sexta-feira, 22 de fevereiro de 2008

Vida e Adolescentes

Ser adolescente é tudo! Independente? Ainda não. Centrado? Nunca! São conturbados, questionadores, reativos, imprevisíveis, o máximo! Os problemas são as cobranças incessantes da sociedade e as desatenções familiares. Como estão numa dimensão diferente (entre ser infantil e ser adulto), precisam de diversos cuidados. Como nem se descobriram como indivíduo, estão experimentando o que for necessário. Eles precisam de exemplos, mas jamais dirão isso. Seus comportamentos são verdadeiros testes de paciência.

Na história humana eles já tiveram muitas análises: primeiro foram chamados de “mini-adultos”, cooperavam no trabalho por causa da mão de obra adulta escassa (sobrevivência); segundo, com o capitalismo e a burguesia, ao invés de trabalhar, deveriam ser educados e cuidados; terceiro, quando a infância adquire o caráter de frágil e ingênua, institui-se empreendimentos sobre sua mentalidade; e, por último, no fim do séc. XIX, as idades passam a ser analisadas diferentemente a partir de critérios como maturidade, virilidade e sexualidade.

Por esse último, um momento do desenvolvimento é tornado altamente relevante: a puberdade, um momento de transformações físicas, hormonais, psicológicas, comportamentais etc. Todo o corpo “adolescente” está afetado tão direta e profundamente que tudo externa e internamente é desconfortável. Suas certezas e sensações estão em cheque. Há uma perda na imagem (está angustiado), da dimensão do espaço físico (está estabanado) e é preciso construir novas adaptações porque as representações mentais não estão alinhadas com a realidade.

Sem uma dimensão unívoca de ser (infantil ou adulto), giram entre o masculino e o feminino (bissexualidade psíquica). Não estão na fase das escolhas definitivas (apesar das cobranças sociais), estão na fase das experimentações de si e do outro, radicalmente. As preferências acontecerão, mas não sem profundas angústias. Afinal, inconscientemente, sabem que, ao escolher, abandonarão diferentes formas de prazer. Lembremos: definições são ações de abandono (deixamos de ser e fazer várias coisas), até porque são reflexos (exigências) de cada cultura.

Adolescentes estão em conflito porque estão em fase de formação de opinião. Discernir entre quem é quem ou criar sua própria história dentro de uma outra visão são o resultado da vivência de muitas situações e pessoas; e são o resultado, primeiro, de uma revolta (adolescente sempre quer tudo ao mesmo tempo e agora), depois de uma conscientização (momento das escolhas). Pai e mãe, por exemplo, deixam de ser “heróis” e surgem como pessoas, cheios de beleza e defeitos, e isso é revoltante! Adolescentes têm a beleza de serem performáticos em tudo. Freud tinha/tem razão!

Também é uma fase de valorização afetiva. A emoção é a tônica de tudo. Estão exageradamente bipolares: ou tudo (amar muito) ou nada (luto radical). Família, sociedade, escola devem estar muito atentos a esse período, pois, nesta fase, o índice, por exemplo, de adolescentes iniciando o uso de anti-depressivos (quando não são aceitos no grupo), drogas (para criar auto-estima ou para livrar-se de sentimentos dolorosos), bebidas alcoólicas (para subverterem sua personalidade: fim de timidez) e outros, é real e alarmante. Como a auto-estima está difusa, encontram nesses produtos formas de escapar dos enfrentamentos. São substitutos mais fáceis e com resultados mais rápidos (ainda que momentâneos).

Adolescentes precisam de ajudas reais, ainda que feitas de maneiras indiretas, o tempo todo! Pela família ou por profissionais especializados, não há como se desconectar dessa pessoa em ascensão. Situação-problema, sentimentos e solução, tudo está dentro do corpo do adolescente em circunsvoluções aceleradas. É muita dor! E é preciso conduzir, auxiliar e redirecionar suas energias até a “luz no fim do túnel” das suas sensações de forma a que ele reestabeleça novos links com a realidade. Atenção: é ELE que re-estabelecerá o traçado do seu caminho na vida!

Como eles mesmo dizem, hoje em dia, “a fila anda”. O que isso quer dizer aqui? O mundo avança e as informações são rápidas. A capacidade de absorção está restrita ao todo (geral, superficial), não ao tudo (etapa por etapa), logo o processo de adaptação é cruel, mas imprescindível. Adolescentes estão dentro da cultura do erro, com todo o direito! Qual é então a nossa função (professores, pais)? Permitir que eles errem sim, pois “é errando que aprendem” mesmo, mas nunca esquecer de, no diálogo e sem crítica, transformar esses mesmos erros em experiências de vida. Como? Escutando... compreendendo... se disponibilizando... e, principalmente, não mentindo.

Ser adolescente é tudo... literalmente!


Profa. Claudia Nunes
Tutora do curso a distancia em Pedagogia / IAVM
Especialista em Tecnologia Educacional / IAVM

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