Engraçado a nuvem
do tempo. Parece que estamos sempre envolvidos em suas brumas e vez por outra
um vento forte o atravessa deixando as coisas nítidas e fora do lugar. É a hora
do ‘sem chão’... sem hábitos... sem o ‘de sempre’. Não há opção. Ou vivenciamos
o desequilíbrio ou vivenciamos o desequilíbrio. Coisas se quebram; pessoas se
vão; caminhos alterados; laços que se partem. E nós, vivendo esse desequilíbrio
e desacreditando que tais coisas poderiam acontecer conosco. Que vento é esse?
Que desacerto é esse? Por que nós? Não há resposta. Alias, quando somos
assustados pelos fatos da vida, surgem milhares de perguntas, às vezes muito
egoístas, mas nunca respostas que nos tranquilizem ou deem sentido a tudo o que
nos aconteceu. É o vento da clareza sobre nossa fragilidade, pequenez e, alguns
casos, soberba, diante da certeza da falta de controle. Não há nada errado
nisso. É a Natureza. Há momentos na / da vida em que o quebra-cabeça humano
precisa de rearrumação, mesmo com peças ausentes. É estranho. Desajusta. É um
vento que temos que lidar mesmo com medo, raiva, tristeza ou saudade, diante
dos vazios do terreno ou do tabuleiro. O vento abre espaço para os pensamentos
negativos, doloridos e temerosos. Pensamentos traidores, pois nos afastam da
vida em nome da dor muito confortável, já que nos cegam às oportunidades de
outra vida ou de retorno às brumas conhecidas, sem alguns personagens. É o
vento da desesperança. Como superar? Como mudar o ‘rumo dessa prosa’? Eu não
sei... Cada um, depois do vento, sente o vazio da forma que aprendeu ou diante
do medo que sustenta. Eu só sei que, depois de uma partida, uma quebra, uma
queda e/ou uma perda, só nós paralisamos, mergulhados em perguntas e na dor. E
tudo segue seu ritmo independente de nossa vontade. A ideia é passar pelo vento
do tempo, com certo orgulho e, de forma relativamente rápida, pegar a onda
mesmo imperfeita e dramática da vida. Sem isso, a outra opção será aceitarmos
ser engolidos pelo tempo, pelo vento, e amargurarmos uma dor cuja estampa
espantará energias positivas e pessoas amigas. O vento do tempo deve ser
encarado como novo momento para o autoconhecimento da dor e tirar disso uma
lição: como o sol, nascemos para brilhar todos os dias, apesar da dor de
quaisquer coisas que nos aconteceu. Vamos sonhar de novo, com certeza.
Prof.ª
Ms. Claudia Nunes (14.10.2020)
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