sábado, 23 de fevereiro de 2008

Chorar um amigo.....

Dizem que a vida é dura. Enganam-se. A vida só é reflexo da atualização constante dos sentimentos e das pessoas que nos atravessam o corpo e a mente. Não somos mais importantes para formar “conjunto de obras” porque somos banais demais. Tudo só é bom enquanto dura, dizem... Nosso último reduto de energia foi o sonho. E esse se perdeu nas brumas das necessidades. Nossos alimentos não têm mais tempo para criar a aceleração cardíaca. Daí só conseguimos apontar o triste, o chato, o bobo e/ou intencional. Ato contínuo: chorar. Dizem que é lavar a alma. Será? Nossos amigos são “chorados” porque estão em transição. Não tem jeito! Ficar junto só pode ser definido pelo nível de desfaçatez que temos com nossos próprios escrúpulos diante da convivência. Se não for assim, o abandono e a superficialidade do sentir é real. É um “jeitinho” de morrer na vida... Nada pode estar pronto. Nada é. Tudo foi. Tudo já foi... A nuvem que nos persegue é a da volubilidade porque o fim último de nossas esquisitices é manter a luminosidade da afetividade, mesmo sob a sombra de uma perda. Mas algo é invariável: as pessoas mudam, se desmancham no ar. A amizade sofre porque acreditou-se na soberba do “nós somos sempre!”, mesmo que a vida siga implementando sustos e insights que joguem por terra esta certeza.

Entre amigos, o amor desequilibra a verdade. Não falo do amor entre ambos, isso é básico, senão não seria amizade, mas falo do amor dos terceiros. Enfim chega um terceiro! Namorado (a) ou outro amigo (a), uma viagem ou a morte, um terceiro qualquer coisa sempre chega! Os nervos ficam à flor da pele porque a admiração ganha outra esfera. Uma lembrança: as pilastras que sustentam qualquer amizade são a admiração e a confiança. Só que, diante do terceiro, a indestrutibilidade do afeto pede um tempo e escolhe outros espaços para se repensar e viver. A vida é renovação, dizem... Difícil é a transição. Dois amigos, nessa hora, revêem suas cicatrizes emocionais com ressentimentos: são as cobranças, os ciúmes e... tudo jogado na cara! Que horrível! Esse desgaste sugere o medo de perder: perder o amigo, a segurança do afeto e, principalmente, a grandiosidade da simples presença. E cá entre nós, isso também merece muito respeito!

Não é fácil reiniciar qualquer projeção nas relações na intenção de criar outras e novas amizades porque as escolhas só se farão pelas decepções. Era tanto o tempo junto que esquecemos de nossas individualidades, nossas premissas, nossas diferenças. Realmente a amizade nos dá o tom/dom da unidade, a beleza da juventude e a alegria de viver. As expectativas são de plenitude eterna! Porém um terceiro se apresenta... e é necessário! Por qualquer razão que seja, o terceiro, em uma dupla, revela as diferenças, apresenta novas idéias, exige novas atitudes e, principalmente, inicia um processo de mudança no pensar a realidade, o outro e a si mesmo. Novos questionamentos são proporcionais a este tempo, inclusive quanto a verdade da amizade. O pacto com o “para sempre” é quebrado em função do respeito aos “quero ser” outra coisa. Os caminhos tomam novos rumos. A qualidade dos carinhos sofre tremores porque a quantidade de tempo junto diminui. Os olhares trocados, antes tão significativos, agora precisam da linguagem e uma linguagem muito objetiva, para ganharem sentido. Ascendem à proposta de recuperação da sinergia inicial, as tecnologias como e-mail, MSN e telefone, ainda que frios. O esquecimento é de que amizade não é feita de obrigações, cujos ressentimentos e cobranças são resultados. Nenhum tipo de obrigação cabe aqui porque tudo fluiu naturalmente... Verdadeiros amigos, enfim, ajudam a crescer... um ao outro. Mas o tempo junto vai ficar oculto... por um tempo.

Mesmo sentindo o momento de distanciar, é preciso recuperar a auto-estima criando estratégias, não para que o amigo paralise, mas para que ele cresça, invista e aprenda qualquer que seja o seu desejo ou qualquer que seja sua escolha pessoal. Decidir quando daremos um empurrão no amigo e quando esperar o momento certo é complicado. Cada decisão em função dessa idéia deve levar em consideração todo o nosso conhecimento sobre o amigo. Falar ou não falar? Esse não é problema. O problema é como falar. Porque falar é básico já que interferir, mesmo que o amigo não nos peça ajuda, é a atitude de um amigo justo. Se até então o interesse maior era partilhar e compartilhar, diante da novidade de um terceiro, todos precisam continuar se divertindo. E assim a felicidade do estar junto continua... em outra dimensão.


 
Profa Claudia Nunes
Mestranda em Educação / UNIRIO
Especialista em Tecnologia Educacional / IAVM



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