sem medo. Claudia Nunes

127 Inferno astral. Inferno particular. Diante da realidade, Samara tinha culpa. Diante do seu comportamento, ela se deixou debater em meio às emoções e às atitudes impensáveis, ainda que apaixonantes. Ela sabia dos seus motivos, mas sofria. Seus ambientes não podiam mais ser frequentados com a liberdade e a singeleza dos atos responsáveis: ela fora irresponsável; ela amara o proibido; ela vivera as profundezas das loucuras do amor; ela ignorara todos os padrões e verdade; e agora, descoberta, a culpa. Nada poderia ser evitado: e o tormento era de todos. Mas só a culpa não bastava, escondido em seu psiquismo e em sua angústia, havia o remorso. Cruel lidar com uma escolha, ela formara uma tsunami de ações, palavras e emoções. Cruel lidar com tudo isso, quando suas lembranças e corpo lhe excitavam, animavam e justificavam a vida, a experiência... para um novo encontro. Samara não podia pensar nisso. Samara só podia desejar isso. Samara optara pela necessidade e pela fantasia acreditando que teria controle sobre a relação: ela amara incondicionalmente; ela quisera o proibido. Caminhando pelas montanhas, ela suava muito e pensava: culpa, remorso e arrependimento, de que adiantavam? O que significava, de repente, todo aquele desconforto interior? Ela quebrara o próprio imaginário sobre si mesma e machucara ‘alguéns’, mas não o fizera sozinha e sem apoio. De acordo com seus princípios, ela fora má, perdera a noção de si, calara seus escrúpulos e empatia: ela realmente fora má. Em cada passo do caminho, rumo ao pico da montanha, o medo do retorno, o medo dos olhares acusatórios, o medo da própria representação de si nos outros, o medo dos julgamentos. Porcelana rachada, assim se via, e assim acelerava o ritmo cardíaco. ‘O que fazer? O que fazer? Subir, ir até o pico, respirar, decidir e descer. Na vida, não sofrer por nada teria sido seu pior tormento, então, com medo, foi com medo mesmo. Claudia Nunes

128 Depois daquela viagem, eles se separaram. Depois da lua de mel, eles se ignoraram. Depois da comunhão dos corpos, eles não se entenderam. Depois de 07 anos de namoro, eles não sabiam mais conviver e se dizer simplesmente: ‘oi, tudo bem?’. Eles se reencontraram numa esquina e... vida que segue. Claudia Nunes

129 Um banho de vida, assim ele percebeu seu corpo. Um banho de atrações, assim ele reconheceu sua casa. Ele estava feliz! Em muito tempo, ele não se controlava tanto. Ele estava feliz! As perdas causaram um vendaval na vida; mas, agora, recuperara sua força de vontade, se sentia útil e tomara banho. Oh coisa boa, um banho em casa. Ele lera muito sobre tudo, agora era exercitar, agir e dominar sua realidade. Ele aprendera: um passo de cada vez e muita simplicidade.  Nada de ansiedade ou sonhos; apenas viver, ser e lutar, como antes... antes da prisão. Oh banho bom demais! Claudia Nunes


130 Aos 50 anos, ela aprendera a tocar em sua essência. Tarô, runas, cristais, cartas, tudo servira para que ela pudesse se reconhecer e se equilibrar. Mas nada tocara sua essência. Ela não era inferior, menor, ruim; ela era ela e muito diferente. Ela tinha magia, encanto, mistério e alegria. Sim, parte de sua essência era a alegria. Ela podia desejar, sonhar, imaginar, fantasiar tudo: enfim a liberdade da essência e de ser. Existir ganhava qualidade: ela tinha uma essência e confiança. Ao conspirar a seu favor, o universo estrelado lhe deu boas vindas: o acidente de automóvel não tinha mais sentido... Claudia Nunes

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