sexta-feira, 22 de fevereiro de 2008

Tensão de... Afetos!

São 0h39min. To cansada e com sono. Penso na vida. Na vida dos outros. Folheio revistas e leio um artigo: “não me deixe só...”[1]. Olho a página cheia de letras e imagino o “só”. Como é ser “só”? Por que ser “só”? Não somos ilhotas soltos num mar de realidade para nos sentirmos só. Ou somos? Não! Dependemos. Depender é o verbo da inclusão. Dependemos de um Outro. Dependemos para transformar, escutar, admirar, sentir, existir, não necessariamente nesta ordem. Nisso recusamos tensões, desconfortos, desequilíbrios, perdas. Dependemos de nossas parcerias: amigos, amantes e suas conversas maravilhosas.

Considerações rápidas: Conhecer é simples. Conviver é complexo. Conhecer é básico. Conversar é uma necessidade. Ufa! Não nos interessa que linguagem escolher, o básico é conversar. E nisso, existências são francas e franqueadas. Acontecimentos são “normalizados”. Realizações são conquistadas. E conversar? Conversar alivia, rejuvenesce, energiza. Mas um segredo: esta ação pressupõe escutar, silenciar-se. E assim amigos ou amantes são felizes.

Estou preocupada com amigos e sua repentina “falta” de (com)versa.

A vida e seus eventos insólitos (re)criou o (re)encontro. O cotidiano estreitou seus gostos, talvez por fragilidade, carência e solidão. E tudo isso construiu uma certeza: admiração, senha que inspirou a força da experiência da amizade; sentimento que estabeleceu o amor pela alegria de estar junto. Paixão? Fantástico! Há uma sabedoria que cresce imensa e aceleradamente na evolução desse sentimento: estamos virtuosos em relação ao Outro. Meus amigos tinham isso. Formavam um par. Eram (par)ceiros em tudo! Da fala, pelo gesto e ao olhar, a fusão era perfeita. Tempero? O riso fácil. O beijo inocente. O abraço sincero. Tudo por uma vontade constante de voz, de toque. O bem do par era o bem de todos, ainda que poucos fossem os escolhidos a seu compartilhamento.

Prazer, bem, beleza e alegria, esses elementos, cuja aceitação se dava sem “fins interesseiros”, deram intensidade, criaram intimidade e provocaram anseios à relação. Em alguns momentos, a força desses sentidos pode até ser lida como interesse (profissional) ou obrigação (por causa do profissional). Mas não é. Os dois queriam ficar juntos porque os dois estão separados, ou seja porque estavam ocupados “só” de realidade e em rotina em outras dimensões. A expectativa da amizade (igual à expectativa pelo momento da festa) era de mais profundidade, carinho e lealdade a cada encontro. O que se quis sempre foi felicidade. É um amor (amigo) que nunca se perde. E de acordo com Aristóteles, “os amigos são o suporte da nossa prosperidade e o nosso crescimento”.

Porém, mesmo almas tão grandes, sofrem com as armadilhas da vida, sofrem porque buscam o bem, o bem comum... por prazer. Decisão: cada um vai ficando cada vez mais “na sua”. Razão? Respeito... Cuidado... Temperamento... Imaturidade... Semelhantes ao mito da caverna platônico, cada um revive o/num fundo de caverna a experiência da escuridão e se encaminha para outras luzes, outros brilhos porque “nada será como antes”. Interessante é que essa atitude revela o quanto de hábito, apego e comodismo havia na relação porque as dimensões da felicidade e da confiança foram perdidas. O que se viu foram estratégias de conquista inúteis, sem objetivo, sem juízo e sem verdade. Meus amigos se distraíram de si e foram cometer outros erros, mas não querem distanciar-se. Meus amigos querem novos posicionamentos diante de si e do outro, porém não querem a desconfiança in presença. Meus amigos, hoje, como Sartre e Simone, têm um amor contingente, não mais necessário.

Por que isso? Porque “viver é preciso”...

Profa. Claudia Nunes
Mestranda em Educação / UNIRIO


[1] “Não me deixe só...” - Revista FILOSOFIA – Ciência & Vida – nº 09, 2007, págs. 70 a 77 – Ed. Escala

Um comentário:

Aivlis Bonini disse...

Sabe Cláudia... às vezes precisamos nos calar!!! Precisamos ouvir a nossa voz interior, quando nada do que ouvimos ou falamos faz sentido.

Já havia comentado que adoro o que vc escreve, sempre visito o seu blog e, até, coloquei o endereço na minha lista de interações...

Interessante o seu texto, pois eu escrevi, pensando no contexto da minha dissertação, sobre "Os Contingenciados" nome que eu atribuí aos excluídos e sem identidade social... (um devaneio!!!)

Parabéns pelos textos e pelo novo template...

Bjks, Silvia.

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